quarta-feira, 31 de outubro de 2007

'O Sandinismo na Nicarágua é mais amplo do que a Frente Sandinista’

Em entrevista concedida durante a I Conferência Internacional Vozes de Nuestra América, realizada de 22 a 26 de outubro, em Fortaleza (Ceará), a ativista Mônica Baltodano, lançou duras críticas ao governo de Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, e afirmou que não se pode igualar a Frente Sandinista ao Sandinismo. "O Sandinismo na Nicarágua é mais amplo do que a Frente", disse.
Para ela, a Frente Sandinista tem sido transformada em uma espécie de religião, onde a figura central é Ortega. "As resoluções dentro da Frente se concentrou de maneira total na pessoa de Daniel Ortega e agora em sua família", ressaltou a ativista. "Muitas das bases da Frente seguem sendo bases revolucionárias, mas que estão confusas, porque negou-se a democracia interna, negou-se a formação política. Tem prosperado uma visão quase religiosa".
Por outro lado, de acordo com a ativista, o Sandinismo segue tendo como base a ação, refletida em exemplos como de Sandino e "também de Carlos Fonseca, de Ricardo Morales Avilez e de muitos homens que foram à luta contra a ditadura". Umas das tentativas de manter vivo o Sandinismo na Nicaragua é a criação do Movimento pelo Resgate do Sandinismo, do qual Baltodano faz parte, ao lado de outros comandantes da revolução como Henry Ruiz, Sergio Ramírez e Giorgio Condavele.
"Estamos forjando um movimento de esquerda, alternativo a essa Frente Sandinista que tem sido privatizada por Daniel e que está sendo levada a uma ação e a uma prática que não tem nada a ver com os princípios e valores que pensaram nossos fundadores", afirmou.
Sobre o governo da Nicarágua, Baltodano destacou que o presidente Daniel Ortega é contraditório e tem discursos que mudam de acordo com os seus interesses. "Estamos assistindo a um governo que tem um comportamento esquizofrênico, como de dupla personalidade", disse. "No dia seguinte de ter seu discurso altissimamente revolucionário, decide coisas, destrói mil vidas políticas e econômicas no país, que são incentivos totalmente distintos ao discurso", concluiu a ativista.
Segundo ela, o governo de Ortega não tem mudado nada do que deixou o ex-presidente (Enrique) Bolaños, que, conforme opinou, "foi um dos mais neo-liberais dos últimos anos". "A dez meses de governo, já podemos ver que sua orientação é a mesma: uma orientação neoliberal, uma estreita vinculação quase amorosa com os capitalistas", afirmou, citando como exemplos as políticas fiscal, financeira e comercial, as quais considera exatamente iguais às dos governos anteriores.
A única diferença agora, para a ativista, é que Ortega conseguiu negociar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) a agregação de uma política social, que segue sendo patrocinada por Cuba e Venezuela, enquanto o FMI comanda as outras políticas da Nicarágua. "Os mesmos capitalistas da Nicarágua necessitam em urgência de uma política social, porque é exatamente explosiva a situação da Nicarágua, então, a política social é também de interesse da burguesia nicaragüense", assinalou.

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