tag:blogger.com,1999:blog-30680867445494475832024-03-14T06:13:53.921-03:00Núcleo de Estudos Latino AmericanosUnknownnoreply@blogger.comBlogger70125tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-38168709884442173242010-03-25T23:37:00.003-03:002010-03-25T23:41:50.549-03:00Debate sobre Integração Latino-americana - 14/04/10<div align="center"><span style="color:#cc0000;"><strong>DEBATE SOBRE</strong></span></div><span style="color:#cc0000;"><div align="center"><br /><strong>“A INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA NA VISÃO DOS GOVERNOS E DOS MOVIMENTOS SOCIAIS”<br /></strong></span><strong><br /></strong><span style="color:#000000;"><strong>DIA 14 DE ABRIL - 19H30 </strong></span></div><span style="color:#000000;"><div align="center"><br /></span><strong>COM</strong></div><div align="center"><br /><span style="color:#000099;"><strong>PAOLA PRADO BELTRÁN – CÔNSUL GERAL DO EQUADOR EM SÃO PAULO</strong></span> e</div><div align="center"><br /><strong><span style="color:#000099;">CARLOS TREJO – CÔNSUL GERAL DE CUBA EM SÃO PAULO</span></strong> - <strong>“ALBA, UNASUL E CELAC: INSTRUMENTOS DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA”</strong></div><div align="center"><br /><span style="color:#000099;"><strong>MARCELO BUZETTO – COORDENADOR DO NÚCLEO DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS (NELAM/CUFSA), PROFESSOR DO CUFSA, DA UMESP-SBC E DA ESCOLA NACIONAL FLORESTAN FERNANDES</strong></span> - <strong>“OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA:CLOC, VIA CAMPESINA, CONSELHO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DA ALBA”</strong></div><div align="center"><br /><span style="color:#cc0000;"><strong>LOCAL: AUDITÓRIO DA FAECO</strong></span></div><div align="center"><span style="color:#cc0000;"></span><br /><strong><span style="color:#cc0000;">CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ (CUFSA)<br />AV. PRINCIPE DE GALES, 821, BAIRRO PRÍNCIPE DE GALES, SANTO ANDRÉ/SP<br /></span></strong><br /><strong>ORGANIZAÇÃO: NÚCLEO DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS (NELAM/CUFSA) </strong><a href="http://nelamsp.blogspot.com/"><strong>http://nelamsp.blogspot.com/</strong></a><br /><strong>APOIO: Colegiado do Curso de Relações Internacionais, Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão (PROPPEX-CUFSA).</strong></div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-77513685877530414842010-03-25T23:31:00.001-03:002010-03-25T23:37:39.291-03:00Datas e conteúdo do novo curso gratuito do NELAM<div align="center"><span style="color:#cc0000;"><strong>CURSO GRATUITO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA<br /></strong></span><br /> <span style="color:#006600;"><strong>EUA E AMÉRICA LATINA: GEOPOLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS<br /></strong></span><br /><span style="color:#000099;"><strong>ABERTURA OFICIAL DO CURSO:<br /></strong></span><br /><span style="color:#990000;"><strong>14 de abril de 2010</strong></span>, 19H30, Auditório da FAECO, com palestra de Carlos Trejo (Cônsul Geral de Cuba), Paola Prado (Cônsul Geral do Equador) e Marcelo Buzetto (Coordenador do NELAM/CUFSA) com o tema <span style="color:#990000;"><strong>“A integração latino-americana na visão dos governos e dos movimentos sociais”.<br /></strong></span><br /><span style="color:#000000;"><strong>DATAS E CONTEÚDO PROGRAMÁTICO</strong><br /></span><br /><span style="color:#cc0000;"><strong>Abril:</strong></span><br /><strong>14:</strong> Abertura do curso com o debate “A integração latino-americana na visão dos governos e dos movimentos sociais”.<br /><br /><strong><span style="color:#cc0000;">17 e 24:</span></strong> Formação Econômica , Social e Histórica dos EUA. A expansão neocolonialista/imperialista - Prof. Me. Marcelo Buzetto (doutorando em Ciências Sociais PUC/SP, coordenador do NELAM/CUFSA, professor, CUFSA, UMESP-SBC e Escola Nacional Florestan Fernandes, membro do NEILS/PUC-SP)<br /><br /><strong><span style="color:#cc0000;">Maio:</span></strong><br /><strong><span style="color:#cc0000;">08:</span></strong> Doutrina Monroe X Bolivarianismo - Prof. Dr. Luis Bernardo Pericás (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais-FLACSO, Doutor em História Econômica USP)<br /><br /><strong><span style="color:#cc0000;">22:</span></strong> Do Corolário Roosevelt à II Guerra Mundial- Prof. Me. Antonio Macário de Moura (Mestre em Ciências Sóciasis pela UNESP Marília, membro-colaborador do NELAM/CUFSA)<br /><br /><strong><span style="color:#cc0000;">Junho:</span></strong><br /><strong><span style="color:#cc0000;">05 e 19:</span></strong> EUA e a Guerra Fria na América Latina: golpes, terrorismo e ditaduras – Prof. Dr. Júlio César Zorzenon (doutor em História Econômica USP, professor CUFSA, membro do NELAM/CUFSA)<br /><br /><strong>HORÁRIO E DIA</strong><br /><br />O curso ocorrerá sempre aos <strong><span style="color:#cc0000;">sábados</span>,</strong> das 8h00 às 13h00, no Auditório da FAECO, no Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA), situado na Avenida Príncipe de Gales, 821, bairro Príncipe de Gales, Santo André/SP. O período das 8h00 às 10h00 será considerado como tempo para leitura, e o <strong><span style="color:#cc0000;">período presencial será das 10h00 às 13h00</span></strong>, sendo o tempo para estudo e debate em sala de aula.<br /><br /><strong>CARGA HORÁRIA - 33 HORAS<br /></strong><br /><strong><span style="color:#cc0000;">O CURSO SERÁ GRATUITO E ABERTO PARA A COMUNIDADE. TAMBÉM SERÁ FORNECIDO CERTIFICADO PARA QUEM PARTICIPAR DE, NO MÍNIMO, 75% DOS ENCONTROS.<br /></span></strong><br /><br /><strong>ORGANIZAÇÃO: NÚCLEO DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS (NELAM/CUFSA)<br /></strong><a href="http://nelamsp.blogspot.com/">http://nelamsp.blogspot.com</a><br /><br /><strong>APOIO: COLEGIADO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS/PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO (PROPPEX)<br /></strong></div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-57259136748614109732010-02-17T16:15:00.003-02:002010-02-17T16:19:28.644-02:00As lutas sociais e políticas no Equador<div align="justify"><strong><span style="color:#cc0000;">As lutas sociais e políticas no Equador: possibilidades e contradições da chamada “Revolução Cidadã”- Marcelo Buzetto</span></strong><br /><br /> De acordo com a nova constituição do país, aprovada por um referendo popular em 28 de setembro de 2008, o Equador é um “Estado constitucional de direito, e justiça, social, democrático, soberano, independente, unitário, intercultural, plurinacional e laico” (art.1) que “condena toda forma de imperialismo, colonialismo, neocolonialismo, e reconhece o direito dos povos à resistência e libertação de toda forma de opressão” (art.416). Só por estes dois artigos da nova Constituição já é possível perceber que algo de novo acontece neste país.<br /> Desde 21 de janeiro de 2000, quando foi vitoriosa uma grande mobilização social que levou à derrubada do presidente Jamil Mahuad, em Quito, o país vive um processo de ofensiva dos movimentos de massa da classe trabalhadora, que é uma classe profundamente marcada pela questão étnica e pela questão das nacionalidades, pois no país existem 14 nacionalidades e povos (Waorani, Chachi, Tsáchila, Awá, Épera, Kichwa, Cofán, Siona, Andoa, Secoya, Zápara, Shuar, Achuar e Shiwiar, além dos povos afroecuatoriano e montubio).<br />Desde então diversos movimentos sociais se fortaleceram ou foram criados, e a luta popular deu um salto adiante em termos de organização, mobilização e participação ativa do povo. Essa mobilização de 2000 uniu a Confederação Nacional de Nacionalidades Indígenas – CONAIE, a Confederação de Povos da Nacionalidade Kichwua do Equador – ECUARUNARI e diversos outros movimentos a setores militares do exército organizados pelo Coronel Lúcio Gutierrez, que assumirá a presidência de 2003 a 2005, sendo retirado também pela pressão popular. Hoje várias pessoas e lideranças afirmam que Gutiérrez era um quadro da CIA no Equador, e que participou dos levantamentos populares em 2000 para não deixar que a classe dominante perdesse o controle da situação, impedindo assim uma vitória plena de uma alternativa verdadeiramente popular e independente da classe trabalhadora. O coronel (que agora assina “engenheiro”) criou o Partido Sociedade Patriótica e segue hoje na oposição a Rafael Correa, com grande influência nas Forças Armadas, segundo dizem muitos dirigentes populares do Equador. Esse processo de ofensiva, de reorganização popular com amplas lutas de massa foi criando condições favoráveis para a construção de uma unidade entre diversas organizações, o que resultou na candidatura de Rafael Correa pelo Movimento Aliança País, partido criado para a disputa eleitoral de 2006, que recebeu o apoio do Partido Socialista do Equador-PSE, da <strong>Confederação Nacional de Organizações Camponesas, Indígenas e Negras - FENOCIN</strong> e da <strong>Confederación Única Nacional de Afiliados al Seguro Social Campesino CONFEUNASCC</strong>, duas organizações da <strong>CLOC/VIA CAMPESINA</strong> no Equador. Outros setores de esquerda também lançaram candidatos, como o Movimento Popular Democrático-MPD (que é o braço público-legal do Partido Comunista Marxista-Leninista/PCML e tem o controle da União Nacional dos Educadores (UNE) e o Movimento Plurinacional Pachakutik-Novo País (MPP-NP). No segundo turno de 2006 esses movimentos apoiaram Rafael Correa.<br />Este governo me parece (em algumas coisas, não na maioria das coisas) algo como o que teria sido o Brasil se Lula tivesse vencido as eleições de 1989, ou seja, depois de alguns anos de retomada das lutas sociais e populares, com ofensiva do movimento de massas, conquistas democráticas e reorganização popular, surgem movimentos, organizações e partidos de esquerda que conseguem fazer uma candidatura democrática e popular ganhar as eleições, tem uma nova constituição bastante avançada em muitos temas, o novo governo tem políticas públicas e programas sociais inovadores para os mais pobres, a participação popular cresce, enfim, as condições tornaram-se mais favoráveis para o avanço de um projeto democrático, popular e antiimperialista. Tudo isso acontecendo com todas as possibilidades e todas as contradições possíveis e imagináveis. Todo tipo de oportunismo, reformismo/governismo, divisionismo/sectarismo se desenvolvendo no interior das organizações populares e partidos de esquerda. Várias formas de luta e de organização surgindo e se desenvolvendo. Conflito permanente entre os novos e velhos dirigentes. Concentração de poder X luta pela construção de uma direção mais coletiva para os movimentos. Todo tipo de sedução/cooptação por parte do governo. Luta para manter a independência e a autonomia do movimento social diante do governo. Diversas e distintas situações, para o bem e/ou para o mal. É um governo nacional-desenvolvimentista, de centro-esquerda (talvez com mais conteúdo de esquerda do que de centro), com pessoas ligadas à movimentos sociais em cargos importantes, com posições bastante progressistas em relação à diversos temas, com uma base social popular, principalmente indígena, camponesa e de setores médios (pequena e média burguesia urbana, intelectuais). É o momento do nacional-desenvolvimentismo equatoriano, onde “governar é construir estradas”, impulsionar grandes obras de infra-estrutura, facilitar o transporte de pessoas e mercadorias por todo o território nacional, com preocupação ambiental e social, como sempre manifesta Correa em suas intervenções. Os direitos democráticos mais elementares para os povos e nacionalidades indígenas estão chegando agora, é algo novo, conquistado coma as lutas massivas dos últimos anos, que resultaram em leis e numa nova constituição. A democratização dos meios de comunicação é outro desafio, e o governo contra-ataca indo para cima dos monopólios com uma campanha “Liberdade de Expressão, Sim! Liberdade de Difamação, Não!”, “Liberdade de Expressão, Sim! Liberdade de Distorção, Não!”. Uma coisa é certa: o nível de consciência política das massas se elevou nesses últimos 10 anos, também sua capacidade de organização e de mobilização, mas tudo isso ainda é muito insuficiente para os desafios que a classe trabalhadora equatoriana tem pela frente. Os que apóiam o governo dizem que há uma “Revolução Cidadã” em curso. Eu diria: não há revolução alguma, nem situação revolucionária, nem mesmo situação pré-revolucionária. Existe um processo de mobilização de massas que pode avançar para uma situação pré-revolucionária ou não, depende de uma série de fatores, das condições objetivas e subjetivas do próximo período. Os meios de produção continuam nas mãos dos mesmos, antes e depois de Correa. Quem apóia o governo caracteriza o mesmo como sendo um governo em disputa (FENOCIN, CONFEUNASCC, etc, e me pareceu a caracterização da maioria dos movimentos sociais). A diferença é que existem movimentos e organizações dentro desse campo mais submissos ao governo e movimentos/organizações com mais capacidade de análise crítica, autonomia e independência, indo num apoio mais crítico (caso da FENOCIN). Todos reconhecem a existência de setores conservadores e até mesmo de direita dentro do próprio governo. Mas reconhecem que as condições para a esquerda acumular forças são mais favoráveis na atualidade. Quem se coloca na oposição “de esquerda” ao governo caracteriza o mesmo como um governo de direita (o que considero um equívoco), como é o caso da ECUARUNARI. Também o MPD/PCML afirma que o governo está num caminho de direitização. Os que se opõem a esta tese dizem que CONAIE/ECUARUNARI/PACHAKUTIK partiram para a oposição pois não tiveram êxito na tentativa de chantagear o governo, ou seja (segundo lideranças do governo e de vários movimentos sociais), chegaram com uma lista de cargos com nomes já indicados de suas organizações, dizendo que se o governo não aceitasse o acordo, de trocar cargos por apoio político, iriam para a oposição. Outra crítica que muitos movimentos sociais fazem à esta “oposição de esquerda” é que tem uma visão muito corporativista, sempre o mais importante é a minha organização, a minha reivindicação, a luta dos povos indígenas, desprezando/menosprezando outras lutas e outros setores da classe trabalhadora. Já as três organizações citadas criticam FENOCIN/CONFEUNSCC e outros afirmando que estes foram cooptados e agora estão recebendo os cargos do governo como prêmio por sua obediência a Correa.No caso do MPD/PCML um dos motivos de sua crescente oposição a Correa, segundo nos disseram algumas lideranças camponesas e indígenas, foi a nova lei da educação superior, que criou novas regras para as eleições de reitor e assim criou condições para retirar das mãos do MPD/PCML o controle da Universidade Andina Simon Bolívar, pois a base de atuação desse partido são as universidades.Uma preocupação presente no dia-a-dia das lutas sociais no Equador é a possibilidade de uma nova contra-ofensiva vitoriosa por parte da direita, que tenta hoje se reorganizar aproveitando-se da situação de divisão entre as forças populares e antiimperialistas. A forma como as divergências (dentro da esquerda) estão se apresentando pode levar a um distanciamento tão grande entre as várias organizações que o diálogo e o debate sobre qual é o projeto estratégico poderá ficar prejudicado, encerrando assim a possibilidade de um acordo programático mínimo entre o que lutam para colocar o país nos rumos de uma transição com caráter anticapitalista. Nosso desejo é que os trabalhadores e trabalhadoras do Equador possam fazer valer a consigna “Nenhum passo atrás!”, pois já perdemos em Honduras, continuamos perdendo na Colômbia e a vitória eleitoral da direita na Chile também foi mais um sinal de que devemos nos preparar melhor para os embates do próximo período.<br /><br /><span style="color:#cc0000;"><strong>Marcelo Buzetto-Setor de Relações Internacionais do MST, Coordenador do Núcleo de Estudos Latino-Americanos do Centro Universitário Fundação Santo André (NELAM-CUFSA). Esteve recentemente no Equador participando do Io. Encontro Nacional de Organizações e Movimentos Sociais, na cidade de Baños, 14 e 15/01/10.</strong></span><br /> </div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-85552788723063679642010-02-17T15:54:00.002-02:002010-02-17T16:00:04.099-02:00Sujeito Histórico e Revolução Social na América Latina<div align="justify"><br /><br /><span style="color:#cc0000;"><strong>O debate sobre o sujeito histórico: proletários, camponeses e indígenas na Revolução Latino-Americana</strong></span><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3068086744549447583#_ftn1" name="_ftnref1"><span style="color:#cc0000;"><strong>[1]</strong></span></a> <strong>- 15/01/2010 - Baños, Equador.<br /></strong><br /><strong>Marcelo Buzetto</strong><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3068086744549447583#_ftn2" name="_ftnref2"><strong>[2]</strong></a><br /><br />Em primeiro lugar gostaria de, em nome do povo brasileiro, de me solidarizar com o povo do Haiti, que sofre mais uma vez devido a um terremoto que matou mais de 100 mil pessoas. Nos envergonha e causa indignação aos movimentos sociais do Brasil a ocupação militar daquele país, comandada pelas tropas do exército brasileiro. Desde 2004 o exército brasileiro e de outros países, sob a bandeira da ONU, estão no Haiti, e não construíram um único hospital, uma única escola, não distribuíram um único hectare de terra para o povo plantar e comer, não elaboraram um plano de emergência para situações de catástrofe, mesmo sabendo que o país sempre viveu situações de risco. Consideramos um erro do governo brasileiro manter tropas no Haiti, por isso continuaremos lutando pela retirada imediata das tropas do Haiti. Ajuda humanitária sim, como fazem Cuba e Venezuela, soldados para reprimir o povo, não!<br /><br /><strong>1. O que é uma revolução?</strong><br /><br />Para identificarmos de qual sujeito histórico estamos falando, creio que é importante definir o que queremos, onde queremos chegar, o que pretendemos fazer, o que queremos transformar, com que intensidade será essa transformação, etc.<br />Penso que os movimentos sociais de que falamos são aquelas organizações que representam a classe trabalhadora e as massas populares, ou seja, os pobres do campo e da cidade. Se queremos transformar, de fato, a realidade econômica, social, política e cultural em que vivemos, só existe um caminho, que é construir nas lutas cotidianas as condições mais favoráveis para desencadearmos uma verdadeira revolução social, que seja a expressão real das necessidades e desejos da classe trabalhadora, dos setores mais explorados e oprimidos da sociedade.<br />Uma revolução acontece quando a classe oprimida toma em suas mãos os meios de produção, quando o poder econômico e político passa de uma classe para a outra através de um amplo e intenso processo de mobilização popular e social, onde os mais pobres adquirem um certo nível de consciência política , de organização e de mobilização que faz com que a classe dominante não tenha mais condições de manter seus privilégios e de continuar explorando o povo. A esse processo radical de transformações econômicas, sociais, políticas e culturais chamamos de revolução.<br /><br /><strong>2. Por quê lutamos por uma revolução social?<br /></strong><br />Porque queremos construir uma nova sociedade, verdadeiramente justa, democrática e humana. Uma sociedade onde a garantia de uma vida digna para todos e todas seja o principal objetivo da economia e do processo de produção, onde as relações sociais não sejam baseadas na exploração da maioria por uma minoria rica que concentra em suas mãos o poder econômico e político. Uma revolução social é uma necessidade objetiva para melhorar as condições de vida e de trabalho daquelas pessoas que no mundo atual são obrigadas a vender sua força no trabalho para os ricos/empresários em troca de um salário de fome.<br /><br /><strong>3. Que tipo de revolução temos que fazer para atender as necessidades da maioria do povo?<br /></strong><br />Se vivemos no modo de produção capitalista, e reconhecemos nesse sistema a causa fundamental de toda a desigualdade econômica e social existente, então, uma revolução social verdadeira, autêntica, terá um caráter e um conteúdo profundamente antiimperialista e anticapitalista. Terá que ser uma revolução que vá criando condições cada vez mais favoráveis para uma transição para além do capitalismo, uma revolução que seja um processo de mobilização social e popular onde a classe trabalhadora vai, através de suas lutas concretas, se apropriando dos meios de produção e construindo assim as novas relações econômicas da nova sociedade que vai sendo construída coletivamente pela força organizativa dos pobres do campo e da cidade, da classe operária, dos camponeses, dos povos originários/indígenas, etc... Terá que ser uma revolução contra o capital e contra o capitalismo, e em defesa do socialismo.<br /><br /><strong>4. Já houve uma revolução assim na América Latina?<br /></strong><br />Para nós do MST, a única revolução social anticapitalista vitoriosa na América Latina, até o momento, tem sido a Revolução Cubana de 1959. Existiram e existem ainda hoje tentativas revolucionárias, movimentos revolucionários, momentos de intensa mobilização popular, mas tudo isso não significa vitória de uma revolução social anticapitalista.<br /><br /><strong>5. Para ocorrer uma revolução anticapitalista, qual é o sujeito histórico fundamental?<br /></strong><br />Para nós o sujeito histórico fundamental num processo de transformação social anticapitalista segue sendo, como já afirmaram Karl Marx, Frederich Engels e Vladimir Lênin, o proletariado, o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras assalariados, assalariados permanentes, assalariados temporários, trabalhadores e trabalhadoras empregados, subempregados, desempregados, ou seja, os despossuídos dos meios de produção, os que só possuem, para vender no mercado, sua força de trabalho. Também podemos chamar de classe trabalhadora. Por quê afirmamos isto? Porque o proletariado é um sujeito histórico universal, que existe e resiste em todos os países do mundo, do centro, da semi-periferia e da periferia do sistema capitalista internacional. É o sujeito histórico que segue, inclusive, crescendo do ponto de vista numérico em muitos países do mundo. É, sem dúvida nenhuma, a maior parte da população mundial. Veja o caso da China, do Leste Europeu, das ex-repúblicas soviéticas, de países africanos e latino-americanos, onde o processo de proletarização/assalariamento das massas camponesas e indígenas/originárias continua ocorrendo, e com grande intensidade e velocidade durante os anos noventa do século XX e início do século XXI. Na China dos últimos trinta anos, com sua população de 1bilhão e 315 milhões de habitantes, vive-se um processo de formação da classe operária industrial/urbana.<br />E @s desempregad@s também são proletári@s? Sim, pois estar desempregad@ não significa deixar de ser despossuído ou perder sua condição de vendedor da força de trabalho. Ser desempregado é fazer parte daquilo que Marx chamou de “exército industrial de reserva” e que Engels chamou, em seu livro A situação da classe operária na Inglaterra, de “exército de trabalhadores desempregados”.<br /><br /><strong>6. O proletariado e o desenvolvimento desigual e contraditório do capitalismo</strong><br /><br />Como o processo de desenvolvimento do capitalismo pelo mundo é profundamente desigual e contraditório, este sistema se objetiva com uma intensidade e com uma velocidade diferentes em cada país, em cada região dentro de um país, em cada momento histórico, etc.<br />Sendo assim, também o proletariado/a classe trabalhadora sofre transformações, pois seu desenvolvimento em nível internacional também é desigual.<br />Portanto, no interior do proletariado existem muitas diferenças. Nem tod@ proletári@ vive nas mesmas condições de trabalho e/ou exploração. Existem trabalhadores e trabalhadoras com diferentes padrões salariais, com mais ou menos direitos trabalhistas assegurados, com maior ou menor nível de organização sindical e no local de trabalho, ou seja, todas as diferenças e contradições possíveis e imagináveis se desenvolvem no dia-a-dia da classe trabalhadora mundial. A situação concreta de cada proletári@ é distinta, muda de região para região, de uma categoria profissional para outra, de um setor da economia para outro, de um país para outro.<br />Na África do Sul, por exemplo, o proletariado organizado pela COSATU (Central sindical sul-africana) sempre lutou contra o racismo e contra o capitalismo, pois o racismo do regime capitalista do Apartheid criou uma situação concreta que obrigou os sindicatos a incorporar a luta contra o racismo como um dos elementos fundamentais da luta de classes entre proletariado e burguesia.<br />Já no Peru, na Bolívia, no Equador, na Guatemala e outros países, o proletariado é indígena, e isto já nos alertava José Carlos Mariátegui em seu livro “Sete ensaios de interpretação da realidade peruana”, um marxista e revolucionário peruano, nos anos 20 do século passado.<br /><br /><strong>7. Toda a base social de uma revolução anticapitalista é proletária?<br /></strong><br />Quando afirmamos que a força social e política principal, fundamental e determinante para a vitória de uma revolução anticapitalista é o proletariado, não estamos menosprezando ou ignorando outras forças e/ou setores sociais existentes numa sociedade de classes.<br />Por exemplo, temos no Brasil – e creio que também em outros países, como Equador – uma categoria social chamada por Lênin de semi-proletariado/semi-assalariados. No Brasil quem já escreveu sobre isso foi Claus Germer, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e intelectual marxista que contribui com vários movimentos de trabalhadores do campo e da cidade. Além de proletári@s, @s semi-proletári@s também são parte da base social do MST, e participam ativamente da luta pela terra e pela reforma agrária. São famílias que possuem pouca terra, um pedaço muito pequeno de terra, não possuem nem equipamentos agrícolas nem mesmo tração animal, vivem numa situação tão precária que não conseguem produzir nem mesmo sua sobrevivência com o trabalho na terra. Portanto, possuem pouca terra e não possuem as condições necessárias para a produção de uma vida digna, nem mesmo para sua subsistência. Então o que fazem? São obrigados a vender a única coisa que possuem: sua força de trabalho. Não fazem isto por que gostam, por que querem, mas pela necessidade de garantir comida e outros produtos básicos para sua sobrevivência. Geralmente trabalham para os latifundiários e/ou empresas em condições intensas de exploração. Trabalham muito e ganham pouco. Muitas vezes só tem trabalho durante poucos meses, numa determinada época, não é um trabalho permanente. Trabalham sem receber os direitos trabalhistas assegurados pelas leis brasileiras.<br />Essas famílias não são puros assalariados, mas não são burgueses. São semi-proletários/semi-assalariados. São os mais pobres entre aqueles que tem um pedaço de terra. Eles também são/devem ser parte da base social a ser mobilizada e organizada para um processo de luta econômica, social e política anticapitalista.<br /><br /><strong>8. E os camponeses?</strong><br /><br />Essa é uma categoria social que também se desenvolveu de maneira desigual e contraditória durante a expansão nacional e mundial do capital e do capitalismo.<br />Agora, neste encontro de movimentos sociais, temos que saber precisar de que camponeses estamos falando. O nome camponês, por diversos motivos, se popularizou entre nós, mas é um conceito que merece uma análise bastante profunda e crítica, pois muitas vezes falamos de luta camponesa sem estudar muito o desenvolvimento do capitalismo no campo e o papel que a agricultura teve – e tem – nesse processo. Marx deu uma contribuição fundamental para entendermos a relação entre capitalismo e agricultura no livro “O Capital”, em seu capítulo XXIV (Livro I, Tomo I), conhecido como “A chamada acumulação primitiva de capital”. E Karl Kautsky, seguindo os passos de Marx, em seu livro “A questão agrária”. Temos que estudar profundamente o processo e expansão do capital e do capitalismo em nossos países para, a partir da realidade concreta de cada situação, identificarmos quais são as classes e qual é a estrutura de classes que se desenvolve e se consolida no chamado meio rural.<br />Voltando à questão central para nós, membros de movimentos sociais latino-americanos: de que camponeses estamos falando?<br />Daquelas famílias que tem pouca terra e vendem sua força de trabalho?<br />Daquelas famílias que são pequenos e/ou médios produtores agrícolas que existem e resistem, mas de maneira submissa/subordinada aos interesses do grande capital nacional e transnacional, produzindo para atender as necessidades dos grandes complexos agroindustriais capitalistas?<br />Em seus livros “O desenvolvimento do capitalismo na Rússia” e “O programa agrário da social-democracia russa”, e num pequeno texto chamado “Aos pobres do campo”, Lênin nos alerta para a existência de camponeses ricos, camponeses médios e camponeses pobres.<br />Portanto, creio que os camponeses pobres são aqueles que mais podem se aproximar e/ou identificar com um programa de transformações sociais e econômicas elaborado por forças populares e proletárias.<br /><br /><strong>9. E os setores médios? E a chamada classe média?</strong><br /><br />É verdade que esses setores podem se juntar aos mais pobres do campo e da cidade e à classe trabalhadora para lutar por conquistas democráticas, por mais soberania nacional, por reforma agrária e por algumas reformas sociais importantes e necessárias, mas quando falamos em revolução social, revolução socialista muitos desses setores se afastam ou fazem a crítica às posições dos movimentos de trabalhadores e trabalhadoras. A maioria das pessoas da chamada classe média tem uma tendência a lutar para defender seus interesses corporativos/particulares, e sua posição política é muitas vezes indefinida e/ou vacilante, profundamente influenciada pela correlação de forças no interior da sociedade e da luta de classes. Se existe uma situação de ofensiva e de predomínio da hegemonia política da classe dominante, da grande burguesia, do grande capital nacional e transnacional, esses setores, em sua maioria, tendem a se aliar com esta classe dominante para atacar o proletariado e as massas populares. Mas se as forças proletárias e populares conseguem mudar a correlação de forças e partir para uma ofensiva, conquistando um governo democrático, popular e/ou antimperialista, a posição desses setores também pode mudar. Creio que aqui no Equador muitos setores médios se aproximaram, de alguma maneira, dos movimentos sociais. Creio que as lutas sociais dos últimos anos criaram uma nova correlação de forças que favoreceu essa aproximação. Mas é sempre bom lembrar: a classe trabalhadora não pode ser refém nem estar subordinada à direção política dos setores médios, mesmo que tenham, num determinado momento, posições consideradas progressistas. A classe trabalhadora tem que participar de maneira independente, autônoma, na luta de classes.<br />Agora vale recordar um ensinamento das revoluções dos séculos XIX e XX: uma coisa é a situação de classe, outra coisa é a posição de classe. A situação de classe é a situação em que se encontra o indivíduo em relação ao processo de produção na sociedade capitalista. E aí você pode ser membro da classe trabalhadora e das massas populares ou pode ser membro da classe dominante. Já a posição de classe é a posição política assumida pelo indivíduo no cotidiano da luta de classes, e aí é preciso observar que podem surgir as mais diversas situações. Por exemplo: nem todo operário é revolucionário, nem todo operário é contra-revolucionário. Existem operários que participam de movimentos revolucinários, operários que participam de movimentos contra-revolucionários (como a tentativa de golpe de Estado contra Hugo Chávez ) e operários que não tem um vínculo orgânico com movimentos de esquerda ou de direita. Também existem membros de povos originários/indígenas revolucionários e contra-revolucionários (como muitos índios Miskitos durante a Revolução Sandinista na Nicarágua ou como o Movimiento Nación Camba de Liberación , braço da extrema-direita golpista-fascista na Bolívia, que usa a causa indígena para pregar o separatismo e a derrubada do governo de Evo Morales). Ser operário, camponês, indígena, classe média/pequeno burguês, burguês não significa necessariamente ser de esquerda, centro ou direita. E precisamos compreender essas contradições presentes no processo de construção da nova sociedade. Marx, Engels, Lênin, Mariátegui, Fidel Castro e Che não vieram de uma família operária, de uma família indígena, de uma família camponesa pobre, mas sua posição política na luta de classes foi em defesa dos operários, camponeses pobres e indígenas.<br /><br /><strong>10. Então qual é a aliança estratégica para fazer vitoriosa uma revolução social anticapitalista?<br /></strong><br />Essa unidade proletária-popular é fundamental na construção de uma frente de movimentos e organizações para fazer avançar a luta pela construção da nova sociedade. O revolucionário nicaragüense Augusto César Sandino, quando construía o Exército de Defesa da Soberania da Nicarágua, afirmava que a organização pretendia ser “um exército proletário-camponês”. Creio que hoje, quando falamos em unidade proletária-popular, falamos da unidade entre a classe trabalhadora e as massas populares urbanas e rurais, entre operári@s, camponeses pobres, afrodescentes pobres (afroecuatorianos, afrobrasileiros, etc...) e povos originários/indígenas, que juntos podem se transformar numa força social e política de massas anticapitalista.<br />A construção dessa frente de movimentos e organizações proletárias, camponesas, indígenas, populares seria já um sinal de elevação do nível de consciência política da base, dos militantes e dos dirigentes, pois essa unidade na diversidade é o elemento decisivo para impor várias derrotas à classe dominante.<br />A construção dessa vanguarda proletária-popular, compartilhada entre várias organizações e movimentos seria um passo adiante na compreensão de que nenhum movimento, nenhuma categoria de trabalhadores isolada, nenhuma organização, por mais combativa que seja, tem condições de, sozinha, impor uma derrota importante/decisiva às forças do capital/capitalismo. Nenhuma categoria de trabalhadores pode substituir a força da classe trabalhadora em movimento. Nenhuma organização isolada pode substituir a força social e política de massas que representa uma frente de organizações proletárias, populares e antiimperialistas/anticapitalistas.<br /><br /><br /><strong>10. Existem revoluções anticapitalistas vitoriosas no Equador, na Bolívia e na Venezuela?<br /></strong><br />Muito resumidamente podemos dizer que existem três momentos distintos do processo de mobilização popular da classe trabalhadora:<br />A) Ofensiva dos movimentos de massa classistas: quando diversos setores da classe trabalhadora avançam conjuntamente, se organizam, se reorganizam, obtém conquistas parciais, retomam sua capacidade de mobilização e organização e conseguem obrigar a classe dominante a recuar e a se posicionar de maneira defensiva na luta de classes. Me parece que o Equador está nessa situação hoje;<br />B) situação pré-revolucionária: quando as forças proletárias e populares já acumularam força, forjaram na luta novos militantes e quadros, e suas organizações já conseguem impor importantes derrotas contra a burguesia, onde já se percebe um avanço na elevação do nível de consciência política das massas, do nível de mobilização e organização da classe trabalhadora, mas tudo isso, apesar de representar um passo à frente na luta concreta, ainda não foi capaz de produzir uma força social e política de massas com condição de impor a vitória da revolução social. A tendência, numa situação como esta, é o acirramento das contradições e dos conflitos, acirramento da luta de classes e da luta entre as forças da revolução e da contra-revolução, período em que são criadas condições mais favoráveis para desencadear uma transição de caráter anti-capitalista. É um momento que tende a não durar por muito tempo, principalmente nas condições objetivas da atualidade, é um momento decisivo, de avanço/vitória ou recuo/derrota do projeto revolucionário. O período do governo de Salvador Allende, no Chile, entre 1971/1973, é um exemplo dessa situação. A contra-revolução preventiva (golpe civil-militar de 11/09/73) interrompeu o desenvolvimento dessa situação revolucionária;<br />C) uma situação revolucionária: quando se cria, de fato, uma excepcionalidade histórica, um momento que é resultado de sucessivas e decisivas derrotas impostas pela classe trabalhadora à classe dominante, onde a expropriação dos expropriadores já é uma realidade e tem início o processo de socialização dos meios de produção, onde todas as reformas vão sendo implementadas de maneira revolucionária, ou seja, sob o controle direto do proletariado e das massas populares do campo e da cidade, onde a tomada do poder político pelos trabalhadores e trabalhadoras já é uma realidade concreta. É o momento de triunfo do processo revolucionário, de vitória da revolução, como ocorreu na Rússia em 1917, na China em 1949, em Cuba em 1959.<br /><br />Nos casos da Venezuela e Bolívia, me parece que vivem num momento de tensão e transição entre o período de nova ofensiva dos movimentos sociais, com governos democrático-populares e antiimperialistas, e a situação pré-revolucionária. Essa transição é complexa, tensa, cheia de possibilidades, de problemas e de contradições. Difícil prever com muita exatidão a intensidade desses dois processos, pois a cada dia surgem novos fatos, novos conflitos, uma vitória da esquerda hoje, uma vitória da direita no dia seguinte. Então são momentos decisivos, mas de difícil precisão do ponto de vista teórico, pois uma afirmação hoje pode ser desmentida pela realidade amanhã. É uma situação onde, como disseram Marx e Engels, “tudo o que é sólido desmancha no ar”. Às vezes observamos esses processos e pensamos “agora sim o processo revolucionário vai se aprofundar, vai avançar, será vitorioso” (e é esse nosso desejo, lutamos por isso), mas logo depois somos surpreendidos por alguns acontecimentos e pensamos “tudo o que foi conquistado até agora pode desaparecer, pois a direita ainda existe, resiste, tem força e está partindo para uma nova ofensiva contra-revolucionária em todo o continente” (vejam o golpe em Honduras, as bases dos EUA na Colômbia, a vitória da direita no Chile) ou dizemos como Fidel Castro, “o imperialismo e as forças conservadoras não podem destruir nossa revolução, mas nós podemos”, uma frase muito apropriada quando observamos o oportunismo, a burocracia e a corrupção, que vão corroendo/destruindo por dentro os processos de transformação em curso na Venezuela e Bolívia. E foi percebendo esta grave e real ameaça que Chávez, Evo e os verdadeiros revolucionários desses países decidiram intensificar a batalha cotidiana contra esses desvios que podem sim ser um elemento fundamental para enfraquecer e derrotar as mudanças que estão em curso.<br /><br /><strong>11. A importância da teoria revolucionária: Marx e os marxismos<br /></strong><br />Para nós do MST é fundamentar estudar o marxismo, os conceitos fundamentais do materialismo histórico-dialético. Hoje é moda mesmo no interior da esquerda a crítica às idéias de Marx e dos marxistas. É verdade que o mais correto é falar de marxismos. Mas os mais críticos do marxismo hoje são aqueles que nunca estudaram profundamente os textos de Marx, Engels, Lênin e outros tantos intelectuais revolucionários. Ou nunca leram, ou nunca entenderam.<br />Combinar os conceitos fundamentais do marxismo com a realidade concreta de cada país, de cada situação concreta, é isso que devemos fazer. Agora, se não temos capacidade de fazer isso, por nossa incompetência, por nossa preguiça intelectual ou pela influência nefasta das idéias pequeno-burguesas no interior de nossas organizações e de nossas lutas, então a culpa é de Marx e Engels? É do marxismo?<br />Reafirmamos, muitas vezes ainda repetimos, nos movimentos sociais, idéias e conceitos pequeno-burgueses, que nos empurram para uma armadilha chamada “ecletismo”, também chamado por intelectuais pequeno-burgueses de “pluralismo de idéias”. Querem nos seduzir com concepções de mundo supostamente mais “democráticas”, onde temos que nos utilizar de diversos referênciais teóricos para termos uma “visão mais ampla” da realidade. Essa suposta “democracia teórica” esconde um pensamento profundamente autoritário, que quer impor a ditadura do pensamento único (pensamento burguês ou, mais precisamente, pequeno-burguês), querendo obrigar a nós, trabalhadores e trabalhadoras, a não acreditar mais em luta de classes e revolução social, alimentando ilusões que criam muita confusão teórica e desorientação estratégica, nos empurrando para priorizar as lutas corporativas/específicas de cada movimento e nos afastando das lutas mais gerais de nossa classe, ou seja, da luta contra o capital e o capitalismo.<br />Também é comum ouvir que o marxismo é uma teoria européia. Nada mais equivocado do que essa afirmação. Se o marxismo nasce na Europa, ele também, assim como o capital, se expande por todo o mundo, e é uma teoria que é resultado das ações concretas da classe trabalhadora em todo o mundo.<br />A Revolução Russa ocorreu no Oriente, e a maior parte do território da URSS (criada entre 1917/1922) estava na Ásia, e não na Europa, ou seja, a primeira revolução anticapitalista vitoriosa, influenciada pelas idéias marxistas, não ocorreu na Alemanha ou na Inglaterra. Muitos revolucionários bolcheviques eram asiáticos e não europeus. E a Revolução Chinesa? Mao Tsé Tung e Chu En Lai eram europeus? E as Revoluções Africanas e os líderes marxistas desse continente? Amílcar Cabral, em Cabo Verde e Guiné Bissau, Agostinho Neto em Angola, Samora Machel em Moçambique, Thomas Sankhara em Burquina Fasso, Julius Neyrere na Tanzânia. E Ho Chi Min e Giap, no Vietnã? E Mariátegui no Peru, Farabundo Martí em El Salvador, Fidel e Che em Cuba, Carlos Fonseca na Nicarágua, Caio Prado Júnior e Carlos Mariguella no Brasil?<br />De uma coisa temos certeza, precisamos estudar mais, para que o conhecimento seja, de fato, um instrumento da luta pela transformação da realidade.<br />Chega de imprecisão, chega de falarmos sobre fatos que não dominamos profundamente. Temos que reconhecer nossos limites e debilidades teóricas, e a partir disso, redobrar os esforços e melhorar nossa organização e nosso planejamento de estudos, para que possamos deixar de reproduzir mecanicamente determinados conceitos, para que deixemos de reproduzir uma “caricatura” do marxismo, e nos desafiemos todos e todas a compreender melhor a intensidade e a força do materialismo histórico-dialético, e assim poderemos prestar uma das melhores homenagens a figuras como Marx, Engels, Lênin, Ho Chi Min, Che Guevara, etc. E pensamos que a melhor forma de homenagear esses revolucionários é estudar e compreender aquilo que escreveram e fizeram, estudar seus textos e a história das revoluções que participaram, tirando lições do passado para intervir no presente, e assim construir, no dia-a-dia, o futuro que tanto sonhamos.<br /><span style="color:#000099;"><strong><br /></strong></span><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3068086744549447583#_ftnref1" name="_ftn1"><span style="color:#000099;"><strong>[1]</strong></span></a><span style="color:#000099;"><strong> Exposição no Io. Encuentro Nacional de Movimientos y Organizaciones Sociales, 14 y 15/01/2010 – Baños-Equador, organizado pela Secretaria de Pueblos, Movimientos Sociales y Participación Ciudadana – Gobierno de Ecuador.<br /></strong></span><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3068086744549447583#_ftnref2" name="_ftn2"><strong><span style="color:#cc0000;">[2]</span></strong></a><strong><span style="color:#cc0000;"> Membro do Coletivo de Relações Internacionais e da Direção Estadual/SP do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST (Brasil).</span></strong></div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-37586048861399084892010-02-17T15:43:00.004-02:002010-02-17T15:53:18.683-02:00Análise Geopolítica do Golpe Civil-Militar em Honduras<div align="justify"><span style="color:#000099;"><strong>HONDURAS: DO GOLPE CIVIL-MILITAR DE 28/06 ATÉ AS ELEIÇÕES DE 29/11 –<br />CONTINUA A RESISTÊNCIA POPULAR</strong></span><br /><br /><br /><span style="color:#cc0000;"><strong>O Golpe em Honduras e a nova guerra dos EUA na América Latina</strong></span><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3068086744549447583#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a><br /><br /><strong>Marcelo Buzetto<br /></strong><br /><strong>Uma nova ofensiva imperialista está em curso<br /></strong><br /> Depois de dez anos de ofensiva de um projeto democrático, popular e antiimperialista, representado pelas mobilizações operárias e populares em diversos países, por governos como os de Cuba, Venezuela, Bolívia e Equador e pela Alternativa Bolivariana dos Povos da América- Tratado de Comércio entre os Povos (ALBA-TCP), o que vemos em curso em “nuestra América” é o início de mais uma ofensiva da classe dominante estadunidense, com apoio e participação direta dos setores mais conservadores e reacionários da política latino-americana.<br /> Com o objetivo de neutralizar o avanço das forças sociais e políticas que, de alguma maneira, se alinham com o processo de integração conduzido pelos governos e movimentos defensores da ALBA-TCP, uma nova escalada de violência e golpes de Estado pode tomar conta de algumas regiões de nosso continente. O golpe civil-militar em Honduras não é um fato isolado, e representa a primeira ação política-militar mais contundente contra a alternativa bolivariana que vem sendo construída desde a vitória político-eleitoral de Hugo Chávez e da esquerda venezuelana em 1998.<br /> Vivemos um momento de rearticulação da direita e das forças conservadoras na América Latina que, preocupadas com a possibilidade de novas lutas e conquistas sociais por parte da classe trabalhadora, bem como com o fortalecimento e o surgimento de alternativas políticas que possam criar condições mais favoráveis para o desenvolvimento de uma estratégia profundamente antiimperialista e socialista, se unem, se movimentam, se reorganizam, dentro e fora dos parlamentos e das forças armadas, com apoio e participação direta das grandes empresas e corporações industriais e financeiras, nacionais e/ou transnacionais, onde os meios de comunicação de massa vão cada vez mais assumindo a tarefa de desencadear o necessário terrorismo mediático com a finalidade de servir como instrumento fundamental da luta ideológica, junto, é claro, com os setores que detém hoje o controle das Igrejas, seja a católica ou inúmeras outras de origem evangélica/pentecostal, etc.<br /> Nessa nova guerra imperialista se misturam elementos e táticas da época da Guerra Fria com as novas orientações e doutrinas militares que dão grande importância e acreditam na eficiência das guerras de baixa intensidade, das diversas modalidades de guerra irregular (não-convencional) e do terrorismo, como métodos que se aplicam dentro de um estratégia militar de dominação de um determinado território. A Colômbia tem sido um grande laboratório para a aplicação dos princípios estadunidenses da contra-insurgência. A nova guerra dos EUA na América Latina já começou, e tende a militarizar a região, com possibilidade até de um conflito convencional, se se esgotam as alternativas não-convencionais. È a “guerra assimétrica” ou de “quarta-geração”, como dizem alguns especialistas na questão. Golpes de Estado, desestabilização econômica e política, terrorismo mediático, narcotráfico, paramilitarismo, bases militares, tratados de livre comércio, ofensiva diplomática, política e econômica contra os governos da região, principalmente contra as iniciativas de integração, financiamento de grupos de oposição, ampliação dos convênios e da influência junto às polícias e às forças armadas latino-americanas, etc. São inúmeras ações que se desenvolvem de maneira combinada, aplicadas de maneira diferente, respeitando a situação concreta. Quando a ameaça é maior, mais intensas são as ações. A Venezuela se tornou uma ameaça: golpe de Estado em 2002. Honduras se tornou uma ameaça: golpe de Estado em 2009. El Salvador se tornará uma ameaça?<br /> É nesse contexto de uma nova ofensiva imperialista que podemos entender o golpe civil-militar contra o presidente eleito Manuel Zelaya, contra as massas populares e contra a ALBA-TCP.<br /><br /><strong>As razões do golpe em Honduras</strong><br /><br /> Os resultado das eleições de Honduras em 2005 foi o seguinte:<br /><br />Os candidatos e partidos de nomeação<br />Votes Votos<br />% %<br /><a title="Manuel Zelaya" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Manuel_Zelaya&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhiTd_TlHNKh6xuFgfZFhp8vU0DeZA">José Manuel Zelaya Rosales</a> - <a title="Partido Liberal de Honduras" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Liberal_Party_of_Honduras&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhiPTEZtfRnpKM0lLNOxK0FuuWpc3w">Liberal Party of Honduras</a> ( Partido Liberal de Honduras ) <a title="Manuel Zelaya" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Manuel_Zelaya&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhiTd_TlHNKh6xuFgfZFhp8vU0DeZA">José Manuel Zelaya Rosales</a> - <a title="Partido Liberal de Honduras" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Liberal_Party_of_Honduras&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhiPTEZtfRnpKM0lLNOxK0FuuWpc3w">Partido Liberal de Honduras</a> (Partido Liberal de Honduras)<br />915,075 915.075<br />49.9 49,9<br /><a title="Porfirio Lobo Sosa" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Porfirio_Lobo_Sosa&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhiLfmgK3bqP7gzfJhSpWXK6pwecsQ">Porfirio Lobo Sosa</a> - <a title="Partido Nacional de Honduras" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/National_Party_of_Honduras&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhj4C4W0e-dqDkYiD4EkFijFe1gHOQ">National Party of Honduras</a> (Partido Nacional de Honduras ) <a title="Porfirio Lobo Sosa" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Porfirio_Lobo_Sosa&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhiLfmgK3bqP7gzfJhSpWXK6pwecsQ">Porfirio Lobo Sosa</a> - <a title="Partido Nacional de Honduras" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/National_Party_of_Honduras&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhj4C4W0e-dqDkYiD4EkFijFe1gHOQ">Partido Nacional de Honduras</a> (Partido Nacional de Honduras)<br />846,493 846.493<br />46.2 46,2<br /><a title="Ángel Juan Almendares Bonilla" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Juan_%25C3%2581ngel_Almendares_Bonilla&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhjB48xTGiuGrei8nc1EvFbpc7P3PA">Juan Ángel Almendares Bonilla</a> - <a title="Unificação Democrática" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Democratic_Unification_Party&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhjclsDxzQ1Al-WSMF6pOMeABBsjpg">Democratic Unification Party</a> ( Unificación Democrática ) <a title="Ángel Juan Almendares Bonilla" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Juan_%25C3%2581ngel_Almendares_Bonilla&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhjB48xTGiuGrei8nc1EvFbpc7P3PA">Ángel Juan Almendares Bonilla</a> - <a title="Unificação Democrática" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Democratic_Unification_Party&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhjclsDxzQ1Al-WSMF6pOMeABBsjpg">Unificação Democrática</a> (Unificación Democrática-UD)<br />27,731 27.731<br />1.5 1,5<br /><a title="Juan Ramón Martínez" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Juan_Ram%25C3%25B3n_Mart%25C3%25ADnez&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhiq5VSN7Yuz4Hjkw76d2ARqGJ7k7A">Juan Ramón Martínez</a> - <a title="Partido Democrata-Cristão de Honduras" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Christian_Democratic_Party_of_Honduras&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhjoDMCHQ8O1qn39ZM8OKLq9CcO6hQ">Christian Democratic Party of Honduras</a> ( Partido Demócrata Cristiano de Honduras ) <a title="Juan Ramón Martínez" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Juan_Ram%25C3%25B3n_Mart%25C3%25ADnez&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhiq5VSN7Yuz4Hjkw76d2ARqGJ7k7A">Juan Ramón Martínez</a> - <a title="Partido Democrata-Cristão de Honduras" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Christian_Democratic_Party_of_Honduras&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhjoDMCHQ8O1qn39ZM8OKLq9CcO6hQ">Partido Democrata Cristão de Honduras</a> (Partido Demócrata Cristiano de Honduras)<br />25,722 25.722<br />1.4 1,4<br /><a title="Carlos Sosa Coello página (não existe)" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/w/index.php%3Ftitle%3DCarlos_Sosa_Coello%26action%3Dedit%26redlink%3D1&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhhBWzIiyaftHI2elUP25R-TmvJ59w">Carlos Sosa Coello</a> - <a title="Inovação e Partido da Unidade" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Innovation_and_Unity_Party&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhhEyNHFGKgbR3VmBr7iMyQE85Mj_w">Innovation and Unity Party</a> ( Partido Innovación y Unidad ) <a title="Carlos Sosa Coello página (não existe)" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://en.wikipedia.org/w/index.php%3Ftitle%3DCarlos_Sosa_Coello%26action%3Dedit%26redlink%3D1&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhhBWzIiyaftHI2elUP25R-TmvJ59w">Carlos Sosa Coello</a> - Partido Inovação e Unidade (Partido Innovación y Unidad)<br />18,689 18.689<br />1.0 1,0<br />Total (Turnout 46.0 %) Total (46,0% de participação)<br />1,833,710 1.833.710<br />100.0% 100,0%<br />Registered voters Eleitores registrados<br />3,988,605 3.988.605<br /><br />Source: <a title="http://psephos.adam-carr.net/countries/h/honduras/honduras2005.txt" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://psephos.adam-carr.net/countries/h/honduras/honduras2005.txt&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhhCo3ttQClwrtgtGfoHrKvSn4FQLA">Honduras government election website through Adam Carr</a> Fonte: <a title="http://psephos.adam-carr.net/countries/h/honduras/honduras2005.txt" href="http://74.125.115.132/translate_c?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://psephos.adam-carr.net/countries/h/honduras/honduras2005.txt&prev=/translate_s%3Fhl%3Dpt-BR%26q%3Delei%25C3%25A7%25C3%25B5es%2Bem%2Bhonduras%2Bem%2B2005%26tq%3Delections%2Bin%2BHonduras%2Bin%2B2005%26sl%3Dpt%26tl%3Den&rurl=translate.google.com.br&usg=ALkJrhhCo3ttQClwrtgtGfoHrKvSn4FQLA">site Honduras eleição de governo através de Adam Carr</a> <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Elections_in_Honduras">http://en.wikipedia.org/wiki/Elections_in_Honduras</a><br /><br /><br /><br />Com a vitória eleitoral em novembro de 2005, Manuel Zelaya, do Partido Liberal, assume a presidência numa situação geopolítica marcada pela ascensão de governos progressistas/reformistas e populares/antiimperialistas. Desde 2006, quando toma posse, busca uma aproximação e inicia um diálogo com Cuba e Venezuela, bem como com a Nicarágua já governada por Daniel Ortega e a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). Também acompanha em El Salvador a crescente influência política e eleitoral da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), que já possuía o controle de várias prefeituras e demonstrava ter se tornado uma das principais forças políticas do país. Finalmente, em 2008, Zelaya, com o apoio de setores do Partido Liberal e da direção do Partido da Unificação Democrática – UD, bem como dos movimentos sociais, Via Campesina, sindicatos e demais setores democráticos e de esquerda, decide que é hora de ingressar oficialmente na ALBA-TCP. Honduras vai firmar uma série de convênios de cooperação econômica e social com países da ALBA-TCP, tais como: 1. criação de uma linha de crédito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social da Venezuela (BANDES) para o Banco Nacional de Desenvolvimento Agrícola de Honduras realizar empréstimos com baixas taxas de juros para micros, pequenos e médios agricultores; 2. compra de bônus emitidos pelo governo de Honduras pelo governo da Venezuela, com o objetivo de ajudar o governo de Zelaya a financiar projetos de moradia popular e de desenvolvimento econômico local; 3. participação da PETROCARIBE, sob o comando do governo de Honduras, em atividades de estudo, prospecção e comercialização do petróleo hondurenho, visando ampliar a produção no país; 4. Aprovação de projetos para ampliar a produção de alimentos em Honduras com recursos do Fundo Petroleiro da ALBA-TCP; 5. apoio ao Fundo Especial de Sementes, para garantir a demanda dos pequenos agricultores; 6. apoio técnico gratuito da TELESUR para o canal estatal de televisão de Honduras; 7. ampliação da cooperação médica cubana em Honduras; 8. fornecimento de 80 bolsas integrais por ano para jovens hondurenhos estudarem gratuitamente medicina, humanidades e/ou carreiras técnicas em Cuba; 9. ampliação do Programa de Alfabetização “Yo si puedo!”, com colaboração de Cuba em 206 municípios, visando transformar Honduras em “Território Livre do Analfabetismo”; 10. apoiar diversas iniciativas para garantir a independência energética e a soberania alimentar em Honduras.<br />Além da adesão à ALBA-TCP, podemos afirmar que outras razões do golpe foram: as reformas democráticas e populares, tais como o amento do salário mínimo em 60%, o veto presidencial à conservadora lei de proibição da venda de anticoncepcionais (defendida pela cúpula da Igreja Católica e aprovada pela maioria conservadora dos deputados), a defesa feita por Zelaya na reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) em relação à volta de Cuba (que foi expulsa em 1962), as declarações de Zelaya sobre a possibilidade de transformar a base militar dos EUA em aeroporto internacional, indicando não ter intenção de renovar o acordo de cooperação militar (como fez o Equador com a base de Manta) e sua aproximação com os movimentos sociais hondurenhos.<br /><br /><strong>28 de junho: contra o poder popular e cidadão, contra-revolução preventiva<br /></strong><br /> Mas o que a classe dominante hondurenha considera como o ápice dos conflitos com o governo de Manuel Zelaya, e que apresenta como o motivo principal que levou à deposição do presidente foi uma iniciativa plenamente legal e constitucional de consulta popular/referendo, onde o governo propôs que, no dia 28 de junho o povo deveria se manifestar se apoiaria ou não a instalação de uma “quarta urna” nas eleições de novembro deste ano. Se o povo dissesse não, o assunto estaria encerrado, mas se o povo dissesse sim à “quarta-urna”, o governo faria uma nova consulta em novembro, com a seguinte pergunta: “Você concorda com a instalação de uma nova Assembléia Nacional Constituinte em Honduras?”.<br /> Ou seja, o motivo considerado fundamental para o golpe de Estado foi a tentativa do governo de democratizar as decisões políticas, garantindo a mais ampla participação popular através de referendos onde a população, os partidos e movimentos poderiam defender livremente suas posições, organizando campanhas contra e a favor e levando o debate sobre qual projeto o povo quer para as ruas de todo o país.<br /> Temendo a possibilidade de ampliação do poder popular, a contra-revolução preventiva foi se apresentando como a saída mais eficaz para garantir a manutenção dos privilégios da classe dominante hondurenha. Conhecida na América Central como um “porta-aviões” da contra-revolução, Honduras foi transformada em base de apoio para inúmeras iniciativas golpistas ao longo do século XX. De Honduras saíram tropas para derrubar o presidente Jacob Arbénz, da Guatemala, em 1954, e mercenários que tentaram, junto com o governo dos EUA, derrubar a Revolução Cubana em 1961, na invasão da “Baía dos Porcos”. Também soldados hondurenhos estavam entre os que invadiram Santo Domingo, na República Dominicana, em 1965, para derrubar o governo democrático de Juan Bosch. Talvez a mais explícita utilização de Honduras como base da contra-revolução na América Central tenha ocorrido entre 1979 e 1990, quando da vitória da Revolução Popular Sandinista, na Nicarágua. Treinados pelos EUA, e com apoio das ditaduras dos países vizinhos, os contra-revolucionários entravam pela fronteira de Honduras para fazer ações de sabotagem e terrorismo contra o povo nicaragüense e sua revolução.<br /> A mobilização popular e as iniciativas progressistas do governo Zelaya procuravam enterrar esse triste e trágico passado, demonstrando agora que o país seguiria num outro caminho, de fortalecimento da solidariedade entre os povos e nações oprimidas pelo imperialismo, mas no meio do caminho surge o golpe civil-militar.<br /><br /><strong>A Frente Nacional Contra o Golpe de Estado: mobilização permanente e resistência unificada para garantir a vitória popular<br /></strong><br /> Nesse processo de mobilização e resistência popular, democrática e antiimperialista, surge a Frente Nacional contra o Golpe de Estado, com a participação da Via Campesina , do Bloco Popular, da Confederação Unitária dos Trabalhadores de Honduras (CUTH), da Central Geral dos Trabalhadores (CGT), da Confederação dos Trabalhadores de Honduras (CTH), de setores do Partido Liberal, do Partido Unificação Democrática-UD, do Movimento Nova Democracia, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Bebidas e Similares (STYBYS), do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH), da Federação Universitária Revolucionária- FUR, das Feministas Contra o Golpe e de outras dezenas de organizações representativas do povo de Honduras.<br /> Entre 10 e 13 de agosto estive em Tegucigalpa junto com os companheiros Ivan Pinheiro (Casa da América Latina-RJ) e Amauri Soares (Deputado Estadual-SC), e foi possível perceber que o nível de consciência política das massas, bem como sua capacidade de mobilização e organização tem se elevado desde o dia 28 de junho, pois a disposição de enfrentar os golpistas vem crescendo, e várias formas de luta estão em curso ou em desenvolvimento. Numa situação como esta é inevitável que surjam diversas formas de luta e de organização da resistência contra o golpe de Estado. Passeatas até a Casa Presidencial e ao Congresso Nacional, bloqueio de estradas e rodovias, greves nas fábricas, nas escolas e nas universidades, marchas, concentrações em locais estratégicos, ocupações de prédios públicos, atividades culturais contra o golpe, carreatas e as mais criativas ações de grupo e/ou de massas aparecem como resultado dessa gigantesca onda de mobilização social que toma conta de Honduras nesse momento. Com 5 mil, 50 ou 500 mil, as mobilizações continuam após mais de 60 dias de golpe.<br /> Agora a resistência não quer só a volta imediata do presidente Manuela Zelaya, quer uma nova Assembléia Constituinte para criar novas leis que possibilitem mais democracia e mais poder para o povo. Também a Frente de resistência conclama o boicote ao processo eleitoral de novembro enquanto não houver a volta à normalidade democrática, que significa Manuel Zelaya na presidência, libertação dos presos políticos, fim dos processos e perseguições contra os membros da resistência, eleições livres e democráticas, continuidade dos programas sociais e manutenção de Honduras na ALBA-TCP.<br /><br /><br /><strong>Para onde vai Honduras?<br /></strong><br />Como existem muitas possibilidades, é difícil prever com certeza e precisão até onde vai este golpe de estado e até onde vai a resistência popular hondurenha. Muitos fatores indicam que não existem somente dois caminhos: ou vitória popular imediata ou capitulação/derrota e institucionalização do golpe.<br /> Alguns fatores decisivos para garantir a vitória ou a derrota de uma das forças em disputa são: a capacidade de mobilização e organização das classes sociais, o nível de consciência política e a maturidade das lideranças e da base na defesa de seus interesses econômicos e políticos, o grau e a intensidade da unidade construída pelas forças sociais que representam um mesmo projeto e uma mesma estratégia no atual cenário da luta de classes em Honduras, a coragem, a determinação e a lucidez das organizações políticas e sociais na condução do conflito existente, bem como a disposição das mesmas de levar adiante uma “guerra prolongada” cuja solução ultrapassará os limites do processo eleitoral e de qualquer acordo à curto prazo.<br />Alguns apostam na legitimação/institucionalização do golpe, com reconhecimento do novo governo iniciado por Canadá, México e Colômbia, depois seguido de EUA, Peru e outros, com algum acordo relacionado à manutenção do processo eleitoral em novembro, com eleições controladas pelos golpistas e acompanhadas por comissão da OEA (Argentina,Canadá, Costa Rica, Jamaica, México, República Dominicana). A dúvida é se os golpistas vão aceitar isso, pois sua intransigência em aceitar a volta de Zelaya sem que o mesmo seja preso dificulta esse caminho. Isso pode ocorrer sem a volta de Zelaya ou com a volta de Zelaya, que seria o acordo proposto por Oscar Árias, presidente da Costa Rica, onde o presidente deposto aceitaria formar um governo de união nacional supervisionado por uma comissão da OEA e de “notáveis”, além da Corte Suprema (a mesma que mandou prendê-lo), até as eleições de novembro e a posse do novo presidente. Golpistas dizem que Zelaya conversa com setores do Partido Nacional sobre as próximas eleições, já que o candidato do PL é um golpista (Elvin, que prega a união dos liberais).<br />Na impossibilidade de um acordo/conciliação entre os diversos setores da classe dominante, inclusive setores que apóiam o presidente deposto, cria-se um impasse que pode favorecer a continuidade das lutas populares, pois, numa situação como esta, a mobilização de massas pode continuar, com um programa de mudanças que dá seguimento a algumas propostas do governo Zelaya e vai mais adiante, com o debate da constituinte e outras questões. Se for assim, a esquerda pode apresentar uma candidatura que é a expressão desse movimento de massas, seja pelo Partido Unificação Democrática - UD ou por uma frente de partidos e movimentos contra o golpe e pela nova Constituição. O movimento de massas pode pressionar Zelaya para aceitar essa solução e assim participar das eleições com um programa democrático, popular e antiimperialista. Também a Frente Nacional Contra o Golpe de Estado pode manter a posição aprovada recentemente numa assembléia, de que as eleições, com os golpistas no governo, não são legítimas e propor o boicote ao processo, denunciando para o mundo as irregularidades, e pregando o boicote consciente, lembrando que em 2005 (como o voto não é obrigatório) somente 49% dos hondurenhos com direito ao voto compareceram às urnas. O fato é que, em relação à participação ou não no processo eleitoral,que já está se iniciando sob o controle dos golpistas, temos a impressão que existem, no interior da resistência ao golpe, posições diferentes que podem fragilizar a unidade conquistada até o momento.<br /><br /><strong>As fragilidades da ALBA-TCP e a necessidade de uma campanha internacional de defesa da “Revolução Bolivariana”<br /></strong><br /> A ALBA-TCP precisa de tempo para se desenvolver e se consolidar, pois sua influência, na atualidade, ainda é pequena. É preciso ir construindo uma nova correlação de forças no continente, que dê o fôlego necessário para impulsionar esse processo de integração iniciado por Cuba e Venezuela em 2004. Se a ALBA-TCP não ganha tempo e não consegue novos aliados, infelizmente, todas as iniciativas econômicas, sociais, políticas e culturais poderão desaparecer diante da possibilidade de vitória de governos de centro-direita ou de governos que se apresentam como de esquerda, mas acabam fazendo o jogo da direita, hostilizando ou procurando demonstrar que não querem se “parecer” ou não querem seguir “o caminho de Chávez”, como tem insistido em afirmar publicamente o recentemente eleito presidente de El Salvador, Maurício Funes, um jornalista de classe média viável eleitoralmente, mas não muito confiável ideológicamente, pois nem começou a governar e já se presta a contribuir na campanha internacional de desqualificação do presidente venezuelano Hugo Chávez, dando assim ânimo e munição para o imperialismo continuar sua nova fase de ofensiva contra a “Revolução Bolivariana”. Ao ficar comparando Lula e Chávez, e demonstrar preferência pelo primeiro, Funes vai desgastando uma relação de solidariedade que Chávez vem construindo desde sua posse, em 1999, com o partido salvadorenho Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), e sua posição de fazer em El Salvador um governo “a la Lula” frustrará as expectativas daqueles que esperavam um governo coerente com as idéias e o programa debatido pelo já falecido comunista da FMLN, comandante Shafik Handal.<br /> Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, havia dito que, “se a OEA não resolver o problema (restituição de Zelaya na presidência), teremos que resolver nós mesmos, países da ALBA-TCP”. Até hoje penso no que significa esta frase, com a qual concordo. O que significaria os países da ALBA-TCP resolverem por conta própria, com apoio e ação conjunta dos movimentos sociais hondurenhos e latino-americanos a questão de Honduras? Foi só uma frase? Essa iniciativa está em curso? São dúvidas que logo se esclarecerão.<br /> Fica evidente que a ALBA-TCP precisa se fortalecer, e ir criando também estruturas conjuntas de defesa diante da possibilidade de golpes de Estados contra os países membros. Urge a criação e desenvolvimento de uma Escola Latino-Americana de Defesa, organizada sob os princípios e valores da ALBA, com uma nova doutrina militar, comprometida com o programa democrático, popular e antiimperialista que inspira os governos chamados hoje por alguns de “bolivarianos”. Além disso, passou da hora de formar um “Conselho Bolivariano de Defesa”, com países membros da ALBA-TCP, e com a colaboração de países que podem contribuir de alguma maneira com um projeto dessa natureza.<br /> Também se faz necessário um amplo e forte movimento de solidariedade e defesa da “Revolução Bolivariana” e do governo de Hugo Chávez, pois se a Venezuela cair novamente nas garras do imperialismo, o projeto de integração sonhado pela esquerda do continente estará seriamente ameaçado de desaparecer em alguns poucos anos.<br /><br /><strong>As fragilidades de Manuel Zelaya e as ilusões do nacionalismo burguês<br /></strong><br />Se queremos fazer uma reflexão na perspectiva da classe trabalhadora não podemos alimentar ilusões quanto às fragilidades presentes da figura de Zelaya e de parte dos setores que o apóiam nesta luta legítima pela volta à condição de presidente de Honduras. Como já disseram, no passado, Caio Prado Jr., Florestan Fernandes e Rui Mauro Marini, em países periféricos da América Latina a única possibilidade de uma plena e efetiva independência nacional é através de um processo de transição que promova significativas transformações econômicas, políticas e sociais com um caráter democrático, popular e antiimperialista, criando assim as condições necessárias para que a nação seja colocada no rumo da construção de novas relações de produção, ou seja, na construção de uma sociedade socialista. Capitalismo dependente e subordinado ou socialismo? Eis a questão. A possibilidade de um capitalismo autônomo nunca fez parte da realidade contemporânea centro-americana, sendo que, para Honduras e toda a América Latina, só restam dois caminhos: a existência na condição de submissão/subordinação aos interesses do grande capital, principalmente estadunidense, ou a construção de um processo de ruptura para assegurar a verdadeira soberania e autodeterminação, o que irá implicar, necessariamente, numa guinada à esquerda de todo e qualquer governo que tenha isso como um dos objetivos centrais de sua estratégia. Zelaya faz parte de um setor da classe dominante hondurenha que hoje se encontra numa situação de minoria, que não é a força hegemônica no interior da sua classe, situação que o empurra para uma posição política que não é a mais comum entre os indivíduos que são proprietários dos meios de produção.<br />Não devemos criminalizá-lo por isso, pois sabemos que existem diferenças entre a situação e a posição de classe. Basta ver os casos de Engels, Marx, Fidel, Lênin, etc. Mas aqui não existe semelhança alguma de Zelaya com os revolucionários citados.<br />Zelaya não demonstra verdadeira disposição de enfrentar até as últimas conseqüências os principais inimigos do povo de Honduras e da ALBA-TCP. Suas atitudes indicam mais uma tentativa de buscar um acordo que possibilite a participação dele e de alguns aliados no processo eleitoral visando acumular força para uma disputa presidencial futura do que alguém que estará junto com o povo na luta contra o golpe mesmo que isso signifique enfrentar condições bastante desfavoráveis para defender determinados princípios e levar adiante profundas transformações no país.<br />Na jornada de luta de 11 e 12 de agosto, nas ruas de Tegucigalpa, ouvimos de alguns militantes o questionamento sobre o por quê Zelaya não volta ao país para liderar o movimento de massas que está em curso? E por quê ele não entra em Honduras, seja publicamente, seja clandestinamente, já que a própria comunidade internacional, através de decisões da ONU (Organizações das Nações Unidas), da OEA, da UNASUL (União das Nações Sul-Americanas), do MERCOSUL (Mercado Comum Sul-Americano) e da EU (União Européia) afirmaram que ele é o único e legítimo presidente de Honduras.<br />Será que Zelaya quer evitar uma guerra civil? Mas será que a guerra que ele pode estar querendo evitar já não começou? O golpe foi uma ação político-militar, e o poder da violência e das armas é o que está garantindo a manutenção do governo ilegítimo. No Brasil nós vimos o que a falta de iniciativa (para não dizer outro nome) de João Goulart nos custou: vinte anos de ditadura. Enquanto o povo estava com disposição de resistir ao golpe em 1964, inclusive setores das forças armadas, onde estava o presidente deposto? Fugindo e desmobilizando a resistência. Essas atitudes, em momentos decisivos da história de um país, geralmente custam a liberdade e a vida de muitos trabalhadores e trabalhadoras. Será que Zelaya vai ser conhecido na história recente de seu país como aquela liderança popular que não esteve à altura dos desafios do momento ou será que irá nos surpreender e desobedecer os golpistas, enfrentando todos os riscos necessários para estar junto com seu povo nessa justa guerra de resistência contra a miséria, a exploração e o imperialismo?<br />Que o proletariado e as massas populares de Honduras se preparem, pois o destino de todas as conquistas sociais trazidas pela ALBA-TCP passa, necessariamente, pela forma como será resolvido este conflito. Se no passado os salvadorenhos, nicaragüenses e guatemaltecos nos ensinaram como enfrentar ditadores e golpistas, talvez estejamos entrando num período onde esta tarefa será de responsabilidade dos hondurenhos.<br />Certa vez um centro-americano escreveu: “Cuando la historia no puede escribirse com la pluma, entonces debe escribirse com el fusil” (Farabundo Martí).<br /><span style="color:#cc0000;"><strong>TEXTO PUBLICADO NA REVISTA SEM TERRA, N. 52, SET/OUT. DE 2009.<br />ESCRITO EM 28/08/2009.</strong></span><br /><br /><br /><br /><span style="color:#cc0000;"><strong>HONDURAS: O PRIMEIRO GOLPE CIVIL-MILITAR CONTRA A ALBA</strong></span><br /><strong>07/07/09-Editorial Brasil de Fato-Marcelo Buzetto</strong><br /><br /> Novamente nossa América Latina se vê diante de um golpe civil-militar que derrubou um presidente eleito democraticamente pelo voto popular. Essa ação faz parte de uma ofensiva das forças anti-populares, anti-democráticas e pró-imperialistas de Honduras, que vinham nos últimos anos construindo uma frente política e militar com o objetivo de obstruir e dificultar toda e qualquer iniciativa do governo do presidente Manuel Zelaya que fosse numa direção mais progressista, tanto na sua política interna quanto na sua política externa.<br /> O presidente deposto não pode ser considerado um político com longa trajetória nas fileiras da esquerda hondurenha. Zelaya e o Partido Liberal tem assumido posições mais progressistas desde sua eleição, em 2005, fato que ocorre numa conjuntura marcada por vitórias eleitorais que, impulsionadas por lutas populares e de massa, resultaram em ações concretas no sentido de construirmos uma nova geopolítica latino-americana. Talvez um dos maiores exemplos disto seja a Alternativa Bolivariana dos Povos da América-Tratado de Comércio dos Povos (ALBA). Criada em 2004 por Cuba e Venezuela, á fortalecida com a entrada de Bolívia, Nicarágua, Dominica e Honduras. Desde 2006, o presidente Manuel Zelaya vem enfrentando os setores mais conservadores da política hondurenha por defender a participação ativa do país na construção de uma verdadeira integração econômica, social e política com conteúdo popular e democrático, que garanta, de fato, a soberania e a autodeterminação das nações.<br /> O golpe civil-militar seguiu o método clássico do golpismo na região, e nos fez lembrar da deposição de governos como de Jacob Arbénz (Guatemala-1954), João Goulart (Brasil-1964) e Salvador Allende (Chile-1973). Mas alguns elementos novos estão presentes, e talvez possamos afirmar que tal ação em Honduras tenha mais semelhança com a tentativa de derrubar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em abril de 2002, com a diferença de que o novo gestor do imperialismo estadunidense, Barak Obama, se posicionou contrário à deposição do presidente eleito.<br /> A tendência, na história da América Latina contemporânea, é de derrotas de governos populares, democráticos e antiimperialistas através de golpes de estado dirigidos pela classe dominante nacional com apoio e participação ativa da classe dominante estadunidense, representada pelo governo, pelas empresas multinacionais, pela CIA e pelas forças armadas dos EUA.<br /> Com a vitória popular anti-golpista na Venezuela em 2002, vivenciamos algo que, para muitos, era inesperado ou mesmo impossível de ocorrer. Diante do poder econômico das grandes corporações industriais e financeiras, dos veículos de comunicação de massa da classe dominante, de um setor militar anti-democrático e golpista, da esmagadora maioria dos dirigentes da Igreja Católica, de uma central sindical pró-imperialista (CTV) e do apoio de governos de direita como os dos EUA e da Espanha, como poderia o povo venezuelano garantir o mandato do presidente Chávez e derrotar essa iniciativa das forças conservadoras?<br /> Quantos não foram os analistas políticos e até mesmo lideranças e intelectuais de esquerda que, diante das imagens e informações que circularam na imprensa burguesa, não chegaram à conclusão de que o governo Chávez chegou ao fim, que o golpe era irreversível. E diante da certeza de alguns, explode uma grande mobilização popular por toda a Venezuela e, minuto a minuto, começa a surgir a verdade sobre quais eram as forças políticas e os indivíduos e governos envolvidos na conspiração civil-militar.<br /> A situação de Honduras é distinta da Venezuela de 2002 por vários motivos. Vale a pena lembrar de alguns: Chávez nasce politicamente no interior da esquerda venezuelana, é um quadro claramente de esquerda; Chávez possuía um grau considerável de apoio no interior das forças armadas, o que ajudou a neutralizar os golpistas; o apoio explícito do governo dos EUA ao golpe; a motivação do golpe: na Venezuela a mídia burguesa construiu a idéia de que o governo foi responsável pelo assassinato de manifestantes (o que não era verdade), e em Honduras o motivo alegado pelos golpistas foi se opor à uma consulta popular prevista para ocorrer no último domingo, 28 de junho de 2009, para saber se o povo desejaria participar de um processo de construção de uma nova Constituição para o país.<br /> Olhando para a situação dos países membros da ALBA, principalmente para os casos de Venezuela, Bolívia e Equador, que recentemente aprovaram novas constituições que expressam a nova correlação de forças políticas e sociais vigente, a direita hondurenha entrou em pânico com a possibilidade de que a classe trabalhadora e as massas populares possam ter uma participação mais ativa, mais consciente e mais organizada no processo de construção das transformações necessárias para garantir uma vida mais digna para o povo daquele país.<br /> Muitas questões ainda não foram respondidas em relação ao golpe: qual foi o papel dos EUA nesse processo? Será possível um golpe civil-militar desse tipo sem apoio dos EUA num país onde a burguesia é estruturalmente subordinada aos interesses de Washington? Por quê representantes do governo dos EUA mantiveram contatos com líderes golpistas antes e durante o processo do golpe?<br /> Diante do golpe a resistência popular nacional e internacional novamente se fez presente. Só a mobilização popular e a solidariedade internacionalista podem fazer recuar as forças golpistas. A Via Campesina – Honduras e demais movimentos sociais do continente seguem denunciando a perseguição e a violência contra as manifestações populares, que já chegaram a reunir num mesmo dia mais de 300 mil hondurenhos em Tegucigalpa, capital do país.Impedido de voltar ao país no último domingo, pois os golpistas obstruíram a pista do aeroporto, Zelaya continua recebendo o apoio da OEA, da ONU, da UNASUL e da ALBA.<br /> A vitória popular em Honduras é fundamental para fortalecer os países da ALBA na luta pelo direito de decidir qual será o caminho de desenvolvimento econômico, social e político escolhido pelo povo de cada nação latino-americana. A batalha de Honduras será decisiva para a América Central e Caribe, pois para esta região de “nuestra América” só existem dois caminhos: submissão aos interesses dos EUA ou construção livre, soberana e independente de uma integração verdadeiramente popular, democrática e antiimperialista, que possa ir criando as condições para a vitória do socialismo na América Latina.<br /><br /><br /><span style="color:#cc0000;"><strong>Continua a Batalha de Honduras-27/10/09</strong></span><br /><strong>Marcelo Buzetto<br /></strong><br /> Tudo indica que se desenvolverá um longo processo de acirramento das lutas sociais e populares naquele país, e o ano de 2010 começará com uma intensa disputa entre dois projetos bastante definidos: de um lado o das forças conservadoras, anti-democráticas e pró-imperialistas (golpistas de todas as origens, com a cumplicidade de Obama e o apoio de países como Israel, Colômbia, Peru e México) e do outro o das forças sociais democráticas, populares, progressistas, antiimperialistas/anticapitalistas (representadas pelos governos da ALBA-TCP, por governos progressistas e pelos movimentos e organizações da resistência hondurenha anti-golpista).<br /> A truculência, a agressividade e falta de flexibilidade e de disposição dos golpistas em aceitar uma saída negociada para a atual crise política acabou criando condições mais favoráveis para que sejam explicitadas as finalidades daqueles que hoje estão no comando do governo de Honduras. Sua firmeza em não fazer nenhuma concessão em questões que consideram fundamentais para legitimar suas posições golpistas acabou resultando num fracasso de qualquer possibilidade de saída “pelo alto”, sem a efetiva participação das massas populares.<br /> Durante as negociações, exigências absurdas eram colocadas ao legítimo presidente de Honduras, Manuel Zelaya. O presidente derrubado por uma ação armada violenta e anti-democrática foi cotidianamente agredido, ofendido, desqualificado pelo principal chefe da quadrilha que se apoderou do governo, senhor Roberto Micheletti. Criaram uma operação midiática internacional, unindo todas as forças mais reacionárias do planeta, no sentido de mostrar que Zelaya estava sendo intransigente, que dificultava as negociações com suas declarações sobre a legitimidade dos movimentos da resistência pacífica e popular.<br /> Os golpistas demonstraram que estão dispostos a ir até as últimas conseqüências na defesa de sua ação anti-democrática e pró-imperialista. Sua intransigência é na verdade uma mensagem bem explícita para o povo de nosso continente: a direita latino-americana existe, resiste e iniciará/incitará novas guerras e ondas de perseguição, tortura e violência, se esse for o preço a pagar pelo enfraquecimento e/ou derrota de qualquer nova estratégia verdadeiramente de esquerda.<br /> Mas agora a resistência não quer só a volta imediata do presidente Manuel Zelaya, quer uma nova Assembléia Constituinte para criar novas leis que possibilitem mais democracia e mais poder para o povo. Também a Frente de resistência conclama o boicote ao processo eleitoral de novembro enquanto não houver a volta à normalidade democrática, que significa Manuel Zelaya na presidência, libertação dos presos políticos, fim dos processos e perseguições contra os membros da resistência, eleições livres e democráticas, continuidade dos programas sociais e manutenção de Honduras na ALBA-TCP.<br /> Diante dessa nova ofensiva imperialista fica evidente que a ALBA-TCP precisa se fortalecer, e ir criando também estruturas conjuntas de defesa diante da possibilidade de golpes de Estados contra os países membros. Talvez seria o caso de se pensar na criação e desenvolvimento de uma Escola Latino-Americana de Defesa, organizada sob os princípios e valores da ALBA, com uma nova doutrina militar, comprometida com o programa democrático, popular e antiimperialista que inspira os governos chamados hoje por alguns de “bolivarianos”. Também um “Conselho Bolivariano de Defesa”, com países membros da ALBA-TCP, e com a colaboração de países que podem contribuir de alguma maneira com um projeto dessa natureza.<br /> Outra iniciativa que se faz necessária é um amplo e forte movimento de solidariedade e defesa da “Revolução Bolivariana” e do governo de Hugo Chávez, pois se a Venezuela cair novamente nas garras do imperialismo, o projeto de integração sonhado pela esquerda do continente estará seriamente ameaçado de desaparecer em alguns poucos anos.<br /> Independente do resultado das negociações e dos resultados eleitorais da farsa e da fraude ilegal/ilegítima de 29 de novembro, Honduras nunca mais será a mesma, pois se elevou o nível de consciência política das massas, cresceu a capacidade de mobilização e de organização dos partidos e movimentos da resistência nacional anti-golpista e a classe trabalhadora conseguiu construir no dia-a-dia das lutas um instrumento fundamental de unidade na ação: a Frente Nacional Contra o Golpe de Estado.<br /> Todo esse esforço ainda não é suficiente para impor uma derrota definitiva e contundente do projeto imperialista, mas resultou num acúmulo de forças e numa importante lição para os próximos e, talvez, ainda mais decisivos passos.<br /> Diversas formas de luta e diversas formas de mobilização estão e estarão se desenvolvendo nesta legítima resistência popular para garantir que se cumpra o artigo 3º. Da Constituição hondurenha: “Ninguém deve obediência a um governo usurpador!”.<br /><strong><span style="color:#cc0000;">Editorial Jornal Brasil de Fato/novembro/2009.<br /></span></strong> </div><div align="justify"><br /><br /><strong><span style="color:#cc0000;">Continua a resistência popular em Honduras: a farsa das eleições em 29 de novembro (04/12/09)<br /></span>Marcelo Buzetto</strong><br /><br />Diante de muita repressão e perseguição contra as organizações populares de Honduras, os golpistas, com o apoio dos EUA, Colômbia, México Perú e Panamá, levaram o país para uma eleição ilegal e ilegítima neste último dia 29 de novembro.<br />A posição do governo de Barak Obama, de reconhecer e legitimar a farsa que foi montada por uma quadrilha formada por empresários, militares, políticos de direita, proprietários dos meios de comunicação de massa e autoridades da Igreja Católica, só demonstra os equívocos daqueles que alimentam ilusões acerca do atual presidente do “comitê gestor dos negócios da burguesia” (Estado) nos EUA. Obama não é vítima nem é refém dos setores mais conservadores da política estadunidense, ele é parte desse conservadorismo. Travestido de defensor da democracia no mundo, começa seu mandato apoiando e dando legitimidade a golpistas em Honduras, mandando mais soldados para massacrar o povo do Afeganistão, adiando a promessa de fechar a prisão de Guantánamo e gerando uma grande frustração entre os mais pobres daquele país, que não estão vendo nas atitudes do presidente eleito nenhuma ação concreta que indique que algo vai mudar significativamente na vida cotidiana das massas populares. O embaixador dos EUA em Tegucigalpa, capital de Honduras, comemora com vários funcionários do governo Obama a “volta à normalidade”. Ex-presidentes neoliberais derrotados em seus países tornam-se “observadores internacionais”, junto com delegações de organizações ligadas aos partidos Republicano e Democrata (ambos dos EUA) e à União de Organizações Democráticas da América (UNOAMERICA). Esta última é uma invenção recente da extrema direita anti-comunista da Venezuela e da Colômbia, com membros civis e militares que participaram e/ou apoiaram golpes de Estado e regimes anti-democráticos em todo o continente. São figuras que participaram ativamente do frustrado golpe contra Chávez em 2002, na Venezuela, da tentativa de derrubar Evo Morales, na Bolívia, defensores das ditaduras na Argentina e Chile e outros mais adeptos do fascismo contemporâneo.<br />Numa eleição marcada por protestos da Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado, Rafael Alegria, dirigente da Via Campesina em Honduras, conclama a comunidade internacional a não reconhecer o processo eleitoral e afirma que o boicote às eleições atingiu cerca de 65 a 70% dos cidadãos com direito de voto, ou seja, segundo ele, uma minoria de 30% participou do processo eleitoral, o que demonstra que grande parte da população continua contrária aos golpistas.<br />Para o governo anti-popular do presidente golpista Roberto Micheletti (também conhecido como Pinocheletti), a eleição foi justa, e contou com ampla participação popular. Micheletti afirmou para o jornal golpista El Heraldo que as eleições foram um recado para Hugo Chávez, Lula, Cristina Kichnner, pois o povo, segundo o ditador, “rechaçou suas ideologias que não levam a nada”. Também disse que a coragem e valentia da Polícia e do Exército só ajudaram a amadurecer a democracia em Honduras”. Ou seja, segundo o ditador, reprimir o povo, prender e matar lideranças populares significa aperfeiçoar o sistema democrático.<br />E não é que ele está certo, pois democracia burguesa significa exatamente isto, liberdade para os ricos, cadeia e/ou cemitério para os pobres que ousam se organizar e resistir heroicamente à violência da classe dominante. Os números que saem das urnas continuam gerando polêmica, pois até mesmo entre os golpistas existem diferentes resultados eleitorais, o quê, segundo os movimentos sociais, só fortalece a idéia de fraude. No site do Partido Nacional, de direita, aparecem os seguintes números da fraude: Porfírio “Pepe” Lobo Sosa (Partido Nacional-PN) 897.355 (55,9%), Elvin Santos (Partido Liberal-PL) 631.384 (38,2%), Bernard Martinez (Partido Integração e Unidade Social Democrata_PINU-SD) 35.593 (2,2%), Felicito Ávila (Partido Democrata Cristão-PDC) 31.174 (1,9%) e César Ham (Partido Unificação Democrática-UD) 29.006 (1,8%). Já no site do Tribunal Supremo Eleitoral de Honduras os números são outros: Porfírio Lobo-PN 693.520 (56%), Elvin-PL 458.708 (37%), Bernard-PINU-SD 27.838 (2%), Felicito-PDC 27.689 (2%) e César Ham-UD 21.942 (2%).<br />Nos dois sites os números são apresentados como resultados finais da eleição presidencial, mas os números não batem, são divergentes. Alguns observadores internacionais já falam em abstenção entre 50 e 55%. Honduras tem uma população de 7.639.327 de habitantes, com cerca de 4,6 milhões de eleitores (sendo que 1 milhão destes estão fora do país).<br />Entre os países que não reconhecem a farsa das eleições estão os membros da Aliança Bolivariana dos Povos da América-Tratado de Cooperação dos Povos (ALBA-TCP), Equador, Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua, Dominica, São Vicente e Granadinas, Antígua e Barbuda, além de Brasil, Argentina e Paraguai. Infelizmente o presidente Maurício Funes, de El Salvador, mais uma vez demonstra sua guinada à direita, agradando a classe dominante centro-americana e estadunidense ao emitir uma nota sobre Honduras onde afirma que “apesar das eleições de 29 de novembro terem ocorrido num clima de instabilidade institucional” (esse é o novo nome para prisão, repressão e assassinatos de militantes da resistência hondurenha) “não obstante abre um novo momento político na busca de alternativas para a crise”. Também nessa linha de raciocínio e de legitimação dos golpistas tem se pronunciado alguns representantes do governo brasileiro. A última declaração nesse sentido foi de Dilma Roussef, Ministra da Casa Civil, afirmando que é preciso condenar o golpe de Estado, mas que agora é outro momento, pois houve uma eleição. Ao contrário de sua subordinada, o presidente brasileiro, Lula, continua rejeitando o reconhecimento das eleições e o diálogo com o novo presidente “eleito”, Porfírio “Pepe” Lobo Sosa, que numa das primeiras declarações após ser “eleito” disse: “O presidente Chávez deve respeitar a decisão do povo de Honduras”, pois “Honduras decidiu pelo caminho da democracia, ninguém pode nos impor doutrinas, devem entender que o muro de Berlim e o socialismo caíram há mais de 30 anos. Queremos dizer ao senhor Chávez e a todos aqueles que queremos impor doutrinas fora de moda, que o povo quer viver em paz e democracia”.<br />Nessa campanha para legitimar o golpe, o Congresso hondurenho, de maioria golpista, recusou o pedido de restituição do presidente legítimo Manuel Zelaya. Numa votação com 128 deputados, 114 votarem contra e 14 votaram a favor.<br />Não resta nenhuma dúvida que a ofensiva imperialista com o objetivo de destruir a ALBA já está em curso, e Honduras se tornou o elo mais débil dessa aliança política bolivariana. O golpe em Honduras, as provocações e ações da direita na Nicarágua, as cotidianas tentativas de golpe na Bolívia, a ofensiva midiática contra Cuba, as ameaças de golpe no Paraguai, a ocupação militar dos EUA nas sete bases da Colômbia, a infiltração de cerca de 8 mil paramilitares no interior do país e nas favelas de Caracas, na Venezuela, a reedição da IVa. Frota da Marinha dos EUA, para “proteger” a América do Sul e as diversas iniciativas organizativas da direita civil e militar em nosso continente só nos leva a uma conclusão: precisamos nos preparar, melhorar nossa capacidade organizativa e unificar nossos esforços no fortalecimento e construção cotidiana das diversas experiências de poder operário e popular em nosso continente.<br />O povo de Honduras resistirá aos golpistas, mas agora, além de defender Honduras, temos o dever de fazer da Venezuela o nosso Vietnã (no sentido que nos dizia Che), pois ela é o pólo principal da ALBA neste momento. Criar um, dois, três, muitos Vietnã, para um dia comemorarmos juntos a vitória de uma América verdadeiramente livre, justa, socialista.<br /><span style="color:#cc0000;"><strong>Jornal Sem Terra/Dezembro de 2009.</strong></span></div><div align="justify"><span style="color:#cc0000;"><strong><br /></strong></span><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3068086744549447583#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a><span style="color:#000099;"><strong>Textos de Marcelo Buzetto – Direção Estadual MST/SP, professor de Geopolítica no curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Fundação Santo André e professor na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF).<br /></strong></span> </div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-39849456854791262532009-09-30T02:08:00.005-03:002009-09-30T02:15:51.985-03:00NOVO CURSO GRATUITO GEOPOLÍTICA E CONFLITOS NA AMÉRICA LATINA CONTEMPORÂNEA<strong><span style="color:#cc0000;">CURSO GRATUITO<br /></span></strong><br /><strong><span style="color:#000099;">“GEOPOLÍTICA E CONFLITOS<br />NA AMÉRICA LATINA CONTEMPORÂNEA”</span></strong><br /><br /><strong><span style="color:#cc0000;">Palestra de abertura: </span></strong><br /><strong><span style="color:#cc0000;"></span></strong><br /><span style="color:#ff0000;"><strong><span style="color:#cc0000;">“Honduras:o golpe civil-militar contra Manuel Zelaya e a geopolítica na América Latina”</span><br /></strong></span><br /><span style="color:#000099;"><strong>COM<br /><br />MARCELO BUZETTO<br /></strong></span><br /><strong><span style="color:#000099;">Prof. do CUFSA, da UMESP e da ENFF, doutorando em Ciências Sociais pela PUC/SP. Esteve em Honduras acompanhando a situação política e social daquele país numa missão internacionalista organizada por movimentos sociais brasileiros através da Casa da América Latina.</span></strong><br /><strong></strong><br /><strong><span style="color:#cc0000;">DIA 03 DE OUTUBRO (SÁBADO) - 11H00<br />No Auditório da FAECO – Centro Universitário Fundação Santo André, Av. Príncipe de Gales, 821, Bairro Príncipe de Gales, Santo André/SP.</span></strong><br /><br /><strong>ORGANIZAÇÃO:<br />NÚCLEO DE ESTUDOS<br />LATINO-AMERICANOS (NELAM/CUFSA)<br /><a href="http://nelamsp.blogspot.com/">http://nelamsp.blogspot.com/</a></strong><br /><strong></strong><br /><strong>O CURSO TERÁ 5 ENCONTROS, SEMPRE AOS SÁBADOS, DAS 11H00-13H00, COM OS SEGUINTES TEMAS:</strong><br /><strong></strong><br /><strong>03/10 - O Golpe Civil-Militar em Honduras e Nova Guerra dos EUA na América Latina, com prof. mestre e doutorando Marcelo Buzetto (CUFSA, NELAM/CUFSA, UMESP, ENFF)</strong><br /><strong></strong><br /><strong>17/10 - Tropas da ONU no Haiti: missão de paz ou ocupação militar estrangeira?, com o prof. Júlio Turra, membro e organizador da Comissão Internacional de Investigação (CII), que realizará uma Conferência no mês de setembor em Porto Príncipe/Haiti. Dirigente sindical que esteve várias vezes no Haiti. </strong><br /><strong></strong><br /><strong>24/10- As bases militares dos EUA na América Latina, com prof. mestre e doutorando José Alfonso Klein (CUFSA, NELAM/CUFSA) </strong><br /><strong></strong><br /><strong>07/11- Golpes de Estado e Lutas Democráticas na América Latina: passado e presente, com prof. mestre Julio Cesar Zorzenon Costa (CUFSA, NELAM/CUFSA) </strong><br /><strong></strong><br /><strong>14/11- ALBA-TCP E UNASUL NA NOVA GEOPOLÍTICA LATINO-AMERICANA, com José Reinaldo de Carvalho, jornalista especializado em relações internacionais, com pós-graduação em Política e Relações Internacionais (FESP/SP), membro do Cebrapaz.</strong>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-39597496605160154032009-09-16T13:49:00.002-03:002009-09-16T13:52:35.314-03:00PALESTRA: CHE GUEVARA E A LUTA REVOLUCIONÁRIA NA BOLÍVIA<div align="center"><br /><span style="color:#ff0000;"><strong>CHE GUEVARA E A<br />LUTA REVOLUCIONÁRIA NA BOLÍVIA<br /></strong></span><br />Palestra de Encerramento do Curso “O Pensamento de Ernesto Che Guevara: política, economia e relações internacionais”<br /><br />COM<br /><br /><strong>LUIZ BERNARDO PERICÁS<br /></strong><br /> <strong>PROF. DA FACULDADE LATINO-AMERICANA DE CIÊNCIAS SOCIAIS (FLACSO), DOUTOR EM HISTÓRIA ECONÔMICA (USP) E AUTOR DE DIVERSOS LIVROS SOBRE CHE GUEVARA<br /></strong><br /><strong><span style="color:#ff0000;">DIA 19 DE SETEMBRO (SÁBADO) - 11H00<br /> NA SALA 05</span></strong></div><div align="center"><span style="color:#ff0000;"><br /></span><span style="color:#3333ff;"><strong>FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS E ADMINISTRATIVAS (FAECO)<br />CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ (CUFSA)<br />AV. PRÍNCIPE DE GALES, 821, BAIRRO PRÍNCIPE DE GALES, SANTO ANDRÉ/SP.<br /></strong></span><br /><strong>ORGANIZAÇÃO:<br /></strong><br /><strong>NÚCLEO DE ESTUDOS<br />LATINO-AMERICANOS (NELAM/CUFSA)</strong></div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-11722632064860972352009-03-04T12:21:00.002-03:002009-03-04T12:26:21.180-03:00Curso Gratuito sobre o Pensamento de Ernesto Che Guevara<strong>NÚCLEO DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS (NELAM)<br />CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ (CUFSA)<br /><br />CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DO CURSO LIVRE<br /><br />“O PENSAMENTO DE ERNESTO CHE GUEVARA:<br />ECONOMIA, POLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS”</strong><br /><br /><br /><strong>OBJETIVO GERAL</strong><br /><br />Desenvolver uma reflexão crítica sobre o pensamento de Ernesto Che Guevara, bem como sua contribuição para o estudo dos problemas sociais na América Latina e dos movimentos de libertação nacional do mundo contemporâneo.<br /><br /><strong>OBJETIVO ESPECÍFICO<br /></strong><br />Compreender os conceitos fundamentais do pensamento de Ernesto Che Guevara em relação à crise econômica, ao desenvolvimento do capitalismo, às lutas políticas na América Latina e às relações internacionais.<br /><br /><strong>EMENTA<br /></strong><br />A concepção de política no pensamento de Ernesto Che Guevara; Uma análise dos “Textos Econômicos”; Antiimperialismo e lutas de libertação nacional: Che Guevara no Congo; Internacionalismo e Revolução: o diário da Bolívia; Che e a situação Sul-Americana:entre ditaduras e guerrilhas; Che Guevara no governo: INRA, Banco Nacional e Ministério da Indústria; Os últimos dias de Che: guerrilha e morte na Bolívia.<br /><br /><br /><span style="color:#cc0000;"><strong>ABERTURA OFICIAL DO CURSO:</strong></span><br /><br /><span style="color:#cc0000;"><strong>31 de março de 2009</strong></span>, <strong><span style="color:#cc0000;">19H30, Auditório da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FAFIL/CUFSA), com palestra de Carlos Trejo (Cônsul Geral de Cuba), Jaime Valdivia Almanzada (Cônsul Geral da Bolívia) e Doris Mireya Theis Chitty (Cônsul Geral da Venezuela), com o tema “A contribuição do pensamento de Ernesto Che Guevara para a integração latino-americana”.<br /></span></strong><br /><br /><strong>DATAS E CONTEÚDO PROGRAMÁTICO<br /></strong><br /><strong>Abril:<br />04:</strong> documentário “Ernesto Che Guevara: homem, companheiro, amigo...”<br /><strong>25:</strong> debate sobre o livro “Política - Ernesto Che Guevara” (Editora Expressão Popular), com introdução do Prof. Dr. Mauro Iasi (UMESP/UFRJ).<br /><br /><strong>Maio:</strong><br /><strong>09:</strong> documentário “Revolución”<br /><strong>23:</strong> debate sobre o livro “Textos Econômicos – Ernesto Che Guevara” (Edições Populares), com introdução do Prof. Mestre José Alfonso Klein (CUFSA).<br /><br /><strong>Junho:<br />06:</strong> documentário “Che: onde nunca antes o imaginavam”<br /><strong>20:</strong> debate sobre o livro “Passagens da Guerra Revolucionária – Congo”, de Ernesto Che Guevara (Editora Record), com introdução do Prof. Mestre Marcelo Buzetto (CUFSA/UMESP/Escola Nacional Florestan Fernandes).<br /><br /><strong>Agosto:<br />08:</strong> documentário “Fidel: revelações sobre Che”<br /><strong>22:</strong> debate sobre o livro “Diário da Bolívia”, de Ernesto Che Guevara (Edições Populares), com introdução do Prof. José Mao Jr. (doutor em História Econômica/USP).<br /><br /><strong>Setembro:<br />19:</strong> documentário “Tempo de Resistência”<br /><strong>26:</strong> debate sobre o livro “Guerra de Guerrilhas: um método”, de Ernesto Che Guevara (Edições Populares), com introdução do Prof. Aton Fon Filho (Rede Social de Justiça e Direitos Humanos).<br /><br /><strong>Outubro:<br />03:</strong> documentário “Cuba: 30 anos depois)<br /><strong>24:</strong> debate sobre o livro “O Ministro Che Guevara”, de Tirso W. Saenz (Editora Garamond), com introdução de um representante do Consulado Geral de Cuba em São Paulo.<br /><br /><strong>Novembro:<br />14:</strong> documentário “Che: 40 anos depois”<br /><strong>28:</strong> debate sobre o livro “Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia”, de Luis Bernardo Pericás, com introdução do próprio autor.<br /><br /><strong>Dezembro:<br />05:</strong> atividade cultural de encerramento do curso, com o grupo de música latino-americana “Canto Libre”.<br /><br /><strong>HORÁRIO, DIA e LOCAL<br /></strong><br /><strong>O curso ocorrerá sempre aos sábados, das 11h00 às 13h00</strong>, sendo no primeiro semestre no Auditório da FAFIL e, no segundo semestre no Auditório da FAECO, no <strong>Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA), situado na Avenida Príncipe de Gales, 821, bairro Príncipe de Gales, Santo André/SP.<br /></strong><br /><strong><span style="color:#cc0000;">ORGANIZAÇÃO<br /></span></strong><br /><strong><span style="color:#cc0000;">Núcleo de Estudos Latino-Americanos (NELAM)/Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA).<br /><br />APOIO: COLEGIADO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, FAECO JÚNIOR.<br /><br /></span>OBSERVAÇÃO: CURSO GRATUITO<br /></strong><br /><strong>O CURSO SERÁ GRATUITO E ABERTO PARA A COMUNIDADE. TAMBÉM SERÁ FORNECIDO CERTIFICADO PARA QUEM PARTICIPAR DE, NO MÍNIMO, 10 ENCONTROS.<br /><br />MAIORES INFORMAÇÕES: 7225.2797 (Prof. Marcelo) ou 7201.2792 (Prof. Alfonso Klein)</strong>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-47308507851533284632009-03-04T12:06:00.005-03:002009-03-04T12:19:58.400-03:00Textos sobre a expansão mundial do capital/capitalismo e a crise atual<a name="7157213554390055498"></a><div align="justify"><br /><strong><span style="color:#cc0000;">O PROCESSO DE EXPANSÃO MUNDIAL DO CAPITALISMO</span></strong></div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong>Marcelo Buzetto</strong><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a></div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong>Introdução</strong></div><div align="justify"> </div><div align="justify">No mundo contemporâneo, “Tudo o que é sólido desmancha no ar, tudo o que é sagrado é profanado, e os homens são (...) forçados a enfrentar com sentidos mais sóbrios suas reais condições de vida e sua relação com outros homens”.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a></div><div align="justify"><br />A velocidade das transformações econômicas e sociais promovidas pelo desenvolvimento capitalista nos levou à necessidade de tentar compreender a lógica imanente deste processo, pois vivemos numa época onde a discussão sobre os problemas econômicos, políticos, sociais e culturais - e sobre a resolução de tais problemas - aparece não somente como uma necessidade de alguns intelectuais que fazem do conhecimento um prazer egoísta, mas sim como uma possibilidade da humanidade responder aos problemas que ela própria criou, buscando com isso a construção de uma sociedade verdadeiramente humana.</div><div align="justify"><br />Percebemos, após a leitura de uma série de textos relacionados à origem e ao desenvolvimento do modo de produção capitalista, que vários problemas amplamente discutidos por autores dos séculos XVIII, XIX e XX ainda conseguem estimular inúmeros confrontos entre aqueles que pretendem defender, reformar ou destruir o mundo das mercadorias criado pela sociedade capitalista.</div><div align="justify"><br />É claro que a discussão que se faz na atualidade está enriquecida com muitas transformações, tais como: as constantes inovações tecnológicas, o desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicação, a criação de produtos verdadeiramente mundiais, a expansão do mercado mundial, as mudanças nas relações de trabalho e na organização da produção e da distribuição das mercadorias, a ampliação dos fluxos financeiros internacionais e do capital especulativo e a capacidade de organização das classes sociais na defesa de seus interesses.</div><div align="justify"><br />Nesse sentido, tem nos chamado a atenção a “popularização” e a vulgarização do termo “globalização”, que aparece na mídia mundial como um processo novo, como uma nova forma de intercâmbio entre os países, ou melhor, entre os mercados, que surge como resultado de uma suposta “nova ordem mundial”.</div><div align="justify"><br />Quando nos referimos ao mundo contemporâneo estamos falando do mundo capitalista, da sociedade produtora de mercadorias que se desenvolve com muita rapidez à partir dos séculos XIV e XV, e que mais tarde promove o desenvolvimento da industria e da industrialização, forçando todo o globo a se integrar a um mercado cada vez mais mundializado, porém um mercado que não consegue eliminar as desigualdades próprias deste desenvolvimento, criando com isto um mundo “unificado” sob a lógica do capital e das mercadorias, ao mesmo tempo em que as grandes potências estipulam as regras para a convivência internacional, gerando uma divisão internacional do trabalho desigual. Se este fenômeno é a tal da “globalização”, isto já vem ocorrendo no mundo desde os séculos XV e XVI.</div><div align="justify"><br />É sobre esta desigualdade inerente ao processo de reprodução ampliada do capital e do capitalismo, e sobre a utilização dos termos internacionalização, mundialização e globalização enquanto instrumentos de análise da expansão do mercado mundial capitalista e das relações internacionais que pretendemos nos debruçar neste pequeno texto, pois tais temas são vistos por nós como de fundamental importância, pois afetam direta e/ou indiretamente a vida de todos os indivíduos, em qualquer lugar do planeta.</div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong>Pequena História da Expansão Mundial do Capitalismo</strong></div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong>1. Colonialismo e Globalização do Capitalismo</strong></div><div align="justify"> </div><div align="justify">Não pretendemos aqui repetir o que uma série de autores já fizeram quando trataram do surgimento do modo de produção capitalista. Apenas iremos nos apropriar de alguns conceitos e idéias de alguns estudiosos do capitalismo para podermos ilustrar com mais clareza nossa concepção sobre a expansão mundial deste sistema e de suas relações sociais, econômicas, políticas e culturais.</div><div align="justify"><br />Podemos falar que os romanos, na Antigüidade, tiveram a pretensão de expandir seu modo de vida, sua cultura, sua organização social, econômica e política, portanto, pensaram em espalhar pelo mundo tudo aquilo que Roma que fora criado pela civilização romana. Tiveram suas colônias, conquistaram territórios, e buscavam a integração dos mesmos ao Império. Aqueles povos que não aceitavam a dominação do Império Romano, que não aceitavam a “globalização” das relações econômicas, sociais, políticas e culturais impostas pelos romanos eram chamados de “bárbaros”. Mas Roma não conseguiu colocar o mundo a seus pés, fracassou em sua tentativa de conquista de todo o globo. Também os fenícios, exímios navegadores, fracassaram em suas tentativas expansionistas. Outros povos e impérios da antigüidade também não conseguiram impor suas regras em todas as regiões do mundo.</div><div align="justify"><br />É somente com a crise na sociedade feudal e o advento do Renascimento e do Mercantilismo que temos o início da construção de uma economia mundial, de um sistema de comércio que começa a adquirir um caráter verdadeiramente internacional.</div><div align="justify"><br />A fome, as guerras e as doenças, aliadas à crescente influência do humanismo renascentista, que cada vez mais afirmava a capacidade do indivíduo compreender e transformar o mundo, cavavam lentamente a sepultura onde seria enterrado o mundo feudal. Ao mesmo tempo, uma nova sociedade ia se desenvolvendo nas entranhas da Europa medieval, uma sociedade onde a agricultura de subsistência não teria mais o papel central, onde o lucro e a usura deixavam de ser proibidos, e onde a propriedade privada tornava-se a forma predominante de apropriação e uso da terra. </div><div align="justify"><br />O desenvolvimento crescente do comércio na Europa ampliava a ligação entre cidades de um mesmo país, entre países de uma mesma região, e entre países de diferentes regiões e/ou continentes. Quando, principalmente a partir do século XIV, os banqueiros e os comerciantes (burgueses) começam a acumular capital através da venda de mercadorias e dos juros dos empréstimos, temos novas relações sociais ocupando o espaço europeu. Criam-se mercados locais, feiras onde se realizam as trocas de mercadorias vindas de cidades e/ou regiões distantes, e também de países distantes, assim como aparece a troca mercantil, efetivada através do dinheiro, que irá assumir a condição de “novo Deus”, pois fará com que tudo e todos vivam em função dele e de seu poder. Os mercado locais se expandem, transformam-se gradativamente em mercados nacionais, e posteriormente começam a existir enquanto parte de um mercado mundial em construção.</div><div align="justify"><br />Os exemplos concretos dessa expansão do capital, numa fase que muitos denominam de “capitalismo comercial” já foram citados por vários estudiosos deste período, sendo que para nós, o que importa neste momento é demonstrar que o caráter internacional, mundial ou global das relações sociais e de produção capitalistas já estava dado na formação deste sistema. Seja através da hegemonia comercial de Gênova e Veneza e das feiras locais , como a de Champagne, até o século XIV, ou com o aparecimento de Portugal e Espanha enquanto países colonizadores nos séculos XV e XVI, é inegável a construção de um sistema internacional de comércio, portanto, do desenvolvimento do comércio exterior, ou ainda, da globalização e/ou mundialização da economia, do capital e do mercado.</div><div align="justify"><br />Quando, em 1453, as tropas árabes-muçulmanas fecham uma das mais importantes rotas comerciais, a rota terrestre que ligava o oriente ao ocidente europeu, tendo como “fronteira” a cidade de Constantinopla, na região onde hoje está a Turquia, acontece uma mudança no comércio europeu e asiático, pois a conquista de Constantinopla pelos seguidores de Maomé obriga os europeus cristãos a pensarem em duas alternativas para superar tal problema: preparar novos ataques à região conquistada pelos muçulmanos ou encontrar outra rota para o comércio com o oriente.</div><div align="justify"><br />A primeira alternativa, é óbvio, seria a mais cara, demandaria muitos recursos humanos e financeiros, sendo necessário tempo e dinheiro para produção de armas, preparo de combatentes, além de, como foi feito em várias guerras no Feudalismo e no Renascimento, deslocar grande parte da força de trabalho para a frente de batalha, fato que já havia gerado muitos problemas econômicos e sociais. Também é possível afirmar que uma guerra, naquela época, era uma “aventura” que não dava nenhuma garantia de vitória para este ou aquele lado, pois o nível de desenvolvimento das forças produtivas não produzia numa velocidade muito rápida as desigualdades em termos de armamento, de produção bélica. Uma guerra nessas circunstâncias, apesar de todas as orações e da fé na ajuda divina - que acompanhava tanto os cristãos quanto os muçulmanos - era sempre uma incerteza.</div><div align="justify"><br />Sem descartar possíveis confrontos, a outra alternativa também era muito cara, exigia a mobilização de recursos humanos e financeiros, além da coragem e ousadia para desafiar os perigos de caminhos desconhecidos. Mas com a ajuda da enriquecida burguesia européia, os Estados cristãos puderam levar adiante a ambição de novas conquistas, afinal de contas “todos” só tinham a ganhar com a expansão comercial da Europa. A nobreza, representada na figura do Rei, ampliaria seu poder político e enriqueceria os cofres reais, a burguesia ampliaria seu poder econômico e financeiro, e a Igreja ampliaria seu número de fiéis, aumentando sua área de influência e seu poder frente a seus adversários internos e externos. Sendo assim, a expansão mundial do comércio e das trocas mercantis favoreciam àqueles que controlavam a política, a economia e a cultura na sociedade feudal. </div><div align="justify"><br />Assim, desde 1415, quando os portugueses conquistaram o porto muçulmano de Ceuta, na África, o mundo começa a entrar em uma nova era, onde as rotas comerciais marítimas adquirem cada vez mais importância para a acumulação de capital da burguesia européia, que em pleno desenvolvimento, abraçava num ritmo acelerado todas as atividades que demonstravam possibilidade de gerar lucro, ou seja, de reproduzir de forma ampliada o capital comercial.</div><div align="justify"><br />Através da navegação de cabotagem, os portugueses, conscientes ou não da dimensão da tarefa que realizavam, construíam pouco a pouco um sistema internacional de intercâmbio de idéias, de mercadorias, de costumes, etc. Em 1418 tomavam o Arquipélago da Madeira, iniciando a circunavegação do continente africano, depois ocupam em 1432 o Arquipélago de Açores, em 1434 o Cabo Bojador, e após a derrota em Constantinopla, os planos de construção de uma nova rota comercial avançam, pois a necessidade de acumulação de riquezas e poder da burguesia e da nobreza incentivava a superação de todas as dificuldades para que se desse continuidade ao desenvolvimento comercial europeu. Levando adiante a expansão das áreas de influência de Portugal, conquista-se, em 1455, o Arquipélago de Cabo Verde, em 1485, Angola, em 1487 o navegador Bartolomeu Dias cruza o Cabo da Boa Esperança, e em 1498, Vasco da Gama chega às Índias, consolidando um projeto que muitos consideravam impossível de ser realizado. Os navegadores/colonizadores portugueses foram responsáveis pela globalização de mercadorias, da cultura e de um modo de vida, o modo de vida e a cultura cristã ocidental, e também, junto com este processo, globalizaram a violência, a fome, as doenças e epidemias, as injustiças, a intolerância e o preconceito, a corrupção e as desigualdades sociais.</div><div align="justify"><br />Quando os espanhóis entram na corrida pela conquista de novos territórios e novas mercadorias, tornam-se “parceiros” de Portugal no processo de internacionalização do mercado, dividindo o mundo entre duas potências, que insistem em se autoproclamarem donos do mundo, fato que se confirma na elaboração do Tratado de Tordesilhas, em 1494, após dois anos da chegada de Cristóvão Colombo no continente americano.</div><div align="justify"><br />Como afirma Jacques Adda, “Em cerca de um século, entre os anos 1430 e 1540, os negociantes-navegadores-conquistadores europeus exploram as costas da África (...), apoderam-se do comércio árabe-indiano do oceano Índico, chegam à China e ao Japão, descobrem o continente americano e completam a sua conquista no centro, no sul e no norte. Embora os marinheiros sejam muitas vezes italianos, os iniciadores destas aventuras comerciais são, curiosamente, os monarcas de nações que até então se contentavam com um estatuto marginal na cena européia.”<a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a></div><div align="justify"><br />Portanto, as mercadorias comercializadas por Espanha e Portugal nos séculos XV e XVI adquirem o status de produtos globais/mundiais, e este período pode ser considerado como o apogeu destas duas potências colonizadoras. “Primeiro Portugal, com um milhão de habitantes em apenas 89.000 quilômetros quadrados no princípio do século XVI (...). Este país torna-se em poucas décadas o coração de um império comercial que se estende do Brasil a Macau, englobando as duas costas da África e portanto o caminho marítimo para a Índia. Os historiadores são unânimes em colocar na origem desta expansão vertiginosa a sede de ouro, cuja penúria coloca dificuldades aos comerciantes. Desde a Antigüidade, o mundo ocidental é deficitário nas suas trocas com o Oriente. Como o continente é pobre em metais preciosos, depende do comércio com o mundo muçulmano para financiar as suas compras de especiarias, pérolas e tecidos preciosos orientais. Os progressos da navegação e o refluxo do Islão ao longo de todo o século XV deixam entrever a possibilidade de um acesso direto às jazidas africanas (...) De fato, na época o ouro é um produto africano, cujo circuito os mercadores muçulmanos controlam. Gênova, a grande rival de Veneza, apoia-se em Lisboa, etapa cômoda na rota da Europa do Norte, mas também posição privilegiada dominando as costas noroeste da África, para tentar encontrar um caminho marítimo para o ouro do Sudão. Todavia, os primeiros êxitos portugueses no Norte da África e a descoberta das riquezas da África Ocidental (ouro, marfim, escravos) incutem novo ânimo ao reino do infante D. Henrique, que rapidamente se distancia dos genoveses. Estes viram-se para Sevilha, outra escala entre os dois Mediterrâneos, convertida pelos italianos em praça comercial e financeira (...) Nos últimos anos do século, Vasco da Gama dobra o Cabo da Boa Esperança e chega à Índia. Quebra-se assim o monopólio veneziano do comércio das especiarias, já enfraquecido pela queda de Constantinopla em 1453 (...) A descoberta desta última rota explica sem dúvida a recusa da coroa portuguesa em financiar a expedição do Genovês Cristóvão Colombo, que também se propõe atingir a Índia navegando para oeste. Este receberá por fim o apoio da rainha de Castela, desejosa por celebrar deste modo a tomada de Granada dos muçulmanos, em 1492. Em cerca de 4 anos, a Espanha completa a conquista desse novo mundo, que se dispõe a colonizar, do Chile à Califórnia, da Argentina à Flórida, contornando o Brasil português, destruindo as civilizações azteca e inca e aniquilando uma população local calculada, só para o México, em 25 milhões antes da chegada de Cortez.”<a title="" style="mso-footnote-id: ftn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn4" name="_ftnref4">[4]</a> </div><div align="justify"><br />Com a expansão dos domínios de Portugal e Espanha, tem início, além da construção de um mercado mundial, a globalização da cultura e do modo de vida da civilização católica-ocidental-européia. Assim como os romanos haviam chamado de “bárbaros” àqueles povos que não se adaptavam e/ou não aceitavam as regras impostas pelo “mundo civilizado” representado pelo Império Romano na Antigüidade, os colonizadores espanhóis e portugueses qualificam como “selvagens” as populações nativas do recém descoberto, ou melhor, invadido, continente americano.</div><div align="justify"><br />Como este processo de expansão do capital comercial europeu tinha como objetivo central a acumulação de riquezas e de poder nas mãos da burguesia, da nobreza e da Igreja Católica Apostólica Romana, as vidas e os interesses das populações nativas foram deixados de lado, pois não eram europeus, nem brancos, nem católicos, portanto, eram povos considerados pelos colonizadores como atrasados, e sendo assim os europeus se deram o direito de tomar suas terras, destruir sua cultura, violentar suas mulheres, escravizar a todos, exclusivamente para garantir a expansão do comércio e o lucro da burguesia européia. Entre o poder da cruz e da espada, os indígenas da América eram massacrados pelos invasores europeus. Diante de tantas atrocidades cometidas contra os índios, alguns religiosos protestaram, e a escravização dos índios foi proibida formalmente no século XVI. É claro que tal proibição não tinha a intenção de exterminar com o trabalho escravo indígena. Como afirma Eduardo Galeano, “na realidade, não foi proibida, mas abençoada: antes de cada entrada militar, os capitães deviam ler para os índios, sem intérprete mas diante de um escrivão público, um extenso e retórico Requerimiento que os exortava a se converterem a santa fé católica: ‘Se não o fizerdes, ou nisto puserdes maliciosamente dilação, certifico-vos que com a ajuda de Deus eu entrarei poderosamente contra vós e vos farei guerra por todas as partes e maneira que puder, e vos sujeitarei ao jugo e obediência da Igreja e de Sua Majestade e tomarei vossas mulheres e filhos e vos farei escravos, e como tais vos venderei, e disporei de vós como Sua Majestade mandar, e tomarei vossos bens e vos farei todos os males que puder...’”<a title="" style="mso-footnote-id: ftn5" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn5" name="_ftnref5">[5]</a> </div><div align="justify"><br />Assim foi o início da globalização do capitalismo. Aqueles que iam sendo conquistados viravam fornecedores de matérias-primas e de produtos alimentícios para atender os interesses dos impérios coloniais metropolitanos, ou seja, fornecedores de novas mercadorias para um mercado em além-mar, um mercado que se mundializava às custas da miséria e da opressão dos povos coloniais.</div><div align="justify"><br />Nos séculos XVI e XVIII, em meio à decadência de Portugal e Espanha no cenário internacional, novas potências coloniais aparecem, a Inglaterra, a França e a Holanda, que começam a ocupar o espaço americano, além de expandir suas garras para a África, a Ásia e a região do Pacífico Sul, onde hoje se encontra a Oceania e o conjunto de ilhas que estão ao seu redor.</div><div align="justify"><br />Chegamos no século XVIII com um comércio exterior em contínua expansão. Basta observarmos o comércio triangular das treze colônias inglesas no norte da América. A Inglaterra exportava produtos manufaturados para Nova York, que exportava peixe, madeira e gado para as Pequenas Antilhas e rum vindo das Antilhas para a Costa do Marfim, na África. Já a Costa do Marfim exportava escravos para as Pequenas Antilhas, e estas exportavam melaço para Nova York. Além disso, a Filadélfia exportava alimentos e madeira para a Jamaica, e esta exportava melaço e açúcar para a Inglaterra. E enquanto recebia dos ingleses tecidos e ferragens, a Filadélfia exportava para Portugal peixes, cereais e madeira serrada, e este exportava para a Inglaterra sal, frutas e vinho. Estes são exemplos que comprovam que o mercado mundial já existia, mesmo que não plenamente consolidado, na época do chamado sistema colonial.</div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong>2. Industrialização e Expansão do Mercado Mundial Capitalista</strong></div><div align="justify"> </div><div align="justify">Quando Adam Smith escreveu seu famoso livro A Riqueza das Nações - Investigação Sobre Sua Natureza e Suas Causas, cuja primeira edição é de 1776, afirmou que “Com efeito, em todas as épocas, em qualquer sociedade, o excedente da produção bruta ou da produção manufaturada, isto é, aquela parte para a qual não há mais demanda no país, deve ser exportado para ser trocado por algum produto que esteja em falta no país. Muito pouco importa se o capital que transporta essa produção excedente ao exterior é estrangeiro ou nacional. Se a sociedade ainda não adquiriu capital suficiente para cultivar todas as suas terras e para manufaturar plenamente toda a produção bruta, há mesmo uma grande vantagem em se exportar a produção bruta com capital estrangeiro, para que todo o capital da sociedade seja empregado para fins mais úteis. A riqueza do antigo Egito, a da China e a do Industão demonstram suficientemente que uma nação pode atingir um altíssimo grau de riqueza, mesmo se a maior parte de seu comércio seja operada por estrangeiros. O progresso de nossas colônias da América do Norte e das Índias Ocidentais teria sido muito mais lento, se na exportação do excedente de produção dessas colônias não se tivesse empregado também capital estrangeiro, além do nacional.”<a title="" style="mso-footnote-id: ftn6" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn6" name="_ftnref6">[6]</a> </div><div align="justify"><br />A partir da afirmação acima, é possível perceber que um dos autores clássicos da economia política inglesa do século XVIII já estava familiarizado com a discussão sobre o mercado mundial, a divisão internacional do trabalho e a importância da produção excedente e do comércio exterior nas relações econômicas capitalistas, bem como já participava do debate sobre a viabilidade ou não da utilização do capital estrangeiro nas transações comerciais realizadas por um determinado país. Tais temas aparecem como parte do processo de desenvolvimento do comércio e da indústria de sua época, desenvolvimento marcado pelo predomínio das relações mercantis, onde o dinheiro torna-se o equivalente geral das trocas, e onde tudo aquilo que é “tocado” pelo capital e pelas relações capitalistas vira mercadoria, que pode ser comprada ou vendida nos mercados locais, nacionais, regionais, ou mesmo no mercado mundial.</div><div align="justify"><br />Smith expõe, nessa breve citação, um dos eixos centrais da produção capitalista, que é a produção do excedente, ima produção que tem como objetivo não o simples atendimento das necessidades básicas de uma certa comunidade/sociedade, mas sim o atendimento das necessidades do mercado, visando a acumulação de capital, e transformando o comércio na atividade econômica mais importante. A produção capitalista do século XVIII já demonstrava a continuação de uma tendência que já vinha se desenvolvendo com rapidez desde o século XV, a subordinação do valor de uso (que diz respeito à necessidade e à utilidade) ao valor de troca<a title="" style="mso-footnote-id: ftn7" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn7" name="_ftnref7">[7]</a> , “pois o capital define ‘útil’ e ‘utilidade’ em termos de vendabilidade”.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn8" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn8" name="_ftnref8">[8]</a></div><div align="justify"><br />Com as revoluções burguesas nos séculos XVII e XVIII, e com o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas neste mesmo período, representadas pelo avanço da maquinaria e da grande indústria, entra-se numa nova era do capitalismo, onde começa a se explicitar a hegemonia do capital industrial, e mais precisamente do capital industrial inglês. </div><div align="justify"><br />Com a Revolução Industrial consolida-se o capitalismo, e a sociedade européia - e depois o mundo - desenvolve cada vez mais as características próprias da nova sociedade produtora de mercadorias, onde se destacam, enquanto particularidade do mundo capitalista, as seguintes transformações: separação radical entre os trabalhadores e os meios de produção; predomínio da propriedade privada dos meios de produção; predomínio do trabalho assalariado; a indústria torna-se o setor mais importante da produção; o objetivo central da produção é o lucro, a acumulação ampliada do capital; luta de classes entre a burguesia e o proletariado; constante desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicação; constante desenvolvimento das forças produtivas, da ciência e da tecnologia; produção em grande escala; a lógica da concorrência e da busca incessante por maior produtividade e lucratividade, o que estimula um individualismo exacerbado; a força de trabalho torna-se uma mercadoria; o comércio adquire cada vez mais o caráter de comércio exterior; o mercado torna-se cada vez mais um espaço mundial de trocas e desenvolvimento desigual e combinado da indústria e do próprio modo de produção, originando uma divisão internacional do trabalho onde as potências mais industrializadas irão impor as regras para a convivência regional e mundial.</div><div align="justify"><br />Sendo assim, é possível afirmar que “a grande indústria criou o mercado mundial, para o qual a descoberta da América preparou o terreno (...) A necessidade de mercados cada vez mais extensos para seus produtos impele a burguesia para todo o globo terrestre. Ela deve estabelecer-se em toda parte, criar vínculos em toda parte. Através da exploração do mercado mundial, a burguesia deu um caráter cosmopolita à produção e ao consumo de todos os países. Para pesar dos grandes reacionários, retirou debaixo dos pés da indústria o terreno nacional. As antigas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a ser destruídas a cada dia. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão de vida ou morte para todas as nações civilizadas - indústrias que não mais empregam matérias-primas locais, mas matérias-primas provenientes das mais remotas regiões, e cujos produtos são consumidos não somente no próprio país, mas em todas as partes do mundo. Em lugar das velhas necessidades, satisfeitas pela produção nacional, surgem necessidades novas, que para serem satisfeitas exigem os produtos das terras e dos climas mais distantes. Em lugar da antiga auto-suficiência e do antigo isolamento local e nacional, desenvolve-se em todas as direções um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. Os produtos intelectuais de cada nação tornam-se patrimônio comum. A unilateralidade e a estreiteza nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis, e das numerosas literaturas nacionais e locais forma-se uma literatura mundial”.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn9" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn9" name="_ftnref9">[9]</a></div><div align="justify"><br />A citação acima não expressa o movimento de internacionalização/mundialização/globalização do capitalismo? E isto foi escrito quando? Nos anos 90 deste século? Não, pois Marx e Engels, autores das frases citadas, expuseram tais idéias num livro escrito entre dezembro de 1847 e fevereiro de 1848. Cento e cinqüenta anos se passaram, e tais afirmações permanecem atuais, o que nos faz lembrar que a tal da “globalização”, vista pela imprensa mundial, pelos governos, empresários, líderes sindicais, membros de partidos, intelectuais e demais instituições, não é, definitivamente, uma novidade, pois o capitalismo já nasce buscando sua internacionalização/mundialização/globalização.</div><div align="justify"><br />O pior de tudo isto é que inúmeros autores e estudiosos do capitalismo já afirmaram isto, mas vivemos num fim de século onde predomina uma ditadura do pensamento único, que insiste em destruir o passado, que tenta impedir a compreensão do presente e inviabilizar a construção de um futuro diferente do que é o mundo na atualidade. </div><div align="justify"><br />Portanto, como já afirmou Eric Hobsbawn, entre 1840 e 1870, “o capitalismo industrial tornou-se uma genuína economia mundial e o globo estava transformado, dali em diante, de uma expressão geográfica em uma constante realidade operacional. História, dali em diante, passava a ser história mundial”.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn10" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn10" name="_ftnref10">[10]</a> </div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong>3. Imperialismo e Globalização do Capitalismo</strong></div><div align="justify"> </div><div align="justify">A partir do final do século XIX, intensifica-se a expansão do capital e do capitalismo, tendo como objetivo a apropriação, por parte das nações industrializadas, de cada vez mais matérias-primas e alimentos para atender suas necessidades. Além disso, as potências capitalistas da época precisavam de novos mercados consumidores para seus produtos industrializados. Tanto a luta por matérias-primas e/ou alimentos, como a necessidade de novos mercados, fizeram com que se desenvolve-se uma nova fase colonialista, onde a África, a Ásia e a América Latina serão ocupadas/invadias pelos exércitos, pelo capital ou pelos produtos originários da Europa, dos Estados Unidos e/ou do Japão, pois na Europa, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Bélgica e Holanda apareciam como os “representantes” do continente, enquanto que Japão e Estados Unidos, mesmo que isoladamente em suas regiões, também tentavam impor sua hegemonia, e para isso, assim como todos os países capitalistas industrializados - ou em processo de industrialização - nesse período, se utilizavam do militarismo, do expansionismo e da guerra de conquista como formas de fazer valer seus interesses numa determinada região.</div><div align="justify"><br />Neste final de século XIX e no início do século XX, vários autores, e muitos deles influenciados pelas idéias de Karl Marx e Friendrich Engels, buscavam fazer uma análise crítica da expansão capitalista, qualificando como “imperialismo” a fase superior do capitalismo, onde algumas mudanças diferenciavam o sistema das épocas anteriores. Preocupados em compreender as desigualdades do desenvolvimento mundial do capitalismo, bem como o movimento do capital, o papel do mercado e do Estado e as questões nacionais dentro de um mundo que cada vez mais reproduzia a interdependência entre as nações, os marxistas elaboram o que ficou conhecido como “teoria do imperialismo”.</div><div align="justify"><br />Alguns autores que contribuíram para o debate sobre o capitalismo do final do século XIX foram: Rudolf Hilferding, Rosa Luxemburg, Nicolai Bukhárin e Vladimir Lenin.Selecionamos tais autores devido à temática desenvolvida pelos mesmos em algumas de suas obras mais importantes. No caso de Hilferding, foi um dos pioneiros na explicação do papel dos bancos, dos trusts, dos cartéis, das sociedades anônimas, dos monopólios e do capital financeiro dentro do processo de expansão capitalista. Em sua obra O Capital Financeiro<a title="" style="mso-footnote-id: ftn11" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn11" name="_ftnref11">[11]</a>, o mesmo dá continuidade aos estudos de Marx sobre o chamado “capital fictício”. Karl Marx, no capítulo XXIV do livro III de O Capital<a title="" style="mso-footnote-id: ftn12" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn12" name="_ftnref12">[12]</a>, faz uma análise sobre o capital portador de juros, mostrando que uma tendência da economia capitalista é a participação cada vez maior deste tipo de capital nas relações econômicas e financeiras. Hilferding, partindo das análises de Marx sobre os juros, o dinheiro e o crédito, realiza um amplo estudo sobre a ação do capital bancário e suas relações com os grandes conglomerados industriais de caráter multinacional/transnacional , que ampliavam de forma crescente sua influência e seu poder na economia mundial. Dessa maneira, o autor de O Capital Financeiro descreve como o capital industrial e o capital bancário contribuem para o surgimento do capital financeiro, gerando com isso uma nova fase do capitalismo, onde a chamada livre-concorrência começa a ceder lugar para a concorrência entre os monopólios e oligopólios, tudo isso como parte da política econômica do capital financeiro, que é qualificada pelo autor citado como imperialismo, pois tal política tem como necessidade o controle de novos mercados, a expansão territorial, a reprodução ampliada do capital em escala internacional e a constituição de colônias que garantam a sustentação e o desenvolvimento dos países capitalistas mais industrializados.</div><div align="justify"><br />O estudo dos textos de alguns teóricos do imperialismo se faz necessário para a compreensão da chamada “globalização”, pois nos parece correto afirmar que tanto Hilferding como outros autores que citaremos já percebiam as mudanças promovidas no mundo pela expansão mundial do capital e do capitalismo. Tanto é verdade que, em textos de Rosa Luxemburg, aparece qual o papel do militarismo no processo de expansão capitalista de um determinado Estado nacional. Para ela, o mesmo “desempenha uma função bem determinada. Ele acompanha os passos da acumulação em todas as suas fases históricas. No período da chamada ‘acumulação primitiva’, ou seja, nos primórdios do capital europeu, o militarismo desempenhou papel decisivo na conquista do ‘Novo Mundo’ e dos países fornecedores de especiarias das Índias; desempenhou-o também mais tarde, na conquista das colônias modernas, na destruição das comunidades sociais das sociedades primitivas e na apropriação de seus meios de produção, na imposição violenta do comércio aos países cuja estrutura social constituía um obstáculo à economia mercantil, na proletarização forçada dos nativos e na instituição do trabalho assalariado nas colônias, na formação e extensão de áreas de influência do capital europeu (europeu em regiões não-européias), na imposição de concessões de ferrovias a países atrasados, na execução das dívidas resultantes de empréstimos internacionais do capital europeu e finalmente como instrumento da concorrência entre os países capitalistas visando a conquista de culturas não-capitalistas”.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn13" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn13" name="_ftnref13">[13]</a></div><div align="justify"> </div><div align="justify">Será possível negar que o militarismo tem realmente um papel determinado no processo de expansão mundial do capitalismo? Se observarmos o século XX, com certeza diremos não, pois o militarismo e a guerra se fizeram presentes durante todo o século. São vários os exemplos, seja em Cuba, Nicarágua, Panamá, Granada, Haiti, são os marines americanos na América Latina, com suas invasões armadas, é o governo dos E.U.A financiando golpes militares, são os ingleses e franceses disputando o Oriente Médio, são os europeus partilhando a África, são os franceses na Indochina e na Argélia, os Ingleses na China e na Índia, os norte-americanos na Coréia e no Vietnã, são as guerras nos balcãs, são as duas Guerras Mundiais, a criação do Estado de Israel e as guerras árabe-israelenses, foi a guerra no golfo pérsico, são as guerras e conflitos na Europa, são todos exemplos concretos de integração de regiões e países à lógica do mercado mundial capitalista e das grandes potências mundiais.</div><div align="justify"><br />Interessante notar que em seu livro A Economia Mundial e o Imperialismo, N. Bukharin também analisa o papel das guerras no processo que ele qualifica de “internacionalização do capital”. Este autor afirma que “a guerra é um meio de reprodução de certas relações de produção”<a title="" style="mso-footnote-id: ftn14" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn14" name="_ftnref14">[14]</a>, e “a guerra de conquista é um meio de reprodução ampliada dessas relações”<a title="" style="mso-footnote-id: ftn15" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn15" name="_ftnref15">[15]</a>. Além disso, este autor também já chamava atenção para a constante internacionalização do capitalismo, pois para ele, “a divisão internacional do trabalho faz dos modos nacionais de produção privada parte integrante do vasto processo universal de trabalho, que abarca a quase totalidade da humanidade”.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn16" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn16" name="_ftnref16">[16]</a> </div><div align="justify"><br />Outro autor que ficou bastante conhecido por escrever sobre o imperialismo foi Vladimir I. Lenin, uma das figuras importantes na Revolução Russa de 1917, e também uma das maiores referências no campo do pensamento marxista do século XX. Em seu livro Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo, Lenin reproduz a concepção já esboçada por Hilferding sobre a concentração do capital, o imperialismo e o capital bancário. Sem desmerecer a contribuição de Lenin, e os inúmeros dados estatísticos e informações sobre os cartéis e os trusts, sobre os bancos alemães e as corporações industriais que construíam verdadeiros monopólios, percebemos que no texto citado está presente a herança de Marx e Hilferding. Apesar da obra de Hilferding ter sido mais profunda na temática das causas do imperialismo, o livro de Lenin trata de forma mais didática as conseqüências trazidas pela fusão do capital industrial com o capital bancário, o que gerou, de acordo com esses dois autores, o capital financeiro, forma típica do capital na fase superior e/ou imperialista do capitalismo, fase que, de acordo com Lenin, tem as seguintes características:“1. Concentração da produção e do capital, atingindo um grau tão elevado que origina os monopólios, cujo papel é decisivo na vida econômica;2. fusão do capital bancário e do capital industrial, e criação, com base nesse ‘capital financeiro’, de uma oligarquia financeira;3. diferentemente da exportação de mercadorias, a exportação de capitais assume uma importância muito particular;4. formação de uniões internacionais monopolistas de capitalistas que partilham o mundo entre si;5. partilha territorial do globo entre as maiores potências capitalistas”<a title="" style="mso-footnote-id: ftn17" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn17" name="_ftnref17">[17]</a>Portanto, de acordo com Lenin, “o imperialismo é o capitalismo chegando a uma fase de desenvolvimento onde se afirma a dominação dos monopólios e do capital financeiro, onde a exportação dos capitais adquiriu uma importância de primeiro plano, onde começou a partilha do mundo entre os trusts internacionais e onde se pôs termo à partilha de todo o território do globo entre as maiores potências capitalistas”.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn18" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn18" name="_ftnref18">[18]</a></div><div align="justify"><br />Com isso, acreditamos que recuperar estes teóricos do imperialismo foi uma forma de buscarmos mais subsídios para afirmar que aquilo que muitos hoje chama de “globalização”, enquanto um fenômeno típico dos anos 90, enquanto parte de uma suposta “nova ordem mundial”, é nada mais que o processo de expansão mundial do capitalismo, que carrega consigo uma série de contradições, de desigualdades, que se manifesta de forma diferente dependendo do lugar e da época. </div><div align="justify"><br />Não pretendemos desconsiderar as inúmeras transformações que ocorreram no mundo desde o final do século XIX, mas também não podemos negar a capacidade destes e de outros teóricos do imperialismo de captar a tendência do desenvolvimento capitalista, afinal de contas, Hilferding publicou seu livro em 1910, Rosa Luxemburg em 1912, Bukharin em 1915, e Lenin em 1916. E na atualidade ainda podemos perceber que as características do imperialismo estão cada vez mais presentes na vida econômica e financeira mundial, basta observar as constantes e quase diárias crises financeiras internacionais, ou então as várias fusões entre empresas e/ou bancos, constituindo os já apontados monopólios e oligopólios.</div><div align="justify"><br />Sendo assim, percebemos que a palavra “globalização” nada mais é que um novo nome dado a um velho fenômeno, que é a expansão mundial do capitalismo.ConclusãoO que nos chamou a atenção durante as leituras que desenvolvemos é a constatação de que está em curso uma ditadura do pensamento único, onde não há, ou tenta-se reduzir ao máximo, o espaço para o pensamento crítico, para idéias que não se adaptam ou não se enquadram dentro das regras estabelecidas pelas classes dominantes. Juntamente com isso temos os plágios dos chamados neoliberais, que perdem o respaldo a cada dia que passa, a cada queda nas bolsas de valores, mas insistem em criar um mundo de falsidade e ilusão, onde o “Deus mercado” reina absoluto com o auxílio de formas despóticas de intervencionismo estatal, que privatiza, que impõe a desregulamentação das relações trabalhistas, que elimina numa questão de minutos conquistas e direitos sociais que levaram décadas ou séculos para serem aprovados.</div><div align="justify"><br />A fraseologia dos defensores do capital prega um mundo de progresso, de prosperidade econômica e social para aqueles que se adaptarem ao chamado processo de “globalização”, para os que se integram ao chamado mercado mundial. Mas o que nos chama atenção é a fome, a miséria, a crescente exclusão econômica, social, política e cultural, é o analfabetismo, as epidemias, as guerras entre as nações, entre as religiões, as lutas por independência, as guerras de conquista, os massacres civis nos conflitos militares, os estupros e campos de extermínio ocorridos na guerra na ex-Ioguslávia, os conflitos na Irlanda do Norte, as manifestações contra e a favor do Movimento Separatista Basco (Euskadi Ta Askatasuna – ETA e outros) na Espanha, o ressurgimento de grupos neo-fascistas na Europa Ocidental e Oriental, as milícias civis e os racistas e neo-nazistas nos E.U.A, o movimento pela separação do Quebéc, no Canadá, as inúmeras guerras civis na África e na Ásia, os conflitos entre Índia e Paquistão, a continuidade da guerra de conquista dos EUA no Iraque e Afeganistão, a questão palestina sem solução duradoura, o desemprego crescente, o crescente poder do narcotráfico latino-americano e mundial, as guerrilhas e lutas populares no México, no Peru e na Colômbia, as greves e mobilizações na Bolívia (que resultaram na eleição do líder sindical-indígena Evo Morales), os constantes ataques do governo dos EUA contra Cuba e Venezuela (como o golpe civil-militar patrocinado pelo governo Bush contra o presidente venezuelano Hugo Chávez, em abril de 2002), a decadência econômica e social da população do Leste da Europa e das ex-Repúblicas Soviéticas, a volta do problema das nacionalidades na Rússia e países vizinhos, as migrações internas, as emigrações, de argelinos para a França, de turcos para a Alemanha, de albaneses para a Itália, os massacres do governo da Indonésia contra seu povo e contra o povo de Timor-Leste, a luta dos trabalhadores rurais sem terra no Brasil, principalmente a luta do MST, o constante ataque aos direitos humanos em todo o mundo, as prisões, as torturas e assassinatos daqueles que lutam contra a fome, o desemprego e as injustiças, a corrupção crescente nos orgãos governamentais, a dívida externa impagável dos países da periferia do capitalismo, o aumento do poder das corporações industriais-financeiras multinacionais, isto sim é o mundo real, e é a partir da compreensão desses problemas que acreditamos ser possível a transformação das atuais condições de vida da humanidade.</div><div align="justify"><br />Nesse emaranhado de problemas que cercam o mundo atual, acreditamos na capacidade da humanidade de encontrar um rumo a ser seguido, pois “na ausência de soluções fictícias, talvez tenhamos então a oportunidade de perceber, enfim, os verdadeiros problemas, e não aqueles para os quais querem nos desviar. É a partir de uma ruptura com a esperteza das versões apressadas, das percepções factícias, dos simulacros impostos, que será possível abordar aquilo em que estamos realmente implicados. Só assim então é que se poderá esclarecê-lo, e - mas sem nenhuma certeza - até resolvê-lo. Pelo menos se descobrirá do que se trata e, sobretudo, quais as armadilhas a evitar: problemas que servem de cortina, encenações truncadas. É a partir daí - e só daí - que será possível lutar contra um destino. Por um destino. Para adquirir e recobrar a capacidade de conduzir esse destino (...)”.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn19" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftn19" name="_ftnref19">[19]</a></div><div align="justify"> </div><div align="justify"><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref1" name="_ftn1"><strong>[1]</strong></a><strong> Doutorando em Ciências Sociais PUC/SP, membro do Núcleo de Estudos de Ideologias e Lutas Sociais (NEILS_PUC/SP) ,coordenador do Núcleo de Estudos Latino-Americanos (NELAM-Centro Universitário Fundação Santo André); professor do Centro Universitário Fundação Santo André e da Universidade Metodista de São Paulo; assessor, nas áreas de Relações Internacionais e Educação/Formação, de diversos movimentos sociais.</strong></div><div align="justify"><br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> MARX, Karl e ENGELS, Friendrich, Manifesto Comunista, in Berman, Marshall, “Tudo Que é Sólido Desmancha no Ar - A Aventura da Modernidade”, São Paulo, Cia das Letras, 1995, p.88.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> ADDA, Jacques, A Mundialização da Economia - 1.Génese, Lisboa, Terramar, 1996, p.30.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn4" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref4" name="_ftn4">[4]</a> Idem, p. 31 e 32.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn5" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref5" name="_ftn5">[5]</a> GALEANO, Eduardo, As Veias Abertas da América Latina, Rio de Janeiro, Paz & Terra, 1978, p. 25.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn6" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref6" name="_ftn6">[6]</a> SMITH, Adam, A Riqueza das Nações - Investigação Sobre Sua Natureza e Suas Causas, Volume I, Coleção “Os Economistas”, São Paulo, Nova Cultural, 1996, p. 376.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn7" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref7" name="_ftn7">[7]</a> Uma discussão esclarecedora sobre as formas de manifestação do valor pode ser encontrada em MARX, Karl, O Capital, Livro I, Volume I, Coleção “Os Economistas”, São Paulo, Nova Cultural, 1982, p. 45/78.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn8" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref8" name="_ftn8">[8]</a> MÉSZÁROS, István, Produção Destrutiva e Estado Capitalista, São Paulo, Ensaio, 1989, p. 23.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn9" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref9" name="_ftn9">[9]</a> MARX, Karl e ENGELS, Friendrich, Manifesto do Partido Comunista, Petrópolis, Vozes, 1988, p. 68/70.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn10" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref10" name="_ftn10">[10]</a> HOBSBAWN, Eric, A Era do Capital - 1848/1875, Rio de Janeiro, Paz & Terra, 1979, p. 66.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn11" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref11" name="_ftn11">[11]</a> HILFERDING, Rudolf, O Capital Financeiro, Coleção “Os Economistas”, São Paulo, Nova Cultural, 1985.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn12" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref12" name="_ftn12">[12]</a> MARX, Karl, O Capital, Volume IV, Livro III, Tomo I, Coleção “Os Economistas”, São Paulo, Nova Cultural, 1988.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn13" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref13" name="_ftn13">[13]</a> LUXEMBURG, Rosa, A Acumulação de Capital, Coleção “Os Economistas”, São Paulo, Nova Cultural, 1985, p. 311.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn14" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref14" name="_ftn14">[14]</a> BUKHARIN, Nicolai I., A Economia Mundial e o Imperialismo, Coleção “Os Economistas”, São Paulo, Nova Cultural, 1988, p. 105.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn15" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref15" name="_ftn15">[15]</a> Idem, p. 105.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn16" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref16" name="_ftn16">[16]</a> Idem, p. 97.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn17" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref17" name="_ftn17">[17]</a> LENIN, Vladimir I., Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo, São Paulo, Global, 1987, p. 88.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn18" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref18" name="_ftn18">[18]</a> Idem, p. 88.<a title="" style="mso-footnote-id: ftn19" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=3774464917601335615#_ftnref19" name="_ftn19">[19]</a> FORRESTER, Viviane, O Horror Econômico, São Paulo, UNESP, 1997, p. 55.<br />Postado por Prof. Marcelo Buzetto às <a class="timestamp-link" title="permanent link" href="http://textosprofmarcelobuzetto.blogspot.com/2009/03/o-processo-de-expansao-mundial-do.html" rel="bookmark">06:56</a> <a class="comment-link" onclick="" href="http://textosprofmarcelobuzetto.blogspot.com/2009/03/o-processo-de-expansao-mundial-do.html#comments">0 comentários</a> <a title="Editar postagem" href="http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=3774464917601335615&postID=7157213554390055498"></a><br /></div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong><span style="color:#cc0000;">A crise mundial do capitalismo e as perspectivas dos trabalhadores </span></strong></div><span style="color:#cc0000;"><div align="justify"><br /></span><strong>por Edmilson Costa [*]</strong> </div><div align="justify"><br />A crise que envolve o conjunto do sistema capitalista e, especialmente os países centrais, é devastadora, profunda e de longa duração. Estamos apenas no início de um processo que envolverá a derrocada do sistema financeiro internacional tal como conhecemos hoje, queda brusca no comércio mundial, uma grande recessão, desemprego generalizado, e graves tensões sociais no centro e na periferia. Por suas dimensões econômicas e financeiras, esta crise é muito maior que a de 1929, com o agravante de que atinge de maneira sincronizada o coração do sistema capitalista e torna praticamente sem efeito as tentativas de coordenação ensaiadas pelos líderes das principais economias mundiais. A crise reflete ainda um conjunto de contradições que o capitalismo vem acumulando desde a segunda metade da década de 60 (superacumulação de capitais, financeirização da riqueza e frenesi especulativo) e que agora se expressam com rudeza explícita em toda a vida social contemporânea das nações que fazem parte do processo de acumulação mundial. </div><div align="justify"><br />Ao contrário do que os meios de comunicação procuram difundir, esta não é uma crise do setor imobiliário, do crédito, da falta de liquidez, ou de regulação, ou ainda um fenômeno oriundo da ganância dos especuladores inescrupulosos que colocaram em risco o capitalismo. Esta é uma crise do conjunto do capitalismo: o sistema todo está doente e seus fundamentos estão sendo questionados pela crise. Além disso, essa crise não é administrável com os instrumentos clássicos de política monetária ou intervenções tópicas para recuperar a credibilidade do sistema. Por isso, as tentativas de coordenação dos governos e Bancos Centrais não conseguem resolver o problema. A crise vai seguir objetivamente seu curso durante alguns anos, independentemente da vontade dos dirigentes dos países centrais, com repercussões em todas as esferas da vida social - na economia, na geopolítica e entre as classes sociais. Ressalte-se ainda que a forma particular como a crise se apresenta atualmente (financeira, imobiliária, etc.) representa apenas a ponta do iceberg de um problema mais de fundo, que é a superacumulação de capitais e a impossibilidade de valorizá-los na esfera da produção. </div><div align="justify"><br />Mas a crise também tem suas particularidades, como todas as crises do sistema capitalista, uma vez que cada crise traz consigo um conteúdo novo (Campos, 2001: 21) [1] . Esta crise fecha um longo ciclo de 30 anos da hegemonia do pensamento único e encerra uma forma particular de acumulação, baseada na hegemonia das altas finanças, mecanismo através do qual o grande capital capturava a mais-valia mundial, mediante uma infinidade de mecanismos de punção, que envolvia desde o aprisionamento do orçamento do Estado até recursos das empresas produtivas e dos diversos fundos mútuos ou dos trabalhadores. Nada será como antes após o 15 de setembro. Podemos constatar com ferina ironia o desespero dos fundamentalistas neoliberais sendo obrigamos pelas leis objetivas da vida social a fazer o contrário de tudo que pregavam anteriormente e a desmoralizarem-se perante o mundo: abandonaram o discurso do livre mercado, chamaram de volta o Estado para socorrer a economia e praticamente "estatizaram" todo o sistema financeiro dos países centrais para salvar seus especuladores e agiotas. </div><div align="justify"><br />Como conseqüência, em poucas semanas, a crise também quebrou todos os mitos neoliberais: o mercado como regulador da vida social e espécie de semi-deus com sua mão invisível a harmonizar interesses de produtores e assalariados; a retirada do Estado da economia, as privatizações e a desregulamentação , como forma de desobstruir os canais do livre mercado e transferir as empresas públicas para o capital privado; a iniciativa privada, como operadora do sistema econômico, racional e eficiente, ao contrário das empresas estatais, ineficientes, esbanjadoras de recursos públicos; a credibilidade das agências de risco, cujas instituições funcionavam como palmatória do mundo, a dar notas a países e empresas de acordo com os critérios e interesses do grande capital; o pensamento único e o fim da história: a ideologia neoliberal era considerada o estágio mais avançado do pensamento e o capitalismo neoliberal o sistema modelar de organização da economia, cujo funcionamento desregulado tornaria impossível qualquer tentativa de mudança no modo de produção capitalista. </div><div align="justify"><br />Tudo isso desmanchou-se no ar em poucos dias como uma cortina de fumaça. Em menos de um mês desapareceram do cenário econômico os cinco maiores bancos de investimentos dos Estados Unidos (o vértice da pirâmide do capital financeiro), as duas maiores empresas hipotecárias do planeta, bem como a maior empresa seguradora do mundo. Se alguém tivesse previsto uma conjuntura desse porte um mês antes, com certeza seria motivo de piada. Portanto, esta crise significa não só o dobre de finados do neoliberalismo, mas também a derrota moral do capitalismo e do bloco de forças mais reacionário e mais parasitário do grande capital, que amealhou o poder nos países capitalistas centrais no final dos anos 70 e subordinou todos os outros setores à lógica da especulação financeira. Além disso, representa ainda grande possibilidade de um ascenso de massas de caráter mundial que irá dar combate a um sistema ferido. </div><div align="justify"><br />A crise revelou também de forma cristalina o caráter de classe do Estado e do governo: quando a economia estava bem, os lucros eram apropriados pela burguesia; agora que a economia vai mal, o Estado socializa os prejuízos com os trabalhadores. Realmente, os governos dos países centrais já injetaram até agora mais de US$ 7,0 x 10 12 na economia para salvar os especuladores. No entanto, por incrível que pareça, essas mesmas autoridades pouco fizeram para resolver os problemas de milhões de pessoas que perderam suas casas e estão vivendo na rua, em barracas de lonas nos parques, em trailers, além dos outros milhões de insolventes das dívidas com cartões de crédito e outras dívidas pessoais. Esse escândalo de classe, em algum momento da conjuntura, vai cobrar seu preço, pois cada vez mais ficará mais claro para a população a opção dos governantes pelos ricos. </div><div align="justify"><br />É necessário ressaltar ainda que, nos períodos de crise, o grande capital busca se entrincheirar no Estado e nos organismos institucionais, como os Bancos Centrais e organismos de coordenação internacionais, a fim de tentar salvar suas posições e recuperar o que perderam com a crise. Procuram assim jogar todo o ônus da crise na conta dos trabalhadores. Primeiro, tentam vender a ilusão de que na crise cada um deve dar sua contribuição para que todos possam se salvar, mesmo sabendo-se que quem quer se salvar é a burguesia e seu sistema de exploração. Quando este método não funciona, o capital marcha unido contra os trabalhadores buscando ampliar o raio de exploração e retirar-lhes direitos e garantias. Portanto, esta conjuntura deverá acirrar as lutas sociais e as disputas entre as classes fundamentais da sociedade: trata-se de um momento especial da luta de classe em caráter mundial, em que a burguesia vai utilizar todos os meios possíveis para sair vitoriosa da crise e o proletariado também deve estruturar seu projeto de sociedade para superar o capitalismo. </div><div align="justify"><br /><strong>Antecedentes da crise </strong></div><strong><div align="justify"><br /></strong>Como já enfatizara Marx, os capitais se movimentam permanentemente na busca de valorização e da maximização do lucro . "O capital tem como único impulso vital, o impulso de valorizar-se, de criar mais-valia, de absorver com sua parte constante, os meios de produção, a maior massa possível de mais-trabalho (Marx, 1983:188-189) (...) O motivo que impulsiona e o objetivo que determina o processo de produção capitalista é a maior autovalorização possível do capital (Marx, 1983: 263) [2] (...) Antes de mais nada, o objetivo da produção capitalista não é apossar-se de outros bens, e sim apropriar-se de valor, de dinheiro, de riqueza abstrata" (Marx, 1983: 939) [3] . Portanto, quando esse objetivo está sendo contrariado, ou seja, quando as taxas de lucro estão caindo, o capital procura novas formas para restabelecer seu patamar de rentabilidade. Foi exatamente o que aconteceu a partir da segunda metade da década de 60, quando as taxas de lucro começaram a decrescer nos países centrais, especialmente nos Estados Unidos, onde concentraremos nossa análise. Diante dessa conjuntura, o grande capital realizou um movimento estratégico para recuperar as taxas de lucro, baseado em três eixos fundamentais: </div><div align="justify"><br />a) Parte expressiva dos setores industriais do EUA foi deslocada para a Ásia, México, América Latina e América Central em busca de mão-de-obra barata e um conjunto de outras vantagens econômicas e institucionais que possibilitassem ao capital operar de maneira mais vantajosa, de forma a elevar as taxas de lucro. O grande capital imaginava compensar, do ponto de vista econômico, uma possível fragilidade manufatureira nos Estados Unidos com as remessas de lucros e os preços de transferência de suas transnacionais para o interior dos EUA, além do controle do comércio mundial e, do ponto de vista político, através da maior influência norte-americana nas várias regiões do mundo. </div><div align="justify"><br />b) Os setores mais parasitários do capital que assumiram o poder nos Estados Unidos e Inglaterra no final da década de 70 buscaram reconfigurar o mundo a partir da criação de uma nova ordem econômica internacional, tendo como pilares a implantação do monetarismo como forma de organizar a economia e o neoliberalismo como o gestor político do sistema sócio-econômico. Transformaram em política de Estado a ideologia neoliberal: o mercado como regulador da economia, a desregulamentação, a liberalização bancária, a livre mobilidade dos capitais pelo mundo, a retirada do Estado da economia e uma agressiva política de transferência de bens do Estado para o setor privado, através das privatizações. </div><div align="justify"><br />c) Além dessas mudanças de fundo, o grande capital norte-americano realizou na década de 80 e 90 uma espécie de fuga para frente, buscando estruturar uma economia de serviços, baseada na criação da riqueza mediante o extraordinário desenvolvimento do capital fictício. O objetivo era desenvolver um sistema financeiro sofisticado e hierarquizado a partir das instituições norte-americanas, capaz de capturar parte da mais valia mundial, e estruturar as relações sócio-econômicas mundiais a partir dos interesses dos Estados Unidos. Inovações financeiras e finanças estruturadas, endividamento generalizado das famílias e expansão da dívida pública, além de aumento dos gastos na área do complexo industrial militar, de forma a permitir o desenvolvimento da política guerreira norte-americana, especialmente após a queda da União Soviética, foram a tônica da estratégia nos Estados Unidos. </div><div align="justify"><br />Essa reestruturação estratégica do grande capital norte-americano, ao contrário do que seus idealizadores imaginavam, fragilizou de maneira acentuada a economia dos Estados Unidos, uma vez que as três variáveis implementadas para resgatar as taxas de lucro e controlar o sistema financeiro mundial resultaram num conjunto de problemas estruturais que viriam emergir dramaticamente com a crise atual, tais como um déficit fiscal, um déficit na balança comercial, elevação exponencial da dívida externa, da dívida das famílias e corporações, além da constituição de um sistema financeiro tão especulativo, que construiu as próprias bases de sua desagregação. Em outras palavras, a reestruturação neoliberal cobrou um enorme preço aos Estados Unidos, tanto do ponto de vista econômico, quanto social e político. Senão vejamos:<br />A deslocalização de grande parte das indústrias para outras regiões gerou um déficit permanente na balança comercial, uma vez que os produtos elaborados no exterior entravam nos Estados Unidos como mercadorias importadas, ressaltando-se que mais de 30% dos alimentos consumidos nos EUA, além de um volume expressivo do petróleo, são importados. O deslocamento das indústrias ocorreu no ambiente da internacionalização da produção e da introdução de novas tecnologias nas plantas industriais, que se expressaram na globalização da produção mundial, processo que elevou composição orgânica do capital (a relação entre o capital social geral e a extração da mais-valia). Essas modificações, por sua vez, geraram dialeticamente novas contradições: apesar da do barateamento da mão-de-obra, o incremento da ciência na produção estreitou, numa ponta, a base de extração da mais-valia, ao reduzir o número de trabalhadores por hora-máquina; ao mesmo tempo, esse novo patamar de acumulação reduziu também o mercado para a realização das mercadorias. </div><div align="justify"><br />Os dois fatores levariam inevitavelmente no médio prazo à crise de superacumulação. Como já assinalara Marx, o modo de produção capitalista cria barreiras para si mesmo, uma vez que a acumulação promove a queda na taxa de lucro. "Queda da taxa de lucro e acumulação acelerada são, nesse medida, apenas expressões diferentes do mesmo processo, já que ambas expressam o desenvolvimento da força produtiva. A acumulação, por sua vez, acelera a queda da taxa de lucro, à medida que com ela está dada a concentração dos trabalhos em larga escala e, com isso, uma composição mais elevada do capital (...) sua queda retarda a formação de novos capitais autônomos e assim aparece como ameaça para o desenvolvimento da produção capitalista; ela promove superprodução, especulação, crises, capital supérfluo, ao lado de população supérflua (...) Esse modo de produção cria uma barreira para si mesmo (...) e essa barreira popular testemunha a limitação e o caráter tão somente histórico e transitório do modo de produção capitalista" (Marx, 1984, 183-184) [4] . </div><div align="justify"><br />É importante ressaltar outros fatores negativos que contribuíram para a crise: a "desindustrialização" manufatureira nos EUA, as derrotas impostas ao movimento sindical, a precarização do trabalho e a contratação da mão-de-obra imigrante tiveram um papel dramático sobre a renda dos trabalhadores norte-americanos. Entre 1973 e 2005, os 80% dos trabalhadores que não exerciam funções de supervisão viram sua renda semanal cair de US$ 581,67 para US$ 543,65. Em outras palavras o poder de compra desse contingente de trabalhadores era menor em 2005 do que em 1973. Enquanto os salários eram reduzidos, a produtividade aumentou de maneira extraordinária no mesmo período, atingindo um aumento de 75% no mesmo período (Wolff, 2008) [5] . Outros dados, para período mais recente, indicam o seguinte: "Entre 2000 e 2006 a economia norte-americana cresceu 18%, mas a renda mediana dos domicílios dos trabalhadores caiu 1,1% em termos reais (...) Em contrapartida, os 10% mais ricos da população viram sua renda crescer 32%. No caso dos 1% mais ricos o crescimento foi de 203%, e de 425% para o segmento representante dos 0,1% superior na pirâmide de renda" (Valor Econômico) [6] . </div><div align="justify"><br />Como as famílias norte-americanas têm no padrão de consumo um dos elementos de sua afirmação social, a queda na renda levou as famílias ao endividamento generalizado, muito acima de suas possibilidades econômicas, processo facilitado nos últimos anos pelas baixas taxas de juro. A dívida interna geral (hipotecas, cartões de crédito, compras de produtos em geral, leasing soma US$ 38,6 x 10 12 , três vezes o PIB americano (Moore, 2008) [7] . </div><div align="justify"><br />As políticas neoliberais de reduzir os impostos para os ricos, aliados aos gastos com as aventuras guerreiras no exterior e o desenvolvimento do complexo industrial militar criaram um enorme déficit fiscal, que tinha sido zerado na administração Clinton. Esta situação levou o governo a financiá-lo no exterior, mediante a emissão de títulos, ampliando o endividamento externo. Os Estados Unidos passaram de nação credora até os anos 60 para a maior devedora do planeta. A dívida externa norte-americana está calculada em cerca de US$ 9,5 x 10 12 . </div><div align="justify"><br />A desregulamentação transformou o sistema financeiro dos EUA e, por gravidade, as finanças internacionais, num teatro de operações especulativas sem precedentes na história do capitalismo, dado o tamanho do descolamento entre a esfera produtiva e a órbita da circulação. Para se ter uma idéia, enquanto o PIB mundial está por volta de US$ 55 x 10 12 , o valor escritural (notional) das operações financeiras especulativas foi de US$ 683,7 x 10 12 (BIS, 2008) [8] no final do primeiro semestre de 2008, cerca de 12 vezes o PIB mundial. Pela grandeza desse número já se podia prever a intensidade da crise, pois não existe mais-valia capaz de remunerar essa quantidade de recursos especulativos. </div><div align="justify"><br /><strong>A dinâmica da especulação </strong></div><strong><div align="justify"><br /></strong>Ao contrário do que imagina o senso comum, a especulação é um processo recorrente e parte constitutiva do sistema capitalista e o capital fictício, de tempos em tempos, sempre encontra um setor da economia para desenvolver a especulação financeira. John Kenneth Galbraith, em um livro muito ilustrativo sobre a história das crises financeira, narra com detalhes a euforia das bolhas especulativas, a dinâmica das crises e os traços comuns entre elas. Galbraith assinala que os processos especulativos são muito semelhantes: começam num setor qualquer da economia com uma inovação financeira, desenvolvem-se em função da euforia dos ganhos fáceis e entram em colapso quando se desinfla a bolha especulativa. </div><div align="justify"><br />"De maneira uniforme, em todos os eventos especulativos, está a idéia de que há algo novo no mundo ... das tulipas na Holanda, ouro na Luisiana, terrenos na Flórida ... Algum acontecimento novo e desejável toma conta da mente financeira. O preço do objeto da especulação dispara. Títulos, terrenos, objetos de arte, ou outros bens adquiridos hoje passam a valer mais amanhã. Esse aumento e a esperança de novos aumentos atraem novos compradores; os novos compradores garantem novos aumentos. Outros tantos são atraídos e outros tantos também compram. E o movimento altista continua: a especulação alimenta-se de si mesma e confere a si mesma o seu próprio ímpeto" (Galbraith, 1992: 2, 12) [9] </div><div align="justify"><br />Os setores interessados na especulação desenvolvem intensa campanha para criar uma imagem positiva da euforia financeira, o que é reproduzido de maneira exaustiva pelos meios de comunicação, autoridades governamentais e pelos mecanismos de mercado. Se por acaso alguém questiona o processo especulativo, imediatamente é desqualificado e execrado perante a sociedade: trata-se de alguém que não quer a prosperidade do País, que se incomoda o lucro das pessoas, empresas e instituições e que têm idéias obsoletas. A euforia só se encerra quando vem o colapso financeiro e os imensos prejuízos para aqueles que não se safaram antes da crise. Mas as crises especulativas têm um denominador comum: "Todas as crises envolvem um endividamento que, de uma ou outra maneira, tornou-se perigosamente desproporcional aos meios de pagamentos subjacentes" (Galbraith, 1992: 14) [10] . </div><div align="justify"><br />A descrição de Galbraith corresponde exatamente aos dois últimos processos especulativos ocorridos nos Estados Unidos. Nos anos 90, a especulação se formou em torno das empresas ponto com, empresas de tecnologia que obtiveram enorme valorização nas bolsas. Falava-se em nova economia, comandada pelas tecnologias da informação e cuja expressão maior eram os preços das ações nas bolsas. "Na primavera de 2000, no ápice da alta do mercado de ações, a despeito do fato de as companhias de telecomunicações terem produzido menos de 3% do PIB, a capitalização de mercado (o valor de suas ações em circulação) alcançou assombrosos US$ 2,7 x 10 12 , quase 15% da soma de todas as corporações não financeiras norte-americanas" (Brenner, 2003: 22) [11] . </div><div align="justify"><br />Essa bolha especulativa desinflou em 2001, levando enormes prejuízos para a sociedade. "Em meados de 2002, as ações de telecomunicações perderam 95% de seu valor, o que resultou no desaparecimento de aproximadamente US$ 2,5 x 10 12 da capitalização do mercado. Apenas no breve período entre o final de 2000 e meados de 2002, mais e 60 companhias faliram e a indústria de telecomunicações demitiu mais de 500 mil trabalhadores, 50% a mais do que tinha contratado durante a espetacular expansão do período entre 1996 e 2000" (Brenner, 2003: 25, 26) [12] . </div><div align="justify"><br />A crise das empresas ponto com, como pode ser observado, foi uma espécie de avant première da crise atual que envolve o sistema capitalista, ressaltando-se que a crise das empresas de tecnologia trouxe à tona uma escandalosa fraude cometida pelas principais empresas e bancos norte-americanos, fato que vem se repetindo com mais intensidade na atual crise. </div><div align="justify"><br />Concentremo-nos agora nos elementos constitutivos da crise atual. O governo norte-americano, através do FED, visando retomar economia que entrara em recessão após a crise de 2001, reduziu de maneira acelerada a taxa de juros, que chegou a ficar 31 meses negativa. Como a renda das famílias não aumentava, a saída para manter os elevados padrões de consumo dos norte-americanos foi a ampliação do endividamento, uma vez que é tradição nos Estados medir o sucesso individual ou familiar pelo padrão de consumo. Os baixos juros e o crédito em abundância possibilitaram a retomada da demanda, mas ao mesmo tempo criaram uma bomba de efeito retardado, uma vez que, se o crédito funciona como dinamizador da economia, em contrapartida deve ser pago em algum momento do tempo. Se as condições econômicas estiverem favoráveis, o crédito cumpre uma função especial de facilitar a produção e a demanda, mas se as taxas de juros mudam ou as condições da economia não possibilitam o aumento da renda, a inadimplência é o caminho natural de parcela expressiva dos endividados. </div><div align="justify"><br />Marx também já advertira sobre o papel do crédito e as conseqüência de sua expansão forçada da economia. " Num sistema de produção em que toda a conexão do processo de reprodução repousa sobre o crédito, quando então o crédito subitamente cessa e passa apenas a valer o pagamento em espécie, tem de sobrevir evidentemente uma crise, uma corrida violenta aos meios de pagamento. À primeira vista a crise apresenta apenas como crise de crédito e crise monetária. E de fato trata-se apenas da conversibilidade das letras em dinheiro. Mas essas letras representam, em sua maioria, compras e vendas reais, cuja extensão, que ultrapassa de longe as necessidades sociais, está em última instância na base de toda a crise (...) Enquanto o processo de reprodução mantém a fluidez, assegurando com isso o refluxo do capital, esse crédito perdura e se expande e sua expansão se baseia sobre a expansão do próprio processo de reprodução. Tão logo ocorre uma estagnação, em conseqüência de refluxos retardados, mercados saturados, ou preços em queda, há excesso de capital industrial, mas numa forma que não pode desempenhar sua função. Massas de capital-mercadoria, mas invendáveis. Massas de capital fixo, em virtude da paralisação da reprodução, em grande parte desocupadas. O crédito contrai-se 1) porque esse capital está desocupado, isto é, paralisado em uma das fases de sua reprodução porque não pode completar sua metamorfose; 2) porque a confiança na fluidez do processo de reprodução está quebrada; 3) porque a procura por esse crédito diminui" (Marx 1983, 23-28) [13] . </div><div align="justify"><br />As condições vantajosas do crédito, aliadas à desregulamentação, estimularam o capital especulativo a desenvolver um conjunto de inovações financeiras relacionadas com as dívidas de cartões de crédito, compra de automóveis, dívidas corporativas e, especialmente, as dívidas hipotecárias. Vale lembrar que, para facilitar a ação especulativa, o Congresso norte-americano revogou, em 1999, a Lei Glass-Steagall, que disciplinava a atividade bancária e separava os bancos comerciais dos bancos de investimento. Desregulamentado e com carta branca para criar os mais diversos tipos de inovações financeiras, o sistema financeiro correspondeu plenamente aos novos tempos e desenvolveu esquemas de engenharia financeira que beirava à insanidade.</div><div align="justify"><br />Por exemplo, no setor imobiliário, onde a crise ficou mais conhecida, o mecanismo funcionava da seguinte maneira: os bancos até então realizavam negócios imobiliários e ficavam com as hipotecas negociadas como garantia do pagamento. Quando o cliente quitava o débito recebia de volta a hipoteca. No entanto, estimulados pela desregulamentação e pelo incentivo do próprio governo, interessado no desenvolvimento das finanças, as instituições financeiras resolveram inovar radicalmente, criando as chamadas finanças estruturadas: transformaram as hipotecas e todo tipo de divida em títulos, os empacotavam junto com outros títulos de origem diferente, e os vendiam para instituições financeiras, investidores em geral e agentes econômicos do mundo inteiro, que por sua vez, com esses títulos podiam obter empréstimos para comprar novos títulos e assim por diante, surgindo daí uma enorme alavancagem financeira especulativa. </div><div align="justify"><br />O circuito se completava com a entrada das companhias seguradoras: para se garantir contra os riscos dos títulos, empresas e instituições em geral faziam o seguro dos títulos empacotados e as empresas de seguro, com os recursos obtidos, também participavam ativamente da ciranda financeira. Para se tornarem atrativos, os títulos derivativos (oriundos das operações securitizadas) rendiam muito mais que as taxas de juros do FED, o que proporcionava ganhos expressivos para todos que estavam no frenesi especulativo. O processo de sucuritização das dívidas era chamado de dispersão do risco. Cada agente passava o risco para a frente e embolsava as comissões e lucros – todos estavam ganhando e assim seguia a euforia financeira. Novamente Galbraith descreve com exatidão e ironia a dinâmica especulativa: "Quem está envolvido na especulação vivencia um aumento de sua riqueza. Ninguém deseja acreditar que isso é fortuito ou imerecido; todos querem crer que é o resultado da superioridade de seus insights ou intuições pessoais. O próprio aumento dos valores toma conta dos corações e mentes dos que são por ele beneficiados. A especulação suga, de uma maneira perfeitamente prática, a inteligência daqueles envolvidos" (Galbraith, 1992: 4) [14] . </div><div align="justify"><br />Para dar solidez a esses negócios, as agências independentes de risco, especialmente as três principais, Standard Poors, Moody's e Fitch, responsáveis por 80% do mercado, realizavam a classificação desses títulos e os davam nota máxima: um tríplice A (AAA), que significava a benção do mercado e dos seus técnicos mais gabaritados para seriedade dos negócios. A classificação das agências de risco abriu espaço para que os investidores institucionais (fundos de pensão, corretoras e outras instituições oficiais regulamentadas), que só poderiam comprar títulos com esse tipo de classificação, entrassem no mercado colocando ainda mais gasolina no processo especulativo. Isso porque esses fundos e instituições, especialmente os fundos de pensão, centralizam uma enorme quantidade de recursos da sociedade, o que lhes davam um grande poder para influenciar os mercados. </div><div align="justify"><br />Esse mecanismo (ou essa corrente da felicidade) criou um enorme boom imobiliário . Com um número cada vez maior de pessoas com créditos para adquirir casas, os preços dos imóveis aumentaram de maneira acentuada, pois a demanda por residências era maior que a capacidade de construção imobiliária. Surgia assim o efeito riqueza , as pessoas que adquiriam imóveis se tornavam mais ricas em função do aumento dos preços da habitação. Os bancos novamente utilizavam esta situação para desenvolver ainda mais a especulação: chamavam os clientes com imóveis valorizados e os ofereciam créditos correspondentes entre o valor original da hipoteca e o preço de mercado dos imóveis. Esses créditos eram geralmente investidos na compra de novos títulos empacotados, afinal todos queriam lucrar com a euforia financeira, o que aumentava ainda mais a procura por esse tipo de papéis, elevava sua valorização e os ganhos dos especuladores. </div><div align="justify"><br />Nessa orgia especulativa, as instituições financeiras ampliaram ainda mais a especulação imobiliária, ao realizar uma verdadeira caça às pessoas para aceitar créditos imobiliários, mesmo aqueles que não tinham a menor condição para pagar os empréstimos. Isso é compreensível porque, para os bancos, o que interessava mesmo era a posse da hipoteca em carteira, pois esta logo seria transformada em títulos securitizados e vendida para outros agentes econômicos no mundo inteiro. Aliás, os bancos poderiam ganhar duplamente com esses negócios "subprime". Ao vender os títulos, livravam-se dos riscos do negócio. Caso o devedor não conseguisse pagar as prestações, então o banco arrestava a casa e vendia para outro cliente. Um dos artifícios utilizados para que a venda dos imóveis parecesse vantajosa era o sistema de pagamentos das prestações a taxas de juros flexíveis - muito baixos no início contrato, para depois ir aumentando com o tempo. A justificativa era a de que, com a valorização dos imóveis, seus proprietários teriam condições e créditos para pagar prestações mais altas. </div><div align="justify"><br />No auge da euforia financeira, autoridades governamentais denominavam esse processo de criação de riqueza, capitalismo popular. Parecia uma imensa platéia encantada com as mágicas de profissionais habilidosos: todos estavam felizes em ganhar dinheiro a partir do nada. Praticamente o dinheiro estava se multiplicando como pé de jaboticaba: dava frutos dos troncos até os galhos menores. Para se ter uma idéia do tamanho do mercado hipotecário, basta dizer que é de cerca US$ 11 x 10 12 . Essa base, multiplicada pela especulação com títulos, mais as dívidas securitizadas dos cartões de crédito, pode ter chegado a algo próximo dos US$ 35 x 10 12 , quase três vezes o PIB dos Estados Unidos. </div><div align="justify"><br /><strong>Os primeiros sintomas da crise</strong></div><div align="justify"><br />No final de 2006, iniciou-se um processo de reversão das expectativas nos Estados Unidos, em função da conjuntura econômica: nesse período, a economia norte-americana já não apresentava mais o mesmo dinamismo do período anterior. Os juros negativos ou muito baixos por longo tempo ampliaram a capacidade de compra da economia e começaram a surgir os primeiros sinais de aumento da inflação. O governo foi então reajustando a política de juros, que de 1% passou (um por cento) no período anterior, chegou a 5,25%. A combinação de desaceleração da economia, aumento de juros e queda na renda das famílias provocou um efeito dramático no mercado especulativo: a inadimplência começou a surgir nos setores dos chamados créditos subprime, foi evoluindo até se generalizar para o conjunto da economia, envolvendo dívidas como as de cartões de crédito, dívidas corporativas, entre outras. A falta de pagamento dos cartões aumentou 30% no primeiro semestre de 2007. Mas foi a crise do subprime, mercado muito maior, que acendeu a luz amarela para o conjunto do sistema especulativo: as instituições financeiras que compraram os pacotes lastreados nesses títulos começaram a perceber a possibilidade dos prejuízos. </div><div align="justify"><br />Dispara-se então o processo de reversão da bolha especulativa: as instituições, empresas, fundos de pensão, corretoras e todos os agentes econômicos envolvidos na ciranda financeira procuraram desfazer-se dos papéis securitizados mediante a venda no mercado. Quando mais o movimento de venda aumentava, mas os preços desses papéis caiam. E quanto mais os preços iam caindo mais aumentava o movimento de venda e os preços caiam ainda mais. A notícia da crise vai se espalhando pelo conjunto do sistema e ninguém quer mais comprar esses papéis. Os preços despencam verticalmente e há um pânico generalizado entre os investidores. Agora todos sentem nos bolsos a ressaca da especulação financeira. Quando mais os preços caem, mais carregam consigam prejuízos para todas as instituições compradoras e também para as instituições que os lançaram, pois agora o valor de mercado dos seus ativos está abaixo do valor patrimonial. Nos balanços trimestrais várias empresas começam a divulgar os prejuízos. Isso leva mais pânico ao mercado, os preços dos papéis caem mais ainda e muitas empresas são obrigadas a fechar. Instaura-se o efeito pobreza , pois agora todos perderam da noite para o dia o valor potencial de seus títulos, os proprietários vêem o valor dos imóveis rebaixados, além da possibilidade de perder suas casas. Instaura-se um clima de expectativas negativas que vai gradativamente se espalhando para a economia real. </div><div align="justify"><br />As grandes corporações também começam a sofrer enormes prejuízos e a crise já envolve o conjunto do sistema. As autoridades governamentais, buscando reduzir o pânico entre as instituições envolvidas na especulação, começam a injetar recursos na economia porque avaliam que com essa medida estará ampliando a liquidez e dando condições às instituições financeiras de evitarem uma corrida dos clientes aos guichês ou aos mouses de computadores para resgatar seus recursos. Mas a crise já é bem maior que a percepção das autoridades monetárias e sua capacidade de contorná-la. Um dos cinco maiores bancos de investimentos dos Estados Unidos, o Bear Stearns, quebrou em meio à tormenta e o FED foi obrigado a financiar sua aquisição na bacia das almas pela J. P. Morgan. Posteriormente teve que emprestar recursos pela primeira vez aos bancos de investimento (setor não regulamentado) para salvá-los da insolvência, tendo como contrapartida os títulos tóxicos, que ninguém mais queria comprar. Mas também já era tarde: logo depois o Lehman Brothers, um banco com 158 anos de existência, não teve a mesma sorte do Bear Stearns - foi à falência pura e simples. O Merril Linch foi comprado pelo Bank of América e o Goldman Sachs e o Morgan Stanley deixaram de ser bancos de investimento. Em síntese, em poucos dias os cinco maiores bancos de investimento dos EUA desapareceram do cenário econômico. </div><div align="justify"><br />Mas a crise estava apenas no seu começo: os maiores problemas vieram quando as duas principais empresas hipotecárias, a Fannie Mae e a Freddie Mac, também foram à lona. O governo então foi obrigado a intervir abertamente e estatizar as duas instituições, num movimento envolvendo US$ 250 mil milhões. Para se ter uma idéia da importância da Fannie e da Freddie basta dizer que estas duas instituições detinham, sozinhas, US$ 5,4 x 10 12 em títulos hipotecários. Posteriormente, a maior empresa seguradora do mundo, a AIG, também não teve condições de cumprir seus compromissos e o governo foi obrigado a estatizá-la. Nessa conjuntura, centenas de instituições menores também foram à bancarrota. Em clima de pânico institucional, o secretário do Tesouro, em aliança com o FED, estruturaram um pacote global de socorro da economia de US$ 700 mil milhões. Num primeiro momento, o Congresso rejeitou o pacote e só o aprovou depois com um conjunto de emendas. O mais irônico dessa situação é que o governo Bush, antes um agressivo defensor do livre mercado e da retirada do Estado da economia, agora tornara-se o principal defensor da mão visível do Estado para socorrer o sistema financeiro com o dinheiro do contribuinte. No entanto, para revelar o caráter de classe do governo, não existe nenhum pacote financeiro para salvar os proprietários dos imóveis da inadimplência e do arrestamento de suas residências, mesmo sabendo-se que milhões de norte-americanos perderão suas casas e terão que ficar no olho da rua. </div><div align="justify"><br />A crise não parou de crescer: se espalhou para o conjunto da Europa, cuja economia estava profundamente vinculada à economia norte-americana, pelos países da Ásia, pela Austrália e América Latina. A maior parte dos países centrais já está em recessão. Os governos da Europa, da Ásia, Austrália também já apresentaram planos gigantescos, envolvendo x 10 12 de dólares, para salvar o sistema do colapso. Os dirigentes dos principais países centrais agora falam na constituição de um novo Bretton Woods e até numa refundação do capitalismo, com o sistema financeiro devidamente regulamentado. Mais a crise é muito maior que a capacidade de regulação das autoridades governamentais e o sistema capitalista vai passar por um enorme período de dificuldades nos próximos anos. </div><div align="justify"><br />Nesta crise, há ainda um dado que se assemelha com o processo da crise das empresas ponto com: a fraude empresarial. As instituições financeiras encontraram uma forma especial de contabilizar os negócios especulativos: passaram a colocar fora do balanço os riscos de crédito, visando ampliar a alavancagem financeira. Com essas operações fora de balanço, essas instituições ganhavam maior capacidade para realizar novos empréstimos, sem que isso implicasse legalmente numa relação de alavancagem perigosa. Por isso mesmo é que até agora ninguém tem condições de avaliar corretamente a massa de recursos especulativos, ou lixo tóxico que contamina as economias dos países centrais. </div><div align="justify"><br /><strong>O significado da crise </strong></div><strong><div align="justify"><br /></strong>Esta crise contém vários elementos de originalidade em relação às crises anteriores, fruto do próprio desenvolvimento das forças produtivas e financeiras do capitalismo contemporâneo. Ocorre num momento em que o capitalismo se transformou num sistema mundial completo e maduro. No período anterior à globalização o sistema era completo apenas no que se refere a duas variáveis da órbita da circulação: a exportação de capitais e o comércio mundial. Mas ao expandir a internacionalização da produção e das finanças mundialmente, o sistema amadureceu a reprodução do capital em escala internacional e unificou globalmente o ciclo do capital, fechando assim um processo iniciado com a revolução inglesa de 1640 (Costa, 2002) [15] . Essa performance possibilitou a constituição de um ciclo mundial único do capital, gerando uma crise sistêmica, simétrica e avassaladora, tanto nos países centrais como na periferia, o que impossibilita no curto prazo as possibilidades de fuga da crise para outras regiões como no passado. </div><div align="justify"><br />Portanto, a crise não pode ser analisada a partir de alguns de seus aspectos específicos, tais como a crise imobiliária, a crise financeira ou a ganância dos especuladores de Wall Street. Esta é uma crise global do sistema de acumulação mundial e representa, na macroestrutura, a superacumulação de capitais e a impossibilidade de valorizá-los na esfera produtiva. "As verdadeiras crises capitalistas, qualquer que seja a sua causa inicial, são colapso da totalidade, do conjunto da estrutura da produção, do consumo, da circulação" (Campos, 2001) [16] . Por isso, as tentativas de coordenação dos governos centrais e, particularmente, dos Estados Unidos, não produzem os efeitos desejados, uma vez que esta crise expressa uma quantidade e uma qualidade diferente que as crises cíclicas tradicionais ou as grandes crises sistêmicas do século XIX e XX. Pois não se trata de falta de liquidez, de falta de crédito ou de regulação. O sistema todo está enfermo e todos os seus fundamentos estão sendo questionados pelo colapso da economia. </div><div align="justify"><br />Nos últimos 64 anos os Estados Unidos foram o vértice do sistema mundial capitalista, o que lhe possibilitou atrair a maior parte das economias ocidentais para seu modelo de acumulação, tanto no período da vigência de Bretton Woods quanto no período iniciado com Tatcher e Reagan, mais conhecido como neoliberalismo. Portanto, como o epicentro da crise se encontra justamente no coração da economia norte-americana, esse processo arrasta consigo todos os países ligados à economia líder. E a profundidade da crise em cada nação dependerá do grau de proximidade ou subordinação à economia norte-americana. As possibilidades de saída da crise dentro do modelo estruturado nos últimos 30 anos, no curto prazo, são marginais, a não ser que ocorra no bojo dessa conjuntura uma ruptura de um determinado País em relação ao sistema de poder norte-americano. </div><div align="justify"><br />A desregulamentação financeira, a livre mobilidade dos capitais e a construção de instrumentos securitizados e derivativos geraram um processo de especulação no qual a riqueza em circulação na da órbita das finanças é cerca de doze vezes maior que a gerada no setor produtivo, justamente o que gera valor ou riqueza nova. Para se ter uma idéia do elevado grau de especulação das finanças mundiais, é importante destacar o mais recente levantamento realizado semestralmente pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) sobre o valor notional (escritural) apenas dos derivativos em circulação no mundo. De acordo com o último relatório do BIS (novembro de 2008), o valor negociado no mercado de balcão com esses títulos atingiu US$ 683,7 x 10 12 . Um descolamento dessa magnitude entre as duas órbitas do grande capital é um fato inédito na história do capitalismo e não poderia ter um resultado diferente do que a crise atual do sistema, pois é impossível manter esta relação no longo prazo, até mesmo porque não existiria mais-valia suficiente para remunerar a crescente progressão da massa de recursos especulativos. </div><div align="justify"><br />Esta é a primeira grande crise realmente completa do sistema capitalista, por isso mais complexa e potencialmente explosiva, uma vez que envolve toda a vida social do sistema capitalista – a esfera da produção, da circulação, do crédito, das dívidas públicas e privadas, do sistema social, do meio ambiente, dos valores neoliberais, da cultura individualista e, especialmente, de um determinado tipo de Estado como articulador do processo de acumulação. A crise é tão extensa que até agora nenhuma das autoridades dos países centrais teve condições de saber com exatidão a profundidade do desastre. Como não conseguem ter um diagnóstico preciso, não têm também condições de resolvê-la com os métodos tradicionais de política monetária e fiscal. Isso porque a crise é muito maior que a visão tradicional das velhas lideranças atuais do mundo capitalista, viciadas no senso comum e nas variáveis ideológicas neoliberais dos últimos 30 anos. A crise ocorre também num momento em que sistema imperialista está fragilizado econômica e politicamente após oito anos de governo Bush, muito embora ainda possua um poderio militar maior que todos os outros países. Mas nenhum império pode se manter simplesmente pela força militar. A hegemonia não pode ser exercida por muito tempo apenas com a força bruta. Por isso, os Estados Unidos são hoje o que se pode chamar de um gigante ferido: trata-se do maior devedor do mundo, quando na década de 60 era um país credor; de um país com um déficit comercial crônico, oriundo do processo de deslocalização das indústrias para outras regiões; com um déficit fiscal cada vez maior e com as empresas e consumidores com elevados graus de endividamento. </div><div align="justify"><br />Como sempre, as crises sistêmicas representam o momento da verdade para todos: nessas crises se revelam de maneira explícita a natureza das classes sociais, da ideologia, dos Estados e da gestão da economia. As crises também são educativas e tornam mais claras as posições ideológicas dos partidos políticos, dos movimentos sociais, dos intelectuais orgânicos e colocam por terra as dubiedades políticas, o oportunismo e o reformismo. Em tempos de crise há um aprendizado rápido do proletariado: este aprende mais em poucos meses do que em décadas de calmarias. Em tempos de calmaria as mudanças são muito pequenas, o proletariado realiza apenas lutas específicas, uma vez que a economia vai bem e o controle ideológico da burguesia é maior, mas as crises funcionam como parteiras de uma nova época, tanto para a burguesia quanto para o proletariado. As mudanças são velozes, independem da vontade das pessoas. É exatamente nas crises que se abrem as janelas de oportunidades para que o proletariado possa reafirmar seu projeto de emancipação. </div><div align="justify"><br />As crises sistêmicas também representam um período difícil para a burguesia, pois esta se encontra desorganizada do ponto de vista econômico, seu poder político está enfraquecido e sua hegemonia moral da sociedade em questionamento. O proletariado também está na defensiva, em função da fragmentação operada pela reestruturação produtiva, pelas debilidades do movimento sindical e pelas sucessivas derrotas sofridas ao longo dos últimos 30 anos. A crise que estamos vivendo agora é um destes momentos históricos pródigos para acontecimentos inesperados, tanto por parte da burguesia como do proletariado. A crise representa o confronto aberto entre os projetos das duas classes fundamentais da sociedade. Cada classe vai buscar resolver a crise de acordo com os seus interesses e com seu projeto político de sociedade. Quanto mais grave a crise, mais há a possibilidade de um acirramento da luta de classe. </div><div align="justify"><br />Vale ressaltar que não existe crise sem saída, não existe crise sem solução. Poderemos, por um lado, observar uma violenta ofensiva da burguesia, que se torna mais agressiva nesta época porque quer recuperar a todo custo as taxas de lucro e o controle do sistema. O exemplo do nazismo e do fascismo ainda estão bem vivos para nos advertir do que a burguesia é capaz para manter o seu domínio. Mas também é nas crises que as lutas sociais e políticas do proletariado podem ganhar uma dimensão muito maior em relação ao período anterior: setores que antes pareciam adormecidos, acomodados e envolvidos pela ideologia do capital, podem irromper na cena política com um vigor capaz de deixar perplexos não só aqueles que estavam dominados pela fatalidade do domínio burguês, mas até o próprio inimigo de classe, que é tomado de surpresa pela ousadia das massas. Trata-se do momento em que o proletariado pode passar do patamar de classe em si para classe para si. </div><div align="justify"><br />Em termos analíticos, as crises sistêmicas desenvolvem-se obedecendo a seguinte hierarquia de acontecimentos: </div><div align="justify"><br />Primeiro, surge a crise econômica: emergem de maneira abrupta todas as contradições do capitalismo. As principais instituições econômicas, antes sólidas e respeitáveis, desmoralizam-se diante da crise. Grandes bancos, grandes empresas, fundos de investimentos vão à bancarrota à medida que a crise se aprofunda. As bolsas de valores despencam em queda livre. O pânico se alastra entre os especuladores, empresas, instituições e a burguesia em geral. As autoridades governamentais intervêm colocando recursos públicos para tentar salvar a classe dominante. Torna-se mais claro o caráter de classe do governo. A crise se alastra para o conjunto do sistema com perdas econômicas e financeiras. </div><div align="justify"><br />Posteriormente, vem a crise social : com a quebra das principais instituições e a incapacidade do governo em superar a crise, há um curto-circuito no metabolismo econômico, que trava o fluxo de recursos entre as várias órbitas do capital. Começa a recessão econômica, que traz consigo o desemprego, a queda na renda dos trabalhadores e as tensões sociais. Em sociedades tipo a norte-americana, onde os fundos de pensão e as bolsas de valores têm um papel preponderante na economia, os prejuízos nessas duas instituições, mais o rebaixamento dos proventos das aposentadorias, levam aos protestos dos aposentados e dos participantes dos fundos, aos quais se aliam os perdedores nas bolsas e os desempregados. Nessa conjuntura, a crise econômica, o desemprego, a queda na renda, o rebaixamento das pensões, a ampliação da miséria e o desprestígio do dólar como moeda mundial mudam radicalmente o clima psicológico das massas, que começam a se manifestar contra o governo. </div><div align="justify"><br />Por fim, a crise política. Com as manifestações de massas crescendo e o governo sem condições para resolver a crise, inicia-se a repressão aberta contra as manifestações dos trabalhadores. No caso dos Estados Unidos, uma sociedade com longa tradição institucional da democracia burguesa, a repressão pode ampliar a luta de massas, gerando uma grave crise política. O governo terá duas opções: aprofundar a repressão e instituir um governo abertamente fascista, coisa que Bush iniciou com a Lei Patriótica, ou os setores mais esclarecidos das classes dominantes buscam uma saída ao estilo do New Deal, como no período do presidente Roosevelt. Mas o destino desse processo depende fundamentalmente da intervenção das massas no cenário político. </div><div align="justify"><br /><strong>A crise e as perspectivas dos trabalhadores </strong></div><strong><div align="justify"><br /></strong>Em todas as grandes crises ocorreram mudanças de fundo na forma de gerir o capitalismo. A grande depressão de 1873-1896 resultou no capitalismo monopolista e no imperialismo, a fase superior do capitalismo. A crise de 1930 foi a parteira do nazismo, do fascismo, da Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, da vitória do socialismo em cerca de um terço da humanidade. Nos países capitalistas centrais, em função do perigo comunista, a burguesia foi obrigada a ceder um conjunto de direitos e garantias para os trabalhadores, cuja expressão maior foi o Estado do Bem Estar Social e a gestão keynesiana da economia. Já a crise de 1974-75 trouxe em seu bojo a derrota do movimento operário e a vitória do setor mais reacionário e parasitário do grande capital, que ao longo de 30 anos implantou o neoliberalismo, as finanças especulativas e uma enorme regressividade social que aumentou a concentração de renda e ampliou a pobreza no mundo. </div><div align="justify"><br />Esta crise, independentemente de qual dos projetos venha a se tornar vitorioso, também trará mudanças profundas na economia e na sociedade como ocorreu nas crises anteriores. Estamos assistindo um fim de um longo ciclo da economia capitalista e o término de uma forma particular de acumulação onde o grande capital privilegiou o setor financeiro e buscou construir uma hegemonia mundial solitária a partir dos Estados Unidos. Este ciclo, na verdade, representou uma tentativa desesperada do grande capital de realizar a acumulação fugindo da lei do valor. Ao fim dessa crise, teremos uma nova situação internacional, que tanto pode ser um novo ciclo comandado por outras frações do capital, com outras formas particulares de acumulação, como pode também ocorrer profundas transformações sociais e políticas dirigidas pelo proletariado. Tudo depende de como os trabalhadores e suas vanguardas intervirão no processo que se abre com a atual crise. </div><div align="justify"><br />Os trabalhadores não poderão deixar de levar em conta que o capitalismo é um sistema que tem uma extraordinária capacidade de adaptação e, por mais paradoxal que pareça, é exatamente nos períodos de crise que o sistema se recicla, queimando, concentrando e centralizando capitais para alcançar um patamar superior. Até mesmo nas grandes crises depressivas, quando houve possibilidade de questionamento mais profundo do sistema, o capitalismo encontrou meios de se adaptar às circunstâncias e sair vitorioso. Trata-se de um inimigo esperto, que acumulou uma enorme experiência com as crises passadas. Por isso, tanto uma vitória da burguesia quanto uma perspectiva de transformação fazem parte do jogo de possibilidade para as duas classes em disputa. </div><div align="justify"><br />É importante ressaltar ainda que esta crise, por suas dimensões, vai colocar em questionamento a hegemonia norte-americana e o dólar como moeda mundial. Mesmo que isto ainda não esteja plenamente configurado em função do próprio curso da crise, é insustentável no longo prazo um país manter sua hegemonia baseada numa moeda insolvente e no poderio militar. Hoje, a economia dos Estados Unidos não apresenta o mesmo dinamismo que atingia no passado e sua moeda tem valor apenas fiduciário. Essa situação é insustentável diante da crise econômica e de seus desdobramentos, tanto do ponto de vista econômico quanto político. Quanto mais se acirrar a crise, mais haverá a possibilidade de questionamento da hegemonia norte-americana e um acirramento da disputa inter-imperialista, pois a crise pode gerar um clima de salve-se quem puder. </div><div align="justify"><br />Existe ainda uma possibilidade concreta de uma maxi-desvalorização do dólar ou de um calote generalizado da dívida externa norte-americana, que está por volta de US$ 9,5 x 10 12 ou 72% do PIB, sendo que desse total mais de US$ 2,5 x 10 12 estão com a China e o Japão. Não se trata de uma possibilidade quimérica: todos devem lembrar que em 1971 o presidente Nixon acabou unilateralmente com a paridade dólar-ouro, o que significou um enorme calote mundial. Se isso ocorrer, a crise se aprofundará de tal maneira que existe a possibilidade de aventuras militares por parte dos Estados Unidos para restabelecer a ordem no sistema. No entanto, este não é a tendência principal em virtude de os Estados Unidos já estarem realizando duas guerras – uma no Afeganistão e outra no Iraque, com derrotas militares e políticas. Só numa situação de extremo desespero seria capaz de realizar outras aventuras militares. </div><div align="justify"><br />Em todos os momentos de crise desse tipo surgem os questionamentos teóricos, as indefinições paralisadoras, os oportunismos e vacilações de toda ordem. Os que não querem lutar costumam afirmar que esta é apenas mais uma crise do capitalismo e que esse modo de produção, ao final do processo, retomará seu curso num patamar superior como o fez ao longo de sua história. Outros sentenciam confiantes que esta é a crise final do capitalismo. Nós entendemos que as duas posições estão equivocadas. A primeira porque considera na prática o capitalismo um sistema eterno e, por isso mesmo, apenas luta por algumas reformas para melhorar a vida do povo. O segundo tem um costume recorrente de transformar toda crise do capitalismo em crise final. E quando não ocorre a revolução, creditam seus erros de avaliação não a uma análise incorreta da realidade, mas à falta de direção do movimento. </div><div align="justify"><br />Nós entendemos dialeticamente que as crises e, especialmente, crise como esta, são sempre oportunidades para que o proletariado possa contestar a ordem burguesa. Mas isso não significa que esta crise se transformará em revolução. Quem vai decidir o destino da crise é a capacidade do proletariado de irromper na cena política de forma independente, com um grau de força tal que seja capaz de derrotar a burguesia e conquistar a direção política da sociedade. Nós entendemos que há condições objetivas para a retomada do movimento de massas em caráter mundial e a possibilidade de transformação do sistema capitalista. Ao contrário do período de Lênin, que imaginava que o capitalismo monopolista seria a ante-sala da revolução socialista, acreditamos que somente agora quando o capitalismo se transformou num sistema mundial completo e maduro, tendo em vista que internacionalizou a produção e as finanças e unificou globalmente o ciclo do capital, estão dadas as condições para a revolução mundial. Nessa perspectiva, estamos muito mais próximos de uma nova sociedade do que estávamos no início do capitalismo monopolista. </div><div align="justify"><br />Ou seja, como tudo na natureza e na sociedade está sob a lei da dialética, podemos dizer que o capitalismo, ao revolucionar as formas produtivas e as finanças em termos mundiais, cumpriu seu papel histórico e tende, como ocorreu em outras épocas históricas, a passar pelo mesmo processo de transformação que as formações sócio-econômicas anteriores. Como dizíamos em nosso trabalho de 2002 [17] , as condições para esta mudança de qualidade só estariam maduras quando a crise atingisse o coração do sistema, onde potencialmente pulsa mais forte a luta de classe. Agora a crise atingiu o coração do sistema e chegou a hora da verdade para a burguesia e o proletariado. </div><div align="justify"><br />Outro ponto importante é o fato de que os desdobramentos desta crise vão atingir profundamente os trabalhadores em termos do emprego e da renda e vão acirrar a luta de classes nos países centrais e na periferia. Ao contrário do senso comum e de muitos companheiros da esquerda, nós achamos que o potencial de luta da classe operária e dos trabalhadores é muito mais forte nos países centrais que na periferia, pois é exatamente nos países centrais onde se encontra a classe operária mais avançada do ponto de vista das forças produtivas e onde o capitalismo está mais maduro. É um teatro de operações muito mais favorável para a luta de classes que nos países atrasados. É bem verdade que os elos débeis continuarão cumprindo um papel essencial no desgaste e fustigamento do grande capital, mas as transformações qualitativas do sistema capitalista serão muito mais definitivas se ocorrerem no coração do sistema. </div><div align="justify"><br />Portanto, a ação da classe operária e dos trabalhadores em geral vai depender não só das condições objetivas detonadas pela própria crise, mas especialmente das condições subjetivas para a emergência dos trabalhadores como sujeitos históricos. Se olharmos apenas a aparência dos fenômenos, poderemos dizer que é muito difícil um levantamento dos trabalhadores nos países centrais. Os 30 anos de neoliberalismo foram anos de derrota: fragmentaram a classe operária, enfraqueceram o movimento sindical e desorientaram, com poucas exceções, suas vanguardas políticas. Além disso, os trabalhadores perderam a âncora socialista e o grande capital avançou sobre os direitos e garantias conquistados historicamente. No entanto, as crises são fenômenos que trazem em seu bojo ações inesperadas das classes trabalhadoras, que possibilitam um aprendizado intensivo da luta de classes. Não está fora de cogitação a emergência de um novo movimento operário e uma nova vanguarda política, criada a partir dos fragmentos das que existem ou da criação de novas vanguardas operárias, que voltem a colocar na ordem do dia a superação do capitalismo e a implantação do socialismo como uma nova forma de sociabilidade. </div><div align="justify"><br />Nós estamos num desses momentos fundamentais da história em que não deve haver espaço para a vacilação. Os trabalhadores não podem cair no conto de que é possível reformar o capitalismo ou torná-lo mais humano. Esse sistema está condenado pela história. Devemos levar ainda em conta que o modo de produção capitalista para sair da crise, crescer novamente e reorganizar a sociedade tem que ameaçar a vida e continuidade da espécie humana. Cada vez fica mais claro: hoje capitalismo e humanidade estão em contradição. Para o capitalismo se manter é necessário ameaçar a humanidade e não resta para a humanidade outra opção do que procurar se salvar através da superação do capitalismo. Esta é a disjuntiva que se coloca neste momento para o proletariado. Essa crise é da burguesia e não dos trabalhadores. O proletariado deve aproveitar esse momento histórico para apresentar o seu projeto de sociedade e disputar com a burguesia o futuro da humanidade, pois só o proletariado tem condições de construir uma sociedade da abundância e da felicidade. </div><div align="justify"><br />A burguesia vai utilizar todas as suas ferramentas para sair vitoriosa da crise. Vai fazer todo o possível para manter os seus interesses de classe, seus objetivos estratégicos - econômicos, sociais e políticos -, de forma a recuperar as taxas de lucro e a disciplina social perdida durante os momentos da turbulência. Vai tentar implantar a ferro e fogo o seu projeto e, nesse sentido, não vacilará um minuto, como a história tem nos ensinado, mesmo que para tanto tenha que provocar guerras e destruições em massa. Vai tentar sair da crise rebaixando salários, direitos e garantias dos trabalhadores, concentrando a renda, realizando a mercantilização da vida, incentivando o complexo industrial-militar destruindo ainda mais o meio ambiente, ampliando a miséria e a violência contra a população. </div><div align="justify"><br />Nesse momento especial da luta de classe os trabalhadores devem se preparar da melhor maneira possível para emergir na luta com um projeto emancipador e revolucionário. Não existe empate na luta de classe: na situação em que estamos vivendo, ou a burguesia sai vitoriosa e retoma o capitalismo num patamar superior; ou o proletariado derrota a burguesia e inicia a construção da nova sociedade com seus aliados fundamentais. Apesar da crise estar abalando todo o sistema, os trabalhadores não devem ficar de braços cruzados esperando o capitalismo cair de maduro. O capitalismo só cairá se for derrubado e esta é a tarefa do proletariado neste momento da história. Portanto, mãos à obra camaradas! </div><div align="justify"><br />1- CAMPOS, Lauro. A Crise Completa – A Economia Política do Não. São Paulo: Boitempo, 2001.2- MARX, Karl, O Capital, Vol. I, Tomo I. São Paulo: Abril Cultural, 1983.3- MARX, Karl. Teorias da Mais-Valia, Vol. III. Rio de Janeiro: Difel, 1983.4- MARX, Karl. O Capital. Vol. III, Tomo I. São Paulo: 1984.5- WOLFF, Rick. A Economia Subprime dos EUA. <a href="http://resistir.info/eua/economia_subprime.html" target="_blank">http://resistir.info/eua/economia_subprime.html</a> . Acesso em 30 de outubro de 2008.6- VALOR Econômico. São Paulo, 29/10/2008.7- MOORE, Walter. La estafa global de los Estados Unidos está llegando a su fim. <a href="http://www.socialismo-o-barbarie.org/" target="_blank">www.socialismo-o-barbarie.org</a>. Acesso em 05 de fevereiro de 2008.8- BIS (Bank for International Settlement). OTC derivatives market activity in the first half of 2008. Switzerland: novembro, 2008.9- GALBRAITH, John Kennet. Uma Breve História da Euforia Financeira. São Paulo: Pioneira, 1992.10- GALBRAITH, op. cit.11- BRENNER, Robert. O Boon e a Bolha – O Estados Unidos na economia mundial. Rio de Janeiro: Record, 200312- BRENNER, op. cit.13- MARX, Karl. O Capital. Vol. III. Tomo 2. São Paulo: Abril Cultural, 1985.14- GALBRAITH, op. cit.15- COSTA, Edmilson. A globalização neoliberal e as novas dimensões do capitalismo contemporâneo. Tese de pós-doutorado realizada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Campinas, 2002.16- CAMPOS, op. cit.17- Trata-se da tese de pós-doutoramento realizada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, op. cit. </div><div align="justify"><br />[*] <strong>Doutor em Economia pela Universidade de Campinas (Unicamp), com pós-doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da mesma Instituição. É autor de O imperialismo (Global, 1987), A Política Salarial no Brasil (Boitempo, 1997), Um Projeto Para o Brasil (Tecno-Científica, 1998) e A Globalização e o Capitalismo Contemporâneo (Expressão Popular, 2008). É diretor de pesquisa do Instituto Caio Prado Jr.. Trabalho apresentado no Seminário Nacional sobre A Crise Mundial e os Trabalhadores, realizado em 01 de novembro em São Paulo, promovido pelo Instituto Caio Prado Jr. .<br /></strong>Este artigo encontra-se em <a href="http://resistir.info/" target="_blank">http://resistir.info/</a> . 05/Fev/09<br /><a class="quickedit" title="Editar" onclick="'return" href="http://www.blogger.com/rearrange?blogID=3774464917601335615&widgetType=Profile&widgetId=Profile2&action=editWidget" target="configProfile2"></a><br /></div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-29858652555676082602008-10-18T00:17:00.003-03:002008-10-18T00:26:09.091-03:00NELAM promove debate com Cônsul da Bolívia durante curso no Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA)<strong><span style="color:#ff0000;">05/10/2008 - “Bolívia está construindo uma nova identidade”, afirma cônsul.<br />Fonte: Comunicação, Notícias, <a href="http://www.fsa.br/">http://www.fsa.br/</a> .</span></strong><br /><br /><br />O Cônsul Geral da Bolívia em São Paulo, Jaime Valdivia Almanza, afirmou durante palestra na Fundação Santo André, no último dia 11, que o país está construindo uma “nova identidade”. A afirmação aconteceu durante o evento que faz parte dos Cursos Livres, organizados pelo Núcleo de Estudos Latino-Americanos (NELAM/CUFSA), com apoio da Faeco Júnior, com o tema “Conflitos Sociais e Relações Internacionais na América Latina”.<br /><br />De acordo com Almanza a Bolívia não segue o sistema de governo cubano, venezuelano ou o estilo do presidente Lula de governar. “Trata-se de um projeto próprio de identidade. É uma revolução democrática. Precisamos conhecer mais o presidente Evo Morales, pois estamos buscando uma identidade própria”, revelou. O cônsul explicou aos estudantes todos os processos políticos da Bolívia nos últimos anos, até a posse de Evo, com 54% dos votos da população. “Ele está enfrentando grandes empresários a se engajar na nova política boliviana, como vamos conhecer este homem, pois os valores dele não são econômicos, mas sim, princípios da cultura indígena”.<br /><br />Antes de palestrar aos estudantes, Almanza teve um breve bate-papo com alguns professores da Faeco, que fizeram uma série de perguntas em relação ao presidente boliviano. Almanza relatou que é difícil compreender a personalidade de Evo Morales. “De todos os políticos de esquerda latino-americanos, Evo lembra um pouco Lula, pela formação, mas confesso que ainda estou descobrindo seus valores”.<br /><br />De acordo com o coordenador do Núcleo e o professor do colegiado de Relações Internacionais, Marcelo Buzetto, o objetivo do curso é estimular o estudo e a pesquisa sobre temas relacionado à América Latina contemporânea. “Já estudamos o Chile, Colômbia, Venezuela e agora Bolívia. Trata-se de uma reflexão sobre a situação política, social e econômica da região, sempre fazendo uma relação com o debate sobre a integração latino-americana e com os projetos de integração”.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">A Cônsul da Venezuela se apresenta dia 22 de novembro.</span></strong><br /><strong><span style="color:#ff0000;"></span></strong><br />A programação vai até dia 22 de novembro e quem participar de seis encontros tem certificado garantido. Os próximos debates acontecem no <span style="color:#ff0000;">dia 8 de novembro</span>, com o documentário "No Volverán: a Revolução Bolivariana na Venezuela", de Altered State Films e termina no <span style="color:#ff0000;">dia 22</span> com a palestra da Cônsul Geral da República Bolivariana da Venezuela, Cármen Gonzalez Graterol, que palestrará sobre o tema “Movimentos Sociais, Socialismo e Democracia na Venezuela: os desafios da Revolução Bolivariana”.<br /><br /><a href="http://www.fsa.br/">http://www.fsa.br/</a><br /><br /><br /><a href="javascript:history.back();">Voltar</a>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-76367566634035535822008-08-30T20:49:00.002-03:002008-08-30T20:56:53.141-03:00NELAM faz curso gratuito sobre Conflitos Sociais e Relações Internacionais na América Latina<div align="center"><strong><span style="color:#cc0000;">CURSO GRATUITO: </span></strong></div><div align="center"> </div><div align="center"><strong>“CONFLITOS SOCIAIS E RELAÇÕES INTERNACIONAIS<br />NA AMÉRICA LATINA” </strong></div><div align="center"><br /><span style="color:#000099;"><strong>Núcleo de Estudos Latino-americanos (NELAM/CUFSA)</strong></span></div><strong><span style="color:#000099;"></span></strong><div align="center"><br /><strong>PROGRAMAÇÃO:<br /></strong><br /><strong>23/08 -</strong> documentário “A Batalha do Chile”, de Patrício Guzmán<br /><br /><strong>30/08</strong> - Movimentos Sociais, Socialismo e Democracia no <strong><span style="color:#cc0000;">Chile</span></strong>: o governo de Salvador Allende<br />(prof. José Alfonso Klein, doutorando em Ciências Sociais – PUC/SP)<br /><br /><strong>13/09 –</strong> documentário “Colômbia – Narcotráfico: entre o espanto e a mentira”<br /><br /><strong>27/09 –</strong> Movimentos Sociais, Socialismo e Democracia na <span style="color:#cc0000;"><strong>Colômbia</strong></span>: guerra e paz no início do século XXI<br />(prof. Marcelo Buzetto, doutorando em Ciências Sociais PUC/SP)<br /><br /><strong>04/10</strong> – documentário “Bolívia: a guerra do gás”,<br />de Carlos Pronzato<br /><br /><strong>11/10</strong> - Movimentos Sociais, Socialismo e Democracia na <strong><span style="color:#cc0000;">Bolívia<br /></span></strong>(convidado: Cônsul Geral da Bolívia Jaime P. Valdivia Almanza)<br /><br /><strong>08/11</strong> – documentário “No Volverán: a Revolução Bolivariana na Venezuela”, de Altered State Films<br /><br /><strong>22/11 –</strong> Movimentos Sociais, Socialismo e Democracia na <strong><span style="color:#cc0000;">Venezuela</span></strong>: os desafios da Revolução Bolivariana<br />(convidada: Cônsul Geral da República Bolivariana da Venezuela Carmén Gonzalez Graterol)<br /><br /><span style="color:#cc0000;"><strong>OBSERVAÇÃO: TODOS OS ENCONTROS SERÃO DAS 11H00 ÀS 13H00, SEMPRE AOS SÁBADOS, NO AUDITÓRIO DA FAECO – CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ (CUFSA). SERÁ FORNECIDO CERTIFICADO PARA QUEM PARTICIPAR DE, NO MÍNIMO, SEIS ENCONTROS.<br /></strong></span><br /><span style="color:#000099;"><strong>ORGANIZAÇÃO: NÚCLEO DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS (NELAM/CUFSA)<br />APOIO: FAECO JÚNIOR/COLEGIADO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS</strong></span></div><div align="center"><strong><span style="color:#000099;">MAIS INFORMAÇÕES: 7225.2797 (MARCELO)</span></strong></div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-33373271893076429532008-07-16T17:07:00.003-03:002008-07-16T17:14:00.802-03:0019 de julho de 1979: triunfa uma revolução popular na Nicarágua<div align="justify"><strong><span style="color:#cc0000;">Nicarágua: triunfa de novo a revolução na América Latina</span></strong></div><div align="justify"><strong><span style="color:#cc0000;"><br /></span>Por Marcelo Buzetto [Quarta-Feira, 16 de Julho de 2008 às 15:21hs]</strong></div><div align="justify"><br />A história da Nicarágua foi profundamente marcada por intensos conflitos entre as forças sociais e políticas atreladas e subordinadas ao colonialismo, ao imperialismo e as forças sociais e políticas patrióticas, anticolonialistas/antiimperialistas, ou seja, revolucionárias. </div><div align="justify"><br />Com a expansão do capital e do capitalismo para o continente americano, principalmente durante as duas primeiras revoluções industriais, a Nicarágua acaba adquirindo um papel importante e até mesmo estratégico para o avanço das relações capitalistas de produção na América Central. </div><div align="justify"><br />Desde o início do século XIX os Estados Unidos da America começam a exercer na região a posição de potência imperialista que, através do militarismo, do expansionismo e de guerras de conquista de território tentam se impor como a nação que têm como destino “proteger” e garantir a segurança em todo o continente. Se utilizando da palavra de ordem “a América para os americanos”, ao mesmo tempo em que estimulava lutas anticolonialistas contra os espanhóis em diversos países, aproveitava-se da situação de fragilidade dos movimentos pela independência para intervir nos rumos da economia e da política durante e após os processos de libertação colonial. </div><div align="justify"><br />Entre 1821 e 1823 ganham força a luta pela independência em toda a América Central, e a Nicarágua passa a se integrar à Federação das Províncias Unidas da América Central (junto com Guatemala, Honduras, El Salvador e Costa Rica). </div><div align="justify"><br />Entre o imperialismo inglês e estadunidense surge a idéia de se fazer um canal, através do Lago Nicarágua, que pudesse proporcionar a ligação entre o Oceano Pacífico e o Oceano Atlântico, com o objetivo de facilitar o desenvolvimento do capitalismo e das relações comerciais entre a América Central e o mundo. Esta proposta fortalece a disputa pelo controle do território nicaragüense e durante todo o século XIX este país será vítima de guerras civis dirigidas por diversos setores da classe dominante e de intervenções estrangeiras. Essas lutas internas criaram as condições favoráveis para que, em 1855, um mercenário estadunidense chamado William Walker invadisse o país com suas tropas e se auto-proclamasse presidente da Nicarágua. Após a deposição de Walker em 1857 multiplicam-se as lutas entre liberais e conservadores, e os EUA passam a intervir de maneira cada vez mais direta, seja econômica, política ou militarmente, na vida deste país. </div><div align="justify"><br />Segundo Humberto Ortega, em seu livro 50 anos de luta sandinista (Editora Quilombo) entre o final do século XIX e início do século XX, “ao lado do desenvolvimento da burguesia cafeeira agro-exportadora, desenvolvem-se (...) as camadas médias da população (pequenos produtores, artesãos, comerciantes, etc.) e as forças sociais novas e revolucionárias (proletariado do campo e da cidade, este último incipiente, e, principalmente nos centros mineiros, bananeiros e madeireiros)”. Este autor ainda afirma que “é preciso enfatizar que as condições objetivas determinavam que a classe potencialmente revolucionária não pudesse, neste período, apresentar um projeto político superior e classista”. </div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong>Augusto César Sandino e o exército proletário-camponês: origens do sandinismo</strong> </div><div align="justify"> </div><div align="justify">"A soberania de um povo não se discute, se defende de armas nas mãos!" (Augusto César Sandino) </div><div align="justify"><br />Durante o ano de 1926 a Nicarágua vive mais uma guerra civil, conhecida como a Guerra Constitucionalista, num momento onde ficam cada vez mais explícitas as contradições no interior das forças liberais, pois muitos de seus representantes em nada se diferenciavam dos seus inimigos conservadores. É neste momento que um setor proletário e popular, nascido de dentro das lutas liberais, começa a ganhar independência em suas ações e inicia a construção de um movimento de caráter nacional e antiimperialista, tendo como o seu principal líder, Augusto César Sandino, também chamado de “general de homens livres”. Em 1926, os fuzileiros navais dos EUA (“Marines”) haviam novamente invadido o país, com a desculpa de que estavam ali para “pacificar” a região. </div><div align="justify"><br />Os invasores estadunidenses apreendem inúmeras armas e munições das tropas liberais que se entregaram e aceitaram a deposição das armas e o controle militar do país por uma potência imperialista. Durante os dois primeiros dias de ocupação militar estadunidense, um grupo de prostitutas, jovens e pobres, em Puerto Cabezas, decidem que os militares invasores devem pagá-las pelos “serviços” prestados não em dólares, mas em armas e munições. Essas jovens da classe trabalhadora, que viviam numa situação de miséria e exploração por conta da situação econômica e social em que vivia o povo nicaragüense, conseguiram juntar 40 rifles e cerca de 7.000 cartuchos, que seriam entregues para Sandino e os combatentes pela liberdade da Nicarágua. </div><div align="justify"><br />É assim que tem início a constituição de um dos mais importantes movimentos de insurreição popular da América Latina. Sandino afirma que “os ianques devem ir embora da Nicarágua”. Dizia o general de homens livres: “Eu quero pátria livre ou morrer.”. Sandino nasce em 1895. Durante a adolescência aprende a ler e trabalha como assalariado agrícola. Em 1921 vai para Honduras, trabalha como assalariado no engenho Montecristo. Em 1922 está na Guatemala, trabalhando como mecânico nas oficinas da empresa estadunidense United Fruit. Em 1923 aparece no porto de Tampico, no México, onde também é mecânico na empresa Huasteca Petroleum Company. Neste México profundamente marcado pelas lutas revolucionárias de Emiliano Zapata e Pancho Villa, Sandino conhece militantes comunistas, socialistas, sindicalistas revolucionários, e assim vai formando sua consciência antiimperialista. </div><div align="justify"><br />Quando retorna à sua pátria Sandino decide levar até as últimas conseqüências a luta pela libertação da Nicarágua, e assim forma o Exército Defensor da Soberania da Nicarágua (EDSN). Expressão autêntica do povo em armas, esse “exército proletário-camponês”, como dizia o próprio Sandino, seria o início de um grande movimento popular e proletário, que adquire um caráter de massas durante o seu desenvolvimento nas décadas seguintes. Entre 1926 e 1934 o imperialismo e a classe dominante nicaragüense foram obrigados a enfrentar um inimigo que teve coragem e capacidade de impor derrotas a um exército numericamente e militarmente superior ao seu. </div><div align="justify"><br />A guerra de guerrilhas, uma tática muito utilizada nas chamadas “guerras irregulares”, garantiu a surpresa e a mobilidade necessária para que o EDSN sobrevivesse. Também o inegável apoio popular e a justiça da causa que defendiam (a total liberdade e independência da Nicarágua) foram elementos fundamentais desta primeira fase da luta sandinista. Como muitos dos mártires das lutas populares na América Latina, Sandino também foi assassinado, em 21 de fevereiro de 1934. De 1964 a 1979: ofensiva e vitória da revolução sandinista Entre o período de 1934 e 1956 houve um período considerado de descenso da luta de massas e revolucionária, com a intensificação da repressão contra todos aqueles que levavam adiante a bandeira do antiimperialismo. </div><div align="justify"><br />Apesar da repressão surgem inúmeras lideranças no movimento estudantil, popular e sindical, além de organizações políticas de esquerda, sejam comunistas ou socialistas, que, aos poucos, vão se preparando para o momento de uma ofensiva contra a classe dominante e o imperialismo. Desde 1956 vinham surgindo organizações políticas revolucionárias, como a Juventude Democrática Nicaragüense (JDN), a Juventude Revolucionária Nicaragüense (JRN), a Juventude Patriótica Nicaragüense (JPN), o Movimento Nova Nicarágua (MNN), a Frente de Libertação Nacional (FLN), etc. A vitória da Revolução Cubana em 1959 deu ânimo e fortaleceu os movimentos antiimperialistas e anticapitalistas em toda a América Latina, e assim foi também na Nicarágua. </div><div align="justify"><br />Com a unificação de vários grupos e organizações revolucionárias surge, entre 1960 e 1963, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). Tendo como um de seus dirigentes o marxista Carlos Fonseca, a FSLN transformou-se na vanguarda política do proletariado e das massas populares, que desenvolvia um trabalho de organização entre trabalhadores rurais e urbanos, estudantes e intelectuais ao mesmo tempo em que preparação a luta guerrilheira. Essa combinação de diversas formas de luta e de organização contra o inimigo comum foi, junto com a unidade do movimento revolucionário, um dos motivos fundamentais da vitória da revolução sandinista. </div><div align="justify"><br />A FSLN realizou ações ousadas durante seu processo de luta contra a ditadura do presidente Anastácio Somoza Debayle, como em 1970, quando um comando da FSLN seqüestrou um avião com dois executivos estadunidenses para trocá-los por presos políticos sandinistas, entre eles Carlos Fonseca. Ou quando um grupo de 20 guerrilheiros, em 22 de agosto de 1978, com disfarces da Guarda Nacional, tomam o Palácio Nacional, em Manágua, e capturam e mantém como reféns 3.500 políticos e empresários, exigindo a libertação de 59 membros da FSLN que estavam sofrendo torturas nas prisões da ditadura somozista. Neste ano de 1978 crescia a ofensiva das massas contra o governo anti-popular e pró-imperialista de Somoza. Em fevereiro ocorre um levante popular em Monimbó, a 32 km da capital, Manágua. Em abril, uma greve nacional de estudantes paralisa as escolas públicas e privadas, bem como as universidades. Cria-se o Movimento Povo Unido, uma frente ampla com os diversos setores do sandinismo. Era evidente o processo de ascenso do movimento de massas da classe trabalhadora nicaragüense. </div><div align="justify"><br />No início da FSLN constituíram-se três tendências no interior da organização: a Tendência Proletária (TP), tendo como referência Jaime Wheelock, a Guerra Popular Prolongada (GPP), sendo um de seus líderes Ricardo Morales Avilés e a Tendência Insurreicional (também chamados “terceiristas”), com Humberto Ortega como um de seus principais representantes. Após a morte de Carlos Fonseca, em 1976, problemas internos dificultavam uma unidade maior entre as três tendências da FSLN. Em março de 1979 é formado o Diretório Nacional da FSLN, com o objetivo de criar um comando unificado para a revolução sandinista. São indicados três nomes de cada tendência, todos recebendo o título de Comandante. São eles: Daniel Ortega, Humberto Ortega e Vitor Tirado, pelos terceiristas, Tomás Borge, Bayardo Arce e Henry Ruiz, pela GPP e Jaime Wheelock, Luis Carrión e Carlos Nuñez, pela TP. Neste mesmo momento 27 combatentes são elevados à posição de Comandantes, sendo três deles mulheres (Dora Maria Téllez, Letícia Herrera e Mônica Baltodano). </div><div align="justify"><br />Entre 1978 e 1979 crescia também a participação da classe operária nas mobilizações sandinistas, principalmente em cidades como Manágua, Leon e Matagalpa, mas também no interior, nas usinas de açúcar, etc. Essa participação massiva de diversos setores da classe trabalhadora no campo e na cidade, juntamente com a ofensiva guerrilheira foi criando as condições favoráveis para a tomada de vários municípios pela FSLN. </div><div align="justify"><br />Vendo que a derrota era inevitável, o ditador Somoza foge para Miami (EUA), em 17 de julho de 1979. Estava se completando a ofensiva final da FSLN. Em 19 de julho as colunas guerrilheiras entram em Manágua, consolidando assim a vitória da revolução popular sandinista. </div><div align="justify"><br />No dia seguinte, mais de 250 mil pessoas se concentram nas ruas da capital para saudar o novo governo revolucionário. Entre 1979 e 1990, a revolução estimulou o desenvolvimento de diversas experiências de poder operário e popular, erradicou o analfabetismo e fez a reforma agrária, importantes conquistas sociais, mas viveu um período de guerra permanente dos contra-revolucionários financiados pelos governos de Honduras dos EUA. Eles levaram a guerra e a destruição para dentro na Nicarágua, e milhares de trabalhadores e trabalhadoras perderam sua vidas na defesa da revolução. Em 1990, destruída economicamente pela guerra, a Nicarágua passa por eleições presidenciais. A FSLN perde as eleições para uma coalizão de partidos de centro-direita, apoiados pelos EUA. Entregam o governo, e o país viverá sob o comando do neoliberalismo, que irá aprofundar a miséria e a exclusão social. Em 1979 a FSLN conquista parcela importante do poder. Em 2006, Daniel Ortega, da FSLN, é eleito novamente presidente da Nicarágua. Chegam ao governo, não ao poder, mas a FSLN já não é a mesma de 1979, assim como a Nicarágua não é a mesma. </div><div align="justify"><br />Neste 19 de julho, mais uma vez lembramos de Sandino e Carlos Fonseca, na certeza de que na Nicarágua de hoje, apesar de tudo, ainda existem milhares de homens e mulheres que são dignos de serem chamados de Sandinistas. Para Sandino, princípios valiam muito mais do que votos e cargos. Como disse certa vez, num momento de isolamento e defensiva, “Não estou disposto a entregar minhas armas. Morrerei com os poucos que me acompanham, porque é preferível morrer como rebeldes do que viver como escravos”. </div><div align="justify"> </div><div align="justify">Saiba mais: “Sandino: general de homens livres” –Gregório Selser (Global Editora) 50 anos de luta sandinista”- Humberto Ortega (Editora Quilombo) Lições da Nicarágua – A experiência da esperança”- Ernesto Cardenal e outros (Ed. Papirus) A revolução nicaragüense” – Matilde Zimmermann (Ed. UNESP) “Obras”, Tomo 2-Viva Sandino – Carlos Fonseca (Ed. Nueva Nicarágua) <br />-------------- <br />Marcelo Buzetto é coordenador do Núcleo de Estudos Latino-americanos (NELAM).</div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-28141862908984306182008-05-25T00:20:00.003-03:002008-05-25T00:25:55.864-03:00V Fórum de Relações Internacionais contará com participação do NELAM<span style="color:#ff0000;"><strong>PROGRAMAÇÃO DO V FÓRUM DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS<br />“CONFLITOS E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL NO SÉCULO XXI”<br /></strong></span><br />“A Verdadeira paz não é somente a ausência de tensão, é a presença de justiça”<br />Martin Luther King<br /><br /><strong>Auditório da FAECO<br />Centro Universitário Fundação Santo André - Av. Príncipe de Gales, 821 - Príncipe de Gales - Santo André - SP / Fone: 4979-3300<br /></strong><br /><strong>Segunda-Feira - 26/05 – 19H30<br /></strong>Abertura Oficial<br />Salvador Raza<br />Diretor Geral e Fundador do Centro de Tecnologia,<br />Relações Internacionais e Segurança.<br />Pós-Doutorado em Simulações e Projetos de<br />Forças nos EUA.<br />Mestrado em Defense Studies - King’s College<br />na Universidade de Londres<br />Cláudia Gonçalves Galaverna<br />Diretora da Escola Superior Diplomática.<br /><br /><strong>Terça-Feira - 27/05-19H30<br />Defesa e Segurança Nacional na América do Sul<br /></strong>Coronel Geraldo Lesbat Cavagnari<br />Doutorado em Ciências Militares - Escola<br />de Comando e Estado-Maior do Exército.<br />Mestrado em Operações Militares - Escola<br />de Aperfeiçoamento de Oficiais.<br />Capitão Jorge Luiz Durán Centeño<br />Cônsul-Geral da República Bolivariana da<br />Venezuela no Brasil (até 2008)<br />Embaixador da República Bolivariana da<br />Venezuela no Panamá<br /><br /><strong>Quarta-Feira - 28/05-19H30<br />Integração Energética<br /></strong>Armando Gallo Yahn Filho<br />Doutorando em Ciência Política - UNICAMP<br />Mestrado em Relações Internacionais - Programa<br />“San Tiago Dantas”<br />Graduação em Direito - PUC/CAMPINAS<br />José Alexandre Altahyde Hage<br />Doutorado em Ciência Política - UNICAMP<br />Mestrado em Ciência Política. - UNICAMP<br />Graduação em Sociologia Política – ESP<br /><br /><strong>Quinta-Feira - 29/05-19H30<br />Alternativas ao Neo-Liberalismo<br /></strong>Giorgio Romano Schutte<br />Doutorado em Sociologia. - USP<br />Mestrado em Relações Internacionais.<br />Universidade de Amsterdã, UVA<br />Graduação em Ciências Políticas—UVA<br />Carlos Enrique Ruiz Ferreira<br />Doutorando em Ciência Política - USP<br />Mestrado em Ciência Política - USP<br />Graduação em Relações Internacionais -<br />PUC/SP<br /><br /><strong>Sexta-Feira - 30/05-19H30<br />Israel e Palestina: 60 anos do conflito<br /></strong>Arlene Elizabeth Clemesha<br />Doutorado em História Econômica - USP<br />Mestrado em História Econômica - USP<br />Graduação em História - USP<br />Emir Mourad<br />Secretário-Geral da Federação Árabe-<br />Palestina no Brasil<br /><br /><strong>Sábado - 31/05<br />Cursos Livres<br /></strong><span style="color:#ff0000;">1. “A continuação da política por outros meios: guerrilhas e guerra na Colômbia”- Marcelo Buzetto (Prof. De Geopolítica do Mundo Contemporâneo do curso de Relações Internacionais, coordenador do Núcleo de Estudos Latino-Americanos – NELAM)<br />13h00/17h00 – Auditório FAECO/CUFSA</span><br />Atividades ComplementaresProf. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-85652198601694350622008-05-02T14:04:00.003-03:002008-05-02T14:07:29.622-03:00Urgência da Solidariedade à Bolívia<div align="justify">2 DE MAIO DE 2008 - 18h45</div><div align="justify"><br /><span style="color:#cc0000;"><strong>Urgência da solidariedade à Bolívia </strong></span></div><div align="justify"><span style="color:#cc0000;"><strong>por Altamiro Borges*</strong></span></div><div align="justify"><br />De todas as experiências progressistas na América Latina, decorrentes das vitórias eleitorais de forças mais à esquerda, a que atualmente corre maior risco de retrocesso é a da Bolívia. Segundo inúmeros analistas, a nação vizinha está à beira de uma guerra civil. A oligarquia racista, que até hoje não engoliu a histórica eleição do líder camponês e indígena Evo Morales, está apostando as suas fichas na divisão do país, num movimento separatista de caráter fascistóide. O “referendo da autonomia” no rico departamento de Santa Cruz, em 4 de maio, pode ser o estopim do confronto.<br /><br />Numa iniciativa ilegal, contrária à Constituição e à unidade territorial, Rubén Costa, governador do estado e líder dos separatistas, alardeia que o referendo será o primeiro passo para a cisão do país. Outros três departamentos (Pando, Tarija e Beni) pretendem trilhar o mesmo rumo. Desde a posse de Evo Morales, em janeiro de 2006, a burguesia boliviana orquestra este golpe, que visa separar a parte oriental, “Media Luna”, mais industrializada e rica em recursos naturais, da parte ocidental – mais pobre e com predomínio da população indígena. Para impor a divisão, ela conta com o apoio escancarado dos EUA e recruta mercenários para um previsível confronto armado.<br /><br /><strong>O embaixador separatista<br /></strong><br />A ação intervencionista do presidente-terrorista George Bush é aberta. Numa nítida provocação, ele nomeou como embaixador na Bolívia o temível Philip Goldberg. Este agente do imperialismo ficou famoso pelas ações de estímulo ao separatismo nos Bálcãs, na chamada “Missão Kosovo”. Como denuncia Stella Calloni, no texto “contra-insurgência y golpismo”, “Goldberg é conhecido como especialista em agudizar conflitos étnicos e raciais e por sua intervenção e experiência nas lutas étnicas desde a Bósnia até a separação da ex-Iugoslávia”. Seu passado “diplomático” inclui ainda o golpe do Haiti que derrubou Jean Aristides e a militarização do Plano Colômbia.<br /><br />Para ela, “não há dúvidas de que as mãos de Goldberg estão por trás do processo separatista em Santa Cruz de la Sierra”, iniciado logo após a posse de Morales e que já resultou em sabotagens e mortes. “Quando chegou à Bolívia, os empresários croatas de Santa Cruz (seus velhos amigos) conformaram o movimento ‘Nação Camba’. Um dos principais líderes do movimento, com laços empresariais no Chile, Branco Marinkovic, é o maior promotor das medidas de desestabilização, com influência no restante da Media Luna”, e tem sólidos vínculos com o embaixador ianque.<br /><br /><strong>Manobras militares na região<br /></strong><br />No ano passado, na 17ª Cumbre Iberoamericana, no Chile, o presidente Evo Morales exibiu aos chefes de Estado várias fotos do embaixador Goldberg sorrindo ao lado do mafioso e paramilitar colombiano Jairo Vanegas. Até funcionários da embaixada dos EUA em La Paz revelaram que George Bush encarou a vitória de Morales como “ameaça a segurança da região” devido ao seu “populismo radical” e aos vínculos com Hugo Chávez e Fidel Castro. O ex-secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld chegou a declarar que “a Bolívia agora faz parte do eixo do mal”. <br /><br />Noutra ação provocativa, tropas ianques realizam exercícios militares no vizinho Paraguai desde fins de 2005, quando já era certa a vitória do líder indígena. “Forças especiais dos EUA atuam na fronteira comum em manobras dissimuladas de ação cívica, uma velha tática contra-insurgente”, alerta a autora. Os Esquadrões Operativos Adiantados (EOA) contam com forte estrutura no país vizinho, inclusive uma pista aérea de 3,8 mil metros na base de Mariscal Estigarribia, construída na época do ditador Alfredo Stroessner. A chegada de Fernando Lugo à presidência do Paraguai ameaça anular estes acordos militares, o que poderia precipitar uma aventura militar na Bolívia.<br /><br /><strong>Grupos fascistas e mercenários<br /></strong><br />Desesperada com as mudanças graduais promovidas pelo governo Morales, mas animada com o apoio aberto dos EUA, a oligarquia racista se arma para o confronto. Manfred Reis, ex-militar na ditadura de Hugo Banzer e influente autonomista de Cochabamba, organizou grupos de jovens fascistas responsáveis por violentos confrontos que resultaram em mortos e feridos. Atualmente, ele está refugiado em Santa Cruz. Em novembro de 2006, a agência de notícias Erbol informou que um grupo de empresários viajou a Espanha para contratar mercenários. Donos de empresas de “segurança” confirmaram o rentável negócio. Um deles disse que agenciou 650 “combatentes, antigos membros de unidades de elite, que já estão operando nas zonas limítrofes da Bolívia”.<br /><br />Os golpistas também contam com a milionária ajuda da Usaid e da NED, órgãos dos EUA que financiam organizações não-governamentais de oposição a Morales. O serviço de inteligência do governo provou recentemente a doação de milhões de dólares para líderes separatistas, grêmios estudantis e jornalistas na campanha contra a Constituinte. O financiamento garantiu os “paros cívicos” e os bloqueios violentos de estradas. Em 2007, o consulado da Venezuela e a residência de um médico cubano foram alvos de atentados e uma funcionária da embaixada dos EUA foi detida com armas e munição. Neste processo, “os meios de comunicação são os protagonistas da contra-insurgência, incentivando o confronto interno e a intervenção externa”, afirma Calloni.<br /><br /><strong>Internacionalismo ativo e pressão</strong><br /><br />A manobra separatista da oligarquia boliviana, que deve adquirir nova dinâmica com o referendo de maio em Santa Cruz, tem recebido críticas de todos os lados. Até a Organização dos Estados Americanos (OEA), famosa por seu passado servil aos EUA, condenou o golpismo. Numa sessão extraordinária em Washington, em 26 de abril, a OEA apoiou a institucionalidade democrática e conclamou ao diálogo os governantes da Media Luna. Intelectuais e lideranças políticas, sociais e religiosas – entre elas, Pérez Esquivel, Noam Chomsky, Eduardo Galeano e os brasileiros Frei Betto, Oscar Niemeyer e Fernando Morais – também divulgaram um manifesto de solidariedade: <br /><br />“O processo de mudança na Bolívia corre o risco de ser brutalmente interrompido. A ascensão ao poder de um presidente indígena e seus programas sociais e de recuperação dos recursos naturais enfrentam desde o primeiro momento as conspirações oligárquicas e a ingerência imperial. Nos dias mais recentes, a escalada conspirativa alcançou seus graus máximos. As ações subversivas e anticonstitucionais com que os grupos oligárquicos pretendem dividir a nação boliviana refletem a mentalidade fascista e elitista destes setores... Diante desta situação, queremos expressar nosso respaldo ao presidente Evo Morales. Ao mesmo tempo, rechaçamos o estatuto autonômico de Santa Cruz por seu caráter inconstitucional e por atentar contra a unidade de uma nação da nossa América”.<br /><br />A grave situação boliviana, que coloca em perigo a própria onda progressista na América Latina, exige a solidariedade ativa de todos os setores democráticos e populares do continente e do mundo. É urgente denunciar a trama separatista e golpista da oligarquia, apoiada pelos EUA, nas bases dos trabalhadores, no parlamento e na mídia progressista. É necessário pressionar a OEA e o governo Lula para que adotem posições mais ativas diante deste risco de retrocesso na região.<br /><br /><strong>*Altamiro Borges, Miro é jornalista, Secretário de Comunicação do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro "As encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição)</strong></div><div align="justify"><strong></strong> </div><div align="justify"><strong>Publicado em <a href="http://www.vermelho.org.br/">www.vermelho.org.br</a></strong></div><div align="justify"><strong></strong> </div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-11462300869664240112008-05-02T09:57:00.008-03:002008-05-02T10:25:08.242-03:00Tensão na Bolívia: presidente Evo Morales alerta o mundo para tentativa de golpe de estado. Forças conservadoras e anti-democráticas atacam o governo.<div align="justify"><span style="color:#cc0000;">A herança racista e oligarca da elite de Santa Cruz<br />por <a href="http://www.brasildefato.com.br/v01/author/paula">paula</a> —<span style="color:#000000;"> Última modificação 30/04/2008 09:29 </span></span></div><span style="color:#cc0000;"><span style="color:#000000;"><div align="justify"><br /><span style="color:#cc0000;">Para autores do livro “Los Barones del Oriente. El Poder en Santa Cruz Ayer y Hoy”, elite crucenha mantém seu poder através de uma lógica econômica anti-nacional e baseada no latifúndio e em um capitalismo colonial, que tolera o trabalho servil<br /></span><br />24/04/2008</div><div align="justify"><br /><strong>Igor Ojeda</strong></div><div align="justify"><br /><strong>Correspondente do Brasil de Fato em La Paz (Bolívia)</strong></div><div align="justify"><br />Dois acontecimentos esclarecedores vêm agitando a Bolívia nos últimos dias. Pois dão conta de descrever, como poucos analistas, o perfil da oligarquia do oriente boliviano. Um deles ocorre no chaco boliviano, em Alto Parapetí, no departamento de Santa Cruz. Desde o dia 4 de abril, grupos de criadores de gado impedem, à força, o início das vistorias, pelo governo, de 157 mil hectares de terras da região. </div><div align="justify"><br />O objetivo é verificar se as propriedades rurais cumprem a função econômica e social; no caso negativo, deverão ser distribuídas para camponeses guaranis. Nas fazendas da área, de acordo com o governo, a ONU e entidades de direitos humanos, entre outros, pelo menos mil famílias de guaranis são submetidas a regime de servidão. </div><div align="justify"><br />O outro acontecimento teve início em 19 de março, quando o governo do presidente Evo Morales emitiu um decreto proibindo provisoriamente a exportação de óleo de cozinha, com a finalidade de garantir o fornecimento à demanda interna e baixar o preço do produto. Os produtores do oriente, desde então, protestam veementemente, enquanto o Executivo lembra que a soja, matéria-prima do óleo de cozinha, recebe vultosos subsídios do Estado. </div><div align="justify"><br />Lógica econômica extrativista, anti-nacional e baseada na propriedade privada da terra, total subordinação ao mercado internacional, e a prática de um capitalismo colonial, onde a servidão nos latifúndios é permitida e tolerada. As características da elite de Santa Cruz saem à tona em exemplos concretos como os dois mencionados acima.</div><div align="justify"><br />As tensões na Bolívia se agravam com a aproximação da data da realização do referendo autonômico promovido pelas autoridades e o comitê cívico do departamento. A consulta, marcada para 4 de maio e considerada ilegal pelo governo e rechaçada pelos movimentos sociais, tratará da aprovação ou não do estatuto autonômico crucenho (de Santa Cruz), que propõe o controle departamental sobre, por exemplo, a terra e os recursos naturais. </div><div align="justify"><br />Tais fatos conjunturais encontraram uma sólida análise teórica com o lançamento do livro “Los Barones del Oriente. El Poder en Santa Cruz Ayer y Hoy” (Os Barões do Oriente. O Poder em Santa Cruz Ontem e Hoje), dos sociólogos Ximena Soruco Sologuren e Wilfredo Plata e do economista agrário Gustavo Medeiros (</span><a href="http://www.ftierra-observa.org/site/" target="_self"><span style="color:#000000;">Faça o download aqui do livro lançado no dia 8</span></a></span><span style="color:#000000;"> ) . </span></div><span style="color:#000000;"><div align="justify"><br />Os autores partem do estudo da constituição histórica da oligarquia crucenha (de Santa Cruz) para analisar suas características atuais. A conclusão é curiosa: nada mudou. O perfil político, econômico e social dessa elite continua o mesmo de 130 anos atrás. A diferença é que, se antes o grande produto de exportação era a borracha, hoje é a soja. </div><div align="justify"><br />“Seu modelo econômico é o extrativo do século 19. E o racismo contra a população indígena é da mesma época. Que, se não for para exterminá-la, deve-se assimilá-la como mão-de-obra”, afirma Ximena, que, junto com Wilfredo, concedeu a entrevista abaixo para o Brasil de Fato. </div><div align="justify"><br />Brasil de Fato – Por que o termo “barões do oriente”?</div><div align="justify"><br />Ximena Soruco – É um termo que procura mostrar que a lógica de constituição desse grupo assentado em Santa Cruz é igual a dos barões do estanho. É de significado muito nacional. É um termo que a revolução de 1952 usa para questionar essa oligarquia mineradora que controlou o país por pelo menos 50 anos. Nossa hipótese é a de que os barões do oriente surgem na mesma época e com as mesmas características, mas, diferentemente aos do estanho, não são questionados pela revolução. Se no ocidente vem a reforma agrária que acaba com as haciendas [propriedade rural, comum na época colonial, cujo proprietário explorava as diversas formas de trabalho subordinado], no oriente, o processo se inverte: estas são constituídas a partir de 1952. Hoje, funcionam a hacienda e a empresa agrícola capitalista, e o latifúndio se complementa à hacienda. O modelo da soja, que é compartilhado com o Brasil, a expansão da fronteira agrícola, precisam do latifúndio para viver, precisa quem lhe dê terra. Não podemos pensar no latifúndio como um vício do passado, feudal. É produto dessa modernidade, desse capitalismo dependente.</div><div align="justify"><br />Wilfredo Plata – A semelhança está no fato de que ambos os grupos surgem na mesma época, fim do século 19. Na mesma época em que se começa a explorar estanho no ocidente, tem início a produção da borracha no nordeste boliviano. Ambos estão ligados ao mercado internacional. O boom da borracha dura 30 anos, enquanto a mineração dura por quase todo o século 20. </div><div align="justify"><br />Ximena – O boom da borracha se dá na Amazônia peruana, boliviana e brasileira. É época também da imigração européia, de imigrantes pobres, sobretudo para a Argentina, Uruguai... mas muitos se assentam também na Bolívia, chegando desde a Amazônia brasileira e peruana. E a saída principal da borracha era Belém do Pará. E de fato, a guerra do Acre, entre Brasil e Bolívia, se dá pela borracha, e o Tratado de Petrópolis diz que, em troca de sua assinatura, se construiria uma ferrovia Madeira-Mamoré, para tirar a borracha. É o mesmo que aconteceu com o Pacífico para tirar o estanho. </div><div align="justify"><br />Wilfredo – Ou seja, podemos dizer que ambas as regiões exportam matéria-prima, para ser convertida em produto de valor agregado na Europa.<br />___________________________<br />Nossos Estados fracos e sua inserção no capitalismointernacional vão fazer com que haja um boom para a produção de agrocombustível, e não para a alimentação humana. O remédio é pior que a doença.<br />_______________________<br />E como se dá a relação entre a terra e o poder no oriente e na Bolívia em geral?</div><div align="justify"><br />Ximena – A terra é importante sempre, desde a colônia. Mas as haciendas coloniais não eram um espaço de acumulação capitalista forte, pois os hacendados vivem do trabalho gratuito, servil, da renda da terra. Mas, a revolução de 1952, com sua política agrária, consolida as bases de um desenvolvimento agrícola capitalista no oriente boliviano. </div><div align="justify"><br />Wilfredo – Ou seja, o ocidente libera mão-de-obra, porque aqui havia haciendas até 1952, 1953, e estas vão para o oriente. Até então, o oriente era um lugar afastado, sem conexão de estradas. Criou-se uma região política, social e econômica, uma criação estatal. Agora, dizem que não devem nada ao ocidente, que se erigiram com suas próprias forças, que fizeram tudo, mas não é verdade, é uma criação do Estado nacional, com todo o investimento que se fez. </div><div align="justify"><br />Ximena – O problema aí é que o Estado investe na construção de uma burguesia nacional. Mas, esse setor, na etapa da ditadura, pelo menos de 1964 a 1980, volta à sua fonte comercial, a borracha. Os créditos recebidos para o algodão normalmente se desviavam para o setor terciário: em Santa Cruz, crescia a construção, serviços básicos, o sistema bancário. Parece que a lógica econômica desse setor segue sendo a de matérias-primas, da borracha ou do estanho. E se relacionam com a agricultura em momentos de auge econômico. Mas não é uma relação estável com a agricultura, e nem provê o mercado nacional. Está somente olhando para o mercado internacional. É por isso que hoje se defende os produtores de óleo de cozinha, mas não se fala nada dos consumidores de óleo, que estão na Bolívia, estão em Santa Cruz. </div><div align="justify"><br />Wilfredo – Primeiro foi a borracha. Depois de 1952, o algodão, e em seguida a soja.</div><div align="justify"><br />Ximena – E tememos que o próximo boom seja, mantendo a soja, o do açúcar, devido aos agrocombustíveis, A América Latina, nesse tema, se converte num lugar central do mundo. Não se pode produzir alimentos para energia na Europa. Os EUA estão fazendo, com o uso da soja e do milho. Então, requerem a importação de alimentos. Nossos Estados fracos e sua inserção no capitalismo internacional vão fazer com que haja um boom para a produção de agrocombustível, e não para a alimentação humana. O remédio é pior que a doença. </div><div align="justify"><br />Então, com os agrocombustíveis, a oligarquia de Santa Cruz só tende a ganhar mais força. </div><div align="justify"><br />Wilfredo – Nós fizemos uma investigação e a conclusão nos diz que essa burguesia nacional, que foi criada pelo Estado nacional, tem uma visão local, regional. Está olhando o exterior, mas localmente. Não olha para o ocidente. É uma visão anti-nacional. Em outras palavras, se apropriam da região mais rica da Bolívia, em termos de recursos naturais.</div><div align="justify"><br />Ximena – E sua lógica econômica condiciona sua lógica política. Não podem produzir um projeto político nacional. Esse é o limite. O que pode levar a um processo de separação política e administrativa da Bolívia. E a um suicídio coletivo. </div><div align="justify"><br />Qual o papel dos latifundiários estrangeiros em geral, e dos brasileiros em particular, nesse contexto?</div><div align="justify"><br />Ximena – Nos últimos tempos, têm chegado grandes produtores brasileiros e argentinos. Parece que os produtores de soja na Bolívia são um transbordamento da economia sojeira no Brasil e na Argentina. Porque as condições de acesso à terra aqui são muito mais fáceis. Quase não há pagamento de impostos. Ou esses produtores compram terra, ou alugam dos latifúndios. A participação dos produtores de soja brasileiros e argentinos é forte. O que produzem mais soja são os brasileiros, em termos de superfície. Depois dos brasileiros, vêm os produtores nacionais, divididos entre pequenos, médios e grandes. No âmbito nacional, quem mais produz são os pequenos. Estamos então com uma forte conexão da indústria agrícola boliviana e brasileira. De fato, o modelo econômico é similar em relação à soja, de expansão da fronteira agrícola. Não há investimento em tecnologia, como no mercado argentino.</div><div align="justify"><br />E como se inserem, nesse contexto, os acontecimentos recentes no chaco boliviano, em Alto Parapetí?</div><div align="justify"><br />Wilfredo – Tem relação direta, tem a ver com a terra. E aí, existe um tema de longa data, o da servidão dos povos guaranis. Há uma espécie de manto que cobre isso, mas isso está demonstrado, há trabalhos a respeito. O que acontece é que existe essa relação de servidão, de famílias que estão cativas, que não recebem salários, que não tem horários estabelecidos. </div><div align="justify"><br />Ximena – E aí que se mostra que é uma lógica econômica. Assim como vivem juntas a empresa agrícola e o latifúndio, podem conviver o salário ao camponês com a servidão. É uma lógica que nos mostra porque hoje as instituições crucenhas, como os comitês cívicos e o governo departamental, defendem os proprietários de terra de Alto Parapetí e do resto do chaco boliviano. Não é um capitalismo pleno, é um capitalismo colonial. Que pode usar escravidão, servidão e salário. Não há contradição nisso, porque não lhes interessa chegar a um capitalismo pleno, como queria a burguesia nacional em 1952, e sim extrair matéria-prima, excedente e lucro da melhor maneira possível. Como não existia um Estado forte, que defendesse os interesses de seus trabalhadores, no século XXI, ainda se mantém a servidão na Bolívia. E a elite crucenha defende esse modelo.</div><div align="justify"><br />______________________"Enquanto no ocidente há uma acumulação histórica de movimentos sociais, no oriente há uma acumulação histórica de elites, que transformam seu discurso de acordo com o contexto. Agora, por exemplo, estão incorporando o tema indígena"_________________________</div><div align="justify"><br />Por que, conforme conclui o livro, a renovação das gerações elites crucenhas não garantiu uma mudança de suas características? Que mecanismos mantiveram essas características?</div><div align="justify"><br />Ximena – As elites que se modernizaram ascendem por méritos. Sim, nascem com sobrenomes de uma família, mas há setores de profissionais que, por seus méritos, por seus trabalhos, ascendem socialmente. Isso não acontece na Bolívia porque sua elite não é moderna. Porque não é uma burguesia completamente capitalista. Então, aqui, por um lado, fatores como o sobrenome, a cor da pele, os amigos e as relações configuram essa elite. Por outro, diferentemente do que ocorre no ocidente, no oriente não há uma renovação de elites, não há movimentos sociais, operários, indígenas, camponeses, populares, que tenham questionado as elites do oriente. Enquanto no ocidente houve a Revolução de 1952. O retorno à democracia e o período 2000-2005 também questionam e derrotam essas elites. As elites que surgiram tiveram que incorporar as demandas dos movimentos sociais. Em Santa Cruz, isso não acontece, não precisam incorporar, porque não tem um grupo interno que os questione, que os desaloje. Enquanto no ocidente há uma acumulação histórica de movimentos sociais, no oriente há uma acumulação histórica de elites, que transformam seu discurso de acordo com o contexto. Agora, por exemplo, estão incorporando o tema indígena. Mas “o autêntico indígena está atrás de mim”. Há uma assimilação do indígena, uma incorporação, enquanto este esteja a seu favor, senão é excluído. Então, mudam o discurso, mas a lógica, o fundamento, segue sendo o mesmo de há 130 anos. </div><div align="justify"><br />Então se pode dizer que esta elite é a mesma de 130 anos atrás.</div><div align="justify"><br />Ximena – A lógica é a mesma. Não é um problema de família. Há famílias que entram e que saem. As que empobrecem e as que enriquecem. Há, claro, sobrenomes que continuam, mas o que conta é a lógica. Seu modelo econômico é o extrativo do século 19. E o racismo contra a população indígena é da mesma época. Que, se não for para exterminá-la, deve-se assimilá-la como mão-de-obra. </div><div align="justify"><br />Wilfredo – Além disso, é uma elite voltada para si mesmo, porque se concebe nos EUA, na Europa, uma elite branca, de língua espanhola, que no fundo despreza o indígena, a língua indígena. Especialmente, nos últimos tempos, eles até criaram sua própria etnia, a “nação camba” [os originários do oriente são chamados de camba]. Criaram um espaço geográfico, a meia-lua, e viram no seu horizonte como adversário o outro, o imigrante indígena colla [como são chamados os indígenas do ocidente], aymara e quéchua, basicamente. Eles são os inimigos, os que querem disputar seu espaço geográfico, seus recursos econômicos, e que, portanto, devem ser combatidos. Essa é a autonomia. A resposta política ao levantamento colla. E, para isso, criaram uma etnia sui generis. </div><div align="justify"><br />Ximena – E isso é útil porque encobre as desigualdades no interior da região. Falar de um adversário político que se torna inimigo. O discurso regional, oriente contra ocidente, cambas contra collas, encobre a luta pelo excedente, pelas riquezas naturais, e quem se apropria desses recursos. É um discurso de moda, fácil, que encobre processos econômicos mais profundos e de mais longa duração. </div><div align="justify"><br />E que consegue atingir a população em geral...</div><div align="justify"><br />Ximena – Exato. É um populismo de direita. O que fazem? Constroem um povo a partir de um inimigo comum. Essa é a experiência fascista. O fascismo constrói o judeu como o culpado de tudo, onde os setores pobres, toda a insatisfação política, econômica, social e cultural da população se choca com o inimigo, sem questionar a estrutura interna desse país ou região.</div><div align="justify"><br />___________________________<br />Se essa elite não conseguir que seus interesses sejamatendidos no Estado nacional boliviano, é possível que aposte na construção de um separado<br />________________________</div><div align="justify"><br />O livro diz também que, para a manutenção da elite crucenha, o Estado boliviano deve cumprir seu papel de garantidor da propriedade privada da terra, de incentivador do modelo agroexportador e de repressor das revoltas populares. Então, quando esses “barões do oriente” se rebelam contra o governo Evo Morales, e impulsionam, por exemplo, o processo autonômico, isso quer dizer que eles temem que o governo busque fazer com que o Estado boliviano não cumpra mais esse papel?</div><div align="justify"><br />Ximena – Sim, porque desde 1952 até 2005, é a primeira vem que existe um Estado que não responde a seus interesses. Daí o medo. Porque, por não ser um processo plenamente capitalista, se necessita do Estado. A soja é exportada à CAN [Comunidade Andina de Nações], à Colômbia. Precisa de acordos internacionais, precisa de um respaldo. Esse modelo precisa de um Estado. O problema é, o que acontece se o governo de Evo Morales não lhes dá um espaço nesse Estado? Será que as coisas apontam para a criação de um Estado independente? A lógica mostra que sim. Se essa elite não conseguir que seus interesses sejam atendidos no Estado nacional boliviano, é possível que aposte na construção de um separado. Esperamos que não. A pergunta seria: como fazer essa elite se voltar para o mercado interno? Não é uma briga contra a exportação. Mas é que primeiro se deve pôr os interesses nacionais, e depois o mercado internacional. Mas isso não será uma coisa voluntária de uma elite. E sim produto dos movimentos sociais, que, no interior da região, podem questionar isso.</div><div align="justify"><br />Wilfredo – Na história, a elite cruceña sempre teve cunho separatista. Isso sempre esteve latente. Desde a fundação de Santa Cruz, no século 16. Eles têm uma origem distinta do Alto Peru, porque vêm de La Plata. Então, o separatismo fomentado por grupos radicais está presente na história. E isso vem sendo usado para se negociar com o Estado. Ou seja, em momentos de conflito como o atual, sempre se abre a possibilidade do separatismo, “finalmente poderemos ser livres”, “ser independentes”. </div><div align="justify"><br />Ximena – O problema é que eles não fazem sequer um bom cálculo econômico. Hoje, eles se vinculam com Brasil, Argentina e Peru, e não La Paz. A pergunta econômica é: a saída para o Pacífico, a China, Índia, é pelo Chile, e passa pelo ocidente boliviano. Então, até que ponto é viável um Estado que não tenha uma saída garantida ao Pacífico? Eu acredito que não seja. Não é suficiente a saída ao Atlântico. Então, a ação de Santa Cruz pode ser mais uma negociação para obter um espaço de representação dentro do Estado via um Estado federal, autônomo, mas quase independente, porque o estatuto questiona o aspecto fiscal, o controle de terras, âmbitos chaves que sempre foram manejados pelo Estado central. </div><div align="justify"><br />Wilfredo – O estatuto tem um epicentro. É a terra. A terra e os recursos naturais. Eles querem ter sua própria lei departamental. Que o governador assine os títulos, distribua as terras... aí não tem reforma agrária. Simplesmente é validar o que está. Nada a ver com o Estado boliviano. Ou seja, se eles propuserem isso, não teremos mais um Estado unitário, boliviano.</div><div align="justify"><br />____________________________<br />Uma pesquisa diz que 15% da população de Santa Cruz conhecem o estatuto de alguma maneira; 85% não leram, não escutaram seu conteúdo, não sabem do que se trata<br />________________________</div><div align="justify"><br />Querem mais criar um novo Estado dentro do Estado boliviano em vez, por exemplo, de conquistar o poder nacionalmente?</div><div align="justify"><br />Wilfredo – Isso. Quando lemos as entrelinhas do estatuto, concluímos isso. </div><div align="justify"><br />Ximena – Não se pode confundir autonomia com o estatuto. A autonomia é uma demanda legítima dos movimentos sociais. O que acontece é que preencheram essa demanda com um conteúdo claro, que é o estatuto, que, hoje, não é discutido em Santa Cruz. As pessoas não o conhecem. Não podem discuti-lo. Então, o próprio processo de elaboração do estatuto não é democrático. Não é como a nova Constituição, quando se escolheu representantes por voto para elaborá-la. Os que fizeram o estatuto foi um grupo nomeado pela elite. </div><div align="justify"><br />Wilfredo – Uma pesquisa diz que 15% da população de Santa Cruz conhecem o estatuto de alguma maneira; 85% não leram, não escutaram seu conteúdo, não sabem do que se trata. É uma manipulação mediática. </div><div align="justify"><br />Ximena – Essa é a estratégia do Império frente aos processos que se estão dando na América Latina. Se não se pode controlar o Estado nacional, tem que dividir, para controlar pequenos Estados. Então, é um momento crítico para o continente. E a Bolívia é o caso central agora, pela vulnerabilidade do Estado nacional em relação a outros países com governos de características semelhantes. Acredito que o tema nacional ainda pode ser convocado para buscar uma coesão diante desse grupo oligárquico. Deve-se denunciar constantemente que não é um problema regional, étnico. Que é um problema de sobrevivência de um grupo econômico frente aos interesses nacionais.</div><div align="justify"><br />No livro é dito também que, diferentemente dos barões do estanho, os do oriente não se apropriaram do Estado boliviano. Mas, mantêm uma influência muito grande sobre ele, não é mesmo? Como era essa relação da elite do oriente com o poder central?</div><div align="justify"><br />Ximena – A diferença é que uma burguesia clássica se constrói a partir de um processo econômico e toma o Estado, como na Revolução Francesa. Nos casos dos barões do estanho, é semelhante. Essa burguesia surge com o boom do estanho, processo de acumulação originária, e, na Revolução Federal de 1899, tomam o Estado. Chegam a mudar a sede de governo de Sucre a La Paz. Já a burguesia do oriente tem como momento dourado 1952, com as dotações de terras pelo governo e a agroindústria. Mas não tomam o Estado. É este, produto de um movimento social da Revolução, que investe capital para fortalecer essa burguesia constituída no oriente. Um Estado minerador constrói uma burguesia agroindustrial. Esta participa no Estado, mas não é ele. E tampouco têm a capacidade de se apropriarem dele. Não existe uma liderança ou um projeto político nacionais. Mas o controle sobre a região lhes permite negociar com o Estado. Brigam desde os anos 1950, quando surgiu o comitê cívico. Desde então, há uma acumulação de demandas. Para eles, a culpa por todos os problemas de Santa Cruz é do Estado central. </div><div align="justify"><br />Wilfredo – Mas podemos enunciar algumas hipóteses. Por que não possuem uma visão nacional? Pode ser devido ao repúdio ao indígena. O rechaço ao indígena, ao outro, que deve ser excluído. Os limites geográficos do que seria a nação camba exclui toda a região andina. Onde estão os índios. O resto dos indígenas pode ser cooptável, assimilável. </div><div align="justify"><br />Ximena – Os barões do estanho conseguem um projeto político nacional porque, até 1952, os indígenas estavam excluídos das votações. Não eram atores políticos, só mão-de-obra. Pongos [como eram chamados os indígenas que trabalhavam em regime de servidão]. Hoje, ao contrário, para se criar um projeto nacional, esta elite teria que reconhecer a cidadania da população indígena majoritária, e não estão dispostos a isso. </div><div align="justify"><br />E como se deu o processo de transformação da direita boliviana de um caráter político-partidário a um regional?</div><div align="justify"><br />Ximena – Esta elite se afinca no tema cívico, porque está incrustado na região. Por isso que os processos regionais na Bolívia estão hoje mais vinculados a comitês cívicos do que a partidos políticos. Porque a característica de um partido político é ter que lutar num terreno público nacional, e o comitê cívico não. Além disso, os comitês são estruturas não democráticas. E não se submetem ao voto. Se elegem entre eles e ficam ali.</div><div align="justify"><br />Wilfredo – São clãs. A pele, o apelido, a família. São estruturas corporativas, por interesse, não têm um caráter classista, que defendam ideais, uma visão de país. São corporações, fundamentalmente econômicas. </div><div align="justify"><br />Ximena – Outro aspecto é que, durante as ditaduras na Bolívia, sobretudo a de Banzer [Hugo Banzer, ditador entre 1971 e 1978 e presidente constitucional de 1997 a 2001], a única organização da sociedade civil que podia agir eram os comitês cívicos. Nem partidos, nem sindicatos, nenhuma outra instituição. Os anos 1970 conformam um momento de fortalecimento dos comitês cívicos. E nos anos 1980 podem planejar todo um projeto cultural, identitário. </div><div align="justify"><br />Wilfredo – A política hoje na Bolívia se etnizou, foi posta em territórios. De um lado, os indígenas, de outro, o resto, as elites. Se partiu em dois. O tema indígena se levou ao extremo no ocidente, se etnizou aqui. E no oriente também, com o tema das autonomias. A região, o crucenho. Não há um discurso de esquerda etc. A Bolívia está partida por territórios étnicos.</div><div align="justify"> </div><div align="justify"></span><a href="http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/especiais/bolivia/a-heranca-racista-e-oligarca-da-elite-de-santa-cruz">http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/especiais/bolivia/a-heranca-racista-e-oligarca-da-elite-de-santa-cruz</a></div><div align="justify"><span style="color:#000000;"></span> </div><div align="justify"><span style="color:#cc0000;">DEFENDAMOS LA UNIDAD Y LA SOBERANÍA DE BOLIVIA</span></div><div align="justify"> </div><div align="justify">Alianza Social ContinentalL</div><div align="justify"> </div><div align="justify">As autoridades de la región de Santa Cruz en Bolivia han anunciado la realización el próximo 4 de mayo de un referendo que se propone fraccionar este país andino. Este referendo ha sido declarado ilegal por el Tribunal Electoral de Bolivia y es desconocido por las Naciones Unidas y la Organización de Estados Americanos, la cual respaldó al gobierno legítimamente constituido de Evo Morales.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Quienes han convocado al referendo se han opuesto al programa democrático adelantado por el gobierno boliviano, pretenden mantener privilegios de los que disfrutaron durante décadas y han esgrimido argumentos racistas y separatistas, oponiéndose a toda clase de negociación ofrecida generosamente por el gobierno.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">El pueblo de Bolivia durante los últimos meses adelantó un proceso que expidió una nueva Constitución, que proclama la instauración de un Estado plurinacional y democrático, que defiende la soberanía, los recursos naturales y la producción nacional, y se aparta del cauce neoliberal que durante décadas se aplicó en ese país. Algunas autoridades regionales han respondido con el intento de fraccionar el país y desatar un conflicto de imprevisibles consecuencias.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">La Alianza Social Continental llama al más enérgico apoyo al proceso democrático boliviano, a la defensa del derecho de ese hermano pueblo a escoger libremente su propio camino de desarrollo y a preservar las conquistas alcanzadas después de años de importantes luchas sociales, en las cuales el pueblo está definiendo su propio destino.Alertamos sobre la creciente intervención de fuerzas imperialistas que quieren utilizar el separatismo en Bolivia como plataforma de lanzamiento de una contraofensiva de derecha contra los avances democráticos en el continente, e invitamos a las organizaciones de la Alianza Social Continental a hacer una campaña de información veraz y solidaridad sobre los logros del proceso boliviano y la naturaleza de las intrigas de las multinacionales, los terratenientes y los dirigentes separatistas.</div><div align="justify"><br />Difusión de la Campaña Continental contra el ALCA:<a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://movimientos.org/noalca/" target="_blank">http://movimientos.org/noalca/</a></div><div align="justify"> </div><div align="justify"> </div><div align="justify"><span style="color:#cc0000;">BOLIVIA: CONTRAINSURGENCIA Y GOLPISMO: LA GILADALA</span></div><div align="justify"><span style="color:#cc0000;">PRIMERA GUERRA GLOBAL IMPERIALISTA</span></div><div align="justify"> </div><div align="justify"><a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.dilitio.blogspot.com/" target="_blank">www.dilitio.blogspot.com</a></div><div align="justify"> </div><div align="justify">INFORME PERIÓDICO Nº 591 - 01/05/2008 12:15</div><div align="justify"> </div><div align="justify">BOLIVIA:contrainsurgencia y golpismo</div><div align="justify">Por Stella Calloni</div><div align="justify"> </div><div align="justify">En los próximos días Bolivia estará viviendo el intento de un "golpe suave" o "golpe fuerte", si sus inspiradores necesitan una acción superior en el esquema contrainsurgente que Estados Unidos ha venido aplicando cotidianamente sobre el gobierno de Evo Morales, con el apoyo de la poderosa derecha fascista de ese país.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">El prefecto de Santa Cruz, Bolivia, Rubén Costa realizará un referéndum por autonomía, lo que es ilegal e inconstitucional, lo que ha puesto a ese país y a América Latina en uno de sus momentos más peligrosos y amenazantes.En ese escenario, se está jugando la única posibilidad que ha tenido el pueblo boliviano-mayoritariamente indígena- para salir de siglos de dominación, terror, discriminación, pobreza, abandono y recuperar sus derechos y su dignidad. Pero también se juega el futuro de América Latina en su conjunto, en un tiempo nuevo donde se advierte que "sí se puede" desafiar<br />los mandatos de la dictadura mundial.El 26 de abril pasado la Organización de Estados Americanos (OEA) convocó a una sesión extraordinaria en Washington, donde se reconoció en forma unánime que existe una institucionalidad democrática en Bolivia, y se reclamaron diálogos a los prefectos de la Media Luna (Santa Cruz, Pando, Tarija y Beni ) que no escuchan voces, leyes ni constituciones. Pero ésto, debe convertirse en una acción concreta contra todo golpismo.El canciller boliviano, David Choquehuanca, planteó abiertamente las amenazas sobre su país, que persisten desde la llegada de Evo Morales al gobierno, quien asumió en enero de 2006.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">La acción de Estados Unidos, que maneja todos los hilos de la guerra sucia y la desestabilización, es permanente, sin tregua. Esto se agravó aún más con el envío a ese país del embajador Philip Goldberg, un reconocido atizador de fuegos para separatismos y guerras fraticidas. Tenía el terreno abonado por su antecesor el ex embajador David.N.Greenlee, cuya historia en dos períodos en Bolivia es un tratado de injerencias, impunidades y crímenes.Goldberg reconocido como un experto en agudizar conflictos étnicos o raciales y por su intervención y experiencia en las luchas étnicas desde Bosnia hasta después de la separación de la ex Yugoslavia, iba a ser clave para Bolivia. </div><div align="justify"> </div><div align="justify">Nadie dudó de que su mano estaría detrás del intenso proceso separatista de Santa Cruz de la Sierra, escenario propicio para los planes de su gobierno, exacerbando los elementos de racismos y odios contra la población indígena, el esclavismo que impera y que fueron la base de las dictaduras y las imposiciones neoliberales, finalmente derrotadas por el pueblo boliviano en una lucha heroica en los últimos años.En el pasado diplomático del embajador figuran sus asesorías en el departamento de Estado, entre ellas en el caso Haití y otras y su paso por Sudáfrica, Colombia, y Paraguay. Después de ser Ministro Consejero de la<br />Embajada en Santiago de Chile del 2001 al 2004, Goldberg fue otra vez a los Balcanes al frente de la misión en Kosovo, donde trabajó para la separación de los Estados de Serbia y Montenegro hasta 2006.Cuando llegó a Bolivia, en Santa Cruz los empresarios croatas allí afincados ( sus amigos) ya tenían conformado el movimiento "Nación Camba", uno de cuyos principales dirigentes- con lazos empresariales en Chile y otros países- Branco Marinkovic, terminó dirigiendo el Comité Cívico del lugar, el mayor promotor de la desestabilización, con fuerte influencia en el resto de la Media Luna donde se concentran las mayores riquezas del país.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Que el terreno estaba bien abonado al interior de Bolivia y sus alrededores lo indican las denuncias previas a la asunción de Morales.Ya a mediados de 2004 la agencia de noticias Bolpress denunció que ante la perspectiva del triunfo de Morales, funcionarios de la embajada estadunidense en La Paz advirtieron a miembros de las Fuerzas Armadas y civiles bolivianos que Washington veía como "una amenaza a su seguridad" la posible llegada al gobierno de Bolivia de "un populismo radical», que podía violentar Sudamérica, y especialmente a la Región Andina.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">También se aseguró que esto podría dar lugar a una intervención «por invitación», como lo advirtió el entonces director de la institución Seguridad y Democracia, Juan Ramón Quintana, quien sostuvo que podría suceder una "intervención, mediada por el manto de las Naciones Unidas y la OEA en el escenario boliviano».Otro signo externo amenazante fue la imposición de la inmunidad absoluta para las tropas de Estados Unidos a mediados de mayo de 2005, en Paraguay.Esas tropas estuvieron trasegando en maniobras por las fronteras de Paraguay, donde están ubicados- como una red- los cuarteles militares de ese país, en los mismos momentos en que Evo Morales llevaba adelante sus fuertes<br />medidas, anunciadas en el programa de gobierno.Las fuerzas especiales de Estados Unidos se desplazan en la frontera común con Paraguay en maniobras disimuladas en supuesta "Acción Cívica", que es una vieja táctica contrainsurgente para asegurar el control de poblaciones, mientras se va dejando una inquietante infraestructura.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">El trazado en Paraguay está listo para cualquier aventura militar en la zona, con los llamados "Emplazamientos Operativos Adelantados" (EOA) en lugares geopolíticamente claves, entre los que se incluye una enorme pista de más de 3.800 metros de largo en el cuartel militar paraguayo de Mariscal Estigarribia.Esta pista fue construida por Estados Unidos desde la época del dictador Alfredo Stroessner (1954-1989) y modernizada en los últimos tiempos, asegurando la posibilidad de que en ese lugar estratégico -a sólo 250 Km de la frontera con Bolivia- puedan aterrizar los más grandes aviones de transporte con tropas, equipos de todo tipo y armamentos de guerra.En agosto de 2005 el experto brasileño en geopolítica Leonel Almeida Mello, advertía que no podía descartarse que "ese 'cerco' ( la presencia militar en Paraguay) sea una señal para hacer notar a Brasil que Estados Unidos no comparte su estrategia de liderar y fomentar la cohesión sudamericana incluyendo a líderes como Hugo Chávez o dialogando con Evo Morales".De acuerdo a su hipótesis "al establecerse en Paraguay el Pentágono piensa más en el imprevisible cuadro que hoy presenta Bolivia que es el centro del territorio sudamericano, el centro del equilibro del poder del subcontinente, hace fronteras con Brasil, Argentina, Chile y Perú. Cualquier conflicto en Bolivia amenaza a América Latina (...). Por eso creo que las denuncias de Rumsfeld (Donald) sobre infiltración chavista en Bolivia sólo consiguen inflamar más la situación. Es una lógica de guerra".</div><div align="justify"><br />Se refería a declaraciones del ex secretario de Defensa de Estados Unidos, Donald Rumsfeld, en una gira por la región, cuando denunció la "penetración venezolana y cubana" en Bolivia y sostuvo que el entonces candidato Evo Morales "seguía instrucciones de los gobiernos de Venezuela y Cuba" y por lo tanto quedaba en la "la lista negra" regional.Para Goldberg tampoco era difícil "azuzar" las tensiones sociales agudizadas porque la oligarquía medieval boliviana vivía como una afrenta, que un indígena llegara al gobierno y se negaban a aceptar que no habían sido suficientes los más de 500 años de dominación para acabar con aquella presencia de profundas raigambres culturales propias y no contaminadas.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">La influencia de los dirigentes de la "Nación Camba" (la Media Luna) se extendió y encendió fuegos, también en Cochabamba, donde la acción popular hizo fracasar los intentos de Manfred Reyes Villas, quien ilegalmente intentó forzar un referéndum autonómico para unir Cochabamba con Santa Cruz.Este ex capitán ligado a las dictaduras de Hugo Bánzer y García Meza, promovió la organización de grupos de jóvenes fascistas al estilo santacruceño y se produjeron trágicos incidentes con muertos y heridos, para terminar "refugiado" en Santa Cruz ayudado por Goldberg y la CIA.El 24 de noviembre de 2006 Erbol-Agencias denunció que un grupo de empresarios y terratenientes de Santa Cruz envió una comisión a España para contratar mercenarios que tienen varias agencias en ese país.Esto fue confirmado por investigaciones de El Confidencial Digital, página de Internet, mediante entrevistas a las propias empresas de mercenarios en España que fueron contactados por dos emisarios enviados por empresarios y terratenientes de Santa Cruz para desarrollar una "opción de fuerza" en Bolivia.El Confidencial documentó por lo menos tres reuniones de los<br />directivos de una firma de seguridad con los clientes 'golpistas'. Según esos datos se disponía entonces de 650 combatientes, "antiguos miembros de unidades de élite, que están repartidos en zonas limítrofes a Bolivia".Se dijo también que "las hipótesis más atendibles sobre la identidad de los promotores de esa iniciativa conduce a Industriales y terratenientes que actuarían con el apoyo de algunos políticos de los departamentos de Santa Cruz, Beni y Pando". Quedaron al desnudo los entretelones de encuentros de los líderes golpistas de Bolivia con el Partido Popular de España para apoyar la "guerra sucia".</div><div align="justify"> </div><div align="justify">También hubo serias denuncias con datos concretos sobre la participación de la Agencia de Estados Unidos para Desarrollo Internacional (Usaid) y la National Endowment Foundation (NED), según datos de los servicios de inteligencia del Estado Boliviano y de otros analistas, en los planes golpistas lo que significó el reparto de millones de dólares a organizaciones de todo tipo, incluyendo estudiantiles, periodistas, partidos políticos, intelectuales, empresarios y otros, con objetivos precisos para hacer fracasar la Asamblea Constituyente, utilizando incluso fuerzas de choque, propiciar enfrentamientos, movimientos por las autonomías, paros "cívicos", movilizaciones permanentes en las siete regiones del país, "violencia callejera" y otros hasta llevar al derrocamiento del gobierno.Esto es notable en la mayoría de los medios de comunicación masiva, activos protagonistas de las nuevas contrainsurgencias, que impulsan un enfrentamiento interno y una intervención externa.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">El año 2007 fue muy difícil e incluso se produjeron los atentados dinamiteros contra el consulado de Venezuela y una residencia de médicos cubanos en Santa Cruz o el intento de atacar a un avión venezolano en el aeropuerto de esa ciudad, entre otros graves hechos a los que se sumaron<br />otros atentados realizados por una pareja de estadunidenses y la detención de una funcionaria de Estados Unidos, que traía desde su país, nada menos que cajas de municiones para su "sede" diplomática, según dijeron sus jefes.Ahora estamos en el escenario más cercano a aquellas denuncias, y de lo sucedido con los paros empresariales, huelgas de transporte y acciones que reproducían lo actuado contra el gobierno de la Unidad Popular del presidente Salvador Allende en Chile antes del golpe decidido por Estados Unidos y ejecutado por el ex dictador Augusto Pinochet, en septiembre de 1973.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">El año pasado el presidente Morales denunció las conspiraciones de Estados Unidos y la oligarquía de su país contra su gobierno, durante la XVII Cumbre Iberoamericana de Santiago de Chile y exhibió ante los presidentes y jefes de Estado fotografías que mostraban al embajador Goldberg sonriendo en una foto junto a un "mafioso" y mercenario paramilitar colombiano Jhon Jairo Vanegas y el presidente de la Cámara de Industria y Comercio de Santa Cruz (Cainco), Gabriel Dabdoub.También se denunció el apoyo a esta conspiración de fascistas españoles y otros europeos, bajo el impulso muy evidente del ex presidente José María Aznar.El paro del autotransporte de Federaciones afiliadas a la Confederación Nacional de Choferes de Bolivia, a fin de 2007, con apoyo empresarial de Santa Cruz, fue uno de los fuertes intentos tanto como la llamada "rebelión" de los productores del campo en estos últimos meses que también intentaron parar el país, desabastecer y crear condiciones para el caos y el golpe.Esto sólo es una síntesis de todas las acciones que el gobierno y el pueblo de Bolivia resistieron en estos dos últimos años destinadas a crear un conflicto que podría culminar en un golpe e inclusive en una intervención para la que se han creado las condiciones.</div><div align="justify"><br />Golpear a Bolivia es crucial para el gobierno de George W.Bush, cuando es visible su derrota en Irak, después de cinco años de sembrar el terror (más de un millón de muertos) en ese país y cuando la situación económica en Estados Unidos es de extrema gravedad en un año eleccionario.Por eso acentúa todos los conflictos como el que Washington creó entre Ecuador y Colombia. Ahora se agrega otro factor que es el triunfo del ex-obispo Fernando Lugo en Paraguay, un país que Estados Unidos ha considerado siempre como un territorio propio.Es América Latina, a través de sus gobiernos y sus pueblos, la que deberá actuar e imponer a organizaciones como la OEA, la defensa del gobierno de Bolivia, elegido por el pueblo de ese país en un hecho histórico.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Bolivia nos necesita a todos unidos, más allá de miserabilidades políticas o confusiones mediática.<br /></div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com37tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-80933361032225391552008-04-17T16:43:00.002-03:002008-04-17T16:49:18.740-03:00As lutas pelas reformas e o golpe de 1964<div align="justify"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">As lutas pelas reformas e o golpe de 1964</span><br /></strong><span style="color:#ff0000;"><br />por Augusto Buonicore*</span><br /><br />O golpe de 1964 não foi um mero complô militar, com apoio do imperialismo norte-americano. Ele tinha bases sociais fortes nas classes economicamente dominantes e na elite política civil a elas ligada.<br /><br />Em agosto de 1961 o Brasil foi pego de surpresa pela notícia da renúncia do presidente Jânio Quadros. Perdendo o apoio da UDN, devido a sua política externa independente, e sem conseguir amparo na esquerda, Jânio pretendia com sua renúncia criar uma crise política que lhe permitisse voltar com maiores poderes. O plano fracassou, pois foram poucos aqueles que exigiram sua recondução ao cargo.<br /><br />Os ministros militares, apoiados pelos liberal-conservadores, tentaram impedir a posse do vice-presidente João Goulart. Eles lançaram uma nota que dizia: “Na presidência da República, em regime que atribui ampla autoridade e poder pessoal ao chefe do governo, o Sr. João Goulart constituir-se-á, sem dúvida alguma, no mais evidente incentivo a todos aqueles que desejam ver o país mergulhado no caos, na anarquia, na luta civil.”.<br /><br />Contra o golpe direitista se levantaram amplas forças políticas e sociais. No processo de resistência destacou-se Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul. Neste estado se organizaram milícias populares e a “rede da legalidade”, através da qual as notícias da luta pela posse de Jango eram divulgadas por todo país e ajudavam articular a luta democrática. Os movimentos sindical e estudantil decretaram greve geral. O comando do 3º Exército, contrapondo-se aos ministros militares, rejeitou o golpe contra a constituição e, por alguns dias, o Brasil se encontrou a beira de uma guerra civil.<br /><br />Em meio à grave crise política, uma saída de compromisso conservadora foi encontrada. Jango assumiria, mas teria seus poderes reduzidos pela instauração do sistema parlamentarista. Em poucas horas, o sistema de governo era alterado e Jango pode ser empossado. Apenas os setores mais à esquerda protestaram contra tal solução conciliatória. Acreditavam que mais alguns dias de resistência teriam garantido a manutenção do presidencialismo.<br /><br />O deputado Tancredo Neves, dirigente do PSD mineiro, foi eleito para o cargo de primeiro-ministro. Ele era um conciliador, com leve verniz nacionalista e reformista. Por isso mesmo, não era o candidato favorito da ala direitista do PSD e da UDN. No seu governo, dando vazão a desconfiança da direita liberal, foram canceladas as concessões das jazidas de ferro à companhia norte-americana Hanna. Escandalizou, também, os conservadores o reatamento de relações diplomáticas com a URSS e as sistemáticas objeções às propostas de sanções norte-americanas contra Cuba. Parte dessa política externa altiva se deveu ao ministro das relações exteriores Santiago Dantas. Por sinal, este havia sido o único ministério preenchido pelo partido do presidente da República, o PTB.</div><div align="justify"><br />No entanto, o ministério da fazenda coube ao banqueiro Walter Moreira Salles, adepto da ortodoxia liberal-conservadora. Este foi um meio encontrado para conseguir apoio da “comunidade financeira internacional”. Um no cravo e outro na ferradura, este era o lema.<br /><br />O presidente era um latifundiário que tinha como base social de seu governo os trabalhadores urbanos. Apoio que havia consolidado nos seus poucos meses à frente do Ministério do Trabalho do segundo governo de Vargas, quando propôs um reajuste de 100% no salário mínimo. Proposta que levou a uma crise militar – o “manifesto dos coronéis” - e sua destituição do ministério.<br /><br />No primeiro ano de seu governo a inflação continuou sua marcha batida. O deputado da esquerda trabalhista Sérgio Magalhães afirmou: “grupos financeiros, externos e internos, procuram criar, com a elevação desenfreada do custo de vida e a especulação no mercado cambial, uma situação insustentável, que justifique perante o povo, a implantação de uma ditadura de direita”. Além da inflação, o país começou apresentar claros sinais de estagnação econômica.<br /><br />Cresceu na sociedade – inclusive nas Forças Armadas – a idéia que o parlamentarismo criava enormes dificuldades para superação da crise econômica e política. Era preciso fortalecer os poderes do presidente. Aumentou então a pressão para antecipação do plebiscito que deveria decidir sobre o sistema de governo. Ele estava previsto para o final do governo de Jango.<br /><br />No primeiro de maio de 1962, Jango anunciou que pretendia alterar o artigo da constituição que impedia uma efetiva reforma agrária, pois a condicionava ao pagamento prévio, em dinheiro e pelo justo valor aos grandes proprietários de terra. As reformas de base começavam tomar conta da pauta política e polarizar opiniões. Para a esquerda nacionalista o caminho das reformas democráticas parecia passar pela volta imediata ao presidencialismo.<br /><br />Após a renúncia de Tancredo se deu uma luta política pela indicação do nome que o substituiria. Jango defendia o petebista Santiago Dantas, que, por sua vez, era rejeitado pelo PSD e pela UDN. No embate parlamentar, a direita parecia prestes a impor o conservador Auro de Moura Andrade. A resposta dos setores operários e populares foi a convocação de uma greve geral em defesa de um “governo democrático e nacionalista”. A greve foi apoiada pelos generais nacionalista, entre eles o comandante do I Exército, Osvino Alves. Sob forte pressão, Moura Andrade foi obrigado a renunciar da indicação.<br /><br />A alternativa encontrada foi a eleição de Brochado da Rocha. Como o anterior, tratava-se um gabinete conciliador com verniz reformista. Ele se destacou pela elaboração e aprovação da Lei de Remessa de Lucros e pela tentativa de antecipar o plebiscito sob o sistema de governo para outubro de 1962, data que ocorreria eleição para renovação do congresso.<br /><br />A rejeição da proposta de antecipação levou a convocação de uma nova greve geral e o aumento da pressão dos setores militares, que se impacientavam com a demora na definição da data do plebiscito. Este finalmente foi marcado para janeiro de 1963. Mais uma vitória das forças nacionalistas.<br /><br />Um dos últimos atos de Brochado da Rocha foi solicitar do congresso a autorização para que o conselho de ministro pudesse legislar, através de decretos-leis, sobre as reformas de base. Isso, no entanto, era demais para as forças conservadoras que rejeitaram o pedido. O primeiro-ministro renunciou e em seu lugar foi indicado Hermes Lima. Sua única e grande missão foi organizar plebiscito.<br /><br />Parênteses: Este foi um período de ascensão das lutas sociais. Entre 1961 a 1963 ocorreram 435 greves, contra 177 no triênio anterior. Em julho de 1962 foi criado o Comando Geral de Greve para coordenar a greve geral política por um gabinete nacionalista. No mês seguinte esta organização foi transformada no Comando Geral dos Trabalhadores (CGT). Em dezembro de 1963 surgiu a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura. O movimento camponês, através dos sindicatos rurais e das ligas camponesas, tomava vulto e apavorava os latifundiários.<br /><br />Antes do plebiscito ocorreu a eleição de outubro de 1962. O prestígio da Jango e a perspectiva das reformas levaram a uma grande vitória das forças democráticas e nacionalistas. O PTB quase dobrou o número de deputados federais: de 66 passou para 116. Os pequenos partidos aliados nacionalistas, trabalhistas e socialistas conquistaram 49 vagas. Representando um aumento significativo das forças pró-reformas, se comparado com a composição do congresso na gestão anterior. Apesar disso, elas representavam apenas 40% da câmara federal – número insuficiente para impor as mudanças necessárias. Do outro lado, o PSD conquistou 118 cadeiras, a UDN 91 cadeiras e os pequenos partidos conservadores conseguiram 35. Ou seja, 60% da Câmara ainda estavam nas mãos de forças tendencialmente conservadoras. </div><div align="justify"><br />O crescimento da esquerda nacionalista no parlamento não refletiu nos executivos estaduais. O direitista Carlos Lacerda se elegeu governador na Guanabara, Adhemar de Barros em São Paulo, Magalhães Pinto em Minas Gerais e Ildo Meneghetti no Rio Grande do Sul. Todos estes eram ardorosos opositores do presidente e ligados ao esquema golpista. Os setores nacionalistas elegeram Miguel Arraes para o governo de Pernambuco e Mauro Borges para o de Goiás.<br /><br />Mas, o governo Jango teria uma estrondosa vitória poucos meses depois. No plebiscito de janeiro 1963 cinco em cada seis eleitores votaram pela volta do presidencialismo, restituindo assim plenos poderes ao presidente. O presidencialismo conquistou nove milhões de votos, o dobro da votação conseguida por Jango na eleição de 1960. Era a sua consagração política.<br /><br />A esquerda imaginava que Jango aproveitaria das vitórias eleitorais obtidas para iniciar uma grande ofensiva favorável às reformas de base. No entanto, o presidente optaria pelo caminho mais lento da conciliação. O novo ministério, como os anteriores, incorporou conservadores e reformistas. O resultado dessa nova tentativa de conciliação foi o Plano Trienal, elaborado por Celso Furtado. Ele propunha medidas de contensão inflacionária e de desenvolvimento econômico, como condições preliminares para implementação das reformas. Embora não-ortodoxo o plano não agradou os nacionalistas e socialistas que desejavam algo mais avançado, condizente com o resultado do plebiscito.<br /><br />O PSD sempre teve uma posição ambígua em relação ao governo Jango e isto se devia a contradição existente entre sua base social conservadora e sua origem varguista. Flertava com o governo, tentado empurrá-lo para posições mais conservadoras. Jango, algumas vezes, entrava neste jogo e procurava isolar a esquerda trabalhista. Mas, conforme a crise econômica e política avançavam, a maioria do partido deslocou-se para o campo da oposição. O principal articulador da direita do PSD foi o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade.<br /><br />Nos últimos meses de 1963, Jango tentou organizar uma Frente Progressista de Apoio às Reformas de Base, na qual se incluía o PSD. A proposta foi rechaçada pela esquerda trabalhista (brizolista) que liderava a Frente de Mobilização Popular. Inicialmente, o PCB defendeu a proposta de Goulart e depois recuou. A Frente Parlamentar Nacionalista tendia a defender Goulart e a ampliação da aliança política em defesa das reformas, mesmo às custa de algumas concessões programáticas. A incapacidade de unificar a esquerda levou ao fracasso do projeto frentista que, por sinal, também não era bem visto pelos caciques do PSD.<br /><br />A Frente de Mobilização Popular, por sua vez, era formada pela ala esquerda do PTB - o chamado grupo compacto – o PC brasileiro, o PCdoB, a POLOP, a AP e entidades gerais, como o CGT, a UNE, as Ligas Camponesas etc. Nela o brizolismo era muito influente. Defendia as reformas de base e se colocava radicalmente contra a política de conciliação implementada por Jango e Santiago Dantas.<br /><br />A direita também tinha as suas organizações. No processo de desestabilização do governo Jango jogou um grande papel o chamado Complexo IBAD-IPES. Estas duas organizações se unificaram em julho de 1962 formando o principal centro de financiamento e difusão ideológica das forças golpistas. O IBAD recebia contribuições das grandes empresas multinacionais, como a General Motors, Texaco, Schering, Coca-cola, IBM, Esso, Souza Cruz etc. Para o IPES contribuíam 297 corporações norte-americanas, além de empresas da Alemanha Ocidental, Inglaterra e Bélgica. Uma CPI no Congresso determinou o fechamento do IBAD por corrupção eleitoral, mas não tocou no IPES.<br /><br />No final de 1963 era visível que o Plano Trienal havia fracassado. Ele não conseguiu estancar a inflação nem garantir um desenvolvimento mais rápido. A política de conciliação, expressada nele, parecia finalmente ter se esgotado. Abria-se uma fase de crescente e perigosa radicalização social e política.<br /><br />Diante da oposição crescente da direita, apoiada pelo imperialismo estadunidense, Jango rompeu com a política anterior e aderiu à tese da frente de esquerda e nacionalista. Em janeiro de 1964, Goulart regulamentou a lei de remessa de lucro, que havia sido aprovada há mais de um ano. Alguns dias antes já havia assinado um decreto que previa a revisão de todas as concessões feitas na área de mineração.</div><div align="justify"><br />O marco desta passagem foi, sem dúvida, o comício de 13 de março realizado na Central do Brasil. Dele participaram 200 mil pessoas, sob a proteção do I Exército. Bastante simbólico foi o fato de que este ato havia sido convocado pelas confederações sindicais. Jango foi apenas um dos convidados, ainda que o principal. </div><div align="justify"><br />No seu discurso o presidente foi duro com seus opositores de direita. Afirmou ele: “Chegou-se a proclamar que esta concentração seria um ato atentatório ao regime democrático, como se no Brasil a reação ainda fosse dona da democracia (...) A democracia que eles desejam impingir é a democracia do anti-povo, a democracia da anti-reforma, a democracia do anti-sindicato (...) A democracia que eles pretendem é a democracia dos privilégios, a democracia da intolerância e do ódio. A democracia que eles querem é a democracia para liquidar a Petrobrás, é a democracia dos monopólios, nacionais e internacionais”. Continuou ele: “não receio ser chamado de subversivo pelo fato de proclamar (...) a necessidade da revisão da Constituição (...) A constituição atual é uma constituição antiquada, porque legaliza uma estrutura sócio-econômica já superada; uma estrutura injusta e desumana. O povo quer que se amplie a democracia, quer que se ponha fim aos privilégios de uma minoria; que a propriedade da terra seja acessível a todos; que a todos seja facilitado participar da vida política do país, através do voto, podendo votar e podendo ser votado; que se impeça a intervenção do poder econômico nos pleitos eleitorais e que seja assegurada a representação de todas as correntes políticas, sem quaisquer discriminação ideológica ou religiosa”.<br /><br /> Jango arremessou-se contra aqueles que usavam do manto da religião para combater as reformas: “O cristianismo nunca foi o escudo para privilégios (...) nem também os rosários podem ser levantados contra a vontade do povo e as suas aspirações mais legítimas. Não podem ser levantados os rosários da fé contra o povo, que tem fé na justiça social (...) Os rosários não podem ser erguidos contra aqueles que reclamam a discriminação da terra, hoje ainda em mãos de tão poucos”. Isso enfureceria a alta cúpula da Igreja católica que, naquele momento, se vinculava aos setores mais reacionários da sociedade.<br /><br />Ainda no palanque Jango assinou dois decretos. Em um estatizou as refinarias de petróleo privadas e em outro desapropriou as terras com mais de cem hectares que margeavam as rodovias, ferrovias e açudes federais. Para a esquerda era o começo das reformas de base democráticas. O deputado socialista Barbosa Lima Sobrinho escreveu exultante um artigo intitulado “As esquerdas tem um Novo Comandante”. Jango, finalmente, se reconciliava com a esquerda nacionalista e comunista.</div><div align="justify"><br />Entre as reformas apregoadas estavam: a reforma agrária, que tinha como condição a eliminação do artigo constitucional que previa indenização prévia e em dinheiro; a reforma política, que incluía a legalização do PCB, extensão do direito ao voto aos analfabetos, soldados, cabos e sargentos; a reforma universitária que previa abolição da cátedra e liberdade de ensino. Jango planejava submeter todas essas propostas a um plebiscito nacional.<br /><br />As reformas anunciadas por Jango não tinham nada de radical, mas assustaram as elites brasileiras. Para o Marechal Castelo Branco era o primeiro passo para o estabelecimento de uma “ditadura síndico-comunista”. Lacerda engrossou o coro dos golpistas: “O discurso de João Goulart, afirmou ele, é subversivo e provocador (...) O candidato furou ontem a barreira da Constituição (...) A guerra revolucionária está desencadeada. Seu chefe ostensivo é o Sr. João Goulart, até que os comunistas lhe dêem outro”. <br /><br />No dia 19 de março veio a resposta conservadora. Uma passeata de cerca de 500 mil pessoas intitulada “Marcha da família com Deus pela liberdade” paralisou o centro de São Paulo. O evento teve apoio do governo de Estado, de setores da Igreja Católica, da Fiesp, da Sociedade Rural, das Associações Comerciais e diversas entidades das classes médias. A grande imprensa começava a clamar abertamente pela destituição de Jango. <br /><br />O pretexto do golpe militar foi a revolta dos marinheiros e fuzileiros, que teve início em 26 de março. Ela foi apoiada pela CGT, pela UNE e pela Frente de Mobilização Popular. A quebra de hierarquia militar foi esgrimida pelos oficiais golpistas contra o governo. Era a comprovação de que o país estava à beira de um levante síndico-comunista e que a ordem liberal-burguesa estava ameaçada. Fechou-se, então, o cerco em torno de Goulart. Contra ele se levantou o conjunto das classes proprietárias, inclusive a chamada burguesia nacional e as camadas médias.<br /><br />Na noite do dia 31 de março eclodiu um golpe militar visando derrubar o presidente da República. Logo em seguida o presidente do Congresso Nacional, Áureo de Moura Andrade, convocou uma sessão extraordinária e, com Jango ainda em território brasileiro, declarou vaga a presidência e, sob protesto dos parlamentares progressistas, empossou o deputado Raniere Mazzili.<br /><br />A grande maioria dos governadores, assembléias legislativas e câmaras municipais apoiaram a deposição de Goulart. A mesma coisa fizeram os grandes órgãos de comunicação. Portanto, o golpe de 1964 não foi um mero complô militar, com apoio do imperialismo norte-americano. Ele tinha bases sociais fortes nas classes economicamente dominantes e na elite política civil a elas ligada.<br /><br /><strong>Bibliografia<br /></strong><br />-Bandeira, Luiz Alberto Moniz – O governo João Goulart: as lutas sociais no Brasil (1961-1964), editora UNB.<br />-Silva, Hélio – 1964: golpe ou contra-golpe, Ed. Civilização Brasileira.<br />-Toledo, Caio Navarro (org) 1964: visões críticas do golpe, Ed. Unicamp.<br />-------------------------- - O governo Goulart e o golpe de 1964, Ed. Brasiliense.<br /></div><div align="justify">Publicado em 16 de abril de 2008, no site <a href="http://www.vermelho.org.br/">www.vermelho.org.br</a> .</div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-78895477660870639882008-04-16T07:18:00.002-03:002008-04-16T08:30:39.872-03:00Debate organizado pelo NELAM discute o papel de Cuba e Venezuela no Processo de Integração Latino-Americana<span style="color:#ff0000;"><strong>Estudantes, professores e representantes de movimentos sociais presentes</strong> <strong>no debate</strong></span><br /><br />No sábado, dia 12 de abril, ocorreu mais um debate organizado pelo <strong>NELAM</strong>, no Centro Universitário Fundação Santo André.<br /><br /><div align="justify">Cerca de 80 pessoas estavam presentes no auditório da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas (FAECO). Em sua maioria, estudantes do curso de Relações Internacionais, interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre qual é a importância do processo de integração latino-americana na atualidade, bem como qual o papel que países como Cuba, Venezuela e Brasil podem desempenhar neste início de século XXI, momento em que o tema da integração adquire cada vez mais relevância nas discussões sobre política externa e política internacional.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Também participaram do debate estudantes dos cursos de História, Ciências Sociais e Administração, além da <strong>professora Marineide</strong>, que leciona em diversos cursos da FAECO e FAFIL.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Na coordenação da mesa estava a professora <strong>Fabiana Rita Dessoti (NELAM)</strong>. Os debatedores foram os professores <strong>Marcelo Buzetto (doutorando em Ciências Sociais/PUC-SP, NEILS-PUC/SP e NELAM) </strong>e <strong>José Alfonso Klein (doutorando em Ciências Sociais/PUC-SP, NEILS-PUC/SP e NELAM).</strong></div><div align="justify"><strong></strong> </div><div align="justify">A escolha da data teve relação com os seis anos da fracassada tentativa de golpe civil-militar contra o governo democrático e popular da Venezuela. Entre 11 e 12 de abril de 2002, forças sociais e políticas anti-democráticas se insurgiram na tentativa de instaurar uma ditadura na Venezuela. Tomaram o palácio do governo, sequestraram e mantiveram incomunicável durante 48 horas o presidente Hugo Chávez Frias, invadiram e destruíram as instalações da TV estatal-canal 8, destruíram parte da embaixada de Cuba, agrediram funcionários e partidários do governo, além de provocarem confrontos entre a população em várias partes do país. Essa oposição golpista e anti-democrática também foi responsabilizada pela morte de dezenas de pessoas que marchavam pelas ruas de Caracas quando foram surpreendidas por franco-atiradores, que disparavam suas armas contra os manifestantes que eram a favor e contra o governo, numa clara tentativa de jogar uns contra os outros e de simular uma situação de caos e de confronto generalizado que justificasse o golpe contra Chávez. As grandes empresas de comunicação alimentavam o ódio dos golpistas com imagens manipuladas que insinuavam que o governo reprimia o povo. A farsa deste falido golpe de estado financiado pelo governo dos EUA é desmascarada pelo brilhante documentário "A revolução não será televisionada", dirigido por Kim Bartley e Donnacha O'Brian, que foi exibido após o debate.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Durante sua exposição o professor Klein afirmou que existe muito desconhecimento e preconceito quando se fala da situação de Cuba. Afirmou que o povo cubano enfrenta sim dificuldades, mas que estas são resultado, principalmente, do bloqueio econômico imposto desde a década de 60 pelo governo dos EUA. Também fez questão de ressaltar que no sistema político-eleitoral de Cuba são as organizações e movimentos sociais que indicam os candidatos, e não o Partido Comunista Cubano (PCC), como pensam muitas pessoas. Segundo o professor esse critério cria condições mais favoráveis para que os eleitos sejam pessoas que, de fato, terão algum compromisso com a comunidade, pois foi a própria comunidade ou movimento sindical, popular e estudantil que fez a escolha. Outro tema que ganhou destaque na exposição de Klein foi a solidariedade presente na política externa de Cuba. Deu como exemplo a Operação Milagros, onde o governo daquele país tem oferecido tratamento e cirurgia gratuita de catarata a pessoas de diversos países da América Latina.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Já o professor Marcelo Buzetto iniciou com uma apresentação do NELAM, afirmando que o mesmo é um espaço coletivo e democrático que procura ser mais um instrumento do processo de integração e cooperação entre os povos da América Latina. Em sua exposição sobre a Venezuela destacou que este país vem sendo constantemente atacado por setores mais conservadores e anti-democráticos da política latino-americana justamente por ter feito uma escolha: construir um caminho próprio de desenvolvimento econômico e social. O professor demonstrou como o governo Chávez é resultado de um amplo processo de mobilização social que entre 1989 e 1998 tomou conta da Venezuela. Apresentou o governo venezuelano como uma frente de partidos e movimentos sociais de esquerda que se uniram em torno de um programa anti-neoliberal, que nos últimos anos tem implementado importantes medidas de caráter democrático, popular e antiimperialista. Durante o debate surgiu o tema da defesa nacional, e como tal questão está inserida na reflexão sobre a integração sul-americana. O professor Marcelo afirmou que a Venezuela vem propondo desde 1999 a integração do sistema de defesa sul-americano, além de defender a criação de uma "Organização do Tratado do Atlântico Sul" (OTAS), como forma de neutralizar a influência das potências capitalistas que se organizam através da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Também afirmou que o governo da Venezuela e Brasil discutem a criação de um Conselho de Defesa Sul-Americano, iniciativa que poderia contribuir para evitar, segundo o professor, aventuras militaristas como a invasão do território equatoriano por forças armadas da Colômbia, como ocorreu em março deste ano. Essa iniciativa, num momento em que existem governos bastante alinhados com a posição política da Venezuela em relação à integração, como é o caso da Bolívia e do Equador, e governos que, apesar de algumas divergências, são considerados amigos da Venezuela, como é o caso do Brasil e da Argentina, poderia neutralizar a influência estadunidense, que se expressa principalmente através da postura do atual presidente colombiano Álvaro Uribe.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">No final do debate a professora Fabiana fez um convite para que todos e todas que estejam interessados na reflexão sobre os rumos da América Latina se integrem e participem do <strong>Núcleo de Estudos Latino-Americanos (NELAM).</strong></div><div align="justify"> </div><div align="justify"> </div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-52735590725877092242008-04-07T05:18:00.004-03:002008-04-07T05:23:12.687-03:00NELAM realiza debate sobre Cuba e Venezuela no Processo de Integração Latino-americana - 12/04<div align="justify"> <strong> Debate</strong><br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Cuba e Venezuela no Processo de Integração Latino-americana</span><br /></strong><br />Com:<br /><br /><span style="color:#3333ff;">Marcelo Buzetto – professor do CUFSA, membro do NELAM e do Neils/Puc-SP e do Setor de Relações Internacionais do MST<br /><br />José Alfonso Klein – professor do CUFSA, membro do NELAM e NEILS-Puc/SP e da Intersindical<br /></span><br /><strong>Dia 12/04/2008 (sábado) –<br />13h00 – Auditório Faeco<br /><br />Centro Universitário Fundação Santo André<br />Av. Príncipe de Gales, 821, Bairro Príncipe de Gales –<br />Santo André/SP<br /></strong><br /><br /><span style="color:#006600;"><strong>13h00-15h00:debate<br />15h00: documentário “A revolução não será televisionada” (Filmado e dirigido por: Kim Bartley e Donnacha O’Briain. Produção: Power Picture associada à Agencia de Cinema da Irlanda)<br /></strong></span><br /><br /><span style="color:#cc0000;"><strong>12/04/2002 – 12/04/2008: 6 anos da tentativa de golpe civil-militar contra o governo democrático da Venezuela<br /><br /></strong></span><br /><strong>Organização: Núcleo de Estudos Latino-Americanos (NELAM)<br />Apoio: MST, Intersindical, NEILS-PUC/SP<br /><br /></strong> </div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-90250051509395163822008-04-07T04:24:00.003-03:002008-04-07T04:58:14.177-03:00Professores e estudantes do NELAM fazem reunião com Cônsul Geral de Cuba<div align="justify"><strong><span style="color:#cc0000;">Os professores Marcelo Buzetto e José Alfonso Klein, junto com um grupo de 15 estudantes do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA) estiveram, no último dia 29/04, no consuldado de Cuba em São Paulo.</span></strong></div><br /><div align="justify">No dia 29 de abril realizou-se a primeira reunião deste ano entre professores e estudantes do <span style="color:#cc0000;"><strong>Núcleo de Estudos Latino-americanos - NELAM</strong> </span><span style="color:#000000;">e </span>representantes do governo de Cuba. A reunião ocorreu no Consulado de Cuba, no bairro de Perdizes, em Saõ Paulo. Além dos professores Marcelo Buzetto e José Alfonso Klein, coordenadores do NELAM, 15 estudantes do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Fundação Santo André, membros do NELAM, estiveram presentes.</div><br /><div align="justify">Pelo Consulado da República de Cuba participaram o Cônsul Geral, Sr. Carlos Trejo e o Cônsul Bladimir. Os dois diplomatas cubanos fizeram uma exposição da situação de Cuba na atualidade, destacando os convênios e parcerias que este país desenvolve com universidades e com o governo brasileiro. Falaram sobre as possibilidades existentes de convênios e de intercâmbio que poderiam se desenvolver entre o Centro Universitário Fundação Santo André, através do NELAM, e instituições de ensino e pesquisa de Cuba.</div><br /><div align="justify">Entre os membros do NELAM estavam diretores da FAECO Júnior, entidade formada por alunos e ex-alunos da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas do CUFSA. FAECO Júnior e NELAM farão uma reunião para discutir os encaminhamentos relacionados à possíveis parceiras com o governo cubano e o CUFSA.</div><br /><div align="justify">Os membros do NELAM decidiram elaborar uma proposta de intercâmbio para ser apresentada ao CUFSA.</div><br /><div align="justify">Outro tema discutido durante a reunião foi a formação de um grupo de estudantes e professores do NELAM para conhecer Cuba em janeiro de 2009, durante as comemorações dos 50 anos da Revolução Cubana. O convite feito pelo Cônsul foi recebido com muito entusiasmo, e o NELAM já está se organizando para que aqueles que estejam interessados nessa viagem possam ir se preparando desde já para conhecer esta experiência particular de desenvolvimento econômico e social que é Cuba.</div><br /><div align="justify">Ao final da reunião houve um debate sobre a situação atual de Cuba e os desafios que este país têm enfrentado diante do bloqueio econômico estadunidense, uma ação de guerra que causa inúmeros prejuízos econômicos e sociais para esta pequena ilha caribenha.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Outro tema que tomou conta da reunião foi um informe sobre o Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba e a II Convenção Paulista de Solidariedade a Cuba, que será realizada no dia 10 de maio, em São Paulo.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">No final da reunião os estudantes receberam um presente do Cônsul, charutos cubanos, um produto conhecido internacionalmente e que já faz parte da cultura popular em Cuba.</div><br /><div align="justify">O NELAM agradeceu a hospitalidade do Cônsul Geral de Cuba, Carlos Trejo, e do Cônsul Bladimir, e já fez o convite para que, assim que for possível, os dois visitem, mais uma vez, o Centro Universitário Fundação Santo André.</div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-62615715750766443412008-04-01T13:40:00.002-03:002008-04-01T13:44:20.795-03:00Caio Navarro Toledo - Brasil: 44 anos do golpe de abril<span style="color:#ff0000;"><strong>Caio Navarro de Toledo: 44 anos do Golpe de Abril </strong></span><br /><div align="justify"><br /><strong>Passados 44 anos, na data de hoje – coincidindo com o dia em que o imaginário popular consagra ao “dia da mentira” –, era rompida a legalidade democrática instituída no Brasil com a Carta de 1946. </strong></div><br /><span style="color:#ff0000;"><strong>Por Caio Navarro de Toledo*</strong></span><br /><div align="justify"><br />Diante da questão – golpe ou revolução –, caberia lembrar as palavras de um eminente protagonista dos idos de abril. Num depoimento, em 1981, Ernesto Geisel, que por cinco anos foi presidente na ditadura militar (1974-1979), declarou: “o que houve em 1964 não foi uma revolução. As revoluções se fazem por uma idéia, em favor de uma doutrina”. Para o vitorioso de abril, o movimento se fez contra Goulart, contra a corrupção, contra a subversão. Estritamente falando, afirmou o general, o movimento liderado pelas Forças Armadas não era a favor da construção de algo novo no país. </div><div align="justify"><br />Embora lúcidas – na medida em que rejeitam a noção de Revolução –, as formulações do ex-ditador podem ser objeto de uma contraleitura. É possível, pois, ressignificar todos os contras presentes no depoimento do militar brasileiro. Mais apropriado seria então afirmar que 1964 representou um golpe contra a incipiente democracia política brasileira; um movimento contra as reformas sociais e políticas; uma ação repressiva contra a politização das organizações dos trabalhadores e do rico debate ideológico e cultural que estava em curso no país. </div><div align="justify"><br />Em síntese, no pré-64, as classes dominantes e seus aparelhos repressivos e ideológicos – diante das legítimas iniciativas e reivindicações dos trabalhadores (no campo e na cidade) e de setores das classes médias –, apenas vislumbravam “crise de autoridade”, “subversão da lei e da ordem”, “quebra da disciplina e da hierarquia” e “comunização” do país. Por vezes, expressas de forma altissonante e retórica, tais demandas, em sua substância, reivindicavam o alargamento da democracia política e a realização de reformas do capitalismo brasileiro. </div><div align="justify"><br />Em toda nossa história republicana, o golpe contra as frágeis instituições políticas do país se constituiu em ameaça permanente. O fantasma do golpe rondou, em especial, os governos democráticos no pós-1946 e, com maior intensidade, a partir dos anos 1960. Pode ser dito que o governo Goulart nasceu, conviveu e morreu sob o espectro do golpe de Estado. Em abril de 1964, o golpe – permanentemente reivindicado por setores da sociedade civil – foi, então, definitivamente vitorioso. </div><div align="justify"><br />O golpe paralisou um rico e amplo debate político, ideológico e cultural que se processava em órgãos governamentais, partidos políticos, associações de classe, entidades culturais, revistas especializadas (ou não), jornais etc. Nos anos 1960, conservadores, liberais, nacionalistas, socialistas e comunistas formulavam publicamente suas propostas e se mobilizavam politicamente para defender seus projetos sociais e econômicos. </div><div align="justify"><br />Se o governo Goulart e as forças progressistas tiveram alguma parcela de responsabilidade pelo agravamento da crise política no pré-1964, deve-se, contudo, enfatizar que quem planejou e desencadeou o golpe contra a democracia foram as classes dominantes* – apoiadas por setores médios e incentivadas por órgãos governamentais norte-americanos (Embaixada dos EUA, Departamento de Estado, Pentágono e outras agências de segurança) – e facções duras das Forças Armadas brasileiras, representadas pela alta oficialidade. </div><div align="justify"><br />Destruindo as organizações políticas e reprimindo os movimentos sociais de esquerda e progressistas, o golpe foi saudado pelas classes dominantes e seus ideólogos, civis e militares, como uma autêntica Revolução – com a virtude maior de ter sido um movimento que, de forma “pacífica”, derrotou a “subversão comunista” e a “iminente” ameaça do socialismo... </div><div align="justify"><br />Aliviadas por não terem de se envolver militarmente no país, as autoridades norte-americanas, de imediato, congratularam-se com os militares e políticos brasileiros pela “solução” que encontraram na superação da “crise política” vivida pelo país. Uma nova (e grandiosa) Cuba ao sul do Equador, era, assim evitada, avaliou a administração do presidente norte-americano Lyndon Johnson. </div><div align="justify"><br />O governo João Goulart ruiu como um castelo de areia. As classes populares e trabalhadoras estiveram ausentes das manifestações e passeatas – lideradas por segmentos das classes médias e financiadas pelo empresariado – que, em algumas capitais do país, pediam a destituição de Goulart. Revelavam, inclusive, certa simpatia pelo governo reformista de Jango; no entanto, nada fizeram para evitar a sua derrubada em abril de 1964. </div><div align="justify"><br />As forças políticas de esquerda que afirmavam representar os trabalhadores e os setores populares nenhuma ação significativa desenvolveram para impedir o golpe político-militar. Como bem se sabe, o golpe de 1964 não foi um raio em céu azul pois, desde agosto de 1961 (com o fracasso do veto à posse de Goulart após a renúncia de Jânio Quadros), era ostensiva a conspiração da direita civil e militar.</div><div align="justify"><br />Desarmadas, desorganizadas e fragmentadas, as forças progressistas e de esquerda nenhuma resistência ofereceram aos golpistas. Alegando que não queria assistir uma “guerra civil” no país, Goulart negou-se a atender alguns apelos de oficiais legalistas no sentido de ordenar uma ação repressiva – de caráter meramente intimidatório – contra as frágeis forças sediciosas que vinham de Minas, comandadas pelo obscuro General Mourão Filho. Preferiu o exílio, não o enfrentamento político contra seus adversários. </div><div align="justify"><br />No calor da hora, algumas lideranças de esquerda afirmavam que os golpistas, caso ousassem quebrar a ordem constitucional, teriam suas “cabeças cortadas”. Era, pois, uma metáfora. Com a ação dos “vitoriosos do abril”, esta expressão se tornou uma dura e cruel realidade para muitos homens e mulheres, vítimas da ditadura militar que sobreviveu durante 20 anos. </div><div align="justify"> <br /> As forças políticas e sociais, hoje comprometidas com o aprofundamento da democracia política e com a realização de reformas sociais e econômicas no capitalismo brasileiro não devem se silenciar sobre este evento que marcou a história política brasileira. Passados 44 anos, nada há, pois, a comemorar. Ao contrário, devemos sempre relembrar: Ditadura, nunca mais!</div><div align="justify"><br /><strong>* Professor colaborador da Unicamp, autor de O governo Goulart e o golpe de 1964, Editora Brasiliense e 1964: visões críticas do golpe (org.), Editora Unicamp</strong>; fonte: <a href="http://www.pt.org.br/" target="_blank">www.pt.org.br</a> <br />* Em escritos recentes, alguns historiadores têm afirmado que, no pré-1964, setores da esquerda – por “não morrerem de amores pela democracia”– também tinham projetos golpistas. Não fornecem, contudo, evidências para demonstrar esta hipótese. Fornecem, sim, argumentos para que se fortaleça a idéia de que o golpe de 1964 teria sido um contragolpe preventivo. Certamente, a direita brasileira não pode senão manifestar sua satisfação com estas infundadas insinuações – expostas, publicamente, por ocasião dos eventos ocorridos em 2004 (seminário, artigos, entrevistas etc) por alguns historiadores e cientistas políticos progressistas.<br /> <br /><a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=0&tipoTexto=2&desTexto=0&cat=3&ex=hist"></a><a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=35122">http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=35122</a><br /><a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=0&tipoTexto=2&desTexto=0&cat=4&ex=hist"></a><br /><a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=0&tipoTexto=2&desTexto=0&cat=2&ex=hist"></a><br /><a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=0&tipoTexto=2&desTexto=0&cat=6&ex=hist"></a><br /><a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=0&tipoTexto=2&desTexto=0&cat=5&ex=hist"></a><br /><a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=0&tipoTexto=2&desTexto=0&cat=7&ex=hist"></a><br /><a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=0&tipoTexto=2&desTexto=0&cat=354&ex=hist"></a><br /><a href="http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=35123"><br /></a><br /></div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-3140329444072672692008-03-20T11:52:00.002-03:002008-03-20T11:58:05.666-03:00Pensadores Latino-Americanos: José Carlos Mariátegui e Astrogildo Pereira<h2 style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><span style="font-size:7;"><span style="color:#ff0000;">Revolução e imaginação em Mariátegui</span></span></span></span></h2><br /><br /><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Editado em 2005 pela <span style="font-weight: bold;">Universidade Federal do Rio de Janeiro</span>, o livro <span style="color: rgb(255, 0, 0); font-weight: bold;">“Por um socialismo indo-americano”</span> de<span style="color: rgb(255, 0, 0); font-weight: bold;"> José Carlos Mariátegui</span> é uma peça fundamental na formação dos socialistas latino-americanos. Mariátegui propunha integrar a tradição do comunismo agrário inca, suas tradições comunitaristas, em um programa de transformação revolucionária do Peru. Falecido precocemente aos 36 anos em 1930, Mariátegui é autor de “Sete ensaios de interpretação da realidade peruana”.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Com um belo prefácio de Michael Lowy, são selecionados 48 ensaios da inteligência romântica, literária, antipositivista e antidogmática de Mariátegui. Escolhemos um deles, “A Imaginação e o progresso”, editado em 12 de dezembro de 1924. Nele, o marxista peruano faz a apologia da imaginação para as grandes transformações da história, diferenciando-se de uma abordagem puramente idealista.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Escreve Luis Araquistáin que “o espírito conservador, na sua forma mais desinteressada, quando não nasce de um egoísmo inferior, mas do temor ao desconhecido e ao incerto, no fundo é falta de imaginação”. Ser revolucionário ou renovador é, deste ponto de vista, uma conseqüência de ter mais ou menos imaginação. O conservador rechaça toda idéia de mudança por uma incapacidade mental para concebê-la e aceitá-la. Este caso, naturalmente, é do conservador puro, porque a atitude do conservador prático, que acomoda seu ideário à sua utilidade e comodidade, tem, sem dúvida, uma gênese diferente.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">O tradicionalismo e o conservantismo ficam assim definidos como uma simples limitação espiritual. O tradicionalista só é capaz de imaginar a vida como ela foi. O conservador só é capaz de imaginá-la como ela é. O progresso da humanidade, por conseguinte, realiza-se malgrado o tradicionalismo e apesar do conservadorismo.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Há vários anos, Oscar Wilde, no seu original ensaio “A alma humana sob o socialismo”, disse que “progredir é realizar utopias”. Pensando de modo análogo a Wilde, Luiz Araquistáin acrescenta que, “sem imaginação, não há progresso de nenhuma espécie”. E, na verdade, o progresso não seria possível se a imaginação humana sofresse subitamente um colapso.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">A história dá sempre razão aos homens de imaginação. Na América do sul, por exemplo, acabamos de comemorar a figura e a obra dos animadores e condutores da revolução da independência. Estes homens, nos parecem, de modo fundado, geniais. Mas qual é a primeira condição da genialidade? É, sem dúvida, uma poderosa faculdade de imaginação. Os libertadores foram grandes, porque, antes de tudo, tiveram imaginação. Insurgiram-se contra a realidade limitada, contra a realidade imperfeita de seu tempo.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Esforçaram-se para criar uma realidade nova. Bolívar teve sonhos futuristas. Pensou numa confederação de Estados indo-espanhóis. Sem este ideal, é provável que Bolívar não viesse a combater pela independência. A sorte da independência do Peru, portanto, dependeu em grande parte da capacidade de imaginação do Libertador. Ao celebrar-se o centenário de uma vitória como a de Ayacucho, celebra-se, realmente, o centenário de uma vitória da imaginação. A realidade sensível, a realidade evidente, nos tempos da revolução da Independência, não era certamente republicana nem nacionalista. O mérito dos libertadores consiste em ter visto uma realidade potencial, uma realidade superior, uma realidade imaginária.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Esta é a história de todos os grandes acontecimentos humanos. O progresso sempre foi realizado pelos imaginativos. A posteridade aceitou invariavelmente sua obra. O conservantismo de uma época, numa época posterior, nunca tem mais defensores ou prosélitos além de uns quanto românticos e outros quantos extravagantes. A humanidade, com raras exceções, estima e estuda muito mais os homens da Revolução Francesa do que os da monarquia e da feudalidade abatida. A muitas pessoas Luís XVI e Maria Antonieta parecem acima de tudo desgraçados. Não parecem grandes a ninguém.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Por outro lado, a imaginação, geralmente, é menos livre e menos arbitrária do que se supõe. A pobre foi muito difamada e deformada. Alguns julgam-na mais ou menos louca; outros julgam-na ilimitada e até infinita. Na realidade, a imaginação é bastante modesta. Como todas as coisas humanas, a imaginação também tem seus limites. Em todos os homens, tanto nos mais geniais quanto nos mais estúpidos, encontra-se condicionada por circunstâncias de tempo e de espaço. O espírito humano reage contra a realidade contingente. No entanto, precisamente ao reagir contra a realidade, é quando talvez mais dela dependa. Esforça-se para modificar o que vê e o que sente, não o que ignora. Logo, só são válidas aquelas utopias que se poderiam chamar de realistas. Aquelas utopias que nascem das próprias entranhas da realidade. Georg Simmel escreveu uma vez que uma sociedade coletivista se dirige para ideais individualistas e que, inversamente, uma sociedade individualista se dirige para ideais coletivistas. A filosofia hegeliana explica a força criadora do ideal como uma conseqüência, ao mesmo tempo, da resistência e do estímulo que ele encontra na realidade. Poder-se-ia dizer que o homem só prevê e imagina o que já está germinando, amadurecendo, nas entranhas obscuras da história.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Os idealistas precisam apoiar-se no interesse concreto de uma extensa e consciente camada social. O ideal só prospera quando representa um amplo interesse. Quando adquire, em suma, características de utilidade e de comodidade. Quando uma classe social se converte em instrumento de sua realização.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Na nossa época, na nossa civilização, nunca houve utopias demasiado audazes. O homem moderno quase conseguiu prever o progresso. Até a fantasia dos romancistas muitas vezes se viu superada pela realidade em breve prazo. A ciência ocidental caminhou mais depressa do que sonhou Júlio Verne. O mesmo aconteceu na política. Anatole France vaticinou a Revolução Russa para fins deste século, poucos anos antes de esta revolução inaugurar um capítulo novo na história do mundo.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Precisamente em “Sobre a pedra branca” – o romance de Anatole France que, tentando prever o futuro, formula este vaticínio-, constata-se como a cultura e a sabedoria não conferem nenhum poder privilegiado à imaginação. Galião, o personagem de um episódio da decadência romana evocado por Anatole France, era um exemplar máximo de homem culto e sábio de sua época. No entanto, este homem não percebia absolutamente a decadência da sua civilização. O cristianismo parecia-lhe uma seita absurda e estúpida. A seu juízo, a civilização romana não podia declinar, não podia perecer. Por isso, aparece-nos, nos seus discursos, lamentável e ridiculamente despojado de inspiração. Era um homem muito inteligente, muito erudito, muito refinado, mas tinha a imensa desgraça de não ser um homem de imaginação. Daí que sua atitude diante da vida fosse medíocre e conservadora.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Esta tese sobre a imaginação, o conservantismo e o progresso poderia conduzir-nos a conclusões muito interessantes e originais. A conclusões que nos levariam, por exemplo, a não mais classificar os homens como revolucionários e conservadores, e sim como imaginativos ou sem imaginação. Distinguindo-os assim, talvez cometêssemos a injustiça de celebrar demasiadamente a vaidade dos revolucionários e de ofender um pouco a vaidade, ao fim e ao cabo respeitável, dos conservadores. Ademais, às inteligências universitárias e metódicas a nova classificação pareceria bastante arbitrária, bastante insólita. No entanto, evidentemente, é muito monótono classificar e qualificar sempre os homens da mesma maneira. E, sobretudo, se a humanidade ainda não encontrou um novo nome para os conservadores e os revolucionários, é também, indubitavelmente, por falta de imaginação.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">(Portal da FPA - Fundação Perseu Abramo: <a href="http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=3884" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)">http://www2.fpa.org.br/portal<wbr>/modules/news/article.php<wbr>?storyid=3884</a>)</span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"> </span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"> </span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><strong><span style="font-size:7;"><span style="color:#ff0000;">Astrojildo Pereira e as origens do marxismo brasileiro</span></span></strong></span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><strong><span style="font-size:7;"><span style="color:#ff0000;"><br /></span></span></strong></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 9pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><strong>*Gleyton Trindade</strong></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><b><i><span style="font-size: 9pt; color: black; font-family: Arial;">“Bananeiras – Astrojildo esbofa-se –</span></i></b></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><b><i><span style="font-size: 9pt; color: black; font-family: Arial;">Plantai-as às centenas, às mil:</span></i></b></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><b><i><span style="font-size: 9pt; color: black; font-family: Arial;">Musa paradisíaca, a única</span></i></b></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><b><i><span style="font-size: 9pt; color: black; font-family: Arial;">Que dá dinheiro neste Brasil”.</span></i></b></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><b><i><span style="font-size: 9pt; color: black; font-family: Arial;"></span></i></b><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Este pequeno poema foi escrito por Manuel Bandeira e dedicado ao então amigo e antigo dirigente comunista Astrojildo Pereira. Nele, capta-se a realidade do intelectual afastado do PCB na década de 30, isolado intelectualmente pelo partido para o qual só teria permissão de retornar após a Segunda Guerra e que sobreviveu neste período do comércio de bananas numa quitanda do Rio de Janeiro. Astrojildo Pereira foi daqueles homens cuja trajetória política e intelectual sintetizam o seu tempo. E seu tempo não foi pouco, tempo de intensas agitações políticas que deram origem a própria esquerda brasileira.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">O militante anarquista das mobilizações de 1917 se tornaria um dos marxistas responsáveis pela fundação do PCB em 1922, partido do qual seria secretário-geral até 1929. Intelectual autodidata faria da escrita uma das principais formas de expressão das idéias e valores de uma esquerda então apenas tateante no país. Como crítico e militante, Astrojildo Pereira foi dos primeiros a colocar o marxismo nos debates e opinião pública nacionais, a apontar para uma sensibilidade política então desconhecida no país. Tanto em sua historia política pessoal quanto em sua descontinua obra estão expressos páginas importantes do marxismo brasileiro. De fato, os escritos de Astrojildo Pereira resumem-se a poucos livros, textos esparsos dedicados à maioria deles as análises de conjuntura e nunca a uma interpretação sistemática da trajetória política e histórica do país. No entanto, nestes textos curtos e aparentemente simples revela-se a trajetória e os impasses da esquerda brasileira em seus momentos iniciais.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Além disto, Astrojildo foi reconhecidamente figura de relevância cultural em seu tempo. O jovem que emocionou Euclides da Cunha ao visitar Machado de Assis em seu leito de morte, foi o homem que apresentou o marxismo a Luís Carlos Prestes e circulou nos meios intelectuais mais importantes de sua época: foi citado por Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala e posteriormente entrevistado para o livro Ordem e Progresso do mesmo autor; manteve contato direto com os principais nomes do movimento Modernista; seu circulo de amizades contou com nomes como Lima Barreto, Otto Maria Carpeaux, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Nelson Werneck Sodré, Cândido Portinari. Neste sentido, a atuação intelectual de Astrojildo Pereira se dividiria em dois grandes projetos: a paixão pela crítica literária, em especial pela obra de Machado de Assis e o marxismo como forma de expressão política diante da realidade brasileira.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><b><span style="color: black; font-family: Arial;"><span style="font-size:100%;">Machado de Assis na cultura brasileira</span></span></b></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><b><span style="color: black; font-family: Arial;"><span style="font-size:100%;"><br /></span></span></b></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Astrojildo Pereira foi um admirador incondicional de Machado de Assis, considerado por ele o maior escritor da literatura brasileira e para quem dedicou a maior parte de sua crítica literária. Esta admiração ao mestre de Cosme Velho deriva, em grande medida, do fato de que, no plano da cultura, ninguém conseguiu construir uma obra tão nacional e, ao mesmo tempo, tão universal. É o próprio Astrojildo, escrevendo na década de 30, quem diz “que Machado de Assis é o mais universal dos nossos escritores; restou que falta acentuar com igual insistência que ele é também o mais nacional, o mais brasileiro de todos”. Ou seja, Machado “é tanto mais nacional quanto mais universal e tanto mais universal quanto mais nacional”.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Machado de Assis poderia ser situado num movimento de renovação cultural do país ocorrido entre as décadas de 1870 e 1880 marcado pelo desenvolvimento de novas escolas e universidades, mas principalmente pela produção de obras de personalidades da alta cultura brasileira. Tal movimento seria caracterizado pelo espírito crítico empenhado em superar antigas concepções e traçar novos rumos para a inteligência nacional. Neste sentido, o esforço desta geração crítica, particularmente atuante no campo da literatura, teria como objetivo principal pensar a literatura “do ponto de vista nacional”. Segundo Astrojildo, este período e esta geração teriam assinalado o momento de passagem daquilo que seria um “instinto de nacionalidade” para a reflexão mais elevada de uma “consciência de nacionalidade” ainda em ascensão. Machado de Assis poderia então ser situado neste contexto como aquele que expressaria no mais alto grau esta “consciência de nacionalidade”. De certa maneira, estaria em sua obra a culminância do trabalho desta geração para a qual o problema da construção de um pensamento nacional se colocava como questão imediata. A consciência da nacionalidade, explicaria Machado, envolveria uma revalorização dos clássicos de forma a extrair deles aquelas formas que “á força de velhas se fazem novas”. Clássicos estes através dos quais se pudesse estabelecer uma expressão brasileira para a língua portuguesa, ou seja, uma linguagem comum que pudesse nacionalizar a maneira de exprimir-se a língua portuguesa usada no Brasil. Desta forma, Machado de Assis apelaria para a construção de uma linguagem comum como fator de integridade e unidade chegando à percepção de que “o que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço”.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Foi por ter se constituído como o mais universal de nossos autores que Machado de Assis se tornou também o “mais agudo analista de nossa psicologia social”. De acordo com Astrojildo, se conciliam na obra machadiana a destreza do ficcionista e a frieza do analista. Além do mais, Machado não seria um homem alheio a seu tempo; tempo de agitações e mudanças políticas e sociais tanto no país quanto no mundo. Sua obra refletiria também estas mudanças e este cenário político privilegiado, marcado, sobretudo, pelo Segundo Reinado e princípio da experiência republicana brasileira.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Neste sentido, Astrojildo procurar negar as teses do “absenteísmo” da obra machadiana. Se é correto afirmar que o homem Machado de Assis nunca se envolveu diretamente como militante nas campanhas de seu tempo, especialmente a abolicionista e a republicana, não o seria afirmar que sua obra passaria à margem destes temas. Lembra Astrojildo que o escritor atuou muitos anos como jornalista político nos jornais cariocas. O impacto deste envolvimento como jornalista se faria sentir em sua literatura de forma sutil e na maior parte das vezes alegórica, mas possivelmente discerníveis para o crítico. Neste aspecto, o militante intelectual Astrojildo Pereira, marginalizado pelo “obreirismo” predominante numa fase do PCB, procura refletir sobre o papel político do escritor. Embora Machado de Assis não tivesse diretamente atuado como militante político, a política teria se constituído quase como uma obsessão em sua literatura através da qual o ficcionista dava margem às suas reflexões sobre os acontecimentos de seu tempo. Assim, se em diversos momentos da obra machadiana o autor confessasse sua aversão à política, isto não significaria que não possuísse uma sensibilidade refinada das coisas públicas. Como assinala Astrojildo sobre o escritor, “o humorismo era seu método, a ironia a sua arma, a sátira a sua forma de crítica e política social”.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Nesta perspectiva, como analista e crítico de sua época, a obra machadiana chamaria a atenção para dois temas relacionadas à ordem social brasileira. O primeiro seria a do “patriarcalismo” característico da formação social e familiar brasileira, ainda fortemente presente, mas lentamente abalado pelo processo de modernização da sociedade verificado neste momento de passagem do Segundo Reinado para a República. O elemento patriarcalista de nossa formação se verificaria principalmente na submissão da mulher nas relações familiares, mas também na afirmação das hierarquias sociais. Na obra machadiana Astrojildo perceberia as mudanças na sociedade brasileira através das observações feitas pelo escritor a respeito do casamento, transitando do puro convencionalismo em Iaiá Garcia até o papel mais ativo da mulher, típico da sociedade burguesa e dissolvente do patriarcalismo, em um Brás Cubas.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">O segundo tema seria o dos horrores da escravidão. Machado de Assis não foi um panfletário da luta abolicionista, mas em sua obra as referências à escravidão são abundantes refletindo uma visão não apenas sentimental, mas uma percepção da escravidão como um “fenômeno social em seu conjunto”. As contradições desta situação se mostrariam em passagens da obra machadiana como no caso do pajem de Helena, o negro Vicente, “nobre espírito de dedicação” no “corpo vil do escravo” ou no caso do liberto Prudêncio de Brás Cubas, que violentava um irmão de raça, comprado pelo próprio ex-escravo, para se “desfazer” das pancadas que havia recebido. Desta forma, Machado de Assis constituiria uma importante via de reflexão sobre as questões do país para Astrojildo Pereira.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><b><span style="color: black; font-family: Arial;"><span style="font-size:100%;">Fundamentos do marxismo nacional</span></span></b></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><b><span style="color: black; font-family: Arial;"><span style="font-size:100%;"><br /></span></span></b></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Também há nos textos do antigo militante comunista a preocupação em encontrar na formação histórica e política brasileira os fundamentos de um marxismo nacional. Concebendo-se o marxismo como uma visão ética da sociedade e da política, além de uma teoria social, o marxismo se conciliaria à realidade brasileira por sua sensibilidade aos temas fundamentais da opressiva e injusta formação social do país. Neste sentido, o marxismo se filiaria a uma tradição cultural e política nacional decisivamente empenhada em superar tais questões na trajetória política do Brasil.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Embora Astrojildo não tenha escrito uma “história do Brasil” é possível encontrar em seus textos a afirmação de que os revolucionários e radicais do país foram aqueles que se relacionaram com aquelas questões decisivas da formação social brasileira apontadas por Machado de Assis: o patriarcalismo, e, principalmente, a escravidão. Seria o caso, por exemplo, de Lopes Gama, o chamado Padre Carapuceiro que participou das insurreições de 1817 e 1824 em Pernambuco. Agitador e doutrinador político, atuou intensamente na imprensa de sua época incitando o povo a derrubada das “classes privilegiadas”, “existentes em todos os países e em todos as épocas”, problema que constituiria “a grande questão de todo mundo civilizado”. Preocupado com o “melhoramento da sorte das classes industriosas”, Lopes Gama afirmaria textualmente que “em nossos dias três homens distintos têm tentado o melhoramento das classes laboriosas, mediante a reforma da sociedade em geral: St. Simon, Fourier e Owen”.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">No entanto, foi o movimento abolicionista o grande momento de inflexão da história brasileira. As menções aos abolicionistas, principalmente aos seus maiores intelectuais, são marcantes nos escritos de Astrojildo. Há implicitamente uma concepção de que o marxismo brasileiro seria o herdeiro deste movimento e de suas possibilidades. A negação da escravidão, considerada eixo estruturador da sociedade brasileira sob o Império, ameaçava as próprias bases políticas e sociais do país, colocando-o numa encruzilhada onde novas trajetórias podiam ser vislumbradas. Não gratuitamente os clubes abolicionistas eram acusados pela reação conservadora de constituírem “associações comunistas”. A criação deste cenário de possibilidades, de ameaça de dissolução da ordem até então existente foram os grandes méritos deste movimento na visão de Astrojildo. O abolicionismo teria cumprido no Brasil o papel de evento irradiador de novas aspirações sociais, de novas doutrinas e concepções políticas até então desconhecidas no pais, ainda que reprimidas com a implantação da República. Não gratuitamente o primeiro marxista brasileiro, no entender de Astrojildo, teria sido o abolicionista Silvério Fontes, criador do Centro Socialista de Santos, cidade, aliás, que se constituiu como talvez o mais avançado palco das lutas abolicionistas do país.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">De acordo com o militante comunista, a radicalidade do abolicionismo em seu contexto poderia ser encontrado, por exemplo, no “Parecer sobre a escravidão” escrito em 1885 pelo então deputado abolicionista Rui Barbosa. O grande trabalho do “parecer”, analisa Astrojildo, é historiar e desmontar todos os sofismas utilizados pelos defensores do escravismo. Contra a ficção de que os escravos viviam bem e tinham bom nível de vida, Rui Barbosa lembra nada menos que o testemunho de Darwin que, ao registrar as impressões de sua visita ao Brasil, rogara à Deus não voltar jamais a visitar novamente um país escravocrata. Contra o argumento do colapso econômico do país caso a abolição fosse aprovada, o deputado se debruça profundamente sobre a economia norte americana e a vantagem dos Estados livres do norte. As teses racistas são negadas pela consideração de que não existiriam qualquer disposição biológica explicativa de uma suposta inferioridade do negro que não a própria aviltante condição de escravo.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">No entanto, o sofisma mais problemático era o da consideração do “direito sagrado e inalienável da propriedade servil”. A resposta de Rui Barbosa seria a relativização da propriedade em nome dos “interesses morais e econômicos do país, o da sua reputação, o da educação do seu caráter”. Daí a percepção do deputado de que a abolição seria um fato inicial a partir do qual outras reformas seriam reivindicadas como liberdade religiosa e “desenfeudação da propriedade”.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">De acordo com Astrojildo, os abolicionistas mais esclarecidos reconheciam, portanto, a luta contra a escravidão como uma luta também contra a estrutura de propriedade da terra no país, sendo impossível dar solução completa a um sem resolver o outro. Esta seria, por exemplo, a percepção do abolicionista André Rebouças. Sua campanha em favor daquilo que chamava de “democracia rural” exigia a solução concomitante para os dois problemas inseparáveis da escravidão e do latifúndio por meio do parcelamento dos latifúndios em pequenas propriedades atribuídas aos trabalhadores libertos. Neste sentido, a abolição de fato ocorrida teria resolvido apenas metade do problema.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">Derrotada e reprimida com a chegada da República, esta tradição progressista se refugiaria na literatura até emergir novamente com a Revolta da Chibata e com a Coluna Prestes. Em Lima Barreto, por exemplo, sobreviveriam o espírito crítico, o inconformismo em relação à realidade social durante a Primeira República. Considerado por Astrojildo como o herdeiro de Machado de Assis, compareceriam em Lima Barreto temas como a crítica ao patriarcalismo da sociedade brasileira, das hierarquias sociais, da condição de submissão da mulher. Foi Lima Barreto como jornalista aquele que defendeu os movimentos grevistas de 1918 contra a difamação do governo e da polícia denunciando o absurdo da deportação dos trabalhadores estrangeiros. Foi dos primeiros a saudar a Revolução Russa compreendendo que esta viera abalar “não apenas os tronos, mas os fundamentos da nossa vilã e ávida sociedade burguesa”. Combatia o latifúndio e reclamava a reforma agrária como condição indispensável ao desenvolvimento do país.</span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p> <p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">A tentativa de Astrojildo de conciliar o universalismo marxista à realidade nacional estaria na percepção de que o comunismo brasileiro seria o herdeiro legítimo das causas, lutas e esperanças desta tradição nacional progressista. Esta leitura poderia ajudar a entender a aproximação do então secretário geral do PCB Astrojildo Pereira ao tenentista Luís Carlos Prestes. Sabe-se que Astrojildo o procurou na Bolívia em fins da década de 20, encontro que se tornaria um dos motivos de seu afastamento do partido pela influência da Internacional, incapaz de analisar a especificidade brasileira, na década de 30. O comunismo brasileiro era entendido pelo militante comunista, portanto, como o movimento privilegiado de continuação dos radicais brasileiros, tenentistas e abolicionistas dentre estes, em luta contra a opressiva ordem social do país. Se a abolição ocorrida no país havia resolvido apenas a metade do problema, como apontava um abolicionista como André Rebouças, ainda seria escravo o povo brasileiro cabendo ao socialismo no país lutar por sua libertação.<br /></span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><br /></span></span></p><p style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; color: black; font-family: Arial;"><span style="font-family:Arial;font-size:85%;">*Por Gleyton Trindade - Portal da FPA - Fundação Perseu Abramo, em: <a href="http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=3885" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)">http://www2.fpa.org.br/portal<wbr>/modules/news/article.php<wbr>?storyid=3885</a>)</span></span></p>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-7915881477626400062008-03-07T01:21:00.003-03:002008-03-07T01:26:52.605-03:00Mulheres da Via Campesina e de outros movimentos sociais iniciam jornada de mobilização do 08 de março<div align="justify"><br /><a href="http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/mulheres-da-via-campesina-ocupam-area-ilegal-da-transnacional-stora-enso/sendto_form"></a><strong><span style="color:#ff0000;">Movimentos feministas preparam atos por "igualdade, autonomia e soberania popular"</span></strong></div><strong><span style="color:#ff0000;"><div align="justify"><br /></span></strong>por <a href="http://www.brasildefato.com.br/v01/author/jpereira">jpereira</a> — Última modificação 06/03/2008 17:12 </div><div align="justify"><br /><strong>Expectativa é que mobilização em São Paulo reúna 5 mil; Conlutas fará atividade em separado<br /></strong><br />06/03/2008- Dafne Melo, da Redação - <strong>Brasil de Fato</strong></div><strong><div align="justify"><br /></strong>O tema central do ato unificado do Dia Internacional da Mulher será “Mulheres feministas anticapitalistas em luta por igualdade, autonomia e soberania popular”. Participam da manifestação todas as entidades que integraram o ato de 2007 - quando a cidade de São Paulo recebeu a visita do presidente estadunidense George W. Bush -, com exceção da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), que está chamando outro ato. </div><div align="justify"><br />O ato unificado se reunirá às 11h, na Praça Ramos – em frente ao Teatro Municipal - e participam de sua organização a Marcha Mundial de Mulheres, a Intersindical, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Sempreviva Organização Feminista (SOF) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), dentre outras. O site da Marcha Mundial das Mulheres divulga onde vão ocorrer mais mobilizações (<a href="http://www.marchamundialmulheres.org.br/" target="_self">veja aqui</a>). </div><div align="justify"><br />Nalu Faria, integrante da Marcha Mundial de Mulheres explica que os temas centrais da luta feminista que estarão em pauta serão: valorização do salário mínimo, contra a retirada de direitos dos trabalhadores, soberania alimentar e popular, descriminalização do aborto, reforma agrária e combate à violência contra as mulheres. Este último é um tema considerado “fundamental” pela organização na marcha, uma vez que o ato exigirá do governador José Serra (PSDB) a assinatura do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, proposto pelo Governo Federal, por meio da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. “Serra não assinou e não demonstra vontade política de fazê-lo”, aponta Nalu. </div><div align="justify"><br />Os atos no dia 8, aponta Nalu, são essenciais para reafirmar a data como um dia de luta feminista. </div><div align="justify"><br />“(O dia 8) é elemento de memória viva e permanente de luta das mulheres. Elas não começaram a lutar há pouco tempo. Esse dia nos remete à resistência das mulheres operárias e socialistas”. Lourdes Vicente, do setor de gênero do MST, conta que o movimento tirou a definição de transformar toda a semana do dia 8 em uma jornada de lutas. Dia 5, mulheres da Via Campesina ocuparam uma área ilegal da Stora Enzo no Rio Grande do Sul (ver matéria). </div><div align="justify"><br />“Somos contra a as transnacionais e sua ação danosa para a reforma agrária. Hoje, elas são a maior ameaça às mulheres que vivem no campo. Nosso objetivo e fazer com que a sociedade tenha conhecimento das injustiças e ilegalidades que elas provocam”, explica Lourdes que enxerga na ação a união da luta feminista com a da reforma agrária.</div><div align="justify"><br />Para Nalu, a luta das mulheres para combater o machismo e por transformações sociais são complementares: “Temos consciência de que não vamos mudar a vida das mulheres se não mudarmos a sociedade, mas a sociedade também não muda se não lutarmos para mudar seus elementos estruturantes e um deles é a opressão das mulheres”, conta. </div><div align="justify"><br /><strong>Balanço</strong></div><strong><div align="justify"><br /></strong>No último ano, duas grandes pautas específicas do movimento feminista estiveram em evidência: a violência doméstica e a questão do aborto. Com a visita do papa Bento XVI e as declarações pró aborto do ministro da Saúde José Gomes Temporão, o debate sobre o tema se acirrou. Neste ano, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apresenta como tema da campanha da fraternidade “Escolhe, pois, a vida”, que promete esquentar ainda mais o debate. </div><div align="justify"><br />Nalu Faria avalia que sem dúvida há uma maior articulação das organizações a favor e contra, reflexo da polarização da discussão. “Temos que ampliar o debate, pressionar o governo para enviar o projeto de lei de discriminalização para o Congresso e buscar maior unidade e organização, inclusive de pessoas que não têm vinculação direta com a causa feminista, mas simpatizam com a causa pró aborto”, aponta. </div><div align="justify"> </div><div align="justify">Para a integrante da MMM essa unidade será essencial para fazer frente à ofensiva reacionária. “Mesmo as nossas companheiras na Europa têm reclamado da onda conservadora, ou seja, é algo mundial”, finaliza. </div><div align="justify"><br />Quanto à violência doméstica, Nalu avalia que a aprovação da Lei Maria da Penha foi importante, mas ainda há muito o que conquistar, como forçar municípios e Estados a aderir ao Pacto de Não Violência. Ao seu ver, essa é um dos temas mais difíceis da luta feminista, uma vez que a violência contra a mulher é resultado das relações de opressão que existem na sociedade. “Como ela é um resultado de um processo é difícil atuar nela, pois temos que bater de frente, na realidade, com a raiz das relações de opressão”, finaliza<br /><a href="javascript:this.print();"></a><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Brigada Militar Gaúcha age de forma truculenta com agricultoras</span></strong></div><strong><span style="color:#ff0000;"><div align="justify"><br /></span></strong>por <a href="http://www.brasildefato.com.br/v01/author/jpereira">jpereira</a> — Última modificação 06/03/2008 14:37 </div><div align="justify"><br /><strong>Em ação em área ilegal da Stora Enso, no Rio Grande do Sul, Brigada Militar prende e agride militantes. Ainda não se sabe a quantidade de mulheres feridas. Cerca de 250 crianças foram separadas de suas mães e deitadas no chão com as mãos na cabeça<br /></strong><br />04/03/2008 (atualizada em 06/03/2008)Mayrá Lima, de Brasília (DF)</div><div align="justify"><br />O acampamento das mulheres da Via Campesina na Fazenda Tarumã, em Rosário do Sul (RS), foi invadido de forma violenta por um contingente da Brigada Militar nesta terça-feira (4). Centenas de agriculturas foram feridas e impedidas pelos policiais de receber atendimento médico. As cerca de 250 crianças que estavam no acampamento foram separadas das mães e colocadas deitadas com as mãos na cabeça. Ferramentas de trabalho foram apreendidas e barracos destruídos.</div><div align="justify"><br />Entre as feridas, a camponesa Maraísa Talaska Porto, que participou nesta quinta-feira (6) de uma audiência pública na Subcomissão Permanente de Defesa da Mulher no Senado. Ela apresentou aos parlamentares os ferimentos provocados por brigadianos gaúchos durante manifestação.</div><div align="justify"><br />Pela manhã da terça-feira, cerca de 900 mulheres da Via Campesina ocuparam a fazenda Tarumã, de 2,1 mil hectares, em Rosário do Sul, a aproximadamente 400 km de Porto Alegre. Elas chegaram na área por volta das 6 horas da manhã e imediatamente iniciaram o corte de eucaliptos e o plantio de árvores nativas. Em nota distribuída à imprensa as mulheres declaram que a “ação é legítima. A Stora Enso é que é ilegal. Plantar esse deserto verde na faixa de fronteira é um crime contra a lei de nosso país, contra o bioma Pampa e contra a soberania alimentar de nosso Estado que está cada vez mais sem terra para produzir alimentos. Estamos arrancando o que é ruim e plantando o que é bom para o meio-ambiente e para o povo gaúcho”.</div><div align="justify"><br />Durante o dia, a Brigada Militar já havia agredido um grupo menor de camponesas na entrada da fazenda e coagido os jornalistas que estavam na área cobrindo o episódio. Um cinegrafista foi detido por mais de uma hora e a sua fita com o registro da agressão apreendido. A Via Campesina condena a ação e denuncia que a tucana coloca o aparato policial do Estado a serviço de uma de suas maiores financiadoras de campanha, a transnacional Stora Enso.</div><div align="justify"><br />“As empresas de celulose prometem gerar emprego e desenvolvimento. Mas onde elas se instalam só aumenta o êxodo rural e a pobreza. Os trabalhos que geram são temporários, sem direitos trabalhistas, em condições precárias. Um exemplo é a Fazenda Tarumã em Rosário do Sul que gera somente dois empregos permanentes e alguns empregos temporários. Se essa área fosse destinada para a reforma agrária poderiam ser assentadas 100 famílias, gerando no mínimo 300 empregos diretos permanentes. Portanto, a reforma agrária e a agricultura camponesa é que são a melhor alternativa para preservar a biodiversidade, gerar trabalho e renda para a população do campo e alimentos saudáveis e mais baratos para quem mora nas cidades”, explicam, na nota, as mulheres da Via Campesina.</div><div align="justify"><br /><strong>Ilegalidades no Brasil</strong></div><strong><div align="justify"><br /></strong>A Stora Enso é uma companhia sueco-finlandesa e pela legislação brasileira (lei nº 6.634 de 1979; e o artigo 20, parágrafo 2, da Constituição Federal) estrangeiros não pode adquirir terras em uma faixa de 150 km da fronteira do Brasil. Mas essa transnacional vem comprando dezenas de áreas no Rio Grande do Sul próximo à divisa com o Uruguai, país onde a empresa também tem plantios. A meta é formar uma base florestal de mais de 100 mil hectares e implantar fábricas na região. (<a id="fontBlack" href="http://www.brasildefato.com.br/reducao-da-faixa-de-fronteira-avanca-no-senado-stora-enso-beneficiada">Leia mais: Redução da faixa de fronteira avança no Senado; Stora Enso beneficiada</a>).</div><div align="justify"><br />Inicialmente a Stora Enso adquiriu as terras em nome da empresa Derflin, que é o braço da transnacional para produzir matéria-prima. Como a Derflin também é estrangeira, não conseguiu legalizar as áreas. Por isso, a Stora Enso criou uma empresa laranja: a agropecuária Azenglever, de propriedade de dois brasileiros: João Fernando Borges e Otávio Pontes (diretor florestal e vice-presidente da Stora Enso para a América Latina, respectivamente). Eles são atualmente os maiores latifundiários do Rio Grande do Sul. </div><div align="justify"><br />Cerca de 50 fazendas, totalizando mais de 45 mil hectares já foram registradas em nome da Agropecuária Azenglever. Entre essas áreas está a Tarumã, ocupada pelas mulheres. Há um inquérito na Polícia Federal responsável para investigar o crime, mas a empresa continua agindo livremente.</div><div align="justify"><br /><strong>Reivindicações</strong></div><strong><div align="justify"><br /></strong>As mulheres da Via Campesina pedem anulação das compras de terra feitas ilegalmente pela Stora Enso na faixa de fronteira e expropriação dessas áreas para a reforma agrária. Somente nos 45 mil hectares que estão em nome da Azenglever daria para assentar 2.250 famílias, gerando 6.750 empregos diretos. Atualmente 2,5 mil famílias estão acampadas no Rio Grande do Sul e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) alega não ter terras para fazer assentamento.</div><div align="justify"><br />Além disso, as militantes reivindicam a retirada dos projetos no Senado e na Câmara Federal que propõem a redução da faixa de fronteira. Na avaliação das mulheres, essa medida só beneficia empresas estrangeiras.</div><div align="justify"><br />A ação desta terça-feira marca o início da Jornada Nacional de Luta das Mulheres da Via Campesina contra o Agronegócio e Por Soberania Alimentar. (Foto: Agência Brasil)</div><div align="justify"><br /><span style="color:#ff0000;"><strong>Manifesto das Mulheres da Via Campesina </strong></span></div><span style="color:#ff0000;"><strong><div align="justify"><br /></strong></span>Nós mulheres da Via Campesina do Rio Grande do Sul estamos mais uma vez mobilizadas, nesta semana do 8 de março, para intensificar nossa luta contra o agronegócio e em defesa da soberania alimentar da população brasileira.</div><div align="justify"><br />A soberania alimentar é o direito dos povos de produzir sua comida respeitando a biodiversidade e os hábitos culturais de cada região. Hoje em nosso país as riquezas naturais estão sob domínio das empresas multinacionais do agronegócio e a população tem cada vez menos acesso à terra, à água e aos alimentos. </div><div align="justify"><br />Nós mulheres somos as primeiras a serem expulsas das atividades agrícolas nas áreas onde avança o agronegócio. Nosso trabalho é importante em uma agricultura camponesa porque sabemos produzir alimentos. Mas as empresas do agronegócio não estão preocupadas em produzir comida, só em produzir lucro transformando o campo em desertos verdes (de eucalipto, de soja, de cana). Um dos desertos que mais cresce em nosso Estado é o de eucalipto para celulose. </div><div align="justify"><br />As empresas de celulose estão fechando fábricas nos Estados Unidos e na Europa e vindo para a América Latina. Aqui encontram muita terra, água, clima favorável e governos dispostos a atender seus interesses. Mais de 90% da produção de celulose do Brasil é para exportação. Assim, reduzimos a produção de comida, destruímos a biodiversidade, aumentamos a pobreza e a desigualdade para atender a demanda de lucro das empresas e um estilo de vida consumista nos países ricos. Esse é o papel horroroso que o Brasil cumpre hoje no mundo. </div><div align="justify"><br />Uma das empresas responsáveis pelo avanço do deserto verde no Rio Grande do Sul é a Stora Enso, multinacional sueco-finlandesa. Pela lei brasileira estrangeiros não podem ter terra em uma faixa de 150 km da fronteira do Brasil com outros países. Acontece que a Stora Enso já tem milhares de hectares plantados no Uruguai e é exatamente próximo da fronteira gaúcha com este país que essa gigante do ramo de papel e celulose quer formar uma base florestal de mais de 100 mil hectares. </div><div align="justify"><br />Inicialmente a Stora Enso tentou comprar as terras em nome da empresa Derflin, o braço da multinacional para produção de matéria prima, que por ser estrangeira não conseguiu legalizar as áreas. </div><div align="justify"><br />Para viabilizar sua implantação a multinacional criou uma empresa laranja que está comprando as terras em seu nome: a agropecuária Azenglever Ltda, cujos donos são dois importantes funcionários da Stora Enso. Eles se tornaram os maiores latifundiários do estado, sendo “proprietários” de mais de 45 mil hectares. Essa operação ilegal é de conhecimento dos Ministérios Públicos Estadual e Federal, do Incra, da Polícia Federal, mas nada de concreto foi feito para impedir o avanço do deserto verde. Decidimos então romper o silêncio que paira sobre esse crime. </div><div align="justify"><br />Nossa ação é legítima. A Stora Enso é que é ilegal. Plantar esse deserto verde na faixa de fronteira é um crime contra a lei de nosso país, contra o bioma pampa e contra a soberania alimentar de nosso estado que está cada vez mais sem terras para produzir alimentos. Estamos arrancando o que é ruim e plantando o que é bom para o meio ambiente e para o povo gaúcho.<br />Alguns parlamentares gaúchos ao invés de combaterem a invasão dos estrangeiros estão propondo reduzir a Faixa de Fronteira para legalizar o crime. Usam o argumento de que a faixa de 150 km impede o desenvolvimento econômico dos municípios. Mas isso é uma grande mentira. Todos sabem que a Metade Sul não se desenvolve por causa do latifúndio e das monoculturas. Tanto que a faixa de fronteira também vigora na metade norte do estado e nessa região a economia é dinâmica. </div><div align="justify"><br />As empresas de celulose prometem gerar emprego e desenvolvimento. Mas onde elas se instalam só aumenta o êxodo rural e a pobreza. Os trabalhos que geram são temporários, sem direitos trabalhistas, em condições precárias. Um exemplo é a Fazenda Tarumã em Rosário do Sul, de 2,1 mil hectares onde a Stora Enso gera somente dois empregos permanentes e alguns empregos temporários. </div><div align="justify"><br />Se essa área for destinada para a reforma agrária podem ser assentadas 100 famílias gerando no mínimo 300 empregos diretos permanentes. Portanto, a Reforma Agrária e a Agricultura Camponesa é que são a melhor alternativa para preservar a biodiversidade, gerar trabalho e renda para a população do campo e alimentos saudáveis e mais baratos para quem mora nas cidades. </div><div align="justify"><br />O projeto que tramita no Senado propondo reduzir a Faixa de Fronteira brasileira não inclui a Amazônia porque entende que isso seria uma ameaça para a floresta. Ou seja, admite que a redução da Faixa de Fronteira irá aumentar a destruição ambiental. Para nós todos os biomas brasileiros são importantes e entendemos que o Cerrado e o Pampa também precisam ser preservados. </div><div align="justify"><br />Nós mulheres da Via Campesina reivindicamos das autoridades brasileiras: </div><div align="justify"><br />- Anulação das compras de terra feitas ilegalmente pela Stora Enso na faixa de fronteira e expropriação dessas áreas para a reforma agrária. Somente nos 45 mil hectares que estão em nome da empresa laranja, a Agropecuária Azenglever daria para assentar cerca de 2 mil famílias, gerando 6 mil empregos diretos. Atualmente 2.500 famílias estão acampadas no Rio Grande do Sul e o Incra alega não ter terras para fazer assentamento. </div><div align="justify"><br />- Retirada dos projetos no Senado e na Câmara Federal que propõem a redução da Faixa de Fronteira. Essa medida só vai beneficiar empresas como a Stora Enso que querem se apropriar das terras para transformá-las em deserto verde, destruir nossas riquezas naturais como o aqüífero guarani e o bioma Pampa. Para o povo gaúcho essa redução da faixa de fronteira só vai provocar aumento do êxodo rural, do desemprego, da destruição ambiental e o fim soberania alimentar pois vai faltar terra para produzir alimentos. </div><div align="justify"><br />Sabemos que por lutar contra o deserto verde podemos sofrer a repressão do governo gaúcho. É prática desse governo tratar os movimentos sociais como criminosos e proteger empresas que cometem crimes contra a sociedade. Vamos resistir. Nossa luta é em defesa da vida das pessoas e do meio ambiente. Estamos aqui em 900 mulheres, mas carregamos conosco a energia e a coragem das milhares de camponesas que em todo o mundo lutam contra a mercantilização das riquezas naturais e da vida. Como dizia a companheira sem terra Roseli Nunes, assassinada covardemente em março de 1987 aqui no Rio Grande do Sul, “preferimos morrer lutando do que morrer de fome!”.</div><div align="justify"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Mulheres da Via Campesina do Rio Grande do Sul </span></strong></div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-81518797775268192942008-02-29T18:54:00.007-03:002008-02-29T19:11:15.877-03:00Dois pesos e duas medidas ou como a maioria da imprensa trata questões relacionadas à Cuba<div align="justify"> <strong>Segue abaixo um texto interessante sobre as relações entre a imprensa e os interesses econômicos e políticos defendidos por jornalistas que estão organicamente vinculados aos diversos setores da classe dominante. O texto demonstra como a organização Repórteres Sem Fronteira (RSF) tem sido utilizada como um instrumento de agressão contra aqueles que se colocam em oposição ao imperialismo e à política externa militarista dos governos dos Estados Unidos e União Européia.</strong></div><div align="justify"><strong><br /></strong><br /><span style="color:#ff0000;"><strong>REPÓRTERES SEM FRONTEIRAS: LIBERTÁRIOS OU ANTICUBANOS?<br /></strong></span><br /><strong>Salim Lamrani*<br /></strong><br />A maneira como a imprensa francesa tratou dos últimos acontecimentos em Cuba é um dos mais sérios fracassos da história do jornalismo neste país. Nunca antes a imprensa francesa dera provas de tanta parcialidade, censura, manipulações, mentiras e calúnias com relação a Cuba. O tratamento reservado à realidade cubana foi simplesmente infame. Mas a medalha de ouro da ignomínia foi para a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), cujo porta-voz, Robert Ménard, sofrendo de uma doentia obsessão contra a Revolução Cubana, reúne em si todos os vícios e desmandos de que o jornalismo e os jornalistas são capazes. </div><div align="justify"><br />RSF pretende "defender os jornalistas encarcerados e a liberdade de imprensa no mundo. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(1)</a> Conversa! a organização, financiada pelo multimilionários francês François Pinault e gozando da benevolência do comerciante de armas Lagardère, fez da manipulação da realidade cubana o seu principal negócio. </div><div align="justify"><br />Segundo a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), 179 jornalistas foram assassinados "em total impunidade" no hemisfério americano ao longo da última década; e nenhum deles era cubano; mas Ménard arremete contra a Ilha socialista, declarando que "para Repórteres Sem Fronteira, a prioridade na América Latina é Cuba". </div><div align="justify"><br />No barômetro da liberdade de imprensa publicado no site da RSF, a situação da Colômbia - onde mais de uma centena de jornalistas foram assassinados em dez anos, cerca de 60 sequestrados, ameaçados e agredidos, mais de 20 obrigados a deixar suas regiões e até seu país, enquanto oito atentados ou tentativas de atentado foram registrados - é qualificada apenas como "difícil". Em troca, a situação cubana, onde nem um só jornalista foi assassinado desde 1959, é qualificada de "muito grave". Seria interessante saber quais são os parâmetros adotados pela RSF para chegar a tais conclusões. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(2)</a> </div><div align="justify"><br />Será mesmo a liberdade de imprensa o objetivo da organização? Tolice! O caso de Mumia Abu-Jamal, o célebre jornalista afro-americano que apodrece na prisão há mais de vinte anos, por um crime que nunca cometeu, não interessou a RSF. Em abril de 1999, durante a Guerra em Kosovo, a OTAN bombardeou uma estação de rádio e TV sérvia e 16 pessoas perderam a vida, entre elas mais de uma dezena de jornalistas. Em 2000, quando a RSF publicou seu informe anual, essas vítimas não foram contabilizadas. Isto fica explicado em seguida, quando se fica sabendo que a Comissão Européia subvencionava na época 44% da RSF. Robert Ménard confessou-o em seu livro. </div><div align="justify"><br />RSF se opôs com firmeza à condenação dos desvios da grande imprensa francesa, "pois, fazendo-o, corremos o risco de desagradar certos jornalistas, inimizá-los com os grandes patrões da imprensa e enfurecer o poder econômico. Para midiatizar-nos, precisamos da cumplicidade dos jornalistas, do apoio dos patrões da imprensa e do dinheiro do poder econômico". <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(3)</a> É demasiado perigoso atacar os excessos da imprensa francesa, que já mostrou seu arsenal, ao passo que lançar acusações sem fundamento contra a Revolução Cubana é mais simples e bem remunerado. </div><div align="justify"><br />Para descrever os eventos de março de 2003 em Cuba, a RSF não mediu palavras - "batidas policiais", "expurgo", "julgamento stalinista", "delator" - insinuando criminosas analogias desprovidas de qualquer fundamento, para manipular a opinião pública. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(4)</a> </div><div align="justify"><br />Recordemos os fatos. Em março de 2003, 78 pessoas, financiadas pelo governo estadunidense para provocarem a subversão interna e desestabilizarem o país, foram presas pelas autoridades cubanas e condenadas a longas penas de prisão. As provas apresentadas eram arrasadoras. Das 78 pessoas presas, oito eram agentes da Segurança do Estado, que tinham se infiltrado nas organizações de "jornalistas independentes" e "dissidentes". </div><div align="justify"><br />O presidente de todas as organizações da "imprensa independente", Nestor Baguer, considerado pela mídia internacional e organizações não-governamentais como uma das principais estrelas da dissidência, era na realidade o "agente Octavio", trabalhando na Segurança do Estado desde 1962 e infiltrado nas organizações de "dissidentes" financiadas pelos Estados Unidos desde 1992; controlava toda a "imprensa independente" e era o principal interlocutor da RSF em Cuba. Os "jornalistas independentes" recebiam diretivas da SINA (Seção de Interesses Norte-Americanos) em Havana e deviam submeter seus artigos aos representantes dos Estados Unidos em Cuba. A organização dirigida por Ménard, ocultando estes fatos, sublevou-se imediatamente contra a "violação da liberdade de imprensa" e lançou uma vasta campanha de propaganda contra Cuba, na qual a verdade foi assassinada. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(5)</a> </div><div align="justify"><br />A RSF encarregou-se de denunciar a detenção de "26 jornalistas independentes". Dos 78 condenados, quatro tinham recebido formação de jornalistas e apenas um tinha exercido esta profissão. O código do jornalismo é regido por uma legislação internacional que possui critérios bem precisos; não basta querer para ser considerado jornalista. </div><div align="justify"><br />Então, por que tantas mentiras? Porque o trabalho da RSF é muito apreciado do outro lado do Atlântico, especialmente pela Associação cubano-americana - organização anticubana que foi qualificada por um antigo funcionário do Departamento de Estado dos EUA, William Blum, como "um dos grupos terroristas mais prolíficos do mundo", responsável por numerosos atentados contra Cuba. Com efeito, o governo estadunidense, a FNCA e a RSF seguem a mesma agenda, que consiste em destruir a Revolução Cubana. James Cason, o chefe da Sina em Havana, declarou que se reunia regularmente com os terroristas da FNCA para discutir o plano em favor de uma "transição democrática" em Cuba. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(6)</a> </div><div align="justify"><br />Os posicionamentos da RSF, além do caráter incompleto e hipócrita da informação que difundem, seguem a linha extremista e recalcitrante da extrema-direita cubana no Estado da Flórida. Assim, Ménard declara que Cuba "vive de modo paranóico", que a hostilidade dos EUA a Cuba é pura "retórica", que o impacto das sanções econômicas é "marginal", pois "pode-se viver sem comerciar". E agrega "que em todos os países democráticos não é preciso nenhum diploma para ser jornalista". Quanto ao ponto de vista dos cubanos, esse grande defensor da liberdade de expressão os rejeita com desprezo: não têm "nenhum interesse". E logo que fala de Cuba se inflama, agita-se, excita-se, sapateia e esganiça, sem conseguir dominar sua enfermiça obsessão. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(7)</a> </div><div align="justify"><br />Cuba não "vive de modo paranóico", como pretende Ménard. É que sofreu o mais alto número de atentados terroristas no mundo, nos quais 3.478 cubanos morreram e 2.100 sofreram seqüelas permanentes. A antipatia dos EUA pela Revolução Cubana não é "retórica", mas real. O governo estadunidense organizou uma invasão direta da Ilha, cometeu inúmeros atos de sabotagem, financiou inúmeros grupúsculos terroristas anticubanos, lançou contra o país a mais forte campanha de! telecomunicações da história e atualmente recruta mercenários que se disfarçam de jornalistas para desestabilizar o país e fomentar uma subversão interna. </div><div align="justify"><br />Será o bloqueio "marginal"? Washington teceu uma rede de leis contra Cuba sem precedente histórico, que viola as mais altas convenções internacionais, entre outras a Convenção para a prevenção e repressão ao crime de genocídio, aprovada em 9 de dezembro de 1948 e retificada pelos EUA. As sanções econômicas custaram a Cuba mais de US$ 70 mil milhões, e foram condenadas pelas Nações Unidas, a União Européia, a Organização de Estados Americanos, o Comitê Jurídico Interamericano, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a Organização Mundial do Comércio, entre outras. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(8)</a> </div><div align="justify"><br />A RSF condenou a execução de três terroristas que tinham seqüestrado um pequeno barco que fazia a ligação entre Havana e Regla, levando-o para alto mar e ameaçando de morte os passageiros, entre os quais dois turistas franceses. No ano passado, 1.562 pessoas foram executadas no mundo, entre elas 71 nos Estados Unidos. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(9)</a> Não recordo de uma só onda de indignação comparável, da parte das tranqüilas consciências da imprensa francesa, que demonstram uma profunda discriminação quando se trata de Cuba. A RSF ocultou por completo estes fatos, e os seguintes. Nos sete meses que antecederam o julgamento e execução dos terroristas, ocorreram sete seqüestros, cujos responsáveis seguiram para os EUA. </div><div align="justify"><br />Vale sublinhar que a legislação internacional considera o seqüestro como um grave ato de terrorismo. Mas ao chegarem na Flórida os criminosos não foram presos ou julgados, mas postos em liberdade, enquanto os aviões cubanos foram confiscados e vendidos como sucata. Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, os caças da North American Aerospace Defense (NORAD), que sobrevoam permanentemente o espaço aéreo americano, receberam ordens para derrubar qualquer avião que não estivesse em seu plano de vôo. Como um avião cubano seqüestrado, procedente de um Estado incluído pelos EUA na lista de países que patrocinam o terrorismo, pode chegar ao território americano sem ser derrubado? A menos que as autoridades estadunidenses soubessem de antemão que os seqüestros iam ocorrer, o que coincide com a tese de que os atos de terrorismo aéreo foram organizados a partir dos EUA. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(10)</a></div><div align="justify"><br />Os Estados Unidos comprometeram-se, pelos acordos migratórios de 1994, a conceder 20 mil vistos anuais a cubanos que desejassem deixar seu país. No entanto, Washington forneceu a cada ano menos vistos, com o evidente objetivo de estimular a emigração ilegal. Com efeito, entre 1º de outubro de 2002 e 28 de fevereiro de 2003, só concederam 505 vistos, ou seja, 2,5% da cifra estabelecida. Ademais, Washington declarou que qualquer fluxo maciço para as costas da Flórida constituiria uma ameaça à segurança nacional dos EUA e provocaria uma resposta militar. Quanto à Rádio Martí e à TV Martí, cujo papel é fomentar a emigração ilegal, viram seus orçamentos alcançarem a cifra de US$ 26,9 milhões. Outro objetivo das emissoras é favorecer atos de sabotagem e subversão interna. Assim, o perigo de uma agressão militar estadunidense contra Cuba é muito real. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(11)</a> </div><div align="justify"><br />Fidel Castro seria responsável pela miséria de seu povo. De qual miséria se trata? Daquela que dota os cubanos de uma taxa de analfabetismo de 0,2%, de uma esperança de vida de 76 anos, de uma taxa de mortalidade infantil de 6,2 por mil, de uma taxa de escolarização de 100%, com 4 milhões de estudantes em 11 milhões de habitantes, de 590 médicos por 100 mil habitantes, do mais elevado número proporcional de médicos e professores no mundo? Seria a "miséria" que permite a Cuba albergar 11% dos cientistas da América Latina, tendo apenas 2% de sua população? A cada ano mais de 2 mil médicos cubanos exercem gratuitamente sua profissão nas regiões mais pobres do planeta - mais que os médicos enviados pela OMC (Organização Mundial de Saúde). Atualmente, há em Cuba mais de 24 mil estudantes procedentes de 80 países, entre eles 500 norte-americanos, que prosseguem sua formação universitária também gratuitamente.<br />É desta "miséria" que se fala? Se isto merece o qualificativo de "miséria", seria o caso de erguer um monumento à "miséria" e proclamar um "Dia da Miséria", que seria uma festa mundial.<br />As dificuldades que de fato existem em Cuba estão diretamente relacionadas com o bloqueio decretado por Washington. E devem ser vistas em perspectiva, relacionadas com a problemática política, econômica e social das nações do Terceiro Mundo, para que se veja que, na comparação com tais países, a situação cubana não está longe de ser paradisíaca. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(12)</a> </div><div align="justify"><br />Entrevistado recentemente no programa de TV "Merci pour l'info", do Canal Plus, sobre Tayseer Aouni, o jornalista da Al Jazira preso na Espanha no último dia 8, por simples suspeitas de vínculos com a Al Qaeda, Ménard limitou-se a declarar que os jornalistas não estavam acima das leis, acrescentando que Aouni fora preso pelo que fizera e não pelo que escrevera. A declaração do juiz Baltazar Garzón aparentemente bastou a Ménard, que não se dignou a analisar o assunto, nem requerer as provas, até o momento inexistentes, da culpa do jornalista árabe. </div><div align="justify"><br />No entanto, Ménard indignou-se quando "jornalistas" cubanos, a serviço de uma potência estrangeira engajada contra Cuba na maior campanha terrorista da história, foram presos e condenados com base em arrasadoras provas de culpabilidade que foram apresentadas publicamente. </div><div align="justify"><br />Mas Ménard já declarou abertamente que não atacaria os mestres do universo, apenas seus inimigos. Com efeito, a rede televisiva de Catar Al Jazira atraiu a ira de Washington durante as guerras do Afeganistão e a seguir do Iraque, pela exatidão de suas reportagens - pondo em evidência as atrocidades cometidas pela coalizão e esfrangalhando a propaganda estadunidense. É fácil anatemizar um pobre país do Terceiro Mundo, assediado pela primeira potência mundial há quase meio século; mas possuir honestidade intelectual são outros quinhentos. E a RSF, neste caso, escolheu o seu lado, o da mentira e da calúnia. A história da Revolução Cubana é muito diferente; apesar de seus erros, é uma lição de coragem e humanismo. </div><div align="justify"><br />Recentemente revelou-se que Eduardo Sánchez, sem dúvida o personagem mais midiático da "dissidência", na verdade colaborara durante vários anos com a Segurança do Estado cubano. Evidentemente, a RSF, não sabendo onde se esconder, na medida em que as figuras que erigira em símbolos da liberdade de expressão em Cuba se revelavam agentes de Havana, censurou por completo esta informação desmoralizante. </div><div align="justify"><br />Os Estados Unidos não possuem nenhuma legitimidade para orientarem um povo que estrangulam há meio século apenas porque ele se atreveu a construir sua própria utopia. Não compete à RSF decidir ou julgar o destino de Cuba, e menos ainda a seus aliados terroristas indiretos da FNCA. Que se critique a Revolução Cubana é de todo razoável, mas usar o embuste e a mistificação para atacá-la é uma ignomínia. </div><div align="justify"><br />Se a defesa da liberdade de expressão fosse verdadeiramente a preocupação da RSF, suas prioridades seriam a Colômbia, a Turquia, o Paquistão, o Egito. Mas na verdade a "liberdade de expressão" é apenas uma cortina de fumaça para ocultar outro objetivo. O que incomoda a RSF, os EUA e os ideólogos neoliberais é o sistema político, econômico e social de Cuba, que mostra o total fracasso da doutrina do mercado. Gostem ou não a RSF e seus asseclas, Cuba é uma nação independente e soberana, que há 44 anos dá ao mundo uma lição de dignidade e resistência. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/cuba/rsf.html#notas" target="_blank">(13)</a> <a name="118672a29af55237_notas"></a><br /><br />Notas<br />1) Sítio de Repórteres Sem Fronteiras: <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.rsf.org/" target="_blank">http://www.rsf.org/</a> (consultado em 16/set/2003).<br />2) Cuba Solidarity Project, "Reporters sans Frontières et Cuba", sem data, 1.<br /><a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://perso.clubinternet.fr/vdedaj/cuba/rsf.html" target="_blank">http://perso.clubinternet.fr/vdedaj/cuba/rsf.html</a> (sitio consultado em 24/fev/2003) ; Reporters Sans Frontières, Colombie-Rapport 2003. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.rsf.org/article.php3?id_article=6164" target="_blank">http://www.rsf.org/article.php3?id_article=6164</a> (sitio consultado em 24/set/2003).<br />3) Marianne, "Reporters Sans Frontières, les aveux de Robert Ménard ", 5-11/mar/2001 :9.<br />4) RSF, " Cuba Si, Castro No ", "Washington écarte une intervention armée", <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.rsf.org/" target="_blank">http://www.rsf.org/</a><br />5) Rosa Miriam Elizalde & Luis Baez, "Los Disidentes" (Havana: Editora Política, 2003), pp. 153-74<br />6) William Blum, Rogue State. A Guide to the World's Only Superpower (Maine, Monroe : Common Courage Press, 2000), p. 80.<br />7) Entrevista de Robert Ménard realizada pelo autor em 12/mai/2003 no escritório da Repórteres Sem Fronteiras em Paris.<br />8) William Schaap, "La Demanda: The People of Cuba vs the U.S. Government" Third World Traveler, septiembre-décembre 1999. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.thirdworldtraveler.com/Latin_America/LaDemanda.htm" target="_blank">http://www.thirdworldtraveler.com/Latin_America/LaDemanda.htm</a> (sitio consultado em 15/jan/2003).<br />9) Eumelio Caballero Rodríguez, " Coletiva de imprensa ", Paris, Embaixada de Cuba na França, 18/abr/2003.<br />10) Pascual Serrano, "Planos de intervenção militar na Ilha. Cuba na mira dos Estados Unidos", Le Monde Diplomatique, outubro de 2003.<br />11) Felipe Pérez Roque, Não pensamos em renunciar à nossa soberania. Coletiva de imprensa concedida pelo Ministério das Relações Exteriores da República de Cuba em 9 de abril de 2003. Havana: Editora Política, 2003. pp. 12, 21.<br />12) Comisión Económica Para América Latina (CEPAL), Indicadores del desarrollo socioeconómico de América Latina. (Naciones Unidas, 2002), pp. 12, 13, 39, 41, 43-47, 49-56, 66-67 ; 716-733;<br />Fidel Castro, "Discurso de Fidel Castro em 1 de mayo", Rebelión, 3 de mayo 2002.<br /><a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.rebelion.org/internacional/castro030502.htm" target="_blank">http://www.rebelion.org/internacional/castro030502.htm</a> (sitio consultado em 3/mai/2002);<br />Peter Bohmer, "Cuba Today !", Z Magazine, 26 de abril 2001, 1.<br /><a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.zmag.org/ZSustainers/ZDaily/2001-04/26bohmer.htm" target="_blank">http://www.zmag.org/ZSustainers/ZDaily/2001-04/26bohmer.htm</a> (sitio consultado em 7/mar/2003);<br />Saul Landau, "Fidel and the Revolution, Forty Years Later", Z Magazine, 6/jan/2001, 2.<br /><a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.zmag.org/ZSustainers/ZDaily/2001-01/06landau.htm" target="_blank">http://www.zmag.org/ZSustainers/ZDaily/2001-01/06landau.htm</a> (sitio consultado em 12/mar/2003).<br />Comisión Económica Para América Latina (CEPAL), Indicadores del desarrollo socioeconómico de América Latina. (Nations Unies, 2002), op. cit., p. 52;<br />Dorothy Guellec, " Cuba Offers Free Medical Education to US Minority Students ", Z Magazine, 27/mar/2001. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.zmag.org/ZSustainers/ZDaily/2001-03/27guellec.htm" target="_blank">http://www.zmag.org/ZSustainers/ZDaily/2001-03/27guellec.htm</a> (sitio consultado em<br />3/abr/2002);<br />Raisa Pages, "Estudiante hondureño destaca labor de médicos internacionalistas cubanos", Granma Internacional, 25/jun/2002. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.granma.cu/espanol/junio02-24/estudiante-e.html" target="_blank">http://www.granma.cu/espanol/junio02-24/estudiante-e.html</a> (sitio consultado em 3/abr/2002);<br />Carlos Lage, "Cuba ofrece médicos, equipos, kits diagnósticos y tratamiento antirretroviral para los países más pobres y con mayor presencia de SIDA", Sesión Extraordinaria sobre el Sida de la Asamblea General de las naciones Unidas, Rebelión, 7/jul/2001. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.rebelion.org/internacional/cuba070701.htm" target="_blank">http://www.rebelion.org/internacional/cuba070701.htm</a> (sitio consultado em 13/jun/2002);<br />Fidel Castro, "Cuba Offers 5 000 Scholarships for Central American Medical Students", Cuba Solidarity Project, 21/nov/1988. <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.cubasolidarity.net/fidebecas.html" target="_blank">http://www.cubasolidarity.net/fidebecas.html</a> (sitio consultado em 5/mar/2003);<br />Toward Freedom, " Cuba's Medical Aid Is Winning Converts ", noviembre de 2000, 5.<br /><a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.towardfreedom.com/nov00/notebook.htm" target="_blank">http://www.towardfreedom.com/nov00/notebook.htm</a> (sitio consultado em 7/mar/2003);<br />América Latina en Movimiento, " El arte de seguir construyendo ", ALAI, 15 mai 2001, 1.<br /><a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://alainet.org/active/show_text.php3?key=1235" target="_blank">http://alainet.org/active/show_text.php3?key=1235</a> (sitio consultado em 7/mar/2003);<br />Noy Thrupkaew, "A Letter From Cuba"!, Z Magazine, 22/mai/2001, 3-4.<br /><a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.zmag.org/ZSustainers/ZDaily/2001-05/22thrupkaew.htm" target="_blank">http://www.zmag.org/ZSustainers/ZDaily/2001-05/22thrupkaew.htm</a> (sitio consultado em 12/mar/2003);<br />Noam Chomsky, "Obsesión", La Jornada, 25/jan/1998.<br /><a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.jornada.unam.mx/1998/ene98/980125/chomsky.html" target="_blank">http://www.jornada.unam.mx/1998/ene98/980125/chomsky.html</a> (sitio consultado em 7/mar/2003).<br />13) Arleen Rodríguez & Lázaro Barredo, El Camaján (Havana: Editora Política, 2003). Disponível em <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://www.cubadebate.cu/index.php?tpl=libros" target="_blank">http://www.cubadebate.cu/index.php?tpl=libros</a> (siti<a name="118672a29af55237_asterisco">o consultado em 23/set/2003). </a><br /> </div><div align="justify"><strong>10/11/2003</strong></div><div align="justify"><br />*<strong> Doutor pela Escola de Estudos Anglófonos da Sorbonne, Paris, com uma tese sobre o lobby cubano nos EUA de 1959 até hoje.<br /></strong><br />Este artigo encontra-se em: <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://resistir.info/" target="_blank">http://resistir.info/</a></div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-91622921484657713412008-02-27T10:26:00.007-03:002008-02-27T10:34:02.148-03:00Violência nas eleições no Paraguai: movimentos sociais pedem ajuda a observadores internacionais para evitar mais uma fraude eleitoral<div align="justify"><strong><span style="color:#ff0000;">Para a mobilização de organizações sociais brasileiras em solidariedade com a luta do povo paraguaio</span><br /></strong><br />1. Se agrava a conjuntura a dois meses das eleições gerais<br />2. Será necessário enviar observadores/as também dos movimentos sociais solidários para inibir a fraude nas eleições<br /><br />[OBSERVACIÓN: tanto o <strong>Movimento Popular Tekojojá</strong> como o <strong>Partido Convergência Popular Socialista</strong> são expressão de movimentos sociais paraguaios e têm entre seus militantes e candidatos a dirigentes sociais que participam ativamente das campanhas da Aliança Social Continental, Jubileo Sul, etc.]<br /><br />1. Se agrava a conjuntura a 2 meses das eleições<br /><br />As eleições gerais no Paraguai acontecerão no próximo <strong>20 de abril</strong> (faltam menos de dois meses). As pesquisas de opinião dão ao candidato apoiado pelas forças de esquerda, progressistas e democráticas, <strong>Fernando Lugo</strong>, bem na frente. Tem vantagem de mais de 10 pontos sobre os dois segundos que vem embolados (o general Oviedo y a candidata colorada Ovelar).<br /><br />Em resposta a esse quadro membros do Partido Colorado tem respondido com violência e ameaças, tentando criar um ambiente de medo, incerteza, instabilidade etc. Vejam ao final:<br /><br />* o relato do assassinato de um dirigente do Movimento Popular Tekojojá, organização membro da <strong>Aliança Patriótica para a Mudança</strong> (Alianza Patriótica para el Cambio). Se pede que enviem moções de solidaridade com Tekojojá e os familiares do companheiro e notas de repúdio a esse ato bárbaro. Contato: <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="mailto:prensa@tekojoja.com.py" target="_blank">prensa@tekojoja.com.py</a><br />* relato da prisão de militantes da <strong>Aliança Patriótica Socialista</strong>, uma coalição de organizações de esquerda que também apóia o Lugo. Para moções em relação ao caso, contato: <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="mailto:victor.barone@gmail.com" target="_blank">victor.barone@gmail.com</a><br /><br />2. Será necessário enviar observadores/as também dos movimentos sociais solidários para inibir a fraude nas eleições<br /><br />Depois da violência e tentativas de amedrontamento, devem vir outras táticas dos grupos que estão no poder. No dia 20 de abril todo indica que deverão tentar impedir a vitória de Lugo pela fraude.<br /><br />Solicitamos que os movimentos sociais brasileiros enviem para (uns dias antes e alguns dias depois do) 20 de abril, observadores da sociedade civil com vistas a inibir e impedir as fraudes no dia das eleições.<br /><br />Contatos:<br />Secretaria Internacional do Mov. P. Tekojojá (membro da Aliança Patriótica para a Mudança), Ricardo Canese: <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="mailto:ricardocanese@yahoo.es" target="_blank">ricardocanese@yahoo.es</a><br />Membro da Direção do Partido Convergência Popular Socialista (Aliança Patriótica Socialista), Victo Barone: <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="mailto:victor.barone@gmail.com" target="_blank">victor.barone@gmail.com</a><br /><br /><br />-------------------<br />Anexo I - Informe Tekojojá<br /><br />Apreciados compañeras/os:Ha ocurrido un alevoso crimen, a sangre fría, del dirigente de TEKOJOJA del Departamento de Caazapá (antiguo bastión del oficialismo y donde todas las encuestan demuestran que Fernando Lugo triunfará, lo mismo que en todo el país) del dirigente GERALDINO ROTELA MIRANDA. Se encuentra en gravísimo estado, tambièn por haber recibido impactos de bala, su hermano ENMANUEL ROTELA MIRANDA. Este crimen es la continuidad de sucesivas agresiones de la cúpula mafiosa que desgobierna el Paraguay desde hace 61 años, entre las que se pueden citar (1) secuestro del dirigente de Tekojoja Guillermo Gimènez en el departamento de Canindeyù, donde personas vestidas de "para para í" (uniforme de camuflaje del ejército) le robaron su moto y lo dejaron atado a un árbol; (2) apresamiento de dirigentes del P-MAS, por criticar al Presidente Duarte Frutos en Caacupé, (3) apresamiento de los dirigentes del Frente Patriòtico Socialista, Juan de Dios Acosta Mena y Antonio Gayoso, de la organizaciòn campesina MCNOC y (4) asesinato de GERALDINO ROTELA MIRANDA y graves heridas a su hermano. El Movimiento Popular Tekojoja denuncia este asesinato y responsabiliza del mismo al gobierno de Duarte Frutos. El objetivo es claro: crear miedo entre la poblaciòn para que no vaya a votar y evitar el triundo de Fernando Lugo, que en todas las encuestas aventaja a los demás candidatos entre 10 y 12%. Ante el riesgo de perder el poder luego de 61 años de manejo autoritario y corrupto, la rosca insaciable que gobierna el Paraguay se lanza a hacer lo que bien sabe: el terrorismo de Estado.Solicitamos a todos los compañeros la difusión de esta noticia y el envío de mensajes al Presidente de la República, Nicanor Duarte Frutos, solicitándole garantía para los actvistas políticos de la oposición y para que los votantes puedan ir con tranquilidad a elegir un nuevo gobierno el próximo 20 de abril.Fraternal abrazo.Ricardo CaneseSecretario de Relaciones InternacionalesMovimiento Popular Tekojoja<br /><br /><br /><strong>Asesinan a dirigente de Tekojoja en Caazapá</strong></div><strong><div align="justify"><br /></strong><a name="1185af5949b330d1_nota_copete"></a>17:30 Geraldino Rotela Miranda (32), uno de los dirigentes del Movimiento Tekojoja en Caazapá, fue emboscado y asesinado esta madrugada. Su hermano, Emanuel Rotela (21), quien lo acompañaba, sufrió heridas graves, pero sobrevivió. La policía aún no identificó a los autores del homicidio. FOTO: Geraldino Rotela (en círculo) en un acontecimiento familiar.</div><div align="justify"><br /> <a name="1185af5949b330d1_texto"></a>Domingo/24/FEBRERO/2008</div><div align="justify"><br />Ambos regresaban en motocicleta a su domicilio en la Compañía San Antonio, distrito de San Juan Nepomuceno - Caazapá-, cuando fueron interceptados en la misma zona por tres hombres a cara descubierta. Uno de ellos les ordenó que bajen del vehículo y otro le gritó en guaraní "ejuka ichupe" (mátalo). Inmediatamente, uno de los desconocidos disparó contra los hermanos.<br />Según el informe de la Policía Nacional, Geraldino murió por traumatismo de cráneo ocasionado por disparo de arma de fuego, presumiblemente calibre 38. </div><div align="justify"><br />Antonio Zena, dirigente de Tekojoja en el departamento de Caazapá, señaló a <a onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)" href="http://Últimahora.com/" target="_blank">ÚLTIMAHORA.COM</a>, que hasta el momento no tiene ninguna hipótesis respecto al asesinato de Rotela. "Estamos esperando informes oficiales", aclaró.<br />La otra víctima, Emanuel Rotela, se encuentra internado en Emergencias Médicas de Asunción, ya que sufrió heridas en el cuello y en los pulmones. Su estado se desconoce.<br />Por su parte, el Movimiento Tekojoja, en un comunicado, exige el esclarecimiento del hecho e insta a la ciudadanía a movilizarse para evitar la impunidad. Responsabiliza al gobierno de los hechos violentos que azotan al país.<br /><br /><br />--------------------------<br />Anexo II<br /><br /><strong>Informe Partido Convergência Popular Socialista<br /></strong><br />Campaña del Partido Colorado se basa en la persecución, amedrentamiento, encarcelamiento y hasta asesinato de candidatos y militantes de la oposición.<br />La Conducción Nacional de la Alianza Patriótica Socialista (APS), luego de los últimos hechos ocurridos en el escenario político-electoral, y haciendo una evaluación y reflexión política de la práctica histórica de los gobiernos, desde el dictador Stroessner a esta parte, manifiesta a la opinión pública cuanto sigue:<br /><br />1- Su repudio enérgico y activo, a la forma sucia y hedionda en que la cúpula del Partido Colorado realiza su campaña electoral, persiguiendo, amedrentando, encarcelando y hasta asesinando a candidatos y militantes del movimiento popular organizado.<br />2- Al mismo tiempo recuerda que los gobiernos vende-patria, por lo menos desde Alfredo Stroessner hasta la fecha, se han dedicado a perseguir, criminalizar y atentar contra todo intento ciudadano de organización, más todavía cuando dicho intento va teniendo un desarrollo en su madurez y proposición, como es el caso de las organizaciones políticas del campo popular, que hoy están en el escenario político-electoral, como la APS, representando a los sectores excluidos y explotados por la camarilla de represores y ladrones, empotrados en el gobierno.<br />3- Así mismo plantea una serie de acciones pacíficas, como la acción directa y manifestación a realizarse hoy, martes 26 de febrero, a partir de las 11hs de la mañana, frente al Ministerio del Interior, en repudio a la política represiva y criminal del Gobierno actual y el sector privilegiado por el mismo.<br />4- Y por último concluye con un llamado de alerta a la ciudadanía, aten la posibilidad de que el Partido Colorado, que está sumido en una grave crisis producto del fraude y el descrédito de sus dirigentes, intente de cualquier forma evitar su inminente caída, valiéndose de mecanismos engañosos y terroristas para promover el alejamiento y la división de todos los patriotas que no renunciaron ni renunciarán al coraje y la convicción en y por la lucha hacia un Paraguay con futuro digno para todos sus hijos.<br /><br />¡VIVA LA ORGANIZACIÓN Y EL CORAJE DE NUESTRO PUEBLO!<br />¡EL 20 DE ABRIL, SIN DISCRIMINACIÓN, TODOS VOTAREMOS POR EL CAMBIO Y BOTAREMOS LA TRAMPA Y EL POKARE A LA BASURA!<br />¡CÁRCEL A LOS VERDADEROS TERRORISTAS QUE SIEMPRE OPERARON DESDE EL ESTADO!<br /><br /><span style="color:#ff0000;"><strong>Belarmino Balbuena<br />Por la Conducción Nacional<br />26 de febrero de 2008</strong></span></div><span style="color:#ff0000;"><strong><div align="justify"><br /></strong></span> <strong>COMUNICADO </strong></div><div align="justify"><br /> La <strong>Alianza Patriótica Socialista - Partido de la Unidad Popular (PUP)</strong> Lista 33, se dirige a la Opinión Pública Nacional e Internacional, para expresar cuanto sigue: <br /> Denuncia el apresamiento de sus dirigentes y candidatos de la Alianza Patriótica Socialista Juan de Dios Acosta Mena, candidato a senador N° 2, Pablo Martínez Jara, candidato a la Junta departamental por el departamento Central y el dirigente de Partido de la Unidad Popular (PUP) Antonio Gayoso. Los mismos fueron detenidos hoy sábado 23 de febrero cuando estaban recorriendo colonias campesinas de la zona del departamento de Itapúa en el marco de la campaña electoral.<br /> Cuando los compañeros llegaron al asentamiento 15 de agosto, de la colonia 13 de mayo, de 6 años de ocupación y 842 hectáreas, en el distrito de Natalio, km 70. fueron brutalmente reprimidos por civiles armados encabezados por el supuesto propietario del inmueble en litigio, el ex médico personal del dictador Alfredo Stroessner, Amado Cano Ortiz, acompañado por la fiscala Delia Cardozo. Este asentamiento sufre persecuciones constantes por el propietario como la fiscalía, cuando la parcela fue denunciada como Malhabida ante la Procuraduría de la República.<br /> Este nuevo atropello prueba una vez más la política de criminalización y persecución hacia los movimientos campesinos, y a sus referentes políticos. Es evidente que esta violación de derechos humanos y políticos en plena campaña electoral es reflejo del autoritarismo de Nicanor Duarte Frutos que va a ir poniéndose más agresivo, a medida que se acerca su derrota electoral. Nicanor Duarte Frutos utiliza el aparato de estado para fines personales y de su partido; denunciamos estos métodos sucios, anticonstitucionales y antidemocráticos, financiados por la mafia, que sabemos van a amplificarse hasta el 20 de Abril.<br /> Exigimos la liberación inmediata de los tres compañeros de la APS, así como el cese de la persecución y la recuperación de las tierras malhabidas a manos de los aprovechados de la dictadura de Stroessner, la entrega de las tierras a los compañeros sin tierra y el desarrollo de la reforma agraria integral. </div><div align="justify"><br /> Asunción el 23 de Febrero 2008. </div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3068086744549447583.post-91232411989055854512008-02-20T20:27:00.003-03:002008-02-20T20:35:26.336-03:00<div align="justify"><strong><span style="color:#ff0000;">Em Cuba, não se discute o retorno ao capitalismo</span></strong></div><strong><span style="color:#ff0000;"><div align="justify"><br /></span></strong>por <a href="http://www.brasildefato.com.br/v01/author/jpereira">jpereira</a> — Última modificação 20/02/2008 15:38</div><div align="justify"><br />Em entrevista ao <strong>Brasil de Fato</strong>, o <strong>historiador cubano Ariel Dacal</strong> relata que os setores pró-capitalistas estão enfraquecidos na sociedade e que critica aqueles que prevêem a adoção do modelo chinês por Cuba: "A criação social anticapitalista tem muitas outras opções e caminhos", afirma.<br /><br /><strong>20/02/2008</strong></div><strong></strong><div align="justify"><br /><strong>Jorge Pereira Filho,da redaçao</strong> </div><div align="justify"><br />"Ilha de Fidel Castro". "Ditador insaciável". "Megalomaníaco". Essas são algumas das expressões usadas e repetidas pelos meios de comunicação conservadores para tratar, imparcialmente, da decisão do presidente cubano, Fidel Castro, de rejeitar uma possível indicação à reeleição pelo Parlamento, no domingo (24).</div><div align="justify"><br />Enquanto o Jornal da Globo “lembrava” que os militares se sentiam ameaçados pela influência de Fidel e essa foi uma das justificativas para o golpe de 1964, em Cuba, a notícia de sua renúncia provocou comoção. Em entrevista ao Brasil de Fato, o historiador cubano Ariel Dacal, morador de Havana, comenta que nesses momentos tende-se até a exagerar os feitos de Fidel. Mas não hesita em dizer: “É certo que o sistema cubano se personalizou muito em sua figura, mas isso – desde um ponto de vista histórico – está muito distante da noção de ditadura não só do povo cubano, mas também dos povos da América”.</div><div align="justify"><br />Ariel acompanha e participa do processo de discussões abertos pelo próprio governo em julho de 2007 para a população discutir e propor soluções a seus problemas cotidianos. Para ele, um aspecto positivo foi justamente o enfraquecimento de um discurso capitalista. “Apagou-se o discurso pró-capitalista que, durante algum tempo, parecia a única possibilidade de visão oposta”, avalia.</div><div align="justify"><br />Mas ao contrário do que ocorre nos bairros cubanos, a voz que prevalece na mídia corporativa é a de que, em Cuba, o povo quer o fim do socialismo e Raúl Castro trabalhará por um modelo econômico próximo ao chinês. Dacal discorda desta visão: “O problema dos que promovem essa visão, fora do Brasil ou em outros lugares, é a limitação em entender ou compreender que a criação social anticapitalista tem muitas outras opções e caminhos que vão além do modelo chinês”. Leia a íntegra da entrevista abaixo.</div><div align="justify"><br />Brasil de Fato - Como a população cubana reagiu ao anúncio de Fidel Castro?</div><div align="justify"><br />Ariel Dacal – Em sua mensagem, Fidel comentou que já em cartas anteriores havia anunciado a possibilidade de que não se reelegeria (leia a carta). Sabia que era necessário preparar o povo psicologicamente. E agiu corretamente. O impacto entre os cubanos foi emotivo. As pessoas, o povo em geral, sentiram as notícias. Mas ao mesmo tempo se esperava, era uma das alternativas já em vista para a maioria dos cubanos e cubanas e seria o mais positivo dado o estado de saúde de Fidel. É quase um consenso entre o povo aceitar que foi uma saída “elegante”, muito bem decidida e que apenas exalta a estatura moral e história de Fidel. Em momentos como este, no qual a emoção pesa mais que a racionalidade, faz-se uma leitura muito positiva da obra de toda vida de Fidel.</div><div align="justify"><br />A mídia corporativa explorou expressões como "mão dura", "ilha de Fidel Castro", "ditador que quase provocou a terceira guerra mundial... O povo cubano vê em Fidel um ditador?</div><div align="justify"><br />Não creio que o povo o veja como um ditador. Tudo depende do significado de quem tem as palavras e para quem as usa. Para o povo cubano, desde a consciência cotidiana, os ditadores são assassinos que instalam regimes de terror onde milhares de pessoas perdem a vida. Recorde-se que foi precisamente a Revolução Cubana que derrotou um regime ditatorial que tinha essas características, um dos primeiros ensaios do imperialismo yanqui que depois se expandiu por todo o continente. A obra encabeçada por Fidel é o contrário disso. Deu educação, saúde, elevou o orgulho nacional onde nunca esteve antes, foi uma referência de soberania e respeito à vida humana. É certo que o sistema cubano se personalizou muito em sua figura, mas isso – desde um ponto de vista histórico – está muito distante da noção de ditadura não só do povo cubano, como também dos povos da América.</div><div align="justify"><br />A mídia também tem divulgado que Raúl Castro seria mais inclinado a promover transformações em Cuba sob inspiração dos modelos de China e do Vietnam...</div><div align="justify"><br />Essa idéia está dentro da ampla margem de possibilidades de mudança em Cuba. Mas na realidade não há sinais de que estamos seguindo nessas direção ou em outra, neste momento. O problema dos que promovem essa visão, fora do Brasil ou em outros lugares, é a limitação em entender ou compreender que a criação social anticapitalista tem muitas outras opções e caminhos que vão além do modelo chinês que, diga-se de passagem, não tem nada de anticapitalista. Ignoram que a criação humana coletiva tem muito mais possibilidades do que as leituras positivistas e se reduzem a elas.</div><div align="justify"><br />Devemos esperar algum tipo de mudança de Cuba com relação à política externa ou seria ainda prematuro fazer qualquer avaliação de como seria o novo governo?</div><div align="justify"><br />O primeiro é ver a composição do novo governo e as medidas que vão tomar. Depois, é analisar sobre a marcha dos acontecimentos.</div><div align="justify"><br />Qual o significado prático da renúncia de Fidel à reeleição?</div><div align="justify"><br />O significado prático é que o governo de fato de Raúl Castro passará a ser governo de jure (pela lei). Ou seja, o que na prática já acontecia desde a enfermidade de Fidel no verão de 2006 agora é um fato consumado em sua totalidade legal com a renúncia anunciada ontem. Na realidade, abriu-se uma variável importante na complexa situação cubana. Mas em última instância creio que os impactos institucionais verdadeiros estão por chegar. O que é fato, do ponto de vista prático, é uma mudança de referência psicológica, moral, constituída por Fidel durante cinco décadas. O interessante é o efeito sociológico da renúncia o qual deve-se esperar um tempo mais longo para avaliar em sua dimensão real. </div><div align="justify"><br />Mas dentro desse efeito sociológico pode estar incluído o fortalecimento da oposição anti-socialista?</div><div align="justify"><br />Não creio que seja assim. Nesses momentos muitas são as forças que, com mair ou menor estímulo, apresentam-se na cena nacional. No entanto, repito que mais que a renúncia de Fidel, a questão é ver que tipo de mudanças vão ser decididas e o curso que vão tomar a depender das forças, tendências e visões que as conduzirão. Certamente, para pessoas iludidas, que reduzem o sistema cubano à figura de Fidel, a renúncia pode ser significativa. Mas não entendem que a rede institucional cubana e as demandas atuais são muito mais complexas do que essa suposta subordinação total à figura de Fidel. E claro que ele renunciou, mas não morreu. E sempre será uma referência moral, de importância e um mediador a partir de suas opiniões. Ele se manterá escrevendo suas reflexões o que lhe permitirá uma presença constante na cena.</div><div align="justify"><br />Desde julho de 2007, Raúl Castro incentivou um debate nacional sobre os problemas dos cubanos. Existe vontade popular de retorno ao capitalismo?</div><div align="justify"><br />Em Cuba, não se discute o retorno ao capitalismo. Na realidade, o processo de discussão em que o país está metido mostra um apoio ao socialismo. Uma das características mais interessantes de todos esses meses, quase um ano, de debates de idéias, é justamente que se apagou o discurso pró-capitalista que, durante algum tempo, parecia a única possibilidade de visão oposta. Claro, outra coisa seria discutir “de que socialismo estamos falando”, ou seja, a qualidade desse socialismo que, em algumas ocasiões – e não com más intenções –, reproduz imaginários e projeções nominalmente socialistas, mas muito contraditórias e que carregavam consigo a orelha peluda do liberalismo.</div><div align="justify"><br />Os cubanos temem uma intervenção externa dos EUA neste momento de transição?</div><div align="justify"><br />Com que condições reais conta o governo de Bush para cumprir esse plano? Não se deve subestimar o que pode fazer um império na decadência, mas creio que não dará um passo além da retórica. O governo Bush chegou ao extremo de seu cerco contra Cuba. A única opção que resta a ele é a agressão, mas não tem condições para se meter nessa investida. Além disso, o Pentágono sabe muito bem das condições defensivas de Cuba e a CIA (agência de inteligência dos EUA) tem conhecimento que este tipo de ação está longe de separar um povo; pelo contrário, pode uni-lo de forma contundente. </div><div align="justify"><br />Já é possível notar nos meios de comunicação conservadores uma ostentiva campanha contrária a Fidel Castro e ao regime socialista, O que os cubanos esperam, agora, da solidariedade internacional?</div><div align="justify"><br />Apoio, compreensão e vigilância constante para desmentir as campanhas difamatórias e evitar a coordenação de agressões de qualquer tipo contra Cuba. E o mais importante é que se compreenda e se conscientize que o povo cubano carrega sobre seus ombros uma enorme responsabilidade prática e moral com a luta de todos os povos oprimidos. A luta de Cuba é a luta de todos os oprimidos.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Retirado do jornal Brasil de Fato:</div><div align="justify"><a href="http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/especiais/cuba-fidel/em-cuba-nao-se-discute-o-retorno-ao-capitalismo">http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/especiais/cuba-fidel/em-cuba-nao-se-discute-o-retorno-ao-capitalismo</a></div>Prof. Marcelo Buzettohttp://www.blogger.com/profile/18079919748984094002noreply@blogger.com0