No sábado, dia 12 de abril, ocorreu mais um debate organizado pelo NELAM, no Centro Universitário Fundação Santo André.
Cerca de 80 pessoas estavam presentes no auditório da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas (FAECO). Em sua maioria, estudantes do curso de Relações Internacionais, interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre qual é a importância do processo de integração latino-americana na atualidade, bem como qual o papel que países como Cuba, Venezuela e Brasil podem desempenhar neste início de século XXI, momento em que o tema da integração adquire cada vez mais relevância nas discussões sobre política externa e política internacional.
Também participaram do debate estudantes dos cursos de História, Ciências Sociais e Administração, além da professora Marineide, que leciona em diversos cursos da FAECO e FAFIL.
Na coordenação da mesa estava a professora Fabiana Rita Dessoti (NELAM). Os debatedores foram os professores Marcelo Buzetto (doutorando em Ciências Sociais/PUC-SP, NEILS-PUC/SP e NELAM) e José Alfonso Klein (doutorando em Ciências Sociais/PUC-SP, NEILS-PUC/SP e NELAM).
A escolha da data teve relação com os seis anos da fracassada tentativa de golpe civil-militar contra o governo democrático e popular da Venezuela. Entre 11 e 12 de abril de 2002, forças sociais e políticas anti-democráticas se insurgiram na tentativa de instaurar uma ditadura na Venezuela. Tomaram o palácio do governo, sequestraram e mantiveram incomunicável durante 48 horas o presidente Hugo Chávez Frias, invadiram e destruíram as instalações da TV estatal-canal 8, destruíram parte da embaixada de Cuba, agrediram funcionários e partidários do governo, além de provocarem confrontos entre a população em várias partes do país. Essa oposição golpista e anti-democrática também foi responsabilizada pela morte de dezenas de pessoas que marchavam pelas ruas de Caracas quando foram surpreendidas por franco-atiradores, que disparavam suas armas contra os manifestantes que eram a favor e contra o governo, numa clara tentativa de jogar uns contra os outros e de simular uma situação de caos e de confronto generalizado que justificasse o golpe contra Chávez. As grandes empresas de comunicação alimentavam o ódio dos golpistas com imagens manipuladas que insinuavam que o governo reprimia o povo. A farsa deste falido golpe de estado financiado pelo governo dos EUA é desmascarada pelo brilhante documentário "A revolução não será televisionada", dirigido por Kim Bartley e Donnacha O'Brian, que foi exibido após o debate.
Durante sua exposição o professor Klein afirmou que existe muito desconhecimento e preconceito quando se fala da situação de Cuba. Afirmou que o povo cubano enfrenta sim dificuldades, mas que estas são resultado, principalmente, do bloqueio econômico imposto desde a década de 60 pelo governo dos EUA. Também fez questão de ressaltar que no sistema político-eleitoral de Cuba são as organizações e movimentos sociais que indicam os candidatos, e não o Partido Comunista Cubano (PCC), como pensam muitas pessoas. Segundo o professor esse critério cria condições mais favoráveis para que os eleitos sejam pessoas que, de fato, terão algum compromisso com a comunidade, pois foi a própria comunidade ou movimento sindical, popular e estudantil que fez a escolha. Outro tema que ganhou destaque na exposição de Klein foi a solidariedade presente na política externa de Cuba. Deu como exemplo a Operação Milagros, onde o governo daquele país tem oferecido tratamento e cirurgia gratuita de catarata a pessoas de diversos países da América Latina.
Já o professor Marcelo Buzetto iniciou com uma apresentação do NELAM, afirmando que o mesmo é um espaço coletivo e democrático que procura ser mais um instrumento do processo de integração e cooperação entre os povos da América Latina. Em sua exposição sobre a Venezuela destacou que este país vem sendo constantemente atacado por setores mais conservadores e anti-democráticos da política latino-americana justamente por ter feito uma escolha: construir um caminho próprio de desenvolvimento econômico e social. O professor demonstrou como o governo Chávez é resultado de um amplo processo de mobilização social que entre 1989 e 1998 tomou conta da Venezuela. Apresentou o governo venezuelano como uma frente de partidos e movimentos sociais de esquerda que se uniram em torno de um programa anti-neoliberal, que nos últimos anos tem implementado importantes medidas de caráter democrático, popular e antiimperialista. Durante o debate surgiu o tema da defesa nacional, e como tal questão está inserida na reflexão sobre a integração sul-americana. O professor Marcelo afirmou que a Venezuela vem propondo desde 1999 a integração do sistema de defesa sul-americano, além de defender a criação de uma "Organização do Tratado do Atlântico Sul" (OTAS), como forma de neutralizar a influência das potências capitalistas que se organizam através da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Também afirmou que o governo da Venezuela e Brasil discutem a criação de um Conselho de Defesa Sul-Americano, iniciativa que poderia contribuir para evitar, segundo o professor, aventuras militaristas como a invasão do território equatoriano por forças armadas da Colômbia, como ocorreu em março deste ano. Essa iniciativa, num momento em que existem governos bastante alinhados com a posição política da Venezuela em relação à integração, como é o caso da Bolívia e do Equador, e governos que, apesar de algumas divergências, são considerados amigos da Venezuela, como é o caso do Brasil e da Argentina, poderia neutralizar a influência estadunidense, que se expressa principalmente através da postura do atual presidente colombiano Álvaro Uribe.
No final do debate a professora Fabiana fez um convite para que todos e todas que estejam interessados na reflexão sobre os rumos da América Latina se integrem e participem do Núcleo de Estudos Latino-Americanos (NELAM).
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