por peruano — Última modificação 30/05/2007 15:30
VENEZUELA Escritor francês afirma que organização recebe dinheiro de entidades ligadas à CIA e tenta “satanizar” o governo de Hugo Chávez na Europa
Claudia Jardim, de Caracas. A POUCOS dias para que se termine a concessão da RCTV (27 de maio), Marcel Granier, presidente do canal que é um dos principais meios privados da Venezuela, foi à Europa buscar apoio internacional e conseguir possíveis sanções ao governo venezuelano. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirma que não renovará a concessão pública deste meio de comunicação e que, em seu lugar, será criado um canal de serviço público.
Um dos encontros de Granier na Europa foi com Robert Menard, secretário geral da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que tem marcado a história da entidade na América Latina por freqüentes ataques à Cuba e Venezuela. Para entender a atuação da RSF e as conexões desta organização com a imprensa venezuelana, a reportagem do Brasil de Fato conversou com Maxime Vivas, escritor francês que acaba de terminar um livro no qual relata as relações da organização RSF de origem francesa com o governo dos Estados Unidos e a CIA (Agência de Inteligência Americana).
Brasil de Fato – A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) responde a quais interesses?
Maxime Vivas – O que a RSF defende é a liberdade de um sistema, de um discurso, nunca a liberdade da informação. Desde que começaram a defender a liberdade de imprensa, o número de jornalistas mortos tem crescido, em sua maioria vítimas do teatro de guerra dos Estados Unidos. O que lhes interessa é ter a liberdade de escrever e imprimir, não o direito de dizer a verdade.
Quando o senhor deu início às investigações sobre a organização RSF?
A atuação da organização funciona sob a mesma lógica das ações do governo dos Estados, seja na América Latina ou no Oriente Médio. Nos damos conta que a RSF não é uma organização não-governamental (ONG), e sim uma organização que atua em prol de um país. Fui buscar provas disso e o que encontrei foi que na América Latina, Europa e Oriente Médio, a RSF tem a mesma posição que o governo estadunidense.
De que maneira podemos vincular a RSF com os EUA?
Durante o conflito na Iugoslávia, forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) coordenadas pelos EUA dispararam contra uma televisão sérvia, 16 pessoas foram mortas, das quais dez eram jornalistas. No balanço anual de mortes de jornalistas divulgado pela RSF, essas mortes não foram mencionadas. Outro exemplo: em 2003, tropas estadunidenses atacaram o hotel Palestina em Bagdá, principal sede dos jornalistas estrangeiros que cobriam a invasão dos EUA no Iraque. Dois jornalistas e um câmera foram mortos. No mesmo dia também atacaram a sede da televisora Al Jazeera. A RSF não condenou as mortes e fez uma investigação favorável aos EUA em resposta aos ataques.
E na América Latina, de que maneira podemos evidenciar esses vínculos com a Casa Branca?
Há muito tempo, a RSF considera Cuba como seu inimigo número 1 – ainda que nenhum jornalista tenha sido morto na ilha –, assim como já ocorreu nos EUA. Em uma ocasião o secretário da RSF, Robert Menard, foi a Havana para encontrar um jornalista dissidente que havia sido contratado para passar informações. No entanto, o interesse de Menard não estava relacionado à liberdade de imprensa, e sim se haviam policiais ou membros das Forças Armadas que se postulavam como dissidentes ao governo de Fidel Castro. Essa pergunta normalmente é de interesse da CIA ou de uma organização que diz se preocupar pela liberdade de imprensa? Assim trabalha a RSF. Essa história foi revelada pouco tempo depois pelo próprio jornalista encarregado de “passar” informações, Néstor Baguer, um agente da inteligência cubana.
Há alguma relação concreta entre a RSF e a CIA?
Ainda que essa informação tenha sido negada pela RSF durante algum tempo, nas contas anuais da organização aparece a subvenção de organismos que são testa-de-ferro da CIA. O principal deles é o Centro para a Liberdade de Cuba (Center for Free Cuba), que entregou 90 mil dólares em 2005 à RSF e a Fundação Nacional para a Democracia (NED, na sigla em inglês). Nenhum outro país financia esta organização, somente o governo dos EUA.
De que maneira a NED tem respondido aos interesses dos EUA na América Latina?
Os diretores da NED são em sua maioria ex-agentes da CIA e conhecemos outras atuações desse grupo na América Latina, como foi o caso da Nicarágua para derrubar o governo sandinista e mais recentemente durante o golpe de Estado na Venezuela em 2002. A NED financiou e ainda financia a organização Súmate, um dos grupos que participaram do golpe de 2002 contra Hugo Chávez. Nesse período, apenas dois países e uma organização reconheceram o golpe: Estados Unidos, com George W. Bush, e Espanha com José Maria Aznar. Obviamente, a RSF também o fez. Quando fracassou o golpe, a organização emitiu um comunicado afirmando que estavam preocupados com a liberdade de imprensa na Venezuela. No dia 27 vence a concessão do canal de televisão venezuelano RCTV, para a qual o governo afirma que não haverá renovação.
Na última semana, o presidente da RCTV, Marcel Granier, e o secretário da RSF participaram juntos de seminários realizados na Europa. O que pretendem com essa campanha?
A RCTV será utilizada como pretexto para dar continuidade à campanha permanente contra a Venezuela. Preocupa porque a RSF há algum tempo tem influência no Parlamento Europeu e conseguiu a aprovação de sanções contra Cuba nos acordos bilaterais de Cotonu. Todos os governos que estão contra os EUA são inimigos de Robert Menard, secretário da RSF. Primeiro Cuba, agora a Venezuela e brevemente será a vez da Bolívia.
O Parlamento Europeu poderia sancionar a Venezuela pelo caso RCTV?
A conjuntura é mais difícil para conduzir um processo contra a Venezuela nas Nações Unidas, por exemplo. No entanto, se conseguem satanizar a Venezuela como fizeram com Cuba, não podemos descartar uma sanção comercial ao governo venezuelano por parte do Parlamento Europeu.
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