quarta-feira, 16 de abril de 2008

Debate organizado pelo NELAM discute o papel de Cuba e Venezuela no Processo de Integração Latino-Americana

Estudantes, professores e representantes de movimentos sociais presentes no debate

No sábado, dia 12 de abril, ocorreu mais um debate organizado pelo NELAM, no Centro Universitário Fundação Santo André.

Cerca de 80 pessoas estavam presentes no auditório da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas (FAECO). Em sua maioria, estudantes do curso de Relações Internacionais, interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre qual é a importância do processo de integração latino-americana na atualidade, bem como qual o papel que países como Cuba, Venezuela e Brasil podem desempenhar neste início de século XXI, momento em que o tema da integração adquire cada vez mais relevância nas discussões sobre política externa e política internacional.
Também participaram do debate estudantes dos cursos de História, Ciências Sociais e Administração, além da professora Marineide, que leciona em diversos cursos da FAECO e FAFIL.
Na coordenação da mesa estava a professora Fabiana Rita Dessoti (NELAM). Os debatedores foram os professores Marcelo Buzetto (doutorando em Ciências Sociais/PUC-SP, NEILS-PUC/SP e NELAM) e José Alfonso Klein (doutorando em Ciências Sociais/PUC-SP, NEILS-PUC/SP e NELAM).
A escolha da data teve relação com os seis anos da fracassada tentativa de golpe civil-militar contra o governo democrático e popular da Venezuela. Entre 11 e 12 de abril de 2002, forças sociais e políticas anti-democráticas se insurgiram na tentativa de instaurar uma ditadura na Venezuela. Tomaram o palácio do governo, sequestraram e mantiveram incomunicável durante 48 horas o presidente Hugo Chávez Frias, invadiram e destruíram as instalações da TV estatal-canal 8, destruíram parte da embaixada de Cuba, agrediram funcionários e partidários do governo, além de provocarem confrontos entre a população em várias partes do país. Essa oposição golpista e anti-democrática também foi responsabilizada pela morte de dezenas de pessoas que marchavam pelas ruas de Caracas quando foram surpreendidas por franco-atiradores, que disparavam suas armas contra os manifestantes que eram a favor e contra o governo, numa clara tentativa de jogar uns contra os outros e de simular uma situação de caos e de confronto generalizado que justificasse o golpe contra Chávez. As grandes empresas de comunicação alimentavam o ódio dos golpistas com imagens manipuladas que insinuavam que o governo reprimia o povo. A farsa deste falido golpe de estado financiado pelo governo dos EUA é desmascarada pelo brilhante documentário "A revolução não será televisionada", dirigido por Kim Bartley e Donnacha O'Brian, que foi exibido após o debate.
Durante sua exposição o professor Klein afirmou que existe muito desconhecimento e preconceito quando se fala da situação de Cuba. Afirmou que o povo cubano enfrenta sim dificuldades, mas que estas são resultado, principalmente, do bloqueio econômico imposto desde a década de 60 pelo governo dos EUA. Também fez questão de ressaltar que no sistema político-eleitoral de Cuba são as organizações e movimentos sociais que indicam os candidatos, e não o Partido Comunista Cubano (PCC), como pensam muitas pessoas. Segundo o professor esse critério cria condições mais favoráveis para que os eleitos sejam pessoas que, de fato, terão algum compromisso com a comunidade, pois foi a própria comunidade ou movimento sindical, popular e estudantil que fez a escolha. Outro tema que ganhou destaque na exposição de Klein foi a solidariedade presente na política externa de Cuba. Deu como exemplo a Operação Milagros, onde o governo daquele país tem oferecido tratamento e cirurgia gratuita de catarata a pessoas de diversos países da América Latina.
Já o professor Marcelo Buzetto iniciou com uma apresentação do NELAM, afirmando que o mesmo é um espaço coletivo e democrático que procura ser mais um instrumento do processo de integração e cooperação entre os povos da América Latina. Em sua exposição sobre a Venezuela destacou que este país vem sendo constantemente atacado por setores mais conservadores e anti-democráticos da política latino-americana justamente por ter feito uma escolha: construir um caminho próprio de desenvolvimento econômico e social. O professor demonstrou como o governo Chávez é resultado de um amplo processo de mobilização social que entre 1989 e 1998 tomou conta da Venezuela. Apresentou o governo venezuelano como uma frente de partidos e movimentos sociais de esquerda que se uniram em torno de um programa anti-neoliberal, que nos últimos anos tem implementado importantes medidas de caráter democrático, popular e antiimperialista. Durante o debate surgiu o tema da defesa nacional, e como tal questão está inserida na reflexão sobre a integração sul-americana. O professor Marcelo afirmou que a Venezuela vem propondo desde 1999 a integração do sistema de defesa sul-americano, além de defender a criação de uma "Organização do Tratado do Atlântico Sul" (OTAS), como forma de neutralizar a influência das potências capitalistas que se organizam através da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Também afirmou que o governo da Venezuela e Brasil discutem a criação de um Conselho de Defesa Sul-Americano, iniciativa que poderia contribuir para evitar, segundo o professor, aventuras militaristas como a invasão do território equatoriano por forças armadas da Colômbia, como ocorreu em março deste ano. Essa iniciativa, num momento em que existem governos bastante alinhados com a posição política da Venezuela em relação à integração, como é o caso da Bolívia e do Equador, e governos que, apesar de algumas divergências, são considerados amigos da Venezuela, como é o caso do Brasil e da Argentina, poderia neutralizar a influência estadunidense, que se expressa principalmente através da postura do atual presidente colombiano Álvaro Uribe.
No final do debate a professora Fabiana fez um convite para que todos e todas que estejam interessados na reflexão sobre os rumos da América Latina se integrem e participem do Núcleo de Estudos Latino-Americanos (NELAM).

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